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Psic: revista da Vetor Editora

versão impressa ISSN 1676-7314

Psic v.4 n.2 São Paulo dez. 2003

 

ARTIGOS

 

Desenhando a realidade interna

 

 

Sandra Dalle M.Siqueira; Walkyria de Fátima Doro; Edna de Oliveira Santos

CLIPSI

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo tem por objetivo apresentar uma reflexão a respeito da diferença que há no modo de funcionamento (organização) neurótico e psicótico observado por meio do grafismo, especificamente pelos desenhos do HTP (House, Tree, Person). Com base no conceito de projeção, em que o indivíduo coloca no externo aquilo que está interno, é que as autoras puderam observar tais diferenças, ou seja, a maneira como neuróticos e psicóticos organizam suas produções gráficas assemelha-se à maneira como organizam suas vidas. Para exemplificar tal reflexão, escolheram os desenhos de dois pacientes atendidos por uma das autoras.

Palavras-chave: Projeção, Organização neurótica, Organização psicótica, HTP, Teste projetivo gráfico.


ABSTRACT

The present paper aims to show a reflection about the difference between the neurotical and psychotical organization observed by the graphism, mainly in the HTP (House, Tree, Person) test. Based on the concept of projection, which shows that the subject puts in the external world what is on his internal world, the authors could observe such differences, thet is, the manner psychotical and neurotical both organize their graphical productions similar they organize their lives. To exemplify that reflection, two drawings of patients attended by one of the authors are chose.

Keywords: Projection, Neurotical organization, Psychotical organization, HTP test, Projective graphic test.


 

 

Introdução

Quando Freud declarou "A criança é o pai do homem", talvez não imaginasse que tal frase nos remeteria à idéia de utilizarmos um mecanismo explorado pelos pequeninos para conhecermos o homem que nos chega com o rótulo de paciente. É isso mesmo, o desenho que é habito comum entre as crianças, nos auxilia na detecção da realidade interna, ficando para segundo plano o que aprendemos a utilizar muitas vezes como máscara: a beleza, perfeição e estética. Nesse sentido, fazemos uso do desenho, exatamente para tirarmos rótulos, porque o que buscamos em sua produção é exatamente o que se revela: a essência, o fenômeno existencial, o homem como é.

Objetivo

Com o objetivo de compreender fenomenologicamente o paciente é que optamos por trabalhar com o HTP, embora existam outras técnicas semelhantes. Aqui o indivíduo recebe o estímulo, porém tem o espaço em branco para que se revele. Optamos por indivíduos que já estejam em tratamento psicológico, já que conhecemos o seu histórico, com o cuidado de não enquadrarmos o desenho em estereótipo pronto, mas observarmos o arranjo em si e a organização dada, até para pensarmos em seus aspectos saudáveis e refletirmos sobre a semelhança que vem à luz quando comparamos a organização deste em sua conduta diária e a organização que nos salta aos olhos na produção dos desenhos realizados no HTP.

 

Desenvolvimento

Não nos cabe aqui explicar em profundidade a teoria e técnica do teste, visto que há uma ampla bibliografia específica. Salientamos, porém, que a escolha não foi aleatória, mas, sim, pensando num estímulo único a todos os sujeitos para que cada um trouxesse sua experiência.

Com os desenhos de uma casa, uma árvore e uma pessoa, pretende-se observar a imagem interna que o cliente tem de si mesmo e de seu ambiente. Os desenhos têm grande poder simbólico, sa-turados de experiências emocionais e ideacionais ligados ao desenvolvimento da personalidade.

Ademais, a escolha de tais elementos específicos deve-se ao fato de serem itens familiares a todos, até mesmo a criança bastante nova oferece fácil aceitação como objetos a serem desenhados. A estruturação envolvida na solicitação para que o sujeito desenhe uma casa, uma árvore, uma pessoa é mais ambígua do que se pode pensar à primeira vista, porque, embora se peça para desenhar uma casa, não se faz nenhuma indicação de qual casa, tamanho, localização ou tipo, o mesmo ocorre com a árvore e com a pessoa. Logo, revela-se como uma técnica rica para a exploração da realidade interna.

