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Psic: revista da Vetor Editora

versão impressa ISSN 1676-7314

Psic v.7 n.1 São Paulo jun. 2006

 

RESENHA

 

Mitos familiares e escolha profissional: uma visão sistêmica

 

 

Dario Cecilio Fernandes1

Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 

Filomena, K. (2005). Mitos familiares e escolha profissional: uma visão sistêmica. São Paulo: Vetor, 131 p.

O presente livro foi desenvolvido a partir da tese de mestrado da autora, no qual apresenta uma proposta de intervenção em Orientação Profissional sob a perspectiva teórica da Terapia Familiar Sistêmica. O livro procura refletir sobre a influência da família, mitos familiares, dentre outros aspectos presentes na orientação profissional, e está organizado em duas partes. Por sua vez, a primeira parