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Stylus (Rio de Janeiro)

versão impressa ISSN 1676-157X

Stylus (Rio J.)  no.32 Rio de Janeiro jun. 2016

 

ESTRUTURAS CLÍNICAS: LAÇOS E DESENLACES

 

Enlaces e desenlaces na clínica das psicoses: três fragmentos de amor erotômano

 

Connections and disconnections in the clinic of psychosis: three fragments of the erotomanian love

 

 

Andréa Franco Milagres*

Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil, FCL - Belo Horizonte
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O trabalho aborda a particularidade do enlaçamento com o Outro na erotomania, tomando como referência dois fragmentos clínicos e um recorte do filme "Bem-me-quer, mal-me-quer". Partiremos das elaborações de Freud em 1911, sobre a gramática da erotomania no caso Schreber, passando pela lógica e o postulado fundamental proposto por Clérambault em 1921. Ainda que se possa pensar a erotomania como uma solução subjetiva, é preciso considerar as estreitas margens da manobra analítica na medida em que a certeza de ser amado pelo Outro coloca o analista em dificuldades, quando ele aí é enlaçado.

Palavras-chave: Erotomania, Solução subjetiva, Postulado fundamental.


ABSTRACT

The aim of the work is to approach the particularity of a connection with the Other in erotomania, taking as reference two clinical fragment and a segment of a the movie "Bem me quer, mal me quer" (À la folie… pas du tout). We depart from Freud's elaborations of 1911 about the grammar of erotomania in the Schreber case, passing through the logic and the fundamental postulate proposed by Clérambault in 1921. Although it is possible to conceive the erotomania as a subjective solution, it is important to consider the narrow margins of the analytical move as the certainty of being loved by the Other puts the analyst in trouble when he/she finds him/herself entrapped in such a situation.

Keywords: Erotomania, Subjective solution, Fundamental postulate.


 

 

Tomarei como ponto de partida uma pergunta: o que pode a psicanálise extrair da clínica com sujeitos erotômanos? Podemos considerar a experiência com estes sujeitos potente em termos de ensinamento?

Freud nos ensina que a psicanálise não provoca a transferência. Ela é anterior ao tratamento e se manifesta também fora deste. Podemos entendê-la como uma espécie de prontidão libidinal, apta a tomar o outro como um objeto, a fim de satisfazer parte do impulso que não pode encontrar pleno desenvolvimento. Todavia, se há uma prontidão libidinal, o analista deve ser enredado necessariamente nesta trama para que o tratamento aconteça, suportando ser tomado como objeto. É uma condição.

Freud, desde o início, considerou com reservas a possibilidade de a psicanálise ocupar-se dos sujeitos psicóticos. Já em 1911, constatava que o problema advinha da dificuldade de estabelecer uma ligação libidinal com o psicanalista, visto que na psicose haveria um retorno da libido em direção ao eu, em detrimento de uma ligação com os objetos, situação que comprometeria a transferência, motor do tratamento psicanalítico.

Todavia, se por esta razão Freud desconfiava da aplicabilidade da prática psicanalítica à psicose, paradoxalmente nos mostra, por meio do delírio de Schreber, como o sujeito trabalha para se reconectar ao Outro.

A referência para compreender a psicose neste momento da sua elaboração é a teoria da libido, construída como resposta a Jung, que entendia a libido como interesse em geral pelas coisas. Freud o retifica, demonstrando a realidade sexual da libido a partir de Schreber. Trata-se de um caso exemplar para a psicanálise, na medida em que nos permite constatar os efeitos do desligamento do outro como objeto e os destinos da libido quando do seu retorno ao eu. A partir de uma gramática particular oriunda do enunciado de Schreber – "como seria bom ser uma mulher submetendo-se à cópula" – Freud depreende não somente uma tipologia da paranoia, nomeando os delírios de perseguição, de ciúmes, de ser amado e de grandeza, mas, sobretudo, esclarece o modo como cada paranoico estabelece ou restabelece sua ligação com o Outro.

Freud parte de uma fórmula matriz:

EU O AMO
O que quer dizer,
EU (UM HOMEM) O AMO (A ELE, UM HOMEM).

Em todos os casos há uma negação da frase EU O AMO. Esta negação pode recair sobre o sujeito, o verbo, o objeto, ou sobre a frase inteira. A partir de um trabalho de negações, inversões ou projeções, Freud constrói uma gramática da libido que nos instrui a respeito de sua ligação com o Outro e consequentemente, com seu desejo, conforme o tipo clínico.

