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Psic: revista da Vetor Editora

Print version ISSN 1676-7314

Psic vol.4 no.1 São Paulo June 2003

 

ARTIGOS

 

O desenho como recurso auxiliar na investigação psicológica de crianças portadoras de surdez

 

 

Rodrigo Sanches Peres

Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Durante a realização de um estágio verificou-se que um grupo de crianças surdas vivenciava de forma conflituosa as limitações inerentes a essa condição. Assim sendo, com o intuito de fornecer subsídios para o aprimoramento das estratégias de intervenção desenvolvidas com essa população, empreendeu-se uma investigação psicológica do referido grupo de crianças (6 meninas e 5 meninos, dos 6 aos 12 anos de idade). O instrumento utilizado para tanto foi o HTP, por ser uma técnica projetiva gráfica sensível, reveladora e capaz de superar as dificuldades de comunicação impostas pela surdez. A análise dos desenhos coletados, baseada nos referenciais da literatura, indica que as crianças são marcadas por sentimentos de inadequação e inferioridade, tendem ao isolamento e à introversão e encontram severas dificuldades nos relacionamentos interpessoais. O presente estudo, desse modo, viabilizou a expressão de importantes aspectos do psiquismo das crianças pesquisadas que não encontravam outras formas de enunciação devido às suas restrições sensoriais.

Palavras-chave: Crianças, Surdez, Avaliação psicológica.


ABSTRACT

During the development of internship it was possible to verify that a group of deaf children was living with difficulty because of the limitations inherent to this condition. Thus, with the purpose of providing subsidies to enhance the intervention strategies developed with this population, it was accomplished a psychological investigation of the referred group (6 girls and 5 boys, from 6 to 12 years old). The House-Tree-Person Test was take as instrument because is a sensitive and disclosure technique, that overcomes the difficulties in communication of deaf people. The analyze of collected drawings indicates that children have feelings of non-adjustment and inferiority, tendency to isolation and bashfulness, and have severe difficulties on their relationships. Thereby, the present study made possible to express important psychological aspects of these children.

Keywords: Children, Deafness, Psychological assessment.


 

 

Introdução

A surdez ocorre em virtude de condições patológicas do órgão auditivo e implica a elevação do limiar de percepção dos sons, ou seja, a diminuição da acuidade auditiva. Tais condições patológicas podem ser congênitas (decorrentes de alterações genéticas) ou adquiridas (produzidas a partir da ocorrência de infecções, da ação de tóxicos ou de traumatismos no ouvido). Atualmente existem diversas formas de diagnosticar a ocorrência da surdez. A avaliação audiométrica, que visa a mensurar os níveis de audição a partir do emprego de um instrumento eletrônico, afigura-se como uma das principais técnicas de diagnóstico, visto que permite diferenciar a surdez de outras deficiências auditivas menores. Segundo os critérios adotados pela avaliação audiométrica, um indivíduo pode ser diagnosticado como portador de surdez se apresentar uma perda auditiva superior a 90 decibéis, isto é, uma limitação profunda que impossibilite a compreensão de conversações amplificadas (Costa, 1988; Lafon, 1989).

Levando-se em conta a parte funcional do órgão auditivo lesionada, pode-se distinguir dois tipos principais de surdez: a) condutiva: decorrente de afecções no aparelho condutivo, ou seja, na parte do ouvido responsável pela transmissão das vibrações sonoras (conduto auditivo externo, trompa de Eustáquio, ouvido médio e componentes, janelas e fluidos labirínticos) e b) sensorioneural: decorrente de lesões no aparelho sensório-neural, isto é, na parte do ouvido responsável pela percepção das vibrações sonoras (labirinto, vestíbulo, canais semicirculares, cóclea, órgão de Corti e suas conexões neurais). Em linhas gerais, pode-se afirmar que a surdez condutiva acarreta uma redução da intensidade das vibrações sonoras e pode, portanto, ser atenuada mediante a realização de intervenções cirúrgicas ou a utilização de próteses. Na surdez sensório-neural, em contrapartida, a perda auditiva é mais significativa e usualmente as cirurgias e próteses possuem uma eficácia limitada (Lafon, 1989; Ballantyne, 1995).

