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Semina: Ciências Sociais e Humanas

On-line version ISSN 1679-0383

Semin., Ciênc. Soc. Hum. vol.40 no.1 Londrina Jan./June 2019

 

Artigos

O perigo da leitura literária: questões para o campo da psicanálise

The risk of literary reading: questions for the field of psychoanalysis

 

 

Debora Ferreira Leite de Moraes1

1Universidade de Brasília

 

 


Resumo

Partindo de um cenário composto por ilustrações sobre o perigo da leitura no campo do imaginário social, este artigo, que se insere na interface entre a psicanálise e a literatura, pretende destacar questões sobre os efeitos da leitura literária. De natureza teórica, o presente trabalho apoia-se em considerações da crítica literária, por um lado, e, na metapsicologia freudiana, por outro. No campo da crítica literária, autores como Jauss e Iser, que enfatizam a recepção estética e os efeitos do texto, sustentam a nossa hipótese de que a obra literária convoca o leitor para uma participação criativa durante a leitura. No campo da psicanálise, Freud ampara a nossa suposição de que o efeito estético também pode ser pensado a partir da problemática da sublimação. Considerando a implicação da sublimação a partir de consequências benfazejas e iatrogênicas da criação literária, questionamos se a leitura serviria como remédio ou veneno para o leitor.

Palavras-chave: Psicanálise. Literatura. Leitura. Sublimação. Metapsicologia.


Abstract

Starting from a scenario composed of illustrations about the danger of reading in the field of social imagery, this paper, enrolled between psychoanalysis and literature, aims to highlight questions about the effects of literary reading. Of theoretical nature, the present work is based on considerations of literary criticism, on the one hand, and, on Freudian metapsychology, on the other. In the field of literary criticism, authors such as Jauss and Iser, who emphasize aesthetic reception and the effects of the text, support our hypothesis that the literary work requests the reader to a creative participation during reading. In the field of psychoanalysis, Freud supports our supposition that the aesthetic effect can also be thought from the problematic of the sublimation. Considering the implication of sublimation from the benign and iatrogenic consequences of literary creation, we questioned whether reading would serve as a remedy or poison for the reader.

Keywords: Psychoanalysis. Literature. Reading. Sublimation. Metapsychology.


Introdução

Em 04 de outubro de 2018, o portal G11 noticiou que livros, da biblioteca central da Universidade de Brasília, foram rasgados. O caso, que será apurado pela polícia federal, nos chama a atenção para a crença, no campo do imaginário social, no efeito perigoso dos livros e nos remete a uma lista interminável de fogueiras que poderiam iluminar um cenário de censura que não se limita à nossa época e tampouco ao Ocidente. Em 213 a. C., Chi Huang-Ti, imperador chinês, promoveu uma queima de todos os livros do seu reino. O poder da Igreja na idade média foi laureado com o Index (Índice dos livros proibidos) publicado pela Inquisição. Para manter o poder do Estado, os grandes ditadores também limitaram o alcance da leitura. A propaganda nazista, por exemplo, incluiu imagens da queima de livros feita em Berlim, em 1933. Na ocasião, uma multidão entusiasmada foi ludibriada pelo discurso dos censores: “Contra a exacerbação dos impulsos inconscientes baseada na análise destrutiva da psique, pela nobreza da alma humana, entrego às chamas as obras de Sigmund Freud, declamou um dos censores antes de queimar livros de Freud.” (MANGUEL, 1997, p. 316).

Assim como Freud, Marx, Zola, Hemingway e Proust foram para a fogueira por meio de suas obras. Mais recentemente, em 1981, “a junta militar liderada pelo general Pinochet baniu Dom Quixote do Chile porque o general achava (com bastante razão) que o livro continha um apelo pela liberdade individual e um ataque à autoridade instituída.” (MANGUEL, 1997, p. 320).

A literatura colocada em oposição à moral e ao lado da transgressão e do pecado, como detentora da capacidade de perverter o leitor, encontra ressonância não só neste panorama histórico político, mas também no âmbito do conteúdo dos textos literários. Madame Bovary, personagem de Flaubert, era impedida de ler determinadas obras porque os romances poderiam corrompê-la. O livro poderia deixar a marca roxa da morte naqueles que ousassem tocar as folhas proibidas em O nome da rosa, de Umberto Eco. A leitura poderia induzir ao suicídio, como no caso da novela Os sofrimentos do jovem Werther de Goethe que, publicada em 1774, supostamente desencadeou uma onda de suicídios na Europa (alguns leitores foram encontrados mortos com o livro nas mãos).