Na perseguição: a negação recai sobre o verbo da frase, ocorrendo uma inversão. O amor, por projeção se converte em ódio, levando ao delírio de perseguição. "Eu não o amo, eu o odeio, porque ele me persegue".

Na erotomania: a negação recai sobre o objeto da frase. "Não é a ele quem amo, é a ela", e por projeção: "É ela quem me ama".

Nos delírios de ciúmes, a negação recai sobre o sujeito da frase, que é invertido: "Não sou eu quem ama o homem, é ela quem o ama".

E no delírio de grandeza, nega-se a frase por inteiro: "Eu não o amo, só amo a mim mesmo". Megalomania, portanto.

A partir de três fragmentos, discutiremos a modalidade erotômana de fazer laço e, na medida do possível, seus respectivos desenlaces.

 

Caso 1: Marisa, um "mulheril"

Na entrevista inicial, Marisa fala do seu problema: "é que o sexo trepou pra cabeça". Aos poucos recolhemos as pistas que permitirão uma aproximação diagnóstica. Primeira pista: vendo televisão, uma propaganda anunciava: "de mulher pra mulher, Marisa…". Teve, então, uma certeza: o recado era para ela. Segunda pista: o surgimento de um neologismo: relatava estar em uso de uma medicação que nomeava como "mulheril", em vez de meleril.1 Terceira e inequívoca pista: no parto do terceiro filho testemunhou uma experiência inefável. Durante a cesariana teve acesso a um gozo sexual que jamais havia experimentado. Sua conclusão é rápida e certeira: "doutor X me ama". A partir daí passará seus dias atrás do doutor X, cercando-o nas ruas e jogando-se na frente do seu carro para lhe declarar seu amor. Importante lembrar que a erotomania pode manifestar-se clinicamente nas duas vertentes: amar ou ser amado pelo Outro, pois se Marisa ama, foi doutor X quem declarou seu amor primeiro. Podemos nos interrogar sobre o laço que o sujeito estabelece com o Outro: ela é Marisa, o mulheril que tendo acesso a essa experiência absolutamente única proporcionada pelo doutor X pode não somente gozar, como fazê-lo gozar. Na psicose podemos dizer que o amor se torna signo do gozo do Outro e ao mesmo tempo circunscreve seu ser de mulher?

 

Caso 2: O casamento do Rey

Seu nome: "Sou Rey, Deus Pai todo poderoso".

A situação: "Há sofrimento e o Brasil é escravizado pelos Extado Wonido".

"Extado Wonido povo sujo. Robou 100 bilhão de Dr. L., robou 500 bilhão de Dr. L., robou 600 bilhão de Dr. L.".

Sua missão: "Unificar países com o Brazil: Nóvaiórqui – China – As América – Botafogo – Oroquai – Exráeo – Rólhiode – Rondônia – Londris – Paris – Argentena".

O objetivo: "criar um novo progresso, um novo entendimento, pão farto na mesa do brasileiro, tendo sempre à frente o Brasil no comando do Globo-terra para afastar os maus pensamentos, as brigas e as discussões. Criar uma nova base, nova formação básica dativa, uma nova república".

O método: "ditar os erros do mundo e da democracia".

O benefício: "Com os onze países reunidos quem ganha é o Brasil, que fica forte, preparado para os ataques".

Um aliado: "É através dos escritos que vou unir muito país com o Brasil. Preciso continuar trabalhando; sou obrigado".

A condição: "casar-se com Wandreia Milagri".

Pouco após o início dos atendimentos, começa a chamar-me de "fugitiva", referindo-se à minha ausência do hospital por alguns dias. Sofreu com minha saída e andou passando uns sustos. Formula a seguinte questão: "Antes não tinha nada. Era só eu e Deus. Agora tem você. Por quê?".

Depois que me conheceu, adquiriu fama, e eu também. Ouve meu nome pelos quatro cantos do globo. Está passando na rua e de repente ouve alguém dizendo: "Wandreia Milagri". Agora o mundo todo o recebe, os vizinhos o convidam para entrar.

Diz que "com Wandreia Milagri e Rey o Brasil está de pé". O trabalho de unificação está quase terminado: a isto chama de "trabalho global". Faz muitas observações e elogios: muitos homens gostariam de estar casados comigo, meu nome é forte e toda vez que ouvi-lo significa que ocorreu um milagri. Tais fenômenos começam a enigmatizá-lo: não entende por que todos os vizinhos o conhecem, nem por que quando passa na rua todos falam com ele.

Clérambault, em 1921, nos dá a fórmula do fenômeno passional. Se Freud falava de uma gramática, Clérambault falará de lógica. Além de suas descrições da síndrome, ele dirá que a paixão erotomaníaca é um postulado ("é o objeto quem começou a amar") ao qual se acrescentam por dedução, proposições derivadas. Ele rompe com o vocabulário psicológico da crença, fazendo justiça à lógica psicótica. Sendo um postulado um ponto fundador, fora de demonstração, do qual todas as proposições são derivadas, o que está em questão não é uma pergunta, senão uma certeza. Esses amores iniciam-se não pela percepção de que se ama, mas pela percepção vinda de fora de que se está sendo amado. Será justamente em função desta lógica que Clérambault fala do "comportamento paradoxal e contraditório do objeto". O erotômano tentará explicar por que o objeto não o acode, por que não vem em sua direção, por que não atende a seus pedidos: interrogará os motivos do seu afastamento, já que existe um postulado fundamental. Os paradoxos do erotômano não são, portanto com seu postulado, senão com seu objeto (SOLER, 2007a). No caso em questão temos abundantes exemplos de tal paradoxo. Há uma ocasião, pouco antes de uma internação ocorrida em maio de 1994, em que diz que está me perdendo, que eu não venho mais a ele. Chama-me de "filha pirracenta" e indaga: "como é que você não cumprimenta Deus?". Nesta noite promete me castigar para que eu me arrependa de enjeitá-lo, para que eu perceba que quem fornece o ar que respiro é ele, Deus.

Durante aproximadamente três anos de atendimento em um hospital-dia, Rey escreve e entrega de modo sistemático o que chama de "escrituras", dizendo: "tudo passará, tudo passará menos as minhas palavras porque elas estão escritas… na bíblia".

Decorridos oito meses de atendimento aparecem nas escrituras as primeiras referências sobre o casamento que estaria para acontecer entre Wandreia Milagri e Rey: "ela está gamada com Rey" ou "Wandreia Milagri tá querendo casar com Rey".

Manifestações megalomaníacas são evidentes: ele é Sansão, o homem mais forte do mundo, todos o chamam nos quatro cantos. Atribui isto a Wandreia Milagri. Passa a dormir no Posto de Urgência Psiquiátrica porque tem medo. Hostil, ameaça agredir as pessoas. Reafirma ser Deus-Pai, manda em todos aqui, seus filhos devem obedecer-lhe.

Ameaça acabar comigo e com tudo que tenho, e ao mesmo tempo diz que se contenta em castigar por meio das escrituras.

Esta fase resultará numa interrupção do tratamento no hospital-dia e consequente internação, motivada pela intensidade da erotomania que tornava a percepção de ser amado algo extremamente invasivo; pela hostilidade e agressividade dirigida a todos e como não podia deixar de ser também, ao Brasil ("como é que um Rey pode receber isto?", referindo-se ao fato de considerar sua função no hospital-dia um trabalho e seu salário, insignificante). Após a internação, o paciente começa a trazer novidades, falando a respeito daquilo que já escrevia: o casamento.

Considerando as margens estreitas de manobra clínica no caso, após a internação tomamos duas medidas: providenciar uma moradia fora do hospital e reduzir as sessões a um encontro semanal, no mesmo dia e horário, com o propósito de promover uma distância mínima necessária.

Sente medo. Isto tudo por causa da Rede Globo, que colocou seu nome para todo o mundo. A Globo estaria fazendo isto porque está irritada com o fato de ele "distribuir os erros" e "estar na presidência". O que ameniza tais fenômenos é assegurar que vai continuar no hospital-dia.

Pouco após, nos seus escritos, anuncia: "Estou num percurso, numa formação". Não tem família, mas não está sozinho: está com Deus: "Tou pronto pra luta. Tenho defesa pessual. Tou forte comu a rocha. Sou Deus, o meu corpo somi. Qi eu sou Deus Poderoso. Sou imortal e sou Deus. Si eu sou forte pra luta. Pode fazê o meu corpo sumi. Sou Deus Pai Todo Poderoso".