Considerando-se o período evolutivo em que ocorreu a perda auditiva, é possível diferenciar basicamente dois tipos de surdez: a) pré-lingüística: congênita ou adquirida nos primeiros anos de vida, antes do desenvolvimento da linguagem e b) pós-lingüística: adquirida após o desenvolvimento da linguagem. Usualmente as repercussões psicossociais da surdez pré e pós-lingüística possuem algumas particularidades entre si. De forma sucinta, pode-se dizer que a incapacidade auditiva é um elemento constitutivo da identidade original do portador de surdez pré-lingüística, ao passo que para o portador de surdez pós-linguística a incapacidade auditiva representa uma perda que dificilmente poderá ser elaborada. Assim sendo, geralmente o portador de surdez pós-lingüística tende a apresentar mais sinais de não-aceitação da incapacidade auditiva do que o portador de surdez pré-lingüística (McKenna, 1995a).

Cumpre assinalar, contudo, que a surdez - seja ela pré ou pós-lingüística - pode ser considerada a incapacidade física que produz os maiores danos ao desenvolvimento de um indivíduo, uma vez que a audição representa uma importantíssima fonte de experiências socioculturais, auxilia na aprendizagem e é essencial para a aquisição da linguagem e a organização sensorial do mundo (Costa, 1988). Além de causar sérios problemas de comunicação e expressão, a surdez compromete a enunciação de emoções e sensações, conduz ao isolamento relacional e afetivo e contribui, muitas vezes, para a gênese de estados de ansiedade, sintomas depressivos e outros distúrbios psicológicos - motivados possivelmente por sentimentos de desamparo, inadequação e insatisfação com as restrições sensoriais (Costa, 1988; Martin, 1995; McKenna, 1995b).

Durante a realização de um estágio nas salas especiais de educação infantil do ensino público de uma cidade de médio porte do Estado de São Paulo foi possível notar que um grupo de crianças portadoras de surdez vivenciava de forma conflituosa e problemática essa condição. Tal constatação, derivada da observação participante das atividades desenvolvidas em sala de aula, adquiriu maior consistência a partir do relato informal das professoras, que ressaltavam que muitos de seus alunos demonstravam sinais de não-aceitação da surdez, culpavam os pais pela deficiência auditiva e encontravam dificuldades marcantes nos relacionamentos sociais e familiares, o que evidenciou a necessidade de examinar de uma forma mais detalhada essas questões.

 

Objetivo

O presente estudo teve como objetivo efetuar uma investigação psicológica de um grupo de crianças portadoras de surdez, focalizando basicamente a personalidade dos sujeitos e suas relações com o mundo exterior.

 

Método

O conhecimento resultante do presente estudo pode fornecer elementos: a) para o aprimoramento do atendimento multidisciplinar oferecido às crianças em questão e b) para a realização de estudos posteriores, voltados mais especificamente à compreensão dos aspectos psicológicos de crianças portadoras de surdez.

Abordagem teórico-metodológica

O presente estudo adotou a abordagem teórico-metodológica da avaliação psicológica, priorizando um enfoque descritivo, exploratório e com análises majoritariamente qualitativas, considerando-se que esse modo de coleta e sistematização dos dados seria capaz de subsidiar a compreensão das características psicológicas dos sujeitos pesquisados.

Sujeitos

Participaram do presente estudo onze crianças, sendo seis delas do sexo feminino e cinco do sexo masculino, cuja faixa etária variava dos seis aos doze anos. Os critérios de inclusão na amostra foram os seguintes: a) apresentar perda auditiva pré-lingüística superior a 90 decibéis (audiometricamente diagnosticada); b) não possuir antecedentes de problemas emocionais e/ou comportamentais; c) não possuir suspeita de dé-ficit intelectual.

Caracterização da situação de estudo

As crianças pesquisadas freqüentavam, durante o período da manhã, as salas de educação infantil da rede pública do município especificamente voltadas para portadores de surdez. Tais salas são compostas por cerca de seis crianças e coordenadas por um professor especia-lizado. Durante o período da tarde as crianças em questão participavam das atividades de classes regulares do ensino fundamental.