No outro extremo desse espectro de efeitos, que vai do veneno ao remédio, temos as consequências terapêuticas da leitura literária. Michèle Petit (2010), antropóloga francesa, aborda a leitura por meio das transformações do leitor em contextos de crise social. O trabalho de mediadores de livro, contadores de história e o uso da literatura no âmbito terapêutico contribuem para a ideia da leitura como bem-estar, como possuidora de possibilidades benéficas para o sujeito. Casos citados por esta autora apontam para o efeito reparador da leitura literária. Podemos encontrar depoimentos de prisioneiros que se acalentaram por meio de textos literários ou pelos indícios que a memória guardou da leitura. Primo Levi recitava Dante para Pikolo, em Auschwitz. Para Jean-Paul Kauffmann, preso no Líbano, a leitura perdurava em forma de rastros que lhe conduziam a uma espécie de liberdade enquanto estava encarcerado:

Reconstituir a intriga do O vermelho e o negro, Eugénie Grandet ou Madame Bovary não era o objetivo que eu perseguia. Recriar a lembrança de uma leitura, reconhecer em mim os rastros que perduraram, recuperar a impregnação, eis a meta que estabeleci. Dar significado àquilo que eu lia era secundário. Procurava embeber-me do texto, não a sua interpretação [...] Eu jamais tinha devorado [um texto] com tamanha intensidade. Esquecia a cela. Enfiado no fundo da minha leitura, produzindo em mim mesmo um outro texto. Fruição estranha, equivalia a uma reconquista provisória de liberdade (KAUFFMANN apud PETIT, 2010, p. 16, grifos nossos).

O cerceamento da liberdade civil parece não atingir o livre-arbítrio próprio da imaginação. Como reflete Kauffmann (apud PETIT, 2010), ao embeber-se do texto, o efeito perdura como impregnação e, desta maneira, transforma o leitor. No caso da leitura dos textos de Clarice Lispector, por exemplo, não há como afugentar-se da convocação (MORAES, 2012) já que o convite ao leitor é explícito: “Você que me lê que me ajude a nascer” (LISPECTOR, 1998, p. 33).

O que está em jogo, no âmbito deste artigo, como uma espécie de panorama de onde serão destacadas questões no campo da psicanálise, é a crença sobre o efeito de contaminação do leitor por meio da leitura literária.

A Contaminação do Leitor

Com relação aos efeitos da obra de arte, Freud afirma no artigo O Moisés de Michelangelo que o artista “visa é despertar em nós a mesma atitude emocional, a mesma constelação mental que nele produziu o ímpeto de criar [...] isso não pode ser simplesmente uma questão de compreensão intelectual.” (FREUD, 1914-1996, p. 217, grifos nossos). A compreensão fica em segundo plano para dar caminho para o efeito agenciado pelas fantasias do espectador ou, nesse caso, do leitor. É o “ponto de vista do espectador que paulatinamente se infiltra no campo da criação, uma vez que a obra também se faz tributária do olhar que a interroga” (FRAYZE-PEREIRA, 2005, p. 40). De acordo com o relato de Kauffmann (apud PETIT, 2010) dar significado àquilo era secundário, o importante era embeber-se do texto. Embeber-se é sinônimo de encharcar-se, infiltrar-se, fazer penetrar por (um líquido). Ler, deste ponto de vista metafórico, seria se deixar penetrar por um texto, encharcar-se dele. O efeito de contaminação parece presumível. Isso não quer dizer que a intenção do autor, inacessível, tenha sido concretamente a de contaminar o leitor, mas os efeitos da leitura literária podem ser pensados a partir desta condição:

[...] um texto, depois de separado de seu autor (assim como da intenção do autor) e das circunstâncias concretas de sua criação (e, consequentemente, de seu referente intencionado), flutua (por assim dizer) no vácuo de um leque potencialmente infinito de interpretações possíveis (ECO, 2005, p. 48).

Do veneno impregnado no livro O nome da rosa ao veneno dos livros lidos por Madame Bovary, o que fica para nossa reflexão é o poder de transformar estados, de alterar o leitor, de encharcá-lo de palavra. Uma transformação inevitável e irreversível. Mijolla-Mellor é radical ao afirmar que:

[...] a fantasia que sustenta a atividade da escrita é, conscientemente ou não, aquela de contaminar o leitor, de pervertê-lo, ou então, de lhe revelar as pulsões análogas que irão se desvendar nele durante a leitura. Assim, ao invés da atividade criativa proporcionar um tipo de catarse ao autor, ela tem como objetivo oferecer ao outro – o leitor – a capacidade de reconhecer a loucura comum que os habita (MIJOLLA-MELLOR, 2008, p. 3).

