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Stylus (Rio de Janeiro)

versão impressa ISSN 1676-157X

Stylus (Rio J.)  no.31 Rio de Janeiro out. 2015

 

TRABALHO CRÍTICO COM CONCEITOS: LAÇO SOCIAL

 

Fazer o amor é poesia: laço e contingência

 

To make love is poetry: links and contingencies

 

 

Marcia de Assis*

Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano
Fórum do Campo Lacaniano de Niterói

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Esta é uma elaboração resultante do trabalho de cartel sobre o Seminário Mais, ainda, que se propõe a desenvolver a seguinte afirmativa de Lacan: "Fazer o amor, como o nome indica, é poesia", apontando uma função nova do amor, sua função de suplência, que faz laço. É o amor posto à prova diante da relação sexual impossível de se escrever, o afeto resultante da hiância, que permite o encontro contingente. Não será este amor da ordem da invenção, indicativo de um saber fazer uma conduta?

Palavras-chave: Não relação sexual, Amor, Suplência, Laço.


ABSTRACT

This is the result of a cartel upon Lacan's Seminar Encore which aims to develop the following statement of Lacan: "To make love, as the expression implies, is poetry", pointing to a new function of love which is to make link, its substitutive function. It is by putting love under test, in face to the impossibility of the sexual relationship that does not cease to not write itself, the affect before the hiatus, that allows the contingent encounter. Is not that love of the order of invention an indication of a knowledge on how to make a conduct?

Keywords: Love, Non sexual relationship, Substitution, Link.


 

 

Introdução

O título escolhido reporta-se, mais especificamente, aos capítulos 6 e 11 do Seminário Mais, ainda (LACAN, 1972-73/1985, p. 98), no qual Lacan designa o ato de amor como sendo a abordagem ao objeto causa de desejo, realizada pelo ser falante. "Aí está o ato de amor. Fazer o amor, como o nome indica, é poesia" (Ibid). Mais adiante, nesse mesmo seminário, ele esclarece uma nova função do amor, diante da impossibilidade de onde se define um real. É aí que o amor é posto à prova, perante a relação sexual impossível de se escrever, pois "do parceiro, o amor só pode realizar o que chamei, por uma espécie de poesia, para me fazer entender, a coragem, em vista deste destino fatal" (Ibid, p. 197). Caso a coragem seja traduzida em aceitação de tal destino, assunção da sorte de falasser, pode revelar um amor que sabe da impossibilidade da relação sexual e indicar "uma relação de amor possível que, desta vez, reconhece o outro" (SOLER, 2012a, p. 183), um laço que vem em suplência, encontro, instante que subsiste pelo cessa de não se escrever. Contingência, destino e drama do amor.

Este trabalho, produto de cartel, propõe esclarecer tal escolha de título, por considerar o tema relevante e que não pode ser negligenciado, uma vez que pretende apontar uma mudança de posição do sujeito, ao considerar a possibilidade de surgimento de um amor que sabe, envolvendo um savoir-faire perante o real definido por meio da impossibilidade.

 

Efeito da operação de linguagem

Inicio esta empreitada com a seguinte frase: "Não existe escolha de objeto na vida amorosa a não ser que o objeto a tenha sido extraído" (SOLER, 2012c, p. 65). Tal subtração é efeito da operação de linguagem sobre o ser vivente, sobre o real da vida. E o que Lacan designou como objeto pequeno a (um objeto externo a qualquer definição possível da objetividade) trata-se da referência ao vazio que não se obtura, falta estrutural que origina o desejo. A linguagem introduz a falta, cava a fenda, abrindo espaço para o desejo. Mas o significante também é causa de gozo, sem o significante não se pode abordar o corpo do Outro sexo.

Não se pode falar em amor, desejo e gozo sem referência à perda, ao objeto perdido desde sempre, pois é dessa subtração que surgem o desejante, os ímpetos de apetência e as extensões da libido, fazendo o sujeito ir buscar... o Outro, na tentativa de repor a perda. Todo desejo vai na direção de um complemento da falta, e sendo o desejo a verdade do amor, é com essa falta que se ama.

"Vocês sabem que é nas perturbações da vida amorosa que jaz uma parte importante da experiência analítica e que nossas especulações concernem ao que chamamos de escolha de objeto amoroso", expõe Lacan (1962-63/2005, p. 105).