Instrumento e materiais

Tendo em vista o objetivo do presente estudo, as técnicas projetivas nos pareceram o tipo de instrumento mais indicado, uma vez que permitem uma investigação ampla e global da personalidade e são especialmente proveitosas "onde houver uma carência de possíveis vias de acesso mais diretas ao conhecimento visado" (Silva, 1981, p.11). Dentre os inúmeros instrumentos projetivos existentes, optou-se pela utilização do House-Tree-Person (HTP), técnica sistematizada por John N. Buck em 1948 nos Estados Unidos que visa a "avaliar a personalidade do sujeito, em si mesmo e em suas interações com o ambiente" (Kolck, 1984, p. 357). Trata-se de um instrumento gráfico, isto é, que emprega como forma principal de comunicação não a fala, mas sim desenhos e grafismos - capaz de superar as dificuldades de comunicação inerentes à surdez e que se destaca por ser uma técnica econômica, uma vez que os únicos materiais necessários são lápis preto, folhas de papel em branco e eventualmente borracha. Além disso, o HTP é de rápida aplicação, pois a tarefa consiste em executar, em folhas separadas, o desenho de uma casa, de uma árvore e de uma figura humana e posteriormente responder a um questionário padronizado para complementar a expressão gráfica com a verbal (Buck, 1987).

Técnica de coleta dos desenhos

A coleta dos desenhos contou com o consentimento dos pais das crianças, foi realizada individualmente em salas reservadas nas escolas e durou, em média, 25 minutos. Optou-se por empregar a bateria ampliada do HTP, considerada mais com-pleta que a versão original, pois compreende, além do desenho da casa, da árvore e da figura humana, o desenho de uma figura humana do sexo oposto ao da primeira (Campos, 1998).

Tendo em vista que as crianças pesquisadas não executavam com precisão a leitura labio-facial, não dominavam o alfabeto dactilológico e encontravam dificuldades para compreender a conversação amplificada, as instruções necessárias à coleta dos dados foram transmitidas, com o auxílio das professoras, por meio da linguagem gestual. Cumpre assinalar também que, devido a essas mesmas razões, optou-se por não empregar o questionário padronizado do instrumento. Faz-se necessário, entretanto, esclarecer que o fato de o inquérito não ter sido utilizado não compromete a validade dos dados coletados, pois a maioria dos pesquisadores, em detrimento da parte verbal, valoriza mais a parte gráfica do HTP.

Técnica de análise dos desenhos

A maior parte dos estudos que empregam o HTP como instrumento de investigação psicológica prioriza um exame essencialmente intuitivo e subjetivo dos desenhos. Assim sendo, para tornar a análise do material coletado mais ordenada e sistemática, elaborou-se especialmente para essa pesquisa um protocolo de avaliação, composto por 94 indicadores (23 relacionados ao desenho da casa, 25 relacionados ao desenho da árvore e 46 relacionados ao desenho da figura humana), tomando-se como base para tanto os estudos de Machover (1962), Portuondo (1973), Koppitz (1976), Hammer (1981, 1991), Jolles (1981), Piccolo (1981), Kolck (1984), Buck (1987), Loureiro e Romaro (1987), Di Leo (1991), Arzeno (1995), Méredieu (1997), Campos (1998), Jacob, Loureiro, Marturano, Linhares e Machado (1999) e Freitas e Cunha (2000).

No que diz respeito às interpretações dos desenhos, priorizou-se uma abordagem qualitativa de análise, pois a maioria dos pesquisadores responsáveis pelos avanços da técnica consideram esse sistema mais profundo e revelador, ainda que menos objetivo e sistemático do que o exame quantitativo proposto por Buck (1987). Devido à inexistência de pesquisas voltadas à padronização e normatização do HTP com crianças brasileiras, as interpretações foram baseadas em uma série de obras que, apesar de não apresentarem um sistema ordenado e metódico de análise, fornecem subsídios para a atribuição de significados a diversos aspectos das produções gráficas, tais como as de Hammer (1981, 1991), Kolck e Jaehn (1981, 1990), Lourenção van Kolck (1984) e Freitas e Cunha (2000). Para a avaliação do desenho da figura humana, contudo, empregaram-se como padrão normativo os dados fornecidos por Hutz e Antoniazzi (1995) para crianças brasileiras.