Como bem esclarece Grassano (1996), o diagnóstico diferencial de graus de patologia tem por objetivo determinar as características qualitativas de estruturação e funcionamento do aparato psíquico por meio da investigação das conquistas ou perturbações que apresentam as funções mentais que estabelecem relações com o mundo externo e com a realidade psíquica.

As características diagnósticas de graus de patologia se referem fundamentalmente à diferenciação entre neuroses e psicoses. Grassano (1996) também considera a psicopatia como outra categoria diagnóstica; no entanto, utilizaremos para este artigo apenas a neurose e a psicose.

Segundo essa autora, Melanie Klein conceituou como origem do desenvolvimento psicótico o resultado da interação de um modo exagerado de inveja constitucional com a presença de uma mãe ou substituta incapaz de produzir empatia com as necessidades biopsíquicas da criança. Acrescenta que Bion retomou as formulações de Melanie Klein, privilegiando a interação entre um bebê com alta quantidade constitucional de inveja e uma mãe incapaz de metabolizar as intensas situações de pânico, nas quais não consegue conter o medo da morte do bebê, devolvendo-lhe como um terror de mesma intensidade, carente de sentido (terror sem nome). A intensidade da dor psíquica e a incapacidade de tolerar a frustração provocam um ataque ativo à parte do aparato psíquico que contém a percepção de necessidade e dor. Não só esse aspecto é atacado, como também toda função psíquica capaz de estabelecer ligação com a realidade externa e interna numa tentativa de evitar a dor, mas à custa da destruição do aparato psíquico.

Nesse sentido, o conflito central na psicose é a necessidade de construir um aparato mental como único meio de sair do fechamento persecutório; no entanto, qualquer função psíquica é tímida, pois pode despertar a consciência de dor e enfermidade, necessitando, assim, ser submetida a novos e ativos ataques hostis e invejosos. Faltam-lhe as precondições mínimas para estabelecer contato com a realidade, para desenvolver vínculos e qualquer função de síntese e integração.

Na neurose, verifica-se que o aparato psíquico conseguiu se organizar em função dos mecanismos adaptativos de repressão, em que cada modalidade neurótica elaborou distintos métodos defensivos que tendem a evitar a dor dessa situação por meio de novas dissociações e parcializações do objeto.

De acordo com Grassano (1996), o que marca a passagem da psicose para a neurose é a instalação da situação depressiva, que corresponde ao momento do desenvolvimento das funções de discriminação, juízo de realidade, princípio de realidade e instalação da repressão como mecanismo evolutivo.

Assim, a autora esclarece:

Como conseqüência desta evolução alcançada na neurose, observamos evidências de um aparato psíquico capaz de organização intrapsíquica, em função do mecanismo de repressão (consciente-inconsciente) que possibilita o desenvolvimento do pensamento simbólico e o estabelecimento de relações simbólicas com a realidade, assim como desenvolvimentos atingidos nas funções de realidade. Os fracassos parciais na elaboração depressiva marcam as zonas de bloqueio e inibição de funções ou ainda falhas de simbolização, mas estas funções estão, em seu aspecto geral, conservadas. (Grassano, 1996, p. 26)

Na neurose, o conflito central é a necessidade de instalar e reparar o objeto bom em luta com sentimentos ambivalentes que ameaçam essa conquista.

A conceitualização dos testes projetivos, a partir da perspectiva da Teoria das Relações Objetais feita por Grassano (1996), refere que por meio das condutas verbais, gráficas ou lúdicas do paciente observamos sua capacidade de dar forma, organização e sentido emocional a esse aspecto da realidade que o estímulo projetivo representa. Cada produção projetiva é uma criação que expressa o modo pessoal de estabelecer contato com a realidade interna e externa.

As pranchas ou instruções, diz a autora, atuam dentro da situação projetiva como objetos mediadores das relações vinculares pessoais, que mobilizam e reeditam diversos aspectos da vida emocional. Dessa forma, toda produção projetiva é produto de uma síntese pessoal.

A autora esclarece que os testes gráficos são os que detectam, com maior precisão, as características estruturais e de integração da personalidade. A possibilidade de controle intelectual e de disfarce, consciente ou inconsciente, diminui de forma marcante em relação aos testes verbais.

