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Psic: revista da Vetor Editora

versão impressa ISSN 1676-7314

Psic v.6 n.1 São Paulo jun. 2005

 

ARTIGOS

 

Qualidade de testes psicológicos

 

Psychological test qualities

 

Calidad de tests psicológicos

 

 

Orlete Maria Pompeu de LimaI, II, 1; Ana Paula Porto NoronhaIII, 2

I FMA
II Universidade do Paraná
III Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo avaliar a análise da qualidade de testes promovida por psicólogos, assim como determinar seu consenso. Participaram do estudo seis psicólogos e 14 estudantes de pós-graduação em psicologia. Os dois grupos de sujeitos avaliaram quatro testes utilizando um instrumento de avaliação de testes psicológicos, de forma que houve, além da avaliação de cada grupo, a comparação entre eles. O acerto das respostas dos sujeitos em comparação com o gabarito foi investigado por meio do coeficiente de correlação de Pearson. Os resultados indicaram bons índices de concordância e, em apenas um teste, a avaliação dos alunos da pós-graduação foi superior ao dos avaliadores psicólogos.

Palavras-chave: Testes psicológicos, Avaliação psicológica, Qualidade de testes, Parâmetros psicométricos.


ABSTRACT

The present study aimed to assess the quality analysis of psychological tests done by psychologists, as well to verify their agreement. Six psychologists and 14 psychology graduate students participated on this study. Both subject groups evaluated four tests using an instrument of assessment of psychological tests, allowing a comparison between them and an evaluation of each group. The participants’ answers were correlated with the right answers using the Pearson’s test. The results showed a good internal consistency, and only in one test, the graduate students’ evaluation was better than the psychologists’ one.

Keywords: Psychological instruments, Psychological assessment, Test qualities, Psychometric parameters.


RESUMEN

Este estudio ha tenido como objetivo evaluar el análisis de la calidad de tests hecha por psicólogos así como determinar su aceptación. Han participado del estudio seis psicólogos y 14 estudiantes de pós-graduación en psicología. Los dos grupos de sujetos han evaluado cuatro tests utilizando un instrumento de evaluación de tests psicológicos. De esa forma, además de la evaluación de cada grupo, ha sido hecha la comparación entre ellos. Las respuestas correctas de los sujetos y su comparación con el "gabarito" ha sido investigado por medio del coeficiente de correlación de Pearson. Los resultados han indicado índices buenos de correspondencia, siendo que en un test apenas la evaluación de los alumnos de la pós-graduación ha sido superior a la de los evaluadores psicólogos.

Palabras clave: Tests psicológicos, Evaluación psicológica, Calidad de tests, Normas psicométricas.


 

 

Introdução

A busca pela qualidade das ações profissionais dos psicólogos tem sido anseio de pesquisadores, como Bartram (1998), que aponta em seu artigo a necessidade de um guia para estabelecimento de diretrizes internacionais para a padronização e o uso dos testes psicológicos. Ao lado disso, Turner, DeMers, Fox e Reed (2001) organizaram um guia de responsabilidades para o uso de testes padronizados. Os critérios referentes à qualidade são identificados freqüentemente em publicações estrangeiras sobre avaliação psicológica ou instrumentos de avaliação (Canadian Psychological Association, 1996, Adánez, 1999, Oakland, 1999; AERA, APA & NCME, 1999 e International Test Commission, 2001) e mais raramente em trabalhos nacionais (Pasquali, 1998).

No Brasil, a construção de testes foi bastante acelerada entre os anos 1930 e 1960, sem grandes preocupações com os parâmetros psicométricos por parte dos pesquisadores, talvez por causa da precariedade de recursos tecnológicos utilizados nas técnicas estatísticas (Nick, 1988). A pesquisa para construção, adaptação e padronização de testes psicológicos é relativamente recente, e atualmente pode-se contar com o auxílio da informática para a escolha da amostra e para as análises estatísticas de forma mais rápida e precisa. Entretanto, Pasquali (1999) relata que pesquisadores brasileiros, em determinado momento, utilizam instrumentos estrangeiros, sem maiores preocupações com a verificação da qualidade e da aplicabilidade desses no contexto cultural brasileiro.

