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Stylus (Rio de Janeiro)

versão impressa ISSN 1676-157X

Stylus (Rio J.)  no.27 Rio de Janeiro out. 2013

 

ENSAIOS

 

Como responder ao sintoma que é "evento corporal"?

 

How to respond the symptom which is a "body event"?

 

 

Vera Pollo*

Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano
Colegiado de Formações Clínicas do Campo Lacaniano do Rio de Janeiro
Internacional dos Fóruns do Campo Lacaniano - Brasil
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo parte da questão: "Como responder ao sintoma que é evento corporal?" e segue por três vias de reposta: a interpretação, o sintoma e o corpo, de objeto a evento. A primeira via menciona a distinção freudiana entre interpretação e construção e atravessa várias definições de Lacan, concluindo na importância do sonoro, tanto para a interpretação, quanto para o sintoma. Na segunda via, após algumas definições do sintoma, é apresentado e discutido um trabalho que traz a expressão "novos sintomas" e se refere à assim chamada "síndrome de Okatu". Essa parte do texto menciona também os sujeitos capturados pelo mundo virtual e os jovens que praticam "cortes". A terceira parte desenvolve algumas concepções do corpo, de objeto a evento. Nos parágrafos finais, tecem-se breves considerações sobre os discursos da ciência e do capitalismo e a aposta psicanalítica.

Palavras-chave: Sintoma, Evento corporal, Interpretação, Corpo, Objeto.


ABSTRACT

This paper begins with the question: "How to answer to the symptom that is a body's happening?" and follows by three response's ways: the interpretation, the symptom and the body, from object to event. The first way mentions Freud's distinction between interpretation and construction and goes through many Lacan's definitions, concluding on the importance of the sonority to the interpretation and to the symptom. In the second way, after some definitions of the symptom, it is presented and discussed a work that brings the expression "new symptoms" and reports to the so called "Okatu syndrome". This part of the text also mentions the subjects that are captured by virtual world and the young people that do "cutting". The third part develops some conceptions of the body, from the object to the event. In the final paragraphs there are some considerations about science and capitalism discourses and psychoanalytical bet.

Keywords: Symptom, Body's happening, Interpretation, Body, Object.


 

 

A pergunta que levantamos: Como responder ao sintoma que é "evento corporal"? supõe, a nosso ver, três vias de resposta. A primeira delas é o tema central do VII Encontro Internacional da IF-EPFCL: O que responde o psicanalista? – pergunta que procuraremos desenvolver tomando a interpretação como possibilidade de resposta; a segunda via diz respeito ao conceito psicanalítico de sintoma; e a terceira, logicamente implicada na primeira e indissociável da segunda, é o que entendemos por "evento corporal". Isto significa que não privilegiaremos o corpo em seu estatuto imaginário, nem simbólico, mas, sobretudo, como evento, acontecimento. Abordaremos o corpo em sua função de objeto e sintoma que advém do real, como "o que as pessoas têm da mais real", a tal ponto que se pode dizê-lo "a nota própria da realidade humana" (LACAN, 1975/1976, p. 41). Três vias por onde buscaremos caminhar, traçando breves percursos de teoria clínica.

Tomemos a primeira via: o que responde o analista? Malgrado toda a ênfase que Freud e Lacan sempre deram à necessidade de que o analista saiba calar seu "eu", de que não se situe como o sujeito da operação que conduz, para que não se apresse em tentar compreender ou curar, e deixe agir o desejo do analista, eles nunca o isentaram de sua tarefa mor: a interpretação. Lacan (1998) é bom lembrar, no artigo de 1958, A direção do tratamento e os princípios do seu poder, listou as três formas como um analista tem de pagar pelo direito, ou melhor, pelo dever que lhe foi atribuído, de conduzir uma experiência de análise, se possível até o fim. Ele paga com seu ser mais íntimo, isto é, com seu desejo, paga com suas palavras e, até mesmo, com sua pessoa, no que ela é tomada de empréstimo na vertente imaginária da transferência. Resumidamente, sua resposta é tripartite e, não por acaso, o vocábulo responsabilidade também deriva do latim respondere.