Considerando que a folha em branco é um objeto para o qual o paciente deve dar forma e sentido a partir de uma instrução dada, e funciona como objeto que deve ser recriado. Para fazer isso, o paciente experimenta uma intensa situação emocional, que se inicia no contato com esse objeto incompleto, que deve reconstruir por meio de um intenso trabalho interno de busca de significados, que resultará na resposta, seja gráfica ou verbal. Cada estímulo projetivo coloca à prova a capacidade de recriação que se baseia na capacidade reparadora.

Pensando nisso é que pudemos verificar a diferença no modo de funcionamento mental dos neuróticos e psicóticos quando estes realizam uma atividade gráfica.

Observamos nas produções que correspondem ao funcionamento psicótico o fracasso em obter algum grau de sentido e integração, com características de objeto quebrado, desintegrado, desarticulado e desvinculado. A folha em branco funciona como disparador para a identificação projetiva de aspectos minúsculos e fragmentados do corpo e do aparato mental do paciente, dando lugar a produções confusas e fragmen-tadas, com falta dos mecanismos de ordenação e integração, próprias do processo secundário, ou seja, predominam os aspectos do processo primário. Os desenhos são estranhos, parciais e confusos e não mantêm entre si relações lógico-formais, evidenciando a necessidade de evacuar fragmentos persecutórios e mostrando os intensos processos de divisão (splitting) que levam à confusão e desintegração.

Nas produções que correspondem ao funcionamento neurótico, a percepção e o juízo de realidade e a atribuição de sentido, ou significado, à realidade percebida estão mantidos de forma adequada. As tendências desorganizadoras afetam áreas da personalidade, ocasionando inibições, bloqueios e sintomas; no entanto, é importante ressaltar que não alteram de forma significativa a percepção e a integração da realidade.

Conforme já destacado, toda produção projetiva é uma criação pessoal, e como tal manifesta as possibilidades individuais de recriação simbólica do ego e de seus objetos. Para o diagnóstico de graus de patologia são importantes critérios (como indicadores de graus de integração) muito mais do que produções "lindas" ou "feias", e também aspecto harmônico ou grotesco, desorganizado ou integrado, paralisado ou com movimento.

CASOS CLÍNICOS

CASO 1 - Exemplo de funcionamento psicótico

Dados pessoais e histórico: F. A. G. A., 17 anos, sexo masculino, solteiro, natural de Fortaleza, cursa o 1º ano do Supletivo. Foi criado pela avó materna, desde os 5 anos de idade, quando seus pais se separaram. Sua mãe veio morar em São Paulo e dificilmente ia para Fortaleza vê-lo. Todo mês mandava dinheiro para seu filho. O pai continuou morando em Fortaleza, porém, desde a separação não quis mais saber de F.A.. Casou-se novamente. Há quatro anos, F.A. mora em São Paulo com a avó materna e sua mãe. Esta se casou novamente e tem um filho de 4 anos.

Um dado relevante: o primeiro nome foi escolhido pelo pai, e o segundo pela mãe. Na escolha do nome houve brigas entre os pais. O pai sempre o chamou de F. e a mãe sempre o chamou de A., o que tende a trazer ambigüidade para F. A.

Queixa: dificuldade escolar (de adaptação e socialização), falta de motivação e atenção dispersa. Observação dos professores: suas tarefas escolares são copiadas duplamente.

A família tem conhecimento do comportamento do adolescente, afirmando que desde pequeno gostava de ficar isolado no seu quarto jogando videogame. Não conseguia se envolver emocionalmente com os membros da família, não tinha muitos amigos e estava sempre distante de todos.

Hoje, F. A. apresenta traços na sua estrutura psíquica muito confusos, pois não vive o seu presente. A realidade para ele é ausente, há predomínio de fantasias, revelando um núcleo psicótico, que pode ser observado no desenho da figura humana. Faz uma figura grotesca, com omissões de pescoço e mãos, o que nos faz pensar que ele não se reconhece ou não se aceita como realmente é. Apresenta dificuldade em controlar os impulsos do seu corpo, no entanto, nos desenhos da árvore e casa a gestalt manteve-se preservada, denotando controle neurótico. Há um mecanismo de defesa neurótico obsessivo, que pode ser observado em seus traços precisos. Em todos seus desenhos, o traçado e a pressão ao desenhar são fortes, significando insegurança, medo e agressividade, próprios de sujeitos extremamente tensos.