A relevância do tema justifica-se na medida em que os testes psicológicos são definidos como instrumentos de medida em Psicologia e que devem apresentar certas características que justifiquem, ao profissional, utilizar os resultados que produzem. Nesse sentido, Oakland (1996) argumenta que os testes são produzidos e utilizados, em maior quantidade e qualidade, em países que possuem o sistema educacional bem-desenvolvido e que valorizam a tecnologia e as diferenças individuais.

Com o objetivo de verificar até que ponto os testes estrangeiros utilizados pelos profissionais brasileiros, em diferentes campos, têm sido submetidos tanto aos processos de padronização e/ou adaptação como de análise das características metrológicas em amostras brasileiras, Sisto, Codenotti, Costa e Nascimento (1979) publicaram um artigo, que apesar de ter sido realizado há quase três décadas, suas conclusões não se diferenciaram muito do cenário atual. Os resultados indicaram que nenhum dos nove testes analisados cumpriu pelo menos 40% das condições que foram propostas, isto é, não apresentaram comprovações ou informações no que se refere à precisão, validade e padronização dos resultados (normas, tabelas, tipos de amostras, faixa etária, sexo e nível socioeconômico e/ou cultural).

Outras pesquisas têm apontado insatisfações quanto à ausência de instrumentos de qualidade para o profissional poder fazer uso com alguma segurança na elaboração de seus diagnósticos. Entre elas, uma pesquisa com psicólogos de Brasília realizada por Azevedo, Almeida, Pasquali e Veiga (1996), para identificar os instrumentos psicológicos mais utilizados na prática profissional e levantar a opinião deles a respeito deles, concluiu que a maioria dos inquiridos acredita no valor dos testes e que esses medem o que pretendem medir, desde que utilizados como uma ferramenta adicional e de acordo com os princípios éticos, mas apontam a falta de estudos prévios que justifiquem a validade de seu uso.

Essa mesma inadequação quanto à qualidade dos testes psicológicos pôde ser verificada em outros países pelos achados de Almeida, Prieto, Muñiz e Bartram (1998) com psicólogos de Portugal, Espanha e países ibero-americanos. Foram identificados problemas quanto ao uso inadequado dos testes psicológicos, falta de domínio do instrumento, avaliação incorreta, falta de desenvolvimento dos testes, entre outros.

Outros artigos sobre o tema confirmam o descuido em relação à grande parte dos instrumentos psicológicos comercializados no Brasil, que não apresentam a qualidade técnica necessária e indispensável para o exercício profissional. Noronha, Freitas, Sartori e Ottati, (2001) realizaram uma pesquisa para analisar a presença de informações relativas aos dados de identificação e aos dados de aplicação e de avaliação nos manuais de 21 testes de inteligência, que possuíam manual em português. Os resultados foram desanimadores, considerando-se que nos instrumentos foram encontrados alguns que não apresentavam os dados de identificação (nome, autor, editor e data de publicação), embora metade deles tenha apresentado todos os itens dos aspectos avaliados.

Em outra pesquisa, Noronha, Freitas, Sartori e Ottati (2002) estudaram a construção de 26 testes psicológicos de inteligência, comercializados no Brasil, para verificar a presença ou a ausência de estudos de validade e precisão e também identificar se os testes estrangeiros possuíam padronização brasileira. Os resultados indicaram que no que se refere à validade e precisão, 75% dos testes nacionais têm esse tipo de estudo, enquanto nos testes estrangeiros, 90% desenvolveram algum estudo. Em relação à padronização dos instrumentos, 25% dos testes nacionais não informavam os estudos realizados e nos instrumentos estrangeiros, 40%.