Em Construções em análise, Freud (1937/1976) distinguira a interpretação da construção, definindo a primeira como o que se aplica a um elemento passível de ser isolado na fala analisante – irrupção do inconsciente, diremos, em forma de palavras ou de ato, mas sempre enigmática, pontual e restrita – e deixando à construção a tarefa de reconduzir ao passado um "fragmento de verdade histórica". Este insiste em imiscuir-se no presente, e Freud o esclareceu nos termos de um evento da história de um sujeito, que só pôde permanecer ativo por ter sofri do uma Entstellung,1 um processo de deformação verbal. Nos termos de Lacan, tratar-se-ia de um meio-dito pelo qual 'me dito' uma meia verdade.

Em Lacan, encontramos um número tão grande de definições da interpretação, que talvez possamos dizer que há, nele, lado a lado com uma teoria do sujeito, uma teoria da interpretação. Esta se estende desde a interpretação freudianamente entendida como o desvelar de significantes ocultos, latentes na demanda do analisante, até a interpretação que encontra seu modelo no ready made de Duchamp (LACAN, 1974/2002, p. 58). Ainda com Lacan, poderíamos fazê-la corresponder à fórmula mínima: é isso!2 Fórmula na qual também se escuta: "Foi você que o disse, não o fiz dizê-lo", apontando simultaneamente para o inconsciente intérprete e a palavra que faz ato.

Entendemos a interpretação ready-made como aquela que tem valor de criação, inclusive de nominação, embora não se trate de criação ex-nihilo, talvez pudéssemos chamá-la de "re-criação". Ela resulta exclusivamente de um deslocamento ou, se preferirmos, da inscrição em um lugar Outro, em outro contexto. Trata-se do pinçar de uma palavra, ou menos: um fonema, um som que já estava lá no discurso analisante, porém, ao ser inserido em uma nova série de significantes, modifica retroativamente o significado, e consequentemente o sujeito que o enunciou. Aqui vale lembrar que, enquanto pura diferença de si e dos outros, o sentido de um significante qualquer depende dos que o antecedem e sucedem. Uma interpretação é sempre um efeito a posteriori; Freud não cessou de assinalá-lo em toda a sua obra, ao afirmar, por exemplo, que as lembranças inconscientes são leituras retroativas de traços de percepção. A interpretação depende de um "laço entre a palavra e o gozo", como observou Lacan em O saber do psicanalista (1971-72/inédito).

No trajeto de seu ensino sobre a interpretação, Lacan (1958/1998, p. 648) ressaltou sua "virtude alusiva", comparando-a ao signo representado pelo dedo erguido do São João de Leonardo. Uma interpretação que leva em conta a transferência e recomenda metaforicamente o desvio do olhar, no sentido de romper com os estreitos limites da moldura fantasmática, é comparável também à resposta de Sócrates a Alcebíades,3 aproximadamente nos seguintes termos: "Não é a mim que você visa, mas a quem está ao meu lado". No caso, Agáton, o jovem poeta trágico recém-premiado.

Em 1964, na lição final de O Seminário, livro 11, encontramos a interpretação que "inverte o efeito da metáfora" (SOLER, 2012). Lacan a define nesse momento como "uma significação que não é não importa qual [e que] tem por efeito fazer surgir um significante irredutível [pois] o que está lá [no inconsciente] é destinado a fazer surgir significantes irredutíveis, non sensical, feitos de não-senso" (LACAN 1964/1985, p. 236).

Se o significado de um determinado significante só pode vir do lugar que esse mesmo significante ocupa em outro discurso, a centelha criadora só pode jorrar na hiância do "entre dois", entre dois significantes, como entre dois discursos. "O analista" – observa Lacan (1971-72/inédito) na lição de 4 de maio de 1972 – "não é de modo algum nominalista. Ele não pensa nas representações do seu sujeito, mas tem de intervir no seu discurso, encontrando-lhe um suplemento de significante. É o que se chama interpretação." E, posto que o gozo da palavra analisante não está ao alcance do analista, este último só pode considerá-lo pelo que de fato é, quer dizer, da ordem do real.