Foi possível observar que no desenho da árvore, ele acentua a linha de solo e a linha divisória da copa com o tronco, significando ansiedade, desejo de ocultar ou disfarçar os conflitos íntimos. No desenho da casa a porta está fechada, representando uma autodefesa, aspecto de regressão, defesa contra o mundo. Em ambos os desenhos, podemos dizer que F. A. controlou-se constantemente, já no desenho da figura humana não conseguiu manter o mesmo controle. Isso nos leva a pensar que nos desenhos da casa e da árvore o sujeito apresenta, ou quer demonstrar ter, um controle sobre a situação, no entanto deixa indícios de que não é possível. Quando desenha a figura humana grotesca, perde totalmente o controle e mostra-se realmente como é.

Reteste (HTP): três meses de psicoterapia

Após três meses de psicoterapia, o diálogo com a psicóloga ainda é difícil. Somente responde ao que lhe é perguntado (após a segunda vez) e não dá continuidade a conversa. Sua postura corporal também é rígida. Senta-se na cadeira e dificilmente muda de posição, apresentando ausência total de movimentos e de expressão, o mesmo acontece na realização das atividades lúdicas. Raramente sorri, não demonstra afetividade e não se importa em perder no jogo. Freqüenta todas as sessões de terapia e ao seu término confirma sua presença para a próxima semana.

Mesmo sendo a segunda aplicação do teste HTP, F. A. apresentou muita tensão. No desenho da casa, podemos dizer que F. A. está tentando defender-se contra a ameaça de uma ruptura no controle da fantasia, defesa contra o mundo externo. Também apresenta ambivalência, pois ele tem sua casa, mas ao mesmo tempo vive pensando em outra: na vida que deixou em Fortaleza.

No desenho da árvore, apresenta desejo de ocultar, disfarçar os conflitos íntimos. Novamente aparece a ambivalência quando desenha três flores de cada lado.

No desenho da figura humana desenha uma figura grotesca, como na primeira aplicação, com partes omissas. Observamos que a figura está no meio de duas árvores e flores (novamente a ambivalência), o que nos leva a pensar que o sujeito está "perdido" em seus pensamentos e suas fantasias, apresentando dificuldades em controlar seus impulsos.

Podemos dizer, ainda, que seus desenhos apresentam um monólogo interno, absolutamente subjetivo, ausência total de movimento e de expressão, e figuras estáticas e inexpressivas. As omissões e distorções que aparecem pertencem ao seu mundo interno. Predominam a desintegração pela perda das funções egóicas, a fragmentação do ego e a projeção direta do mundo interno, povoado por objetos bizarros.

Como foi observado, seus desenhos apresentam traços de ambivalência, e em sua vida real essa ambivalência também pode ser verificada, onde tudo é duplo: tem duas mães (avó materna e a mãe biológica), duas famílias (paterna e materna), dois pais (pai biológico e padrasto), duas cidades (São Paulo e Fortaleza), copia duas vezes a mesma lição na escola, e fez duas vezes o 1º ano do Ensino Médio.

CASO 2 - Exemplo de funcionamento neurótico

Dados pessoais e histórico: E. C. S., 18 anos, sexo feminino, solteira, natural de São Paulo, cursando a 2º série do Ensino Médio. Filha de pais separados. Sua mãe foi embora, deixando-a com o pai desde o nascimento. Seu pai foi morar com a irmã casada (esta com dois filhos adolescentes). Quando E. tinha 7 anos, seu pai faleceu. Seus tios a adotaram como filha. A mãe biológica nesse momento queria a guarda da filha, mas o juiz não concedeu por "não ter boa índole".

Queixa: Segundo sua tia, E. é muito triste, vive falando em morte e não tem amigos.

No teste HTP observa-se que seus desenhos apresentam gestalt conservada e comunicam algo. Revelam insegurança, falta de maturidade intelectual ou afetiva, autodefesa contra os estímulos externos e sentimento de inferioridade; no entanto, predominam a integração porque as funções do ego estão conservadas.

Reteste (HTP): três meses de psicoterapia

Após três meses de psicoterapia, E. já possui um vínculo com a psicóloga. Aceita realizar todas as atividades lúdicas e gráficas propostas. Durante as sessões em que E. relata o seu histórico, demonstra muita tristeza e agressividade ao falar da mãe biológica.