Referindo-se à obra de Fernando Pessoa, Silva Junior (1998, p. 121) concorda que “assim como o processo analítico no último Freud, a poesia pessoana teria como seu efeito fundamental não a catarse, mas uma alteração da subjetividade”. Se o escritor pretende despertar em nós a mesma constelação mental que nele produziu o ímpeto de criar; se o intuito, mesmo que inconsciente, é o de contaminar o leitor, de lhe revelar as pulsões análogas, há aqui uma espécie de campo entre autor-leitor-texto que mobiliza afetos, que provoca o fantasiar, que permite as livre-associações do leitor e que, ao permiti-las, provoca uma alteração singular da subjetividade.

Freud (1908-1996a), em Escritores criativos e devaneios, compara o ato de criar com o ato de brincar da criança e com as fantasias e devaneios do adulto, indicando que na escrita criativa estaríamos falando de uma atualização das fantasias do escritor. Birman (1996) propõe uma inversão desta formulação ao afirmar que o texto, ao ser lido, promove uma atualização das fantasias do leitor. Também para Barthes (2008), o prazer da leitura está relacionado às fantasias promovidas a partir dela. É dessa maneira que podemos retomar a ideia de que ao leitor cabe a tarefa de completar o texto por meio de sua imaginação: a “produção de sentido implica a apropriação do texto pelo leitor, que imprime sua singularidade na experiência de leitura” (BIRMAN, 1996, p. 54, grifos do autor). Bollas, referindo-se aos efeitos de sua leitura de Moby Dick, corrobora nossa hipótese: “permitiu-me ser sonhado por ele, movimentar elementos de meu idioma pessoal com a colaboração do texto” (BOLLAS, 1998, p. 42). Devemos considerar que ao ler o texto, o leitor, potencialmente, por meio de suas próprias associações, passa a ser interpretado de modo que a “impossibilidade é a de ler qualquer coisa sem ao mesmo tempo ler-se” (MORAES, 2012, p. 134, grifos da autora).

O leque potencialmente infinito de interpretações, sugerido por Eco conforme expusemos, nos remete à polissemia da palavra consagrada pela técnica de livre associação proposta por Freud e, embora não seja o recorte deste artigo, cabe lembrar que aproximações entre o método psicanalítico, a arte e a literatura são feitas por Green (1994), por Birman (1996), por Herrmann (2001), por Frayze-Pereira (2005) e por Bollas (2010) que, apesar de seus diferentes ângulos de visão, entendem que a “experiência estética é vizinha da experiência psicanalítica.”(FRAYZE-PEREIRA, 2005, p. 38). Consideramos, com estes autores, que assim como na experiência psicanalítica, na experiência estética somos convidados a colocar em circulação nosso próprio campo de desejos. Com relação especificamente aos textos, se por um lado “é a predisposição do leitor que altera a leitura e introduz no texto algo que corresponde a suas expectativas ou que o está ocupando.” (FREUD, 1901-1996, p. 121), por outro lado, é também o texto que provoca o leitor:

[...] num segundo grupo de casos, é muito maior a participação do texto no lapso de leitura. Ele contém algo que mexe com as defesas do leitor – alguma comunicação ou exigência que lhe é penosa – e que, por isso mesmo, é corrigida pelo lapso de leitura, no sentido de um repúdio ou uma realização de desejo (FREUD, 1901-1996, p. 122).

Cabe observar que nem o texto se oferece como papel em branco passível de qualquer projeção de fantasias, nem tampouco se apresenta fechado às associações feitas durante a leitura. O caráter interpretativo, a dimensão disruptiva envolvida na leitura de qualquer texto literário2, considerando que a abertura para a participação do leitor é iminente e inevitável, aponta para o fato de que o texto literário convoca o leitor para uma produção criativa3.

Na Tessitura do Texto

Interessados pela recepção estética e pelo efeito da leitura de uma obra ficcional, Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser representam, no âmbito da crítica literária, o que ficou conhecido genericamente como “Escola de Constança”. No final da década de 1960, na Alemanha, estes autores inauguraram um campo específico de interesse: a leitura. Eles “não mais se concentravam tanto na significação ou na mensagem, mas sim nos efeitos dos textos e em sua recepção” (ISER, 1996, p. 10). O deslizamento de uma tradição hermenêutica - advinda de uma orientação semântica, que buscava no texto uma significação oculta ou a intenção cifrada deixada pelo autor, abre espaço para uma ênfase na recepção, na leitura e no efeito proporcionado pelo texto.