Gostaríamos de recordar pelo menos mais uma definição elaborada por Lacan (1973/1993, p. 81), como a que aparece em Televisão, enlaçando a interpretação ao tempo nos seguintes termos: "A interpretação deve ser presta, para satisfazer o interempréstimo". Mas como entender a proposta do termo neológico entreprêt, que foi traduzido por interempréstimo, perdendo desse modo seu equívoco, na língua francesa, com a palavra interprète, ou seja, intérprete? Diremos que a interpretação não visa certamente satisfazer ao analista, nem mesmo diretamente ao analisante, mas é bom que satisfaça ao inconsciente intérprete, ele próprio produtor de sentido sexual "aos borbotões" (Ibid.).

Mencionamos acima a proposta de que o lugar da interpretação seja dito "entre", vocábulo que em francês, como também em português, representa simultaneamente a preposição equivalente ao lugar "no meio", e o presente do subjuntivo do verbo entrer, como do entrar. Talvez por isso, sua localização intermediária, o traço mais comum às diferentes definições lacanianas da interpretação esteja, como observou Soler (2012) em sua associação com o equívoco. Lembremos, por fim, que ela "é feita para produzir ondas" (LACAN, 1975/1976, p. 35). Por que ondas? Porque são sonoras e somente os efeitos sensórios conseguem despertar o sujeito do seu sono de sentido. Sono pleno de sentidos.

Nos Estados Unidos, mais precisamente na Universidade de Colúmbia, Lacan (Ibid., pp. 42-46) lembrou que "é um engano, um desvio, os analistas falarem pouco", acreditarem que "a pedra filosofal de sua tarefa consiste em se calar"; pois o analista não apenas deve ter o que dizer, como "é suposto dizer a verdade, não qualquer uma, mas a verdade que é preciso que o analisante escute". Pois, se o analisante quer se ver livre de seu sintoma, a interpretação "tem sempre – no analista – de levar em conta que no que é dito há o sonoro, e que este sonoro deve ressoar com o que é do inconsciente" (Ibid., p. 50).

Adentremos à via do sintoma. A noção de sintoma percorre a obra de Freud e a de Lacan de uma ponta a outra, respondendo, poderíamos dizer, à necessária elaboração de uma clínica em permanente renovação. Por se caracterizar privilegiadamente como uma elaboração acerca das neuroses, a teoria freudiana nos permite distinguir claramente entre a estrutura do sintoma e sua forma fenomênica. Em Uma neurose demoníaca do século XVII, Freud (1923[1922]/1976) observa que os sintomas haviam perdido as feições psicológicas que, em épocas pretéritas, os revestiam com histórias de pactos com deuses e diabos, assinaturas a sangue e outras coisas desse gênero. Em contrapartida, havia ganho feições hipocondríacas de dores, convulsões, espasmos e paralisias.

Contudo, independentemente do aspecto formal, a estrutura do sintoma é um amálgama de forças opostas, libido e agressividade, bem como a resolução de um conflito entre o eu e a pulsão, senão entre o eu e o supereu. É por isso que o sintoma se esclarece, no texto freudiano, como "satisfação substitutiva" e "solução de compromisso". Eis, então, a estrutura do sintoma neurótico: em se tratando de um sujeito da civilização, um assujeitado, portanto, ele tem de se defender contra uma exigência de satisfação que é composta por um elemento ideativo e um quantum energético. O afeto e a ideia não tomam necessariamente o mesmo destino. Conforme o destino que é dado a cada um: a ideia e o afeto, e conforme a maior ou menor eficácia da defesa, se construirá um sintoma corporal de dor física ou haverá o retorno do recalcado sob a forma de fobias, dor moral, pensamentos obsessivos e compulsões de toda ordem. Aqui, vale lembrar que em seu texto sobre Inibição, sintoma e angústia, Freud (1926[1925]/1976) já havia reconhecido que "o mal" deixara de ser o nome da pulsão e se fizera nome do sintoma, porque este a substitui, oferecendo-lhe uma dose reduzida de satisfação, um "mais-de-gozar".

No texto de Lacan, como no de Freud, a noção de sintoma foi objeto de um work in progress, desde o momento em que ele o comparou à língua imaginária da neurose que aproxima e afasta o eu e o outro. Ao defini-lo como "o significante de um significado recalcado da consciência do sujeito" (LACAN, 1953/1998, p. 282), lhe foi possível enunciá-lo como o enigma em busca de decifração ou o hieróglifo à procura de um sujeito suposto saber ouvi-lo e interpretá-lo. Com Marx, Lacan (1966/1998, p. 234) pôde lembrar que o sintoma representa "o retorno da verdade como tal na falha do saber". Foi bem longo, portanto, o percurso que antecedeu o gesto lacaniano de recorrer à grafia antiga da palavra sintoma em francês: sinthomme, para com ela produzir uma definição nova. Diferentemente do symptôme, sintoma do qual cada um quer livrar-se, o sinthomme ou sinthoma é o que faz de cada ser o indivíduo, o um particular (LACAN, 1975/1976).

Nos dias de hoje, na clínica psicanalítica em geral, mas privilegiadamente com os sujeitos ditos "adolescentes", temos nos surpreendido quase diariamente com dois fenômenos aparentemente díspares. Há, de um lado, os sujeitos que demandam ser curados de sua captura pelo mundo virtual; de outro, jovens sujeitos que inicialmente nada demandam, mas que são trazidos pelos pais ou responsáveis, porque insistem em "se cortar" com gilete, faca ou tesoura, deixando ver em seus braços incisões mais ou menos recentes e mais ou menos profundas. Num caso como no outro, quando verdadeiramente se enceta uma demanda de análise, há por trás dela o desejo de livrar-se de um sintoma.

Nos últimos anos, não são poucos os trabalhos de psicanálise que empregam o sintagma "novos sintomas". Em artigo cujo autor se apresenta como fundador da "TyA – Rede Internacional de Toxicomania e Alcoolismo do Campo Freudiano", os novos sintomas são definidos como aqueles dos quais se diz que colocam em evidência "os limites de nossa prática sob transferência, porque são paradigmáticos desta época de rechaço do saber, de decadência das referências ligadas ao ideal, de vacilação dos semblantes da cultura" (TARRAB, 2005, www.isepol. com/...). Seu autor também fala em "novas angústias" e afirma que a "novidade lacaniana" não consistiria em uma "clínica do consumo", por não ser uma clínica de "substituição de substância", como o são os tratamentos do tipo Alcoólicos Anônimos ou do tipo cognitivista-comportamental. A "novidade lacaniana" lhe parece estar em apostar na "reconstrução do Outro", como meio de remover uma fixação sintomática. Ele declara ainda que os novos sintomas são "estigmas do real" que "não se liga a nada", e se apresentam "de forma patética, nas patologias contemporâneas". A referência é claramente ao Seminário, livro 23, em que Lacan (1975-76/2007) desenvolve, com Joyce, a noção de 'sinthoma' como o quarto aro que supre a ausência do Nome-do-Pai, porque consegue manter juntos os aros do Simbólico, do Imaginário e do Real. Em Joyce, sua escrita tão particular.

O artigo também menciona a "síndrome de Otaku", como exemplo de um novo sintoma. Ela teria sido descrita por sociólogos japoneses, para classificar os adolescentes que passam a vida, literalmente, em frente à tela do computador, incapazes de qualquer outra atividade a não ser a que os mantém conectados com a Internet. Em nossa experiência, alguns internautas alegam ter experimentado certa felicidade logo que entraram no mundo virtual, porém, com o passar do tempo, perceberam estar sofrendo uma "falta total de controle". Tratar-se-ia, portanto, de um sintoma da ordem da compulsão em que se percebe claramente a satisfação sexual substituta, assim como o caráter bifásico de fazer e desfazer a mesma ação. Não estamos asseverando que se trata sempre de uma neurose obsessiva, mas, quase sempre, de um sintoma obsessivo.