Vale destacar ainda que, com o intuito de conferir maior precisão às interpretações, considerou-se a convergência de indícios entre cada um dos desenhos do HTP e a avaliação global das produções, pois um aspecto destacado de uma figura jamais possui, por si só, um único significado específico e nem tampouco reflete necessariamente traços da personalidade do sujeito que a produziu (Hutz & Antoniazzi, 1995). Ademais, as informações adquiridas durante o contato que foi mantido por aproximadamente um ano com as crianças pesquisadas por ocasião do desenvolvimento do estágio também foram empregadas para nortear a elaboração de hipóteses interpretativas. Além disso, obviamente, as limitações inerentes à idade dos examinados foram igualmente levadas em conta, pois sabe-se que os fatores evolutivos, tais como a imaturidade percepto-motora e cognitiva, comprometem sobremaneira a produção de um desenho (Jolles, 1981).

 

Resultados

Apresentação e Discussão

Foram considerados para fins de análise os indicadores que ocorreram em pelo menos 35% das produções coletadas, ou seja, que foram verificados nos desenhos de, no mínimo, quatro das onze crianças pesquisadas. Por uma questão meramente didática, os resultados serão apresentados em função das hipóteses formuladas a partir da avaliação de cada uma das figuras que constituem o HTP. Além disso, serão comentados brevemente alguns dos indicadores gráficos mais ilustrativos e apontados entre parênteses os autores que forneceram os subsídios que direcionaram a elaboração das hipóteses.

Na avaliação dos desenhos da casa coletados notou-se que uma parcela considerável de sujeitos produziu figuras com portas e janelas de tamanho reduzido (n = 6), mas com o telhado desproporcionalmente grande (n = 5). Houve ainda a omissão de portas e janelas nos desenhos de outras crianças (n = 4). Considerando-se tais indícios e suas relações com as demais características das produções (tais como a desconfiguração de alguns desenhos, a ausência de complementos e detalhes e a aparente desintegração das paredes), pode-se supor que os sujeitos encontram dificuldades severas no contato com o mundo exterior, principalmente nos relacionamentos interpessoais, tendem à introversão e à timidez, possuem grandes ambições e buscam no plano da fantasia a satisfação que não conseguem obter na realidade (Hammer, 1981, 1991; Buck, 1987; Freitas & Cunha, 2000).

Verificou-se que um número elevado de crianças desenhou árvores de tamanho reduzido (n = 7), na parte inferior da folha (n = 9) e com copas excessivamente grandes, em comparação com troncos de proporções pouco representativas (n = 7). Ademais, a linha do solo foi omitida pela maioria dos sujeitos (n = 6) e nenhum dos desenhos apresenta raízes, galhos e ramos. Em síntese, tais características indicam que as crianças sentem-se desamparadas, marginalizadas, inferiores, inseguras, insatisfeitas consigo mesmas e com as relações que estabelecem com o ambiente e possuem uma veemente tendência ao retraimento (Kolck, 1984; Koch, 1968; Di Leo, 1991; Hammer, 1991).

A ausência dos braços da figura humana, um dos indicadores emocionais propostos por Koppitz (1976), ocorreu nas produções de um número considerável de sujeitos (n = 4). Trata-se de um indício significativo, pois é verificado apenas excepcionalmente em crianças brasileiras dos 6 aos 12 anos (Hutz & Antoniazzi, 1995). Além disso, uma parcela elevada dos examinados conferiu a seus desenhos outras importantes características, tais como desconfigurações corporais (n = 7), boca em formato elíptico (n = 6) e omissão do pescoço (n = 5). Considerando-se estes indicadores e os demais avaliados no conjunto das produções coletadas, podem-se levantar as hipóteses de que as crianças examinadas são excessivamente dependentes e necessitam veementemente de reconhecimento e atenção, possuem uma imagem corporal desfavorável, permeada por sentimentos de inadequação e autodesvalorização, e encontram dificuldades nos relacionamentos sociais, possivelmente porque se julgam inaptas e limitadas para estabelecer contatos interpessoais (Machover, 1962; Koppitz, 1976; Jolles, 1981; Piccolo, 1981; Kolck & Jaehn, 1981, 1990).