Segundo Jauss (1994), devemos apreciar uma obra literária não só em seu teor estético, mas, além disso, na história de seu nascimento, sua função social e sua recepção. A leitura de um livro, deste ponto de vista, é sempre renovada pelo contexto em que se insere a obra e o leitor. A obra de Goethe, por exemplo, referida no preambulo desse artigo, supostamente não desencadeou, em suas edições posteriores, os suicídios tal como na Europa na época em que foi publicada (embora o “efeito Werther” continue sendo citado nos manuais de prevenção de suicídio ainda hoje). Do mesmo modo, a leitura de Madame Bovary, supostamente, não teve o mesmo efeito ao longo de suas edições posteriores, considerando o declínio da sociedade patriarcal. A cada tempo da cultura, efeitos diferentes porque a obra se depara com leitores e com contextos distintos. Isso quer dizer que a leitura é sempre reconstruída na presença do leitor e que tanto a obra como os efeitos só podem ser analisados a partir de um contexto histórico, social e político.

Segundo Iser (1996, p. 15-16) “o texto literário é um potencial de efeitos que se atualiza no processo de leitura [...] o efeito estético deve ser analisado, portanto, na relação dialética entre texto, leitor e sua interação”. Para Jauss (1994, p. 23), “a obra literária não é um objeto que exista por si só, oferecendo a cada observador em cada época o mesmo aspecto [...] Ela é, antes, como uma partitura voltada para a ressonância sempre renovada da leitura”. Umberto Eco (2005) corrobora esta vertente quando menciona que o texto é uma obra aberta e, portanto, só se completa no encontro com o leitor. Cabe dizer que o mesmo autor ressalta que: “entre a intenção inacessível do autor e a intenção discutível do leitor está a intenção transparente do texto, que invalida uma interpretação insustentável” (ECO, 2005, p. 93). De todo modo, podemos afirmar que o intérprete, da partitura sempre renovada, participa criativamente do som que ajuda a produzir. Ou seja, “o texto ficcional exige imperiosamente um sujeito, isto é, um leitor. Pois enquanto material dado, o texto é mera virtualidade, que se atualiza apenas no sujeito” (ISER, 1996, p. 123).

O movimento do desejo do leitor em relação ao texto e os efeitos advindos desse caminho nos aludem à participação ativa do leitor. Cada encontro com o texto literário pode promover interpretação diversa da partitura oferecida e, dessa perspectiva, o efeito, seja benfazejo ou iatrogênico, está vinculado a cada experiência de leitura. Ademais, cada espectador é afetado de forma distinta e “geralmente, diante de uma obra de arte, cada um diz algo diferente do outro” (FREUD, 1914-1996, p. 217). A implicação do leitor, por meio de sua imaginação, é indicada por Iser: “Apenas a imaginação é capaz de captar o não dado, de modo que a estrutura do texto, ao estimular uma sequência de imagens, se traduz na consciência receptiva do leitor [...] através dos atos de imaginação” (ISER, 1996, p. 73-79).

Se, como estamos supondo, há um sujeito-leitor convocado ao devaneio criativo e às associações livres, se o próprio texto contém, em sua tessitura, um potencial suscitador de fantasias e se é só no ato da leitura que esse potencial pode se atualizar, então é possível afirmar que cada leitura é dependente da capacidade de fantasiar de seu leitor de modo que “cabe perguntar se uma análise do processo de leitura ainda pode ser feita sem uma referência a considerações de ordem psicológica” (ISER, 1996, p. 80).

O embate, entre o texto enquanto materialidade e as fantasias de cada leitor, produz diferentes ressonâncias, tanto em termos de recepção da obra literária, que a cada tempo da cultura promoverá diferentes apreensões, quanto em termos de implicações específicas para o sujeito-leitor que efetivamente lê aquele texto. Diante dessa partitura sempre renovada pela leitura e pela participação criativa do leitor, um denominador comum, especificamente relacionado à metapsicologia freudiana, parece nos dizer sobre os efeitos de remédio e/ou de veneno na produção estética: a implicação da problemática da sublimação4.