Um passeio rápido pela Internet nos leva ao encontro de um site cujos participantes se agregam sob o significante cutting. Em artigo sobre teenshealth, ou seja, saúde do adolescente, obviamente escrito em inglês, podem-se ler alguns casos de adolescentes que se cortam, mas escondem os cortes dos familiares e amigos, usando blusas de manga e calças compridas. Curiosamente, o primeiro nome de adolescente que aparece no artigo é Emma! Isso torna impossível não nos lembrarmos de imediato da jovem Emma, mencionada por Freud (1950[1895]/1976) em seu Projeto para uma psicologia científica, por apresentar uma fobia a lojas que resultava da sobreposição de lembranças de duas cenas com significação sexual. A mãe da segunda Emma, diz o artigo acima, só percebeu que a filha tinha feito cortes, quando olhou casualmente para os braços da menina enquanto ela lavava a louça.

O artigo What's cutting? menciona que tal conduta autoagressiva pode ser causada pela perda de alguém muito próximo ou para escapar de um sentimento de vazio. Pode também ser a única forma pela qual se consegue algum alívio para a dor de um sentimento de rejeição. Algumas vezes, mas não sempre, prossegue o artigo, o cutting se associa a graves problemas de saúde mental, como depressão, transtorno bipolar, desordens alimentares, pensamentos obsessivos, ou comportamentos compulsivos.

Os jovens "entalhadores de si" que chegam ao NESA,4 mais frequentemente moças do que rapazes, alegam não saber o que os leva a praticar o corte, acrescentando que este raramente ou nunca lhes provoca dor. E não é raro encontrarmos uma situação de fato propícia ao desencadeamento de sintomas na menina, quando ela, ao mesmo tempo em que revive na adolescência seu drama edipiano, anseia por Um pai que já não existe ou que nunca existiu. Tampouco é raro que uma dessas "entalhadoras" se queixe de uma mãe que só tem olhos para o filho homem. São comuns os indícios da devastação mãe-filha, subitamente potencializada pela devastação da mãe-mulher, que resulta de sua relação com o homem, e não com o pai.

Bidaud (2006/2007, p. 202) observa que "a adolescência acarreta, de fato, um encontro e uma invenção do Outro como alteridade verdadeira", o que implica revisitar o estádio do espelho, "em particular do lado do olhar e de sua apropriação, permitindo estabelecer novas montagens entre o sujeito e o objeto, para construir uma relação genitalizada com o outro sexo". Aí se origina a importância que o adolescente dá à estética do corpo, no sentido da criação de um novo rosto, uma "re-rostificação", que passa não apenas pela roupa, penteado, maquiagem e adereços diversos, como tatuagens e piercings, mas também por uma nova forma de assinar o nome próprio, desvelando assim a função mostrativa da assinatura. O adolescente precisa significar-se na relação com o Outro e, se ele próprio decide chamar de "cortes" o que antes se chamava de "escarificações", é provavelmente para assinalar o retorno no real de uma separação não concluída no Simbólico. "Essas práticas de marcação do corpo" – escreve Lesoud (apud BIDAUD, op. cit., p. 203) – "que são cada vez mais frequentes, especialmente na parte mais jovem de nossas sociedades, são todas mais ou menos vinculadas à dificuldade que tem o sujeito de encontrar os significantes necessários à nominação..."

Terceira via: o corpo de objeto a evento. Lacan esclareceu inicialmente que, na perspectiva do sujeito, nem tudo o que parece ser um objeto necessariamente o é: o objeto fobógeno, por exemplo, é um significante do cristal da língua. O fato é que o objeto domina a relação do sujeito com o real, pois, no campo do percebido, o olhar e a voz suprem a presença da libido que desapareceu. Mas ele não é, necessariamente, um ponto de fixação em que a pulsão se satisfaz, menos ainda um objeto de valor utilitário. Sabe-o o colecionador, mais do que ninguém, por recorrer a "uma das formas, a mais inocente, da sublimação" (LACAN, 1959-60/1988, p. 144), desvela a Coisa para além do objeto, promovendo "uma satisfação que não pede nada a ninguém". Seu gesto curto-circuita o Outro da demanda e lança o sujeito na satisfação autista.

Quer o denominemos com Lacan de objeto-causa, de mais-de-gozar ou simplesmente de objeto a, convém distinguir as duas faces do objeto na clínica psicanalítica: agalma, de um lado; dejeto, de outro. O que se aproxima bastante da proposta de Jean Baudrillard (1970) de reconhecermos a dupla valência do corpo, como fetiche e como capital. Não por acaso, a primeira delas é a que Lacan explora no seminário sobre a transferência, em que esclarece que os agalmata implicam a suposição de um bem escondido ou de uma verdade oculta. No mínimo, a suposição de uma beleza velada. Eis o verdadeiro engodo da transferência! Para a psicanálise,

[...] o objeto [...] não é de modo algum apreendido, transmissível, cambiável. Ele está no horizonte em torno do qual gravitam nossas fantasias. E, no entanto, é com isso que devemos fazer objetos que, por seu lado, sejam cambiáveis (LACAN, 1960-61/1992, p. 240).

A face dejeto do objeto, tal como ela comparece no desenrolar de uma análise, corresponde a um fragmento de gozo, ou real. É o objeto entrevisto na queda das identificações e na travessia do fantasma. Em sua Nota italiana, Lacan (1973/2003) cita a expressão com que São Tomás encerra sua obra: Sicut palea. Tudo esterco. Mas, se a expressão traz ambiguidade, é por implicar que o objeto que fede é ao mesmo tempo o estrume que fertiliza. Objeto funky, ele é feio e fede, todavia fertiliza, por ser, também, dançante e musical. Citemos as palavras de Quinet (2012) em seu Prelúdio para o VII Encontro Internacional da IF-EPFCL: "O inconsciente real é o inconsciente musical", uma composição – algumas vezes, uma suíte, outras, um réquiem – dos significantes da língua materna acoplados à música com que foram ditos e à forma como foram escutados.

A inexistência do objeto natural não impede que o corpo dos falantes seja o mais importante de seus objetos. Ele é a forma que impregna todas as demais, portanto é fundador do Imaginário, se assim pudermos nos expressar. É corpo simbólico, sem que isto seja metafórico, uma vez que o simbólico só existe quando incorporado, assim como a estrutura, somente incorporada, faz o afeto (LACAN, 1970/2003). É real, no sentido do sintoma e da topologia. Nesse caso, ele é um tubo cujo furo interno comunica com o exterior. Do ponto de vista do sujeito, o corpo é his/tórico. Ele se deixa historisterizar-se (LACAN, 1976/2003, p. 568).

O corpo, como qualquer objeto do sujeito, "é função dos discursos em ação, é função dos discursos que definem a civilização" (SOLER, 1998, p. 167). Bem antes de produzir o matema do Discurso do Capitalismo, Lacan já havia depreendido a lógica que vigora na sociedade de consumo. Em O Seminário, livro 7, ele já propõe com bastante humor:

Eis, então, Adão, e eis esses famosos pelos de uma Eva que ansiamos estarem à altura da beleza que esse primeiro gesto evoca – Adão lhe arranca um pelo [...] um pelo daquela que lhe é oferecida como cônjuge, esperada por toda a eternidade, e no dia seguinte, ela volta para ele – com um casaco de vison nos ombros (LACAN, 1959-60/1988, p. 277).

Se o têxtil é primeiramente um texto, os objetos serão apreendidos em diferentes discursos. Como se fora um pedaço de pano, qualquer objeto pode estar ou não em uma relação de encobrimento com o corpo próprio, mas, uma vez fabricado, ele se torna um significante que entra na circulação de bens, comporta-se como um objeto relativamente autônomo em sua viagem pelo mundo. Dizemos então que o "desejável" se inscreve no tempo e nos modos de satisfação pulsional. Por isso Lacan (1962-63/2005, p. 209) declara que não apenas o objeto, porque também "o desejo é uma coisa mercantil, que há uma cotação do desejo que fazemos subir e baixar culturalmente; e que é do preço atribuído ao desejo no mercado que, a cada momento, o modo e o nível do amor estão na sua dependência".

Genial a imagem da caixa registradora que se agita freneticamente no filme Nunca aos domingos, de Jules Dassin, e em mais alguns. Lacan recorre a ela para nos dar a entender que o campo do desejo só se sustenta – se e somente se – tudo que ocorre de real estiver sendo contabilizado em algum lugar. O caçador antigo contabilizava os entalhes da caverna, os novos caçadores os contabilizam em seus corpos, mais revestidos de tintas que de panos. Outros, que são às vezes os mesmos, preferem contabilizar excessos e perdas em engenhocas virtuais que lhes dão a ilusão de conseguir comprar o desejo.

Em Radiofonia, Lacan (1970/2003, p. 412) define com clareza o fundamento da compra nos termos de um esgotamento do significante. Quando "não se sabe a que santo recorrer", o que deve ser entendido assim: "quando não há mais significante para fritar", compra-se qualquer coisa, mas o que quer que se compre só faz assinalar que o afeto é aí "desejo de Outra-coisa". A contabilidade deve, então, ser passada ao inconsciente, espécie de "caixa-gozo de onde se faz o saque" (Ibid., p. 418).

Poderíamos pensar acerca dos jovens que se cortam que lhes faltam, ao mesmo tempo, "significante para fritar" e "dinheiro para comprar"? Há certamente nesse acting out, nesta transferência selvagem ao Outro, uma produção de novos envoltórios corporais. Há um evento corporal. Até certo ponto, todo sintoma conversivo sempre foi um evento corporal. Contudo, nesse caso, "o sentido do sintoma não é aquele com o qual nós o alimentamos para sua proliferação ou extinção; o sentido do sintoma é o real, no sentido em que ele se atravessa para impedir que as coisas andem" (LACAN, 1976/2002, pp. 48-49). E o que acontece? O mestre, sugere Lacan logo em seguida, por ser apenas significante que ordena, pode até ficar satisfeito, mas quem goza mesmo é o escravo, o sujeito escravizado ao gozo.

Voltemos aos sujeitos que se queixam de seu aprisionamento no mundo virtual. Lembram-nos, de imediato, as palavras de Freud (1930[1929]/1976) sobre as principais fontes do mal-estar na sociedade, embora excluam os fenômenos da natureza. Queixam-se do corpo próprio e das relações com os semelhantes. Em suas palavras, é preciso criar um novo corpo para uma nova vida, o que aproxima dos "entalhadores de si", no que ambos acreditam, por um breve tempo, que estão "perversamente" liberados do sexo e da morte. Eles encetam a escrita de um corpo Outro, mas resta decidir, em cada caso, se os "cortes" são de fato um "traço unário" comemorando uma irrupção de gozo, nesse caso, uma série de S1 que se estende em direção ao infinito, ou ataques histéricos nos quais são encenadas fantasias de ordem sexual, onde o sujeito se torna equivalente a: a/-φ

Há um necessário confronto do discurso analítico com a junção atual do discurso da ciência e do capitalista. Lacan menciona, algumas vezes, a afinidade do discurso científico com o histérico, o qual sustenta o mais-de-gozar no lugar da verdade e busca no Outro o S1 que induza novas cadeias de significantes e engendre, em consequência, uma ordenação de saber até então inaudita. Mas a ciência é também "uma ideologia de supressão do sujeito" (LACAN, 1970/2003, p. 436), o que a coloca na mesma via do discurso do capitalista. E é desse encontro que proliferam as novas próteses corporais (FREUD, 1930[1929]/1976), estes objetos tipo gadgets, que são oferecidos como os mais novos parceiros sexuais de um gozo visivelmente autista.

Como responder à ciência, seguindo a orientação de Lacan (1966a/1998, p. 889) de nela "reintroduzir o Nome-do-Pai"? Há que se considerar, como ponto de partida, que a ciência cartesiana, ou pós-cartesiana, não importa – de todo modo, aquela que começa com a separação entre o saber e a verdade – veta qualquer coincidência entre o sujeito (objeto) e seu suporte corporal, isto é, seu ser de carne e osso. O cientista trabalha com uma causa puramente formal, e embora saiba do que é capaz, ele não sabe o que quer – outra advertência de Lacan – por isso, não raramente, surpreende-se com os usos e abusos de suas invenções. Como despertar-lhes o desejo de saber para que conectem a verdade e a pulsão? Se até mesmo a reprodução, quando é dita "assistida", dispensa o encontro dos corpos macho e fêmea, bastando-lhe apenas o espermatozoide e o óvulo, será ainda possível adverti-los para que o corpo permaneça sendo um referente no horizonte da sexualidade?

A psicanálise, que não é uma two-bodies therapy, entretanto não dispensa o laço a dois, e este começa necessariamente no encontro de dois corpos. Todo aquele que trabalha com o desejo inconsciente, ela não pode dispensar a fala ao vivo, isto é, a que produz equívocos e visa à verdade oculta de um sintoma. Uma fala registrada em aparelho pode estar sujeita a erros mecânicos, mas estará inevitavelmente desprovida da enunciação, não produzirá equívocos, nem visará à verdade. E o verdadeiro ato não pode dispensar a enunciação, Um dizer subjacente aos ditos.

Concluímos com a assertiva de Lacan, para a qual Colette Soler (2012) tem chamado insistentemente a atenção: a aposta de que, contrariando o efeito ilusório, tão comum nas relações de amor, o analista pode vir a ser, em consequência do amor transferencial, "um parceiro que tem a chance de responder" (LACAN, 1973/2003, p. 555). Chamado a responder pelos "casos de urgência" (LACAN, 1976/2003, p.569), ele deverá pesá-los, de modo a saber se chegará ou não a satisfazer a empreitada da condução de uma análise.

 

Referências

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BIDAUD, E. Reflexões sobre a passagem do oral ao escrito. In: COSTA, A. e RINALDI, D. (Orgs.) Escrita e psicanálise. Rio de Janeiro: Cia. de Freud/UERJ, Instituto de Psicologia, 2007, pp. 195-205.         [ Links ]

FREUD, S. (1950 [1895]). Projeto para uma psicologia científica. Tradução sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969/1976. (Edição Standard Brasileira das Obras Completas de S. Freud, v. I).         [ Links ]

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Endereço para correspondência
E-mail: verapollo8@gmail.com

Recebido: 07/02/13
Aprovado: 20/04/13

 

 

* Psicanalista (AME) da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano. Membro do Colegiado de Formações Clínicas do Campo Lacaniano do Rio de Janeiro e da IF-EPFCL-Brasil. Psicanalista do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente, HUPE/UERJ. Professora da Especialização em Psicologia Clínica da PUC-RJ e do Mestrado e Doutorado em Psicanálise, Saúde e sociedade da Universidade Veiga de Almeida. Co-organizadora de Comunidade analítica de Escola: a opção de Lacan ( Marca d'Água Livraria e Editora, 1999); autora de Mulheres Histéricas (Contra Capa Livraria, 2003) e O medo que temos do corpo ( Editora 7Letras, 2012)
1 "Entstellung" – segundo o Langenscheidts Taschen Worterbucher – "distorção", "transfiguração". Para Freud, uma designação genérica para o trabalho dos sonhos que recobre "condensação", "deslocamento" e demais processos envolvidos nas formações oníricas.
2 Em francês: C'est ça. O 'ça', em francês, assim como o 'isso', em português, são traduções do vocábulo alemão Es, pronome demonstrativo.
3 Em Platão (2008), O Banquete.
4 Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente/ HUPE / Uerj.