Relembrando Freud, em seu artigo "Introdução ao Narcisismo" (1914/1984), há dois tipos de escolha amorosa:

1. Escolha narcisista;

2. Escolha por apoio.

Esta última é a escolha que se dá por transferência de libido. Tomando o par especular, que serve de suporte ao par erótico, ocorre uma ramificação do investimento erógeno original, investimento este, originariamente no próprio corpo, que se transfere ao outro lado – i'(a), ou seja, ocorre transferência de a para a imagem do Outro, conferindo valor erótico a este, conferindo o brilho desejável, "a cor só encontrável no terceiro minuto da aurora".1

Este tipo de escolha amorosa é o que ocorre na transferência analítica, em que o analisante investe libidinalmente o outro, incluído no fantasma, dando-lhe o lugar de objeto amado, enquanto ocupa o lugar de amante/desejante, aquele a quem falta.

No Seminário A transferência (LACAN, 1960-61/1992), Lacan convoca-nos a buscar O Banquete, de Platão, enfatizando o que se passa entre Alcibíades e Sócrates. De acordo com o que foi exposto acima, podemos dizer de uma forma esquemática:

 

 

"É aí que se estrutura e se situa o que, em nossa análise da transferência, produzi diante de vocês com o termo agalma" (LACAN, 1962-63/2005, p. 121). Sócrates não é mais que um invólucro do objeto a, causa de desejo, o continente do agalma, objeto precioso. E pelo simples fato de haver transferência, o analista está implicado na posição de ser aquele que contém o agalma, mesmo que o sujeito não o saiba. Apenas pela suposição endereçada, é no outro que o pequeno a, o agalma, funciona. Lacan expõe desta forma no Seminário A transferência (LACAN, 1960-61/1992, p. 194), propondo uma equivalência entre agalma e objeto da pulsão parcial. No Seminário A angústia, ele aponta o que está latente na posição do analista, a função de objeto parcial (LACAN, 1962-63/2005, p. 106). Dez anos após, no Seminário Mais, ainda, enfatizará que ocupa-se o lugar de semblante de objeto, ocasionalmente (LACAN, 1972-73/1985, p. 129). Ainda no Seminário A angústia, ficará mais clara a equivalência proposta entre agalma e objeto parcial ao se distinguir o objeto pura causa de desejo e o objeto a situado "no campo do Outro" (LACAN, 1962-63/2005, p. 366), ou seja, quando há investimento libidinal que se transfere "para objetos historizados, vestidos com as imagens e significantes do discurso" (SOLER, 2012a, p. 166). Dito de outra maneira, objeto mais-de-gozar visado em tum parceiro eletivo. É o que parece estar em jogo, quando Soler irá denominar objeto sintoma (Ibid). Voltarei a ele, mais adiante.

Acontece que entre o amante e o amado não há nenhuma coincidência, pois o que falta em um não se encontra escondido no outro. Aí reside o problema do amor, uma vez que, no plano amoroso, servimos nossa castração, ou seja, amar é dar o que não se tem. Recorro à poesia, mais uma vez, buscando uma bela forma de ilustrar, por meio dos versos de Drummond, recolhidos do poema O malvindo:2

ama torto cada vez
e ama sempre, desfalcado,
com o punhal atravessado
na garganta ensandecida (DRUMMOND, 1996, pp. 74-75, grifo nosso).

A forma da conquista do outro não é a do "eu te amo, mesmo que não queiras". Há outra formulação, não articulável: "Eu te desejo, mesmo sem saber. Desejando-o, sempre sem saber disso, eu o tomo pelo objeto, por mim mesmo desconhecido, de meu desejo... eu te identifico com o objeto que falta a ti mesmo" (LACAN, 1962-63/2005, p. 37). Desejar o Outro é desejar o a, o desejo "aiza" o parceiro.