No reteste do HTP, a gestalt está conservada e os desenhos apresentam aspecto harmônico e comunicam algo com mais vivacidade. Podemos dizer que E. apresenta imaturidade psíquica, necessidade de retraimento e extrema relutância à interação com o outro, bem como necessidade de inter-relação e afeto.

Em seus desenhos observa-se ambivalência. No desenho da casa: portas (2) e nos detalhes (borboletas e flores). No desenho da figura humana, os pés estão um para cada lado; no entanto, predominam a integração porque as funções do ego estão conservadas. Tal ambivalência nos leva a pensar que E. não internalizou positivamente sua mãe biológica, porém alguém (sua tia) fez essa função.

 

Conclusão

Podemos concluir que a realidade interna é "desenhada" por meio da projeção. A importância do grafismo é que, pela projeção o indivíduo traz à tona sua capacidade de vinculação objetal, capacidade esta que é a marca fundamental da passagem de níveis primitivos de evolução para níveis neuróticos.

Em um modo primitivo de funcionamento, isto é, psicótico, há um ataque hostil ao aparato psíquico, objetivando destruir as funções destinadas a manter o contato com a realidade externa e interna: a percepção, a memória, a atenção e o juízo de realidade (funções de vinculação), evitando com esse ataque o contato com a dor.

Na neurose há uma organização em função dos mecanismos adaptativos, sendo que cada modalidade neurótica elaborou distintos métodos defensivos, atingindo uma organização intrapsíquica que possibilita o desenvolvimento do pensamento simbólico e o estabelecimento de relação simbólica com a realidade, a discriminação e o sentido de realidade.

Assim sendo, a folha em branco será um local onde o indivíduo revive a forma de vinculação objetal, trazendo desenhos harmônicos, organizados, integrados, revelando organização neurótica, conforme pôde ser observado no caso 2, ou trazendo produções que evidenciam hostilidade contra os objetos internos e contra a capacidade de pensamento, união e integração que, prejudicando a criatividade, trouxeram no grafismo evidência de diferentes graus de fracasso em sua integração, revelados por desarticulação, desagregação, empobrecimento, estereotipia, ausência de vinculação, vazios, falta de vitalidade, conforme o caso 1.

Fica evidente então que, nas produções gráficas de predominância neurótica, a estruturação das defesas evolui concomitantemente. O contrário ocorrendo nas produções de predominância psicótica, ou seja, à medida que vão acontecendo os desenhos, as defesas diminuem, evoluindo para a desestruturação, podendo ser observado um processo de estruturação-desestruturação.

Não podemos deixar de ressaltar que todo indivíduo tem em sua personalidade ambas funções, e que os desenhos nos auxiliam a confirmar qual aspecto está mais atuante: neurótico ou psicótico. Assim, podemos refletir:

1) que pontos saudáveis se revelam para que haja a manutenção deste;

2) onde se encontram as maiores dificuldades para uma possível estratégia de intervenção, visando à diminuição do sofrimento naquela condição existencial;

3) adoção de uma visão crítica perante a técnica, porque também é de nossa responsabilidade avaliarmos as técnicas existentes, reformulando ou perpetuando sua validade, quando estas se mostram eficazes diante da nossa rotina com pessoas tão diferentes, com angústias e traços surpreendentemente tão particulares, mas muito semelhantes.

Nesse sentido, poderíamos atribuir ao HTP o mérito de ser também um método de trabalho, onde à medida que o processo de desestruturação-estruturação (e vice-versa) vai se evidenciando, o psicoterapeuta faria as intervenções necessárias? É óbvio que para tal consideração há que se ponderar toda a complexidade teórica que está envolvida, mas que faz jus diante de tal possibilidade.

 

Referências

Grassano, E. (1996). Indicadores psicopatológicos nas técnicas projetivas. São Paulo: Casa do Psicólogo.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Sandra Dalle M.Siqueira
E-mail: sandradalle@hotmail.com

Walkyria de Fátima Doro
Email: kyriadoro@aol.com

Encaminhado em 24/11/03
Revisado em 28/11/03
Aceito em 23/12/03