No que se refere ao número de sujeitos incluídos nos estudos de padronização dos testes, segundo os dados apresentados nas pesquisas, a variabilidade presente leva a refletir com urgência sobre a questão (Hinkle, Wiersma & Jurs 1994). A ausência de padrões específicos pode, de alguma forma, justificar a disparidade do número de sujeitos encontrados nos instrumentos. Tal fato se justifica pela ausência de parâmetros nacionais sólidos a respeito da construção de instrumentos.

Quanto à fundamentação teórica dos instrumentos, Pasquali (1996) comenta a falta de teorização da medida das ciências psicossociais e dos construtos avaliados, ressaltando a visão positivista da psicometria. Para ele faz-se necessária uma visão mais cognitivista, para a melhor definição psicológica dos traços latentes a serem avaliados. Almeida (1999) aponta também a necessidade de um maior esforço dos pesquisadores quanto aos aspectos teóricos das variáveis avaliadas, isto é, a fundamentação teórica deve explicitar a teoria sobre o construto ou objeto psicológico a ser medido e definir o desenvolvimento do instrumento e a definição constitutiva e operacional do construto.

Outro aspecto importante sobre os testes psicológicos é a questão relativa à interpretação dos resultados. Halperin e McKay (1998), na revisão de testes usados com crianças e adolescentes, detectaram que alguns testes possuem poucos estudos psicométricos, principalmente os projetivos, portanto afirmam que dados isolados pouco contribuem para o entendimento do psicólogo e que é recomendável o uso do teste como um instrumento auxiliar de coleta de dados.

Segundo Garb (2000) pode-se esperar que os recursos da informática fiquem cada vez mais importantes para a qualidade da avaliação psicológica. Embora a validade ainda não tenha sido claramente estabelecida para muitos programas atuais de avaliação automatizados, o autor faz recomendações para a busca de qualidade na construção e avaliação de novos programas de computador, além de comentar, no artigo, sobre a ética no uso de computadores para fazer julgamentos.

Os problemas mais graves e mais freqüentes na avaliação psicológica, com ênfase nos testes, segundo os psicólogos, foram tema da pesquisa realizada por Noronha (1999) em sua tese de doutorado, cujos resultados reafirmam a falta de pesquisas e de instrumentos nacionais para aferição dos recursos utilizados na avaliação psicológica, como o problema mais grave e mais freqüente. Ainda são utilizados muitos testes, criados no começo do século XX, e, ao contrário de todas as outras inovações tecnológicas, como a informática, a saúde e as telecomunicações, os testes psicológicos permanecem, basicamente, imutáveis.

Para Noronha (1999) as críticas atribuídas aos testes psicológicos são inúmeras no que se relaciona à inconsistente fundamentação teórica, à ausência de estudos recentes e de adaptações para diferentes realidades, ao alto custo de determinados materiais e à falta de orientações precisas quanto à construção e ao uso dos instrumentos psicológicos. Isso evidencia a necessidade de avanços na área, como a verificação sistemática de seus parâmetros para a construção, o uso e a comercialização dos testes psicológicos.

Sob essa perspectiva, Sisto, Sbardelini e Primi (2001) ponderam que as dúvidas quanto à qualidade dos testes psicológicos não estimularam a busca das soluções; em contrapartida, induziram ao uso dos recursos escassos disponíveis, assim como ao abuso de métodos pouco científicos. Além disso, os autores denunciam a carência de desenvolvimento tecnológico nacional condizente com a nossa cultura e a falta de preparo dos profissionais que trabalham com avaliação psicológica.

O Conselho Federal de Psicologia constituiu em 2001 uma comissão consultiva em avaliação psicológica, que teve como tarefa apreciar a qualidade dos testes psicológicos que estavam em uso no Brasil. Essa comissão listou os critérios para a análise dos instrumentos e convidando consultores nas áreas de conhecimento dos testes psicológicos, para auxiliar na elaboração do parecer final de cada instrumento (Conselho Federal de Psicologia, 2003). O presente estudo teve como objetivo avaliar a análise da qualidade de testes promovida por psicólogos, assim como determinar o consenso entre eles no que se refere à análise.

