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Psic: revista da Vetor Editora

Print version ISSN 1676-7314

Psic vol.6 no.2 São Paulo Dec. 2005

 

RESENHA

 

Questões do cotidiano universitário

 

 

Arthur de Almeida Berberian1

Endereço para correspondência

 

 

Joly, M. C. R. A., Santos, A. A. A., & Sisto, F. F. (Orgs.). (2005). Questões do cotidiano universitário. São Paulo: Casa do Psicólogo.

A inserção da mulher no mercado de trabalho, os avanços tecnológicos e científicos, entre outros aspectos de igual importância, ocorreram de forma rápida nos últimos 50 anos. De maneira semelhante, houve uma grande expansão do ensino superior, o qual passou a atender estudantes com diferentes características. A visão de que o aluno deve apenas adquirir conhecimentos específicos sobre sua a área de atuação deve ser superada, e um novo foco que procura compreendê-lo como um ser em formação, considerando os múltiplos aspectos que compõem sua integridade, deve ser assumida. Novos desafios para estas instituições, bem como a necessidade de surgir uma nova identidade capaz de atender essas demandas fazem-se necessários.

Nesse contexto, este livro apresenta conceitos e estudos para a adaptação das instituições de ensino superior à realidade atual, debatendo as muitas e divergentes visões sobre o universitário, e atendendo as novas demandas conforme citado acima. As propostas apresentadas são dirigidas não só aos estudantes, mas também aos docentes, fornecendo diretrizes para um preparo mais condizente ao ensino superior.

No primeiro capítulo, Barreiras à criatividade e traços de personalidade em universitários, os autores iniciam traçando um histórico sobre os estudos de criatividade, que era entendida sob uma perspectiva individualista, sendo que apenas os traços subjetivos do sujeito a determinavam. Atualmente, houve a expansão de sua compreensão, e novos aspectos como os de ordem social e os traços da personalidade passaram a ser fatores determinantes quanto ao sucesso ou o bloqueio da habilidade criativa. O estudo realizado pelos autores revela que há necessidade de uma avaliação preliminar, com a finalidade de identificar as habilidades e competências dos alunos, no momento em que este ingressa na universidade. Também fornece indicativos para que as universidades não ajam como fortalecedoras das barreiras à criatividade.

Avaliação do uso de estratégias de aprendizagem e a compreensão em leitura de universitários é o titulo do segundo capítulo, que teve por objetivo verificar a possível relação entre a compreensão de leitura e os tipos de estratégias de aprendizagem. Os resultados mostraram que não houve relação significativa entre ambos, e também revelaram um baixo nível de compreensão em leitura nos universitários. Assim, apesar da utilização de estratégias adequadas para uma boa compreensão de leitura, os alunos avaliados não obtiveram escores altos. Fica evidente a necessidade de uma avaliação mais ampla sobre compreensão em leitura e de estudos que relatem a realidade brasileira para a promoção de uma aprendizagem mais efetiva aos estudantes.

O terceiro capítulo, intitulado Estilos cognitivos, dependência e independência de campo: análise de sua relação com a compreensão de leitura, evidencia a importância da compreensão de leitura e a possibilidade dela estar relacionada a características pessoais, como os estilos cognitivos. O estudo realizado revelou que pessoas do estilo independente de campo parecem ter maior habilidade para compreensão de leitura do que as dependentes de campo. Há um questionamento sobre a definição do constructo estilo cognitivo, em vez de estilos cognitivos. Fica evidente a necessidade de pesquisas amplas para um refinamento da teoria e dos constructos.

Com o título Produção de texto e inteligência fluida, os autores hipotetizam uma possível relação entre ambas, já que a segunda refere-se a operações mentais de raciocínio exigidas em situações novas. Relacionar idéias, induzir conceitos abstratos e resolver problemas novos sintetizam a definição dessa inteligência. Os resultados que compõem o quarto capítulo do livro apontaram ausência de relação entre esses dois fatores. Porém os autores questionaram os critério de avaliação e os instrumentos utilizados na pesquisa, supondo que, se estes fossem reavaliados, poderiam ser obtidos diferentes resultados.

No capítulo 5, intitulado Habilidades em escrita: um estudo com universitários, as autoras fazem um paralelo entre teoria e pesquisas realizadas sobre habilidades em escrita. Os resultados dessas pesquisas revelaram baixo nível desta habilidade em estudantes universitários, tanto em países em desenvolvimento quanto em países considerados como tendo alto nível de escolaridade. Este estudo buscou verificar os conteúdos da produção de escrita em alunos ingressantes nas universidades, considerando o curso e o gênero. Os resultados apontaram que as exigências específicas dos cursos, bem como a preparação para o ingresso na universidade, parecem ser importantes para o desenvolvimento da linguagem escrita mais elaborada.

Investigando barreiras à criatividade com universitários é o título do sexto capítulo. Considerando o contexto universitário brasileiro, que recebe estudantes com inúmeras características distintas, foram elaboras questões sobre como os alunos ingressantes percebem as barreiras relativas à criatividade. Os resultados do estudo apontam uma concordância com resultados obtidos em estudos previamente realizados. A falta de tempo foi a maior barreira à criatividade percebida pelos estudantes; porém, parecem ser os aspectos de ordem pessoal, revelado pelos instrumentos de mensuração, as maiores barreiras à criatividade.

O capítulo 7, Condutas agressivas e gênero: uma questão de estilo de agressividade, teve como objetivo trazer informações sobre a agressividade em estudantes universitários, pretendendo diferenciar particularidades entre gêneros. Os resultados revelaram diferenças no comportamento, sendo que os homens apresentaram agressividade mais intensa que as mulheres, mas tal agressividade pode ser de tipos diferentes. Estas diferenças foram atribuídas a fatores genéticos e sociais.

O capítulo 8, intitulado Questionário de Vivência Acadêmica: estudo de consistência interna do instrumento no contexto brasileiro, traz relatos de pesquisas já realizadas. Estas pretenderam identificar, compreender e intervir nas questões relacionadas a problemas de adaptação ao novo contexto. O objetivo foi avaliar como o estudante universitário vivencia o processo de integração acadêmica nas dimensões pessoais, interpessoais e institucionais. Os resultados sumariados apontaram diferenças quanto ao gênero, no qual estudantes mais velhos e do sexo feminino parecem ter menos dificuldades de adaptação à universidade. Pesquisas como esta contribuem para a compreensão deste fenômeno e possibilitam ajudar o aluno a enfrentar as novas demandas exigidas nessa etapa de ingresso à universidade.

O estudo relatado no capítulo 9, Percepção de estudantes evadidos sobre sua experiência no ensino superior, busca compreender a experiência acadêmica dos estudantes evadidos. O gerenciamento dessas demandas pode ser positivo ou negativo, desencadeando possíveis reflexos como mudanças de cursos, reprovações e até mesmo evasão. Os resultados apontaram uma percepção positiva em todas as dimensões avaliadas, o que sugere respostas contaminadas pela desejabilidade social, já que a maioria do estudantes gostariam de retornar aos estudos. Também sugerem que a evasão no ensino superior é um processo que envolve a interação de diversos fatores relacionados ao estudante, a instituição e aos fatores externos, não havendo um único fator responsável pela evasão.

Capítulo 10 discorre sobre a Concepção e prática do lazer em alunos. Os autores iniciam traçando um histórico sobre concepções de lazer, comparando a jornada de trabalho do passado à dos tempos atuais. De forma geral, lazer está relacionado à qualidade de vida, no qual o sujeito se vê longe de obrigações do cotidiano. Os estudantes, ao ingressarem na universidade, sofrem inúmeras pressões, seja pela forma de preparação para profissão, seja pela demanda maior de trabalhos. Dentro desta perspectiva, o estudo procurou verificar as diferenças entre lazer e tempo livre, bem como os fatores que incidem sobre sua realização. Os resultados mostraram que o lazer é muito importante para os alunos, e a concepção de lazer que ficou em evidência foi "fazer o que mais gosta no tempo livre". Os tipos de atividades realizadas são de ordem física, intelectual, artística e artesanal, dentre outras.

O capítulo 11 trata da Motivação dos alunos em cursos superiores. O estudo apresenta um panorama sobre este tema e pretende abordar questões, como quais aspectos da motivação e abordagens teóricas têm sido estudados; quais as metodologias e instrumentos de mensuração usados; e, dos resultados obtidos, o que é válido tanto para a orientação de profissionais da área educacional quanto para pesquisadores. No Brasil, os resultados revelaram uma motivação intrínseca nos estudantes, apontando a necessidade de uma atuação dos professores mais próxima ao aluno, enfatizando o valor do aprender e do esforço. As pesquisas devem compreender o que significa o esforço para o aluno brasileiro, e dar indicativos para um refinamento da teoria e das escalas de mensuração. Os estudos também demonstraram uma carência em instrumentos confiáveis para avaliar o desempenho acadêmico bem como a motivação dos estudantes, já que os resultados se basearam apenas no relato dos mesmos.

O capítulo 12 trata das Estratégias de aprendizagem: contribuições para a formação de professores nos cursos superiores. Os estudos realizados nos últimos tempos têm mostrado que intervenções nestas estratégias promovem um melhor aprendizado. As autoras descrevem fundamentos teóricos dos tipos de intervenções sobre a estratégia de aprendizagem, modelos de intervenções e princípios gerais para a intervenção, na qual os professores precisam ser capacitados para ensinar os conteúdos e facilitar o desenvolvimento das estratégias de aprendizagem, levando em consideração suas próprias dificuldades de aprender e ensinar o aprender.

Dessa forma, os estudos apresentados no livro apontam, por meio de textos de fácil compreensão e grande profundidade, a necessidade de promoção de estratégias curriculares mais adequadas para os alunos universitários, visto que estes estão enfrentando mudanças significativas neste momento de suas vidas. As pesquisas possibilitam uma melhor compreensão dos fatores envolvidos, evidenciando a complexidade do relacionamento dos diversos aspectos no cotidiano das universidades. Também revelam a necessidade de mais estudos sobre este contexto, apontando a urgência de construção e de validação de instrumentos de mensuração, o que permitiria uma maior confiabilidade nos resultados das pesquisas. Por enquanto, porém, a escassez de estudos sobre o tema resulta em dificuldades na compreensão da realidade brasileira no ensino superior. Frente a essa problemática os autores desse livro buscaram, baseados em pesquisas, dados indicativos para uma melhor compreensão do fenômeno. De acordo com a proposta do livro, são ainda necessárias a participação, a compreensão e pesquisas de outros profissionais da área de ensino.

 

 

Endereço para correspondência
Rua Nossa Senhora da Aparecida, 125 - Cidade Nova
12955-00 Bom Jesus dos Perdões-SP

Recebido em: setembro/2005
Aprovado em: dezembro/2005

 

 

Sobre o autor:

1 Arthur de Almeida Berberian é discente em Psicologia e aluno do Programa de Iniciação Científica da Universidade São Francisco