No Campo da Sublimação

Presente desde o início do percurso freudiano, as indicações sobre a sublimação podem ser pinçadas ao longo de sua obra. A palavra surge pela primeira vez na carta 61 para Fliess, datada de 2 de maio de 1878. É mencionada no caso Dora, em Fragmento da análise de um caso de histeria (FREUD, 1901-1905), mas aparece, pela primeira vez, de forma mais consistente em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (FREUD, 1901-1905). A partir destas primeiras menções, sabemos que ao longo da obra freudiana a concepção de sublimação sofreu transformações, configurando-se como uma verdadeira problemática no campo psicanalítico.

A imagem da cruz proposta por Laplanche (1989), como representativa da sublimação, é certeira porque nos remete ao fardo, àquilo que põe na cruz e, ao mesmo tempo, nos indica o ponto de intersecção, de cruzamento de diversos conceitos da metapsicologia freudiana. Nas palavras do autor: “A sublimação é certamente uma das cruzes (em todos os sentidos do termo: ao mesmo tempo um ponto de convergência, de cruzamento mas também o que põe na cruz) da psicanálise e uma das cruzes de Freud” (LAPLANCHE, 1989, p. 9-10, grifo do autor). Neste sentido, cabe dizer, conforme propõe Loffredo (2011, p. 54) que, no que diz respeito à sublimação “as questões suscitadas pelos temas para os quais aponta e a elasticidade de sua operação que nos permite abordá-la por meio de uma variedade de ângulos de acesso, nos estimulam a pensá-la no âmbito do que seria uma espécie de campo da sublimação”.

Embora não haja uma divisão cronológica e ainda que algumas das articulações permaneçam em sobreposição às outras (o que nos remete mais uma vez à ideia de cruz), propomos, no âmbito restrito desse trabalho, pensar nesse campo da sublimação em três momentos na metapsicologia freudiana: num primeiro momento a sublimação, como dessexualização da pulsão, aparece no polo oposto ao da sexualidade; num segundo momento, em sua veste erótica, ao lado da sexualidade, é expressa em oposição à pulsão de morte; num terceiro momento, em articulação às pulsões agressivas, é cogitada em termos de seus efeitos iatrogênicos.

Em Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna, Freud define: “a essa capacidade de trocar seu objeto sexual original por outro, não mais sexual, mas psiquicamente relacionado com o primeiro, chama-se capacidade de sublimação” (FREUD, 1908-1996b, p. 174). Concebida como um dos quatro destinos da pulsão, inicialmente, a sublimação aparece como uma energia “desviada do uso sexual e voltada para outros fins” (FREUD, 1915-1996, p. 167). Fins não sexuais, especificamente valorados do ponto de vista social e cultural. A transformação do objeto erótico em sublime colocaria, de acordo com essa vertente teórica inicial, a sublimação no polo oposto ao da sexualidade, resolvendo, de certo modo, o conflito com as exigências morais da civilização.

Contudo, principalmente após a conceituação da pulsão de morte em 1920, a concepção de sublimação passa por mudanças significativas, alojando-se ao lado da pulsão de vida, como vicissitude erótica da pulsão, em oposição à pulsão de morte. Na leitura de Birman:

[...] erotizar e sublimar se oporiam à crueldade e à destrutividade, no equilíbrio sempre instável que seria estabelecido entre a pulsão de vida e a pulsão de morte [...] se inicialmente a sublimação e a erotização estariam inscritas em pólos opostos no psiquismo, posteriormente estariam bem mais próximas e inscritas no mesmo pólo psíquico, ambas buscando a afirmação da vida contra a morte (BIRMAN, 2010, p. 534, grifos do autor).

O aspecto erotizante da sublimação, sua veste como manifestação de Eros ao lado da sexualidade, é destacada por Birman (2010) e também por Kupermann (2010). Este último considera o humor como um elemento paradigmático do processo sublimatório, apontando que na segunda tópica freudiana haveria um “esmaecimento da clivagem estabelecida entre sublimação e erotismo” (KUPERMANN, 2010, p. 201). Segundo sua concepção de sublimação, o trabalho humorístico estaria do lado oposto à mortificação melancólica. Trata-se, no caso dessas leituras, de alocar de um lado a sublimação e a erotização própria da pulsão de vida e, de outro, a destrutividade e a crueldade própria da pulsão de morte. Em O Mal estar na civilização, Freud contribui para o entendimento da sublimação em seu aspecto benfazejo, como saída culturalmente valorada: a “sublimação do instinto é um traço bastante saliente da evolução cultural, ela torna possível que atividades psíquicas mais elevadas, científicas, artísticas, ideológicas, tenham papel tão significativo na vida civilizada” (FREUD, 1930-2011, p. 42). É notório considerar, contudo, que essa concepção, que enfatiza a sublimação em seu aspecto erótico e benéfico em oposição à crueldade e agressividade, não é unívoca5, nem mesmo em Freud, que nos alerta na sequência do texto de 1930: “Cedendo à primeira impressão, seríamos tentados a dizer que a sublimação é o destino imposto ao instinto pela civilização. É melhor refletirmos mais sobre isso, porém” (FREUD, 1930-2011, p. 42). Green enfatiza que:

Muitos autores que escreveram sobre a sublimação preferiram se ater às primeiras formulações de Freud – digamos, aquelas expostas em Leonardo. Alguns prosseguiram até Mal-estar, sem entrar na polêmica da última teoria das pulsões, concentrando-se em caracterizar os efeitos da civilização, do recalque das pulsões exigido pela cultura. As relações da sublimação com a pulsão de morte raramente são objeto de comentários detalhados (GREEN, 2010, p. 240).

Para os propósitos desse artigo, vale lembrar que algumas considerações de Carvalho (1999), por exemplo, nos mostram que outros caminhos, distintos daquele que enfatiza a veste erótica da sublimação, podem ser percorridos para rastrear os indicativos sobre esta temática nos artigos freudianos. A autora faz referência a uma poética do suicídio, mais nomeadamente, a dois escritores suicidas que nos remetem, de imediato, à possibilidade de “fracasso” da sublimação: Paul Celan e Sylvia Plath. O intuito de Carvalho é justamente problematizar as concepções de sublimação vistas como apaziguamento pulsional, “destino nobre” para a solução do conflito entre a sexualidade e as pulsões agressivas. Ainda que:

[...] a sublimação dê a impressão de ser uma saída menos sofrida para os conflitos psíquicos do que a repetição desgastante do sintoma, fica evidente que é uma alternativa que não pode ser prescrita pra ninguém. Pelo contrário, o profundo sofrimento emocional relacionado à criação literária aparecia como marca na vida dos escritores (CARVALHO, 1999, p. 11).

Freud também nos adverte: “Essa atitude estética para com o objetivo da vida não oferece muita proteção contra o sofrer” (FREUD, 1930-2011, p. 27). Longe de ser prescrita como remédio e de ter uma função terapêutica, a escrita, deste ângulo de visão, nos direciona para outros elementos na problemática da sublimação a partir da segunda tópica freudiana:

Nesse novo desenvolvimento teórico, a angústia do desamparo, surgida na relação do sujeito com o vazio e o inominável, é vista como elemento incessante e mobilizador do processo criativo [...]. Muito antes de afastar-se da destrutividade, essas formas de sublimação alimentam-se dela, porque a carregam em seu próprio seio (CARVALHO, 1999, p. 12-13).

Estas considerações apontam para a existência de limites na economia da sublimação. Além disso, abre-se aqui a questão do desamparo como elemento mobilizador do processo criativo. Se para Birman (2002) a criatividade é mencionada como uma das saídas possíveis para o desamparo, para Carvalho é por meio de uma “articulação diante do inominável, que a escrita testemunha o perigo máximo do desamparo primordial” (CARVALHO, 1999, p. 19).

Em O Ego e o Id Freud nos apresenta subsídios importantes para a discussão sobre os efeitos indesejáveis da sublimação passando a articular, de forma complexa, elementos de uma rede que compreende o narcisismo e a disjunção pulsional:

Surge mesmo a questão, digna de um tratamento mais aprofundado, de que este seria o caminho geral da sublimação, de que talvez a sublimação ocorra por intermediação do Eu, que primeiramente converte a libido objetal sexual em libido narcísica, para depois dar-lhe quiçá outra meta [...] tal transformação não pode ocasionar outros destinos para os instintos, como, por exemplo, uma disjunção dos diversos instintos amalgamados (FREUD, 1923-2011, p. 37-38).