 

Método

Participantes

Os participantes do presente trabalho foram divididos em dois grupos:

Grupo 1 – Seis psicólogos, sendo 83,3% mulheres (f=5) e 16,7% (f=1) homens, com idade média de 42 anos (DP=6,04) e com uma média 15,16 anos de formados (DP=4,66). Em relação à área de atuação, 16,7% (f=1) atuam na área clínica, escolar e docência, 50% (f=3) na clínica e organizacional, 16,7% (f=1) na clínica, organizacional e trânsito e 16,7% (f=1) na clinica e orientação vocacional.

Grupo 2 – 14 psicólogos, alunos de pós-graduação em psicologia de uma instituição particular do interior de São Paulo, sendo 50% mulheres (f=7) e 50% (f=7) homens, com idade média de 37 anos (DP=9,17) e com média de 8,96 anos de formação (DP=7,83). Em relação à área de atuação 7,1% (f=1) atuam somente na área clínica, 28,7% (f=4) na organizacional, 7,1% (f=1) na docência, 7,1% (f=1) na pesquisa, 14,3% (f=2) na clínica e docência, 21,5% (f=3) na clínica e trânsito, 7,1% (f=1) na clínica, organizacional e pesquisa e 7,1% (f=1) na pesquisa e forense.

Material

Foram utilizados os seguintes materiais para a realização da pesquisa:

• Ficha de dados de identificação, para levantamento de dados, como idade, sexo, tempo de formado, nome da instituição de formação, cursos de pós-graduação, área de atuação profissional e tempo de atuação.

• Quatro testes psicológicos: Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5) - Formas A e B (Primi & Almeida 2000); Inventário Fatorial de Personalidade, IFP (Pasquali, Mazzarello & Ghesti1997); Teste de Desempenho Escolar, TDE, (Stein, 1994); 16 PF (Cattell, Cattell, 2000).

1. Instrumento de análise da qualidade dos testes (Anexo 1)

O instrumento utilizado constituiu-se de 47 questões organizadas em duas partes relativas à descrição geral e à qualidade do teste. No primeiro bloco estiveram relacionadas informações pertinentes a nome, editora, ano de publicação, variável avaliada, entre outras. Já o segundo relacionou informações sobre a construção e os parâmetros psicométricos. Cada teste foi analisado e para o estabelecimento do gabarito de correção, consultou-se o manual do teste. Todas as avaliações efetuadas pelos juízes e avaliadores dos testes foram comparadas com o gabarito respectivo, para verificar o índice de acertos. Na avaliação do instrumento foram considerados como indicadores positivos quando o avaliador respondeu “sim” para item atendido e quando o item não se aplica, sendo atribuído valor 2. Para as respostas assinaladas com “não” foi atribuído valor zero. Quando o avaliador não respondeu, isto é, não assinalou nenhuma das alternativas para o item, foi atribuído valor 1, significando que nada se pode afirmar, nem que errou e nem que acertou a resposta (entre zero = não atende e 2 = atende).

 

Resultados

A avaliação da qualidade dos instrumentos estudados permitiu algumas análises. A correção das respostas dos avaliadores em razão do gabarito estabelecido pelas autoras foi investigada por meio do coeficiente de correlação de Pearson. Os resultados são apresentados nas Tabelas 1 a 8, sendo uma por instrumento, e representam as avaliações realizados pelo Grupo 1 (psicólogos).

Coeficiente de correlação de Pearson entre os avaliadores psicólogos e o gabarito no teste BPR-5

Os resultados de avaliação do teste BPR-5 são apresentados na Tabela 1. As correlações encontradas foram significativas, exceção feita à correção do avaliador 5. As análises dos demais avaliadores se correlacionaram positivamente com o gabarito, com coeficientes entre 0,561 (4o avaliador) a 0,889 (2º avaliador).