Faz-se necessário reconhecer, contudo, que, por uma série de razões, as análises aqui apresentadas não possuem um caráter definitivo e conclusivo. Primeiramente, o número de sujeitos é reduzido, pois não foram encontradas durante o período de coleta dos dados outras crianças portadoras de surdez da faixa etária dos 6 aos 12 anos na rede pública de ensino no município pesquisado. Em segundo lugar, com exceção dos estudos de Machover (1962) e Di Leo (1991), que apresentam superficialmente alguns aspectos peculiares dos desenhos de crianças portadoras de surdez, não se encontrou na literatura científica nenhuma pesquisa voltada à investigação psicológica dessa população mediante o emprego do HTP, o que dificultou o processo de comparação dos dados obtidos no presente estudo.

Em terceiro lugar, é evidente a necessidade do desenvolvimento de pesquisas sistemáticas de padronização e normatização com crianças brasileiras para que o HTP possa ser utilizado de maneira mais confiável, uma vez que a maioria dos estudos que apresentam critérios de análise foi desenvolvida na década de 60 com amostras americanas, e sabe-se que a ausência de parâmetros para comparações transculturais contribui para o emprego inadequado e descontextualizado da técnica (Hutz & Antoniazzi, 1995). Além disso, a validade das interpretações de produções gráficas ainda é, em última instância, questionável e controversa, pois até os dias de hoje "as tentativas de elevar o estudo dos desenhos à categoria de ciência (como conhecimento sistematizado, derivado da observação, experimentação e controle) são louváveis, mas ainda pouco convincentes" (Di Leo, 1991, p. 202). De qualquer forma, o HTP, a despeito de suas limitações, possui uma série de vantagens em relação a técnicas de outros tipos, considerando-se que é um instrumento econômico e de aplicação rápida e simples, capaz de superar dificuldades de comunicação verbal e subsidiar um exame psicológico global e profundo, uma vez que sua agudez clínica é incontestável.

 

Conclusão

A utilização do HTP no presente estudo possibilitou a coleta de dados que indicam que a maioria das crianças pesquisadas é marcada por sentimentos de inadequação e inferioridade, tende ao isolamento e à introversão e encontra severas dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Assim sendo, a utilização do HTP viabilizou a expressão de importantes aspectos do psiquismo das crianças que, devido às limitações inerentes à surdez, não encontravam uma forma mais direta de enunciação, evidenciando, assim que a linguagem gráfica, se complementada com outras fontes de informação, pode se constituir em um recurso auxiliar valioso para a investigação psicológica.

Os dados obtidos também fornecem elementos profícuos para o aprimoramento das estratégias educacionais desenvolvidas com os sujeitos pesquisados. O presente estudo não tem a pretensão de discutir pormenorizadamente propostas alternativas para a educação especial infantil, mas nos parece relevante fazer algumas breves indicações nesse sentido, uma vez que a implementação de práticas pedagógicas voltadas ao atendimento das necessidades emocionais, características das crianças portadoras de surdez, pode contribuir sobremaneira para a atenuação do comprometimento psicológico inerente a essa condição. Acreditamos que a valorização de atividades lúdicas e esportivas com outras crianças, a exploração orientada de espaços externos à escola e a realização de encontros e passeios com os pais podem favorecer a socialização dos sujeitos pesquisados, as trocas simbólicas com o ambiente e o estreitamente dos vínculos afetivos com seus familiares e, como conseqüência, contribuir mais efetivamente para o desenvolvimento educacional e psicossocial dessas crianças e amenizar algumas das dificuldades emocionais que foram projetadas nos desenhos coletados.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
rodrigo_sanches_peres@hotmail.com
O presente estudo contou com a grata colaboração de Manoel Antônio dos Santos (USP/Ribeirão Preto), Lucinéia Francisco Batistela (UNESP/Assis) e Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar).

Encaminhado em 21/02/03
Aceito em 05/05/03