A questão que se sobrepõe quando tratamos da sublimação, tendo em vista a implicação de uma dessexualização e, portanto, de uma disjunção pulsional, é se após a disjunção, a agressividade que se achava combinada ao componente erótico, ficará liberada sob uma forma de agressão e destruição do próprio Eu, tal como ocorre nos suicídios mencionados anteriormente. O potencial destrutivo e os efeitos iatrogênicos da sublimação são ressaltados por Silva Junior (2003, p. 33) que afirma que “com a grande virada nos anos vinte, a sublimação tomará uma direção inesperadamente maléfica no discurso freudiano”. As consequências negativas da sublimação também são indicadas por Mijolla-Mellor (2010, p. 507): “a dessexualização, não acontece sem consequências negativas [...] o objetivo do eu na sublimação está de acordo com Eros, mas as consequências imprevistas e involuntárias de sua ação também trabalham a serviço da pulsão de morte porque, desligada, ela torna-se perigosa.”. Este perigo aponta para as consequências indesejáveis da sublimação e também para os limites desta operação tendo em vista a implicação de uma disjunção como resultado da dessexualização da pulsão. A análise atenta do artigo freudiano O Ego e o Id rearranja a operação da sublimação em termos metapsicológicos e amplia a rede de articulações dentro da teoria freudiana. Neste novo contexto, “em outras palavras, a rede compreende o narcisismo, a identificação e a dessexualização” (GREEN, 2010, p. 240).

Ainda que a complexidade desse contexto metapsicológico, que envolve a sublimação, o narcisismo e a identificação, seja de enorme interesse para o campo específico da psicanálise, para os propósitos desse artigo, que se encontra em território de interfaces, não cabe aprofundar a problemática. Cabe, contudo, elencar as considerações que nos levarão de volta às nossas discussões sobre os efeitos dos textos literários.

Remédio ou Veneno?

Tendo considerado que o leitor é convocado para uma participação criativa, inevitável e necessária durante a leitura; tendo afirmado que os efeitos dessa criatividade do leitor podem ser pensados em termos de contaminação, de remédio ou veneno, fomos levados a ponderar que a problemática da sublimação poderia se constituir como um caminho teórico privilegiado também para pensar a leitura. Desse modo, devemos avaliar que:

Ler e escrever são sublimações, ou seja, as pulsões parciais são inibidas quanto ao objetivo, deslocadas e dessexualizadas [...] a especificidade do prazer de ler é a seguinte: esta deve passar pela mediação da escritura [...] é sobretudo ao nível da comunicação das fantasias inconscientes entre escritor e leitor que a cumplicidade desse par se estabelece (GREEN, 1994, p. 21-24, grifos nossos).

Se, por um lado, estamos supondo que podemos encampar a leitura neste campo da sublimação, por outro temos que entender que há particularidades no prazer de ler em relação à satisfação da escrita. Uma dessas especificidades é o embate com a materialidade do texto que, embora permita uma série de fantasias, frustra outras tantas. Outra especificidade é que a leitura é geralmente feita de forma individualizada e silenciosa6 sendo que a experiência não se torna pública necessariamente e, ainda que haja uma espécie de reescrita a cada leitura, não há efetivamente uma produção de outro texto a não ser nos meandros da imaginação; no caso da escrita, transformar a obra em um bem público, comum, socialmente e culturalmente valorizado guarda relações mais diretas com uma sublimação entendida a partir da perspectiva de uma saída sublime para a pulsão, em termos de oposição à saída pela sexualidade. No que tange às relações entre a sublimação e a pulsão de morte, podemos pensar que o leitor encontra amparo no texto que lê e assim “permanece em sua leitura a uma distância que permite um certo grau de objetividade” (CARVALHO, 1997, p. 85).

Mas estaria o leitor a uma distância sempre segura? Assim como Paul Celan e Sylvia Plath que se suicidaram no auge da produção literária, há relatos de suicídios de leitores conforme vimos no preambulo desse artigo. Os mecanismos de identificação também operam, sobremaneira, na leitura literária, seja em termos de identificação com personagem, com o narrador ou com o próprio escritor, sendo que a rede que compreende a identificação, o narcisismo e a dessexualização, enunciadas para pensarmos a sublimação na escrita, deveriam também se aplicar para pensarmos a leitura. Será que, quando arremessado para o espaço comum de vazio que deu origem à escrita daquele texto, o leitor está livre do efeito de envenenamento que contaminou o escritor? Se na criação literária escrita o testemunho do perigo máximo do desamparo é apontado por Carvalho em sua articulação diante do irrepresentável, podemos supor que também o leitor, a depender do texto, é convocado para uma participação criativa desta mesma ordem, diante deste mesmo vazio inominável. Afinal, “adaptamos nosso julgamento à realidade imaginária que nos é imposta pelo escritor” (FREUD, 1919-1996, p. 267, grifos nossos).