Continua entregando escritos alusivos ao casamento por vir; prenúncio de dias melhores: "É… pelo que vejo as coisas vão de vento em popa…".

Se em Schreber localizamos que o efeito de empuxo-à-mulher seria justamente a nomeação "mulher de Deus", no caso em questão podemos dizer que este efeito estaria na nomeação "Rey-Deus Pai", significante novo que virá fazer frente à ausência da significação fálica, fazendo suplência ao significante foracluído, permitindo que o sujeito possa situar-se, senão na partilha dos sexos, pelo menos fazendo semblante de heterossexualidade, como diria Soler.

"Rey-Deus Pai" é o significante S1 que representa o sujeito para o significante S2, "Brasil", e Wandreia Milagri é o instrumento, o meio pelo qual – se se admite suportá-lo – a transformação ocorrerá, fazendo do Brasil um país forte, preparado para os ataques.

"Rey quer representar o Brasil com Wandreia na China, a China quer que Rey casa com Wandreia e dá um toque na democracia, prenúncio de uma fase de progresso, disciplina e fartura, e de uma nova geração no Brasil."

Diz que agora já tem "dons, poder e espírito". Uma trindade forjada a partir dele próprio, quando da retirada de um pedaço de sua costela e que sai do seu corpo para "procurar os erros", mas a ele retorna num movimento de vai e vem. No entanto, a partir desta trindade aparece algo novo. Se antes Wandreia Milagri estava colocada no lugar de emissor da libido que tomava por alvo o sujeito, agora é a Virgem-Maria quem manifesta o desejo de morar com ele. Seus escritos anunciam: "Sou Deus Pai Todo Poderoso. Virgem Maria tá com vontade de morar comigo".

Qual é a solução ética encontrada pelo sujeito?

A mudança de objeto de Wandreia Milagri para a Virgem Maria não altera a estrutura do amor erotomaníaco, mas ainda assim comporta as seguintes vantagens:

1. Opera um deslocamento no objeto de amor, de tal modo que o laço analítico permaneça nos limites do viável. Uma pequena solução que poupa o analista, ainda que a erotomania não tenha se dissolvido.
2. Compele-o a "adiar a solução do presente para o futuro remoto, e a contentar-se com o que poderia ser descrito como uma realização de desejo assintótica", disse Freud (1911/1987, p. 68), pois é bem verdade que a Virgem Maria constitui-se como muito mais distante que a analista…

E tal qual o casamento com a Virgem, a unificação dos seus onze países prossegue numa tarefa interminável.

 

Caso 3: "Bem-me-quer, mal-me-quer"

A título de interlocução com a cultura podemos fazer referência ao filme "Bem-me-quer, mal-me-quer", de 2002, protagonizado por Audrey Tatou que encarna Angélique, uma artista plástica. O que desencadeia o amor desmedido de Angélique é um gesto banal de Löic, seu vizinho médico. Certo dia, transbordando de alegria com a notícia da gravidez de sua esposa, Löic lhe compra um buquê de flores. Casualmente, encontra Angélique na rua, e do buquê retira uma única rosa e presenteia sua vizinha. É o suficiente para que Angélique tenha a certeza de ser a amada de Löic. Utilizando-se de um interessante manejo com o tempo, a diretora do filme adia qualquer compreensão imediata do espectador. Se para Angélique, a contingência do encontro está abolida e é absolutamente óbvio e sem suspeitas que o Outro a ama, para o espectador, somente um golpe de surpresa irá revelar uma verdade outra: é que o amor que Angélique postula nunca existiu. Trata-se de um amor louco e delirante, que não conhece o acaso, não tolera o equívoco nem tampouco o desencontro. Longe de estarmos diante de um amor que faz suplência à relação sexual que não há, na erotomania temos um amor morto, que jamais poderá ser dialetizado. Tiramos a prova na última cena do filme. Angélique, de alta médica, se despede do hospital psiquiátrico e do seu médico. Aparentemente seu amor desmedido foi tratado pela psiquiatria, estando ela livre do seu pathos e enfim, em condições de conviver novamente em sociedade. Qual não é a surpresa do expectador, quando após a alta, a equipe da limpeza, ao arrumar os aposentos da doente, encontra atrás do armário uma verdadeira obra de arte. É o retrato de Löic, construído laboriosamente por Angélique com os comprimidos que deveriam ter sido ingeridos para o seu próprio bem, durante o período da internação. Angélique constrói sua solução, pílula por pílula. Ela poupa os médicos da ladainha do seu amor louco. Em contrapartida, ela o deposita ou circunscreve em um objeto, o que não quer dizer que ele tenha deixado de existir. A erotomania continua lá.