 

O sujeito não alcança o Outro

 

 

A função do desejo está subjacente no amor, é seu pivô essencial. E o par no nível do desejo é o par da fantasia, cujo matema, <>a, Lacan sugere que leiamos da seguinte maneira: "sujeito desejo de a" (Ibid, p. 59). Proponho uma aproximação ao que nos apresenta Soler (2012b, p. 133): "Entre o homem e a mulher há o muro erigido pelo fantasma". Portanto, a cada encontro de amor, o sujeito reproduz a sua fantasia, em que o objeto é postiço, nos assegura Lacan. O sujeito não alcança o Outro. No ato sexual, o gozo do homem não vai ao encontro do Outro sexo, a mulher barrada. Só lhe é dado atingir seu parceiro sexual, que é o Outro, pelo fato de ele ser a causa de seu desejo, eis o que nos apresenta Lacan no Seminário Mais, ainda (LACAN, 1972-73/1985, p. 108). Ou seja, entre os seres falantes, aquele que se alinha do lado homem só pode abordar o Outro sexo, contornando o objeto mais-de-gozar. Eis o ato de amor. Não há acesso ao Outro barrado, senão pela via das pulsões parciais. Estou tomando homem e mulher com base na referência ao quadro da sexuação proposto por Lacan no Seminário Mais, ainda (Ibid., p. 105). Aquele que se alinha do lado homem tem relação com o que só tem a ver, enquanto parceiro, com o objeto a inscrito do outro lado, o lado mulher, que tem relação com o Outro barrado (Ibid., pp. 107-109).

A libido é masculina e se faz presente do lado homem, o lado todo no gozo fálico. Do Outro lado, o Outro gozo, enigmático e sem palavras, que faz dela parceira de sua solidão, enquanto a união permanece na soleira (LACAN, 1972/2003, p. 467). Na voz do poeta:

Te quero reta como
a espada ou o caminho
Porém te empenhas em guardar
um recanto de sombra que não amo.
Amor meu,
me compreende,
te quero toda... (NERUDA, 2001, pp. 44-45, grifo nosso).3

Porém, ela é não-toda, não-toda dele. Resta um recanto de sombra, pois, por ser não-toda na função fálica, ela tem um gozo suplementar. Faz-se necessário esclarecer que o pronome ela está aqui referido a "um ser falante qualquer que se alinha sob a bandeira das mulheres" (LACAN, 1972-73/1985, p. 98). "A mulher, isto só se pode escrever, barrando-se o A" (Ibid.). E é por isso que ela tem relação com o Outro, tomando por referência o quadro da sexuação já mencionado. Do lado todo na função fálica, "a gente se alinha aí, em suma, por escolha – as mulheres estão livres de se colocarem ali se isto lhes agrada" (Ibid., p. 97). Nesse momento, Lacan refere-se às mulheres, aquelas que não possuem os penduricalhos entre as pernas. E ele faz, também, a seguinte ressalva: a função fálica não impede os homens de serem homossexuais, ou seja, mesmo que a escolha de parceiro seja um outro homem (aquele com penduricalhos entre as pernas), a função fálica lhes serve para se alinharem do lado homem e abordar as mulheres, o Outro sexo. Portanto, tal qual Lacan, "chamemos heterossexual aquele que ama as mulheres, qualquer que seja seu sexo próprio" (LACAN, 1972/2003, p. 467). Qualquer que seja o sexo, anatomicamente falando, e a escolha de parceiro.

O Outro (A mulher barrada) só se apresenta para o sujeito em uma forma a-sexuada. Tudo que foi suporte-substituto do Outro na forma de objeto de desejo é a-sexuado (LACAN, 1972-73/1985, p. 172). Se o ato sexual é um a-sexo, é possível aceitar que se proponha uma equivalência entre tal ato de amor e la petite mort, uma vez que o instante de satisfação orgástica ratifica a separação. O orgasmo não tem acesso ao Outro. Não há o dois do amor, há Um, sozinho, afirma Lacan no Seminário Mais, ainda (Ibid, p. 91), em que também ressalta a solidão do falasser, no que diz respeito à relação que não pode se escrever (Ibid. p. 163). A cada um seu gozo, não há proporção sexual. Dito de outra forma, trata-se de uma impossibilidade do desejo ter acesso ao Outro do gozo. No entanto, a busca se mantém, mais, ainda. No percurso analítico, ela se manterá enquanto não se esgota a libido analisante, combustível causado pelo objeto, reserva derradeira e irredutível da libido.