Essa condição coloca a criação literária, seja pelo escritor, seja no que concerne às fantasias do leitor “no ponto enigmático e limite entre o sintoma e a sublimação” (CARVALHO, 1997, p. 82). Há que se pensar que para além das leituras benfazejas que se beneficiam desta distância e da criatividade imaginativa do leitor para uma alterabilidade benéfica, produtiva e terapêutica, há também as leituras iatrogênicas, já que “nas mãos do leitor o livro pode ser fator de perturbação e mesmo de risco” (CANDIDO, 2004, p. 176). E se pensarmos que uma das intenções do autor pode ser a de contaminar o leitor e de fazer habitar um mesmo espaço de toxidez, e considerando que o “espaço literário é o espaço do hiato, do vazio, da falta” (CARVALHO, 1997, p. 83), há aqui um lugar comum que nos remete ao início de nossas considerações: a leitura literária, tomada como processo criativo, assim como a escrita, poderia curar ou matar.

Ao efeito potencialmente perigoso da leitura, deve-se somar um potencial efeito de remédio já que, “se o leitor consegue tolerar a ‘zona de enigma’ do texto, ponto que tem equilíbrio frágil, de incerteza, fora de qualquer controle, poderá realizar o inesperado encontro com uma das zonas de sombra que ele mesmo abriga em sua interioridade” (CARVALHO, 1997, p. 82). Desse ponto de vista, o potencial terapêutico se evidencia na medida em que ler é, ao mesmo tempo, ler-se.

Metaforicamente poderíamos pensar na vacina que cura e que é feita do próprio veneno que mata. A inoculação de uma dose específica é necessária para a cura. A mercê da quantidade que define a substancia em termos de remédio ou veneno, o leitor conta com a possibilidade de um efeito de envenenamento criador e, portanto, de um veneno como remédio. Sabemos, por meio da tradição popular, que é uma questão de dose. É, portanto, um problema de quantidade, uma questão de ordem econômica. A composição da substância permanece a mesma, o efeito é que é mutável de acordo com a quantia que se ingeriu. A palavra pharmakon guardaria os dois lados deste campo semântico ambivalente e poderia indicar desdobramentos para as indagações que apresentamos a partir da consideração, por exemplo, dentro do campo da metapsicologia freudiana, da oralidade envolvida na leitura. Com relação às novas formas de subjetivação na contemporaneidade, em trabalho recente, insinuei que a leitura de livros de autoajuda, indicada muitas vezes como remédio para os males da vida, poderia ser pensada a partir de questões que envolvem a oralidade, os mecanismos de identificação e a voracidade característica da sociedade de consumo (MORAES, 2019).

A metáfora da contaminação para o processo de leitura conforme foi defendido no presente artigo; o pharmakon pensado a partir da ingestão e da ambivalência que remetem à oralidade; a rede composta pela identificação, pelo narcisismo e pela dessexualização dentro do campo constituído pela metapsicologia freudiana conforme indicamos; apontariam para um terreno fértil de questões, que exigem, certamente, tratamento mais aprofundado no campo da psicanálise.

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Tramitação

Recebido em: 14 nov. 2018

Aceito em: 31 jan. 2019

 

Notas

1 https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2018/10/04/livros-de-direitos-humanos-sao-rasgados-na-biblioteca-da-unb.ghtml.

2 Birman (1996, p. 63) arrisca dizer que estas “dimensões se revelam indubitavelmente em qualquer outra modalidade de leitura, pois o que existe de criativo e de poético se evidencia em qualquer leitura, face a qualquer tipo de escritura”.

3 Embora a criatividade possa ser pensada a partir de diferentes elementos dentro da metapsicologia freudiana, inclusive a partir do próprio método consagrado por Freud, selecionamos, no âmbito restrito deste artigo e como sua contribuição específica, uma possível articulação entre a leitura e a problemática da sublimação, conforme será desenvolvido na sequência. Remeto o leitor para outros trabalhos que pensam o processo criativo a partir de outros recortes: Herrmann (2001), Frayze-Pereira (2005), Bollas (2010).

4 A sublimação como possibilidade para pensarmos sobre a produção criativa do leitor não esgota o tema, apenas indica uma opção de recorte que fizemos para o presente trabalho.

5 Reporto-me, por exemplo, ao dossiê Sublimação, publicado pela Revista Psicologia USP, São Paulo, v. 21, n. 3, jul./set. 2010.

6 Cabe lembrar, com Birman (1996) e com Manguel (1997), que a leitura solitária e silenciosa é característica da modernidade e que, em outros tempos, outras foram as modalidades de leitura.

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