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Stylus (Rio de Janeiro)

versão impressa ISSN 1676-157X

Stylus (Rio J.)  no.32 Rio de Janeiro jun. 2016

 

EDITORIAL

 

 

Clínica Psicanalítica: Laços e Desenlaces

 

A ética própria ao discurso analítico causa e determina os "laços e desenlaces da clínica psicanalítica". Stylus 32 se propõe a desenvolver os tratamentos lógico-éticos dos laços na experiência de uma análise e sua relação com os desencadeamentos e desenlaces que ela proporciona assim como os novos enodamentos que ela venha, eventualmente, a disparar.

O discurso psicanalítico e a experiência que este proporciona apresentam uma chance de resposta àquilo que não faz laço e que chega a se manifestar no mundo como inibição, sintoma, angústia, isto é, como avatares de um sujeito, dividido entre corpo e significante, entre signo e sentido, entre real e semblante, avatares do fala-ser.

Essa resposta de analista, da qual nós analistas temos a responsabilidade, constitui um laço extra-ordinário, excepcional, por fazer laço com aquilo que se apresenta como solidão radical, desenlace fundamental: o sintoma singular da estúpida e inefável existência de cada sujeito particularmente tocado e enlaçado pela lei do significante. Há um desenlace fundamental: a marca de gozo, que isola, mas distingue Um que ex-siste como único e incomparável: fora de série. Como não escamotear essa marca única nos laços necessários possíveis e contingentes com o outro?

Além da insistente questão da direção da cura e de sua teimosa orientação lógica e ética em direção ao final de análise, podemos ler aqui como os autores levam em conta a topologia borromeana para adentrar a delicada questão das estruturas clínicas e dos novos enodamentos que a clínica lacaniana permite precipitar, construir.

Os 21 trabalhos, assim como as 3 resenhas e a entrevista, são o fruto da "práxis da teoria" constante da comunidade de trabalho dos Fóruns do Campo Lacaniano, e são procedentes de analistas da Argentina, Brasil, Colômbia, Espanha, França, nomes conhecidos do público e muitos outros, mais "novos", que temos o prazer de apresentar para o leitor.

Começamos com a CONFERÊNCIA de Camila Vidal, Analista de Escola (A.E.) da Espanha. A conferência "Névoa", pronunciada durante o Encontro Nacional de 2015, em Curitiba, agora publicada, expõe com extrema simplicidade o percurso de uma análise que leva um sujeito do desejo de ser analista ao desejo de analista, descrito como uma "névoa" que não se dissipa, como uma tentativa de preservar algo do real ao avesso da insistência do sentido.

Em DIREÇÃO DO TRATAMENTO, Ana Laura Prates Pacheco (com sua rigorosa referência ao avanço borromeano), Bernard Nominé (desde sua experiência no cartel do passe propondo o caminho do equívoco da transferência até a transferência de trabalho) e Luciana Guarreschi (com sua instigante indagação da esperança enquanto oposta ao ato) abordam precisamente a direção do tratamento analítico pela operação do ato analítico até seu fim.

Miriam Ximenes Pinho e Ricardo Cabral nos oferecem mais algumas voltas na questão do amor que, como sabemos, está no centro da relação transferencial.

Na rubrica ESTRUTURAS CLÍNICAS: LAÇOS E DESENLACES, Andréa Franco Milagres, Dominique Fingermann, Paula Rodrigues Calado, Muriel Mosconi e Maria Claudia Formigoni desenvolvem as soluções da neurose, psicose e perversão como diversos enodamentos possíveis dos três registros, enodamentos do sintoma em resposta à angústia.

ENSAIOS: Quatro ensaios compõem esta seção. Isalena Santos Carvalho e Daniela Chatelard discutem como ocorre o processo de nomeação no Brasil, afirmando que o nome é uma marca que requer resposta. O texto de Elynes Barros de Lima aborda o conceito do Um desde o seminário O saber do psicanalista. Julia Minaudo se baseia na experiência da clínica e em uma leitura do "Joyce" de Lacan para precisar a práxis analítica como uma arte de e(s)quivocacão, permitindo desviar do senso comum de uma neurose. Raul Albino Pacheco Filho oferece uma bela leitura do filme Bitter moon, de Roman Polanski, para propor uma discussão sobre os aspectos distintivos estruturais entre neurose e perversão.

TRABALHO CRÍTICO COM CONCEITOS traz o primoroso trabalho crítico de Beatriz Elena Maya, que relê a famosa frase de Freud "a psicologia individual é simultaneamente psicologia social" a partir do ensino de Lacan e de sua abordagem da relação do singular com o coletivo. Samantha Abuleac Steinberg se debruça em uma leitura aguda do Seminário 16 de Lacan para desenvolver um cotejamento pertinente do grafo do desejo, apresentado aqui com os Discursos em plena construção neste momento.

ESPAÇO ESCOLA – "A Escola, a prova" dizia Lacan, a escola persiste e insiste ainda e sempre, na sua provação teimosa! Beatriz Elena Zuluaga Jaramillo, Daniele Guilhermino Salfatis, Katarina Aragão Ponciano, Matías Buttini dão vozes às questões fundamentais que fomentam a vivacidade da psicanálise graças ao refúgio em que consiste a Escola de Psicanálise. As palavras-chave que eles elencam e desdobram não são palavras de ordem, mas convocação e provocação para que a Escola persista como lugar privilegiado de manutenção da intranquilidade.

Por fim, as RESENHAS de Pedro Ambra, Fernanda Zacharewicz e Maria Claudia Formigoni e Alfredo Eidelsztein nos permitem um acesso ímpar e rigoroso às recentes publicações de Colette Soler e de Jairo Gerbase, assim como ao formidável trabalho de edição das Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena 1906-1908, organizadas por nossos colegas Marcelo Checchia, Ronaldo Torres e Waldo Hoffmann.

Last but not least, na seção ENTREVISTA, nosso colaborador Ronaldo Torres conversou com Vladimir Safatle, atuante filosófo de São Paulo cujo envolvimento com a psicanálise lacaniana atravessa seu engajamento na presença viva da filosofia no século XXI, assim como a "responsabilidade intempestiva" com a qual ocupa um lugar de destaque no campo da política de nosso país .

 

Desejamos a todos uma ótima leitura!

 

Dominique Fingermann
pela Equipe de Publicação de Stylus (2014-2016)

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