Encerraremos sustentando que a psicanálise não tem a prerrogativa de dissolver a erotomania. Não é sua missão. A erotomania poderia ser considerada uma solução para o tratamento do real, na justa medida em que vemos aí uma tentativa de religar a libido ao Outro. Nos três fragmentos abordados é precisamente o que a clínica nos ensina. É uma solução fornecida pelo próprio sujeito. Talvez não seja a melhor, posto que quase sempre coloque o psicanalista em maus lençóis. Assim, fica como questão, quando recebemos um sujeito psicótico, que Soler (2007b) inclusive não hesita em nomear como "trabalhador", em que ponto a psicanálise pode dar seu auxílio. O curioso é que no caso 1, Marisa, a localização do amor no Outro parece não bastar como solução subjetiva. Ela insiste em retornar ao serviço de saúde mental semanalmente, tomando a analista como testemunha de que seu amor é verdadeiro. No caso 2, de Rey, apesar da escrita profusa e do delírio relativamente consistente que poderia ter efeito de ponto de basta, ainda assim ele elege um secretário que deve recolher diariamente suas notas que ele nomeia de "os erros do mundo".

A clínica, com esses sujeitos, nos ensina, portanto, que na erotomania, ainda que se trate de uma elaboração espontânea, nem sempre se pode prescindir de um analista. Considerando que o sujeito possa demandá-lo e que este amor provavelmente não se dissipará com o tratamento, trata-se, para o analista, de sustentar exatamente o mesmo ponto, sempre, independentemente da estrutura: não há relação sexual. Com esta resposta de analista há chance, quem sabe, de que o sujeito possa fazer seus pequenos arranjos, como o fez pelo menos o Rey, ao manter sua expectativa matrimonial perenizada, de Wandreia Milagri a Virgem Maria. Casamento sim, relação sexual não.

 

Referências

FREUD, S. (1911). "Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (dementia paranoides). Artigos sobre técnica (Tradução sob a direção de Jaime Salomão) In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1987, pp. 15-108.         [ Links ]

CLÉRAMBAULT, G. "Os delírios passionais: erotomania, reivindicação, ciúmes". Tradução de Alain François com revisão técnica de Mário Eduardo Costa Pereira. Revista Latino-americana de Psicopatologia Fundamental. São Paulo, vol. 2. n.1, mar 1999. Disponível em <www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/revistas/volume02/n1/os_delirios_passionais.pdf> (Acesso em: 10/02/2016).         [ Links ]

LACAN, J. (1954-55). O seminário, livro 3: As psicoses. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, Zahar, 1986, 380p.         [ Links ]

PEREIRA, M. E. C. O "automatismo mental e a 'erotomania', segundo Clérambault". Revista Latino-americana de Psicopatologia Fundamental. São Paulo, vol. 2. n.1, mar 1999. Disponível em <http://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/revistas/volume02/n1/o_automatismo_mental_e_a_erotomania.pdf> (Acesso em: 10/02/2016).         [ Links ]

SOLER, C. (2007a). "Estrutura e função dos fenômenos erotomaníacos da psicose" In: O inconsciente a céu aberto da psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, 264p.         [ Links ]

__________. (2007b). "O trabalho da psicose" In: O inconsciente a céu aberto da psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, 264p.         [ Links ]

BEM ME QUER, MAL ME QUER. (2002). Art Filmes distribuidor. Dirigido por Laetitia Colombani. Com Audrey Tatou e Samuel Le Bihan.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Rua Espírito Santo, 2.727, sala 1.302
Lourdes - Belo Horizonte – CEP: 30160-030
E-mail: andreafmilagres@gmail.com

Recebido: 27/01/2016
Aprovado: 22/03/2016

 

 

* Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil, FCL-Belo Horizonte, membro de Escola. Mestre em psicologia pela UFMG, Professora da PUC Minas, coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde de Betim/PUC Minas, coordenadora adjunta do NUPSI-Clínica Escola do curso de Psicologia da PUC Betim.
1 Cloridrato de tioridazina, neuroléptico indicado em casos de psicose e exacerbações agudas.

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