A análise da Tabela 2 indica os resultados da correção do TDE. Nesse sentido, todas as correlações foram significativas, exceto a do avaliador 1. As correlações variaram entre 0,293 a 0,895, embora nesse teste apenas a correlação de um avaliador com o gabarito tenha sido superior a 0,50, revelando menos acertos dos avaliadores.

Os resultados da correção do teste IFP que se encontram na Tabela 3 indicam que apenas os coeficientes de Pearson relacionados aos avaliadores 1 e 2 são estatisticamente significativos e, portanto, se correlacionam com o gabarito do teste IFP. Diferentemente dos outros testes analisados, esse não apresentou correlações superiores a 0,50. Nesse teste foram apresentados comentários dos avaliadores nos formulários sobre as informações no manual: “O autor não apresenta o teste como adaptado, mas no decorrer do manual o cita como versão brasileira”. “Na ficha catalográfica o autor diz que o teste foi originado (porque não cita adaptação), porém na página 33 do manual ele se reporta que o teste nasceu de uma adaptação modificada do teste EPPS.” Essas observações justificam a possibilidade de ter havido confusão no direcionamento das respostas.

A análise da Tabela 4 indica que os avaliadores 4 e 5 obtiveram coeficientes de correlação de Pearson significativos com o gabarito referente à análise da qualidade do 16PF. Os coeficientes variaram entre 0,079 e 0,821, sendo que a mais alta correlação entre gabarito–correção foi relativa ao avaliador 4.

No que se refere à avaliação realizada pelo grupo 2, os resultados revelaram que aproximadamente 86% (f=12) dos avaliadores obtiveram resultados estatisticamente significativos na comparação com o gabarito do teste BPR-5, embora os avaliadores 7 e 9 tenham apresentado resultados não significativos. Ainda nesse sentido, o menor coeficiente encontrado nesse instrumento foi superior a 0,50. Os dados podem ser visualizados na Tabela 5.

Os resultados apresentados da Tabela 6 são referentes à correção do TDE. Nesse sentido os dados revelaram que 78,6% (f=11) dos avaliadores obtiveram resultados significativamente correlacionados com o gabarito do teste TDE, sendo que as correlações significativas variaram entre 0,31 a 0,86.

A Tabela 7 refere-se à análise da qualidade do IFP. Os achados indicaram que 9 coeficientes são significativos, embora as correlações tenham sido menores do as avaliações dos outros instrumentos, variando entre 0,24 e 0,59. O instrumento avaliado pelo grupo 2 foi o 16PF, cujos resultados se encontram na Tabela 8. Dos 14 coeficientes de correlação de Pearson, 10 se revelaram estatisticamente significativos, sendo que os resultados dos avaliadores 2, 3, 5 e 14 são os não significativos. As correlações nesse caso não foram muito altas, variando entre 0,30 e 0,55.

A comparação entre grupos, no que se refere aos coeficientes de correlação entre a correção e o gabarito, pode ser encontrada na Tabela 9, que por sua vez, apresenta um resumo do percentual dos coeficientes de correlação. Em apenas um teste (TDE) o grupo de psicólogos pós-graduados (Grupo 2) obteve menos coeficientes significativos do que o grupo de psicólogos (Grupo 1). Ainda nesse sentido, considerando as correlações superiores a 0,50, em relação ao BPR-5 o Grupo 1 apresentou 83,3%, enquanto o Grupo 2, 86%; no que diz respeito ao TDE, no Grupo 1 foi encontrada apenas uma correlação superior a 0,50 (17,7%), enquanto no Grupo 2, 50%. A correção do IFP pelo Grupo 1 em comparação ao gabarito não gerou nenhuma correlação superior a 0,50, enquanto no Grupo 2 foram encontradas 3 (21,4%), e, por último, a avaliação do 16PF resultou em 17,7% de coeficientes superiores a 0,50, já no Grupo 2, 28,6%.