Ao ir em busca do objeto causa de meu desejo, realizo para o outro justamente o que ele procura. Ou seja, propor-me desejante é propor-me como falta de a, diz Lacan no Seminário A angústia (LACAN, 1962-63/2005, p. 198). É por esta via que abro a porta para que eu seja apreciado como amável, afirma Lacan, ilustrando com a metáfora: a mão que se estende em direção à lenha ardente e, no momento em que parece alcançá-la, a lenha se inflama e, da chama, aparece outra mão que se estende em direção à primeira (Ibid, p. 106). Aí está a reciprocidade do amor. É porque se deseja que se ama, pois ao ir buscar no outro o que lhe falta, abre-se a porta para que esta outra mão se estenda, também em busca.

Soler (2012a, p. 141) afirma que, no ato sexual cada um dos parceiros se experimenta estar no lugar da coisa inatingível, por um instante. Ou seja, cada parceiro ocupa o lugar de semblante do perdido desde sempre, momentaneamente. Proponho aproximar os termos semblante, invólucro e suplência, acrescentando mais um nesta equivalência: postiço. O objeto da fantasia neurótica é um objeto postiço, nos assegura Lacan, no Seminário A angústia (LACAN, 1962-63/2005, p. 61). No lugar de... substituição, portanto.

"Poesia é voar fora da asa", disse o poeta-passarinho pantaneiro,4 que também nos mostrou que o "verbo tem que pegar delírio", tem que se prestar às metáforas, se emprestar à substituição significante, para que a palavra tome lugar na voz do poeta:

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a
cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio (BARROS, 2000, p. 15).

 

O amor faz suplência: laço e contingência

A poesia responde ao impossível, nomeando o possível. Fazer poesia é utilizar-se da metáfora: um significante vem em lugar de outro e produz o novo. "Fazer o amor, como o nome indica, é poesia", afirmou Lacan (LACAN, 1972-73/1985, p. 98), e a proposta aqui é tomar tal afirmação não somente pelo viés do ato de amor (ato sexual), mas também pela via criativa, inventiva, ao final de um percurso analítico, quando poderá surgir um amor que "indica um saber fazer uma conduta com seu parceiro-sintoma" (BITTENCOURT, 2013, p. 26).

O gozo só se interpela, só se evoca a partir de um semblante, nos assegura Lacan no Seminário Mais, ainda (Ibid., p. 124). Mesmo o amor se dirige ao semblante, ao que está envelopado com as vestes imaginárias e simbólicas. No laço de amor, o parceiro é eleito a partir dos significantes e das representações da fantasia. Ele se presta a ser invólucro do objeto a, causa de desejo, e um corpo de gozo para o sujeito/ser falante. Há um eleito no amor, parceiro instituído como o continente do agalma, objeto-sintoma tornado alvo do vetor chamado desejo. Para que se torne mais clara a referência, é preciso trazer outra, ou seja, trazer a referência ao Seminário RSI, em que Lacan lança a pergunta "para um homem, o que é uma mulher?" (LACAN, 1974-75/inédito, aula de 21/01/1975). Um sintoma, um corpo de gozo eleito por meio do inconsciente, uma formação de seu inconsciente. "Não é o caso de todo parceiro?" (SOLER, 2012a, p. 149).

O sintoma sexuado instaura um substituto, uma suplência. Se não há relação sexual, há uma relação de amor possível, efeto (afeto/efeito) do inconsciente real, pois é somente pelo afeto resultante da hiância que algo se encontra. E nada reduz a contingência. Uma relação de amor que reconhece o outro como unicidade solitária não acredita no parceiro, nem dá crédito a ele. Encontro contingente entre dois saberes inconscientes, dois falasseres que trazem, cada qual, a sua marca de exílio. Dueto entre dís-pares amantes a entoar, cada um, a sua lalação. Embora a psicanálise não programe o bom encontro, que se deve à contingência, o discurso analítico acolhe as coisas do amor, colocando em jogo a castração, foracluída no discurso capitalista. Portanto, acolho o que nos mostra Soler em seu livro Lacan, o inconsciente reinventado: cabe à psicanálise se aliar a Eros, o deus do laço, "mas na medida para cada um do real sintomático que o define e sem passar pela norma, ainda que hétero" (Ibid., p. 189).

O amor é a causa humana por excelência, diz Jairo Gerbase (1998, citado por MAGALHÃES, 2013, pp. 241-242). Ele faz semblante de preencher o vazio humano, mais que o capital e o trabalho.5 Se insiste no encontro com a parte perdida, ele é desencontro; porém, em sua função sintoma, suplência do furo, ele é parceiro-sintoma, "e é então que, qual Eros menino, o amor brinca de faz de conta que encontrou a parte perdida, ainda que saiba que ela jamais existiu" (MAGALHÃES, 2013, p. 244).

Em sua função sintoma, o amor enlaça as três dimensões, sendo uma das diversas modalidades de sintomas socializantes, em que "o gozo, por muito pouco que se ligue, se aloja em um laço, pelo fato de se enodar ao Imaginário e Simbólico do parceiro" (SOLER, 2012a, p. 148). Acontece de eles se enodarem, contingência. Não se trata de reafirmar o que Lacan já havia dito em "Nota Italiana"? "Pôr a contribuir o simbólico e o real que o imaginário aqui une (por isso é que não podemos largá-lo de mão)" (1974/2003, p. 315). E continua, dizendo ser preciso aumentar os recursos graças aos quais se possa fazer o amor mais digno. Fazer o amor mais digno: l'amur, amuro.

A arte também é uma causa humana, ao apontar o objeto que falta. O amor, que só subsiste a partir do cessa de não se escrever, faz suplência, porém não obtura o furo irredutível, apenas supre a ausência de relação sexual que não cessa de não se escrever. A coragem do falasser diante do destino fatal, daí poderá surgir uma solução inédita e singular, indicando a transformação, a saída da impotência ditada pela fantasia. Um amor mais digno, que não espera complemento do Outro, pois reconhece o outro, um dís-par. Amor, além do sentido e das significações, signo do Um, Um-todo-só.

Como não tomar tal coragem pela via inventiva, pelo viés de criação? Esse amor que vem em suplência implica um savoir-faire, um saber lidar com a impossibilidade. E por este viés criativo, cabe apostar e propor que o amor é uma trama tecida nas bordas do furo, pois "o que perdura de perda pura é bordado" (DIAS; FINGERMANN, 2005, p. 39).

 

Referências

ANDRADE, C. D. Farewell. Rio de Janeiro: Record, 1996. 144p.         [ Links ]

BARROS, M. O livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2000. 104p.         [ Links ]

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DIAS, M.; FINGERMANN, D. Por causa do pior. São Paulo: Iluminuras, 2005. 174p.         [ Links ]

FREUD, S. (1914). Introducción del Narcisismo. Tradução de José Luis Etcheverry. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1984. (Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XIV, pp. 65-98).         [ Links ]

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__________. (1972). O Aturdito. In. LACAN, J. Outros Escritos. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, pp. 449-497.         [ Links ]

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__________. (1972-73). O Seminário, livro 20: Mais ainda. Versão brasileira de M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. 201p.         [ Links ]

__________. (1974-75). O Seminário, livro 22: RSI. Inédito.         [ Links ]

MAGALHÃES, S. A criança em nós. Salvador: Associação Científica Campo Psicanalítico: AÁgalma, 2013. 300p.         [ Links ]

NERUDA, P. Presente de um poeta. Tradução de Thiago de Mello. São Paulo: Vergara & Riba Editoras, 2001. 103p.         [ Links ]

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__________. O Inconsciente: o que é isso? Tradução de Cícero Alberto de Andrade Oliveira e Dominique Fingermann. São Paulo: Annablume, 2012b. 194p.         [ Links ]

__________. Seminário A angústia, de Jacques Lacan. Tradução de Elynes Barros Lima, Lia Carneiro Silveira, Sonia Maria Coni Campos Magalhães. São Paulo: Escuta, 2012c. 168p.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: marcia.assis@gmail.com

Recebido: 11/07/2015
Aprovado: 10/08/2015

 

 

* Psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, membro do Fórum do Campo Lacaniano de Niterói.
1 Referência ao poema Receita de Mulher, de Vinícius de Moraes.
2 Referência ao poema O malvindo, de Carlos Drummond de Andrade.
3 Trecho de poema de Pablo Neruda, em Los Versos del Capitán.
4 Poeta Manoel de Barros, O Livro das Ignorãças.
5 Gerbase é citado no livro A criança em nós.

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