 

Considerações finais

Considerando o objetivo do presente estudo, ou seja, o de avaliar a análise da qualidade de testes promovida por psicólogos, assim como determinar o consenso entre eles no que se refere à análise, os resultados permitiram reflexões interessantes. A análise da qualidade de testes, disparada oficialmente pelo Conselho Federal de Psicologia em 2001, embora em um primeiro momento estivesse restrita a especialistas na área de avaliação e testagem psicológicas, em longo prazo deve ser uma prática incorporada ao trabalho do psicólogo que faz uso de instrumentos padronizados. Compete ao profissional estabelecer seus critérios de testagem, e em razão disso estabelecer os instrumentos que estejam adequados às necessidades da população, da queixa ou do construto avaliado, entre outros fatores importantes.

Sob essa perspectiva o trabalho de “análise de testes” deve ser administrado pelos próprios psicólogos constantemente. Assim sendo, espera-se que esse profissional possua os domínios necessários para realizar tais análises, o que exigiria dele clareza dos princípios descritos nos manuais dos testes psicológicos, que devem conter informações sobre a fundamentação teórica dos instrumentos, descrição da aplicação, avaliação e interpretação dos resultados e indicação da literatura científica utilizada.

Com o propósito de determinar se o nível de conhecimento dos participantes (psicólogo ou psicólogo pós-graduado) poderia gerar melhores avaliações dos testes, realizou-se o estudo com aluno da pós-graduação, a fim de testar a diferença entre eles. O resultado encontrado indicou que de maneira geral o Grupo 2 (pós-graduação) apresentou mais acertos em relação ao gabarito preparado pelas autoras do que o Grupo 1 (psicólogos), o que reafirma a asserção amplamente discutida por diferentes autores (Almeida, 1999; Noronha, 1999; Pasquali, 1999; Sisto, Sbardelini & Primi, 2001), no que se refere à necessidade de aprimoramento profissional e de formações mais consistentes.

Ao lado disso, o movimento pela busca da qualidade dos testes psicológicos não pode ser desvencilhado da própria formação em psicologia. De alguma forma, os resultados desse trabalho revelaram que há necessidade de implantação de melhor compreensão dos conceitos de qualidade de um teste entre os psicólogos (Noronha, 1999; Noronha, Freitas, Sartori & Ottati, 2001, 2002a, 2002b).

Embora o presente estudo não tenha tido a pretensão de identificar a relação de domínio dos conceitos dos participantes apresentados no instrumento nem verificar o quanto cada um deles compreende a tarefa de análise da qualidade de instrumentos, os achados revelaram alguma dificuldade na execução da tarefa. Isso foi revelado pelos baixos coeficientes de correlação encontrados entre gabaritos e avaliações.

À guisa de considerações finais, registra-se a importância da colaboração dos psicólogos que participaram da pesquisa. Houve diversas manifestações deles acerca do aprendizado adquirido com as repetidas investigações sobre a qualidade dos testes psicológicos avaliados, bem como a sugestão, por parte dos que exercem a docência, de que o instrumento seja usado no ensino das disciplinas de avaliação psicológica. Sugere-se que novos estudos possam ser desenvolvidos com outros instrumentos e grupos de participantes.

 

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Endereço para correspondência
Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45
Centro, Itatiba-SP
CEP: 13.251-900
E-mail: ana.noronha@saofrancisco.edu.br

Recebido: abril/2005
Reformulado: junho/2005
Aprovado: junho/2005

 

 

Sobre as autoras:

1 Orlete Maria Pompeu de Lima é psicóloga, mestre em Psicologia pela Universidade São Francisco e docente da FMA e Universidade do Paraná (UNIPAR).
2 Ana Paula Porto Noronha é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, docente do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Universidade São Francisco e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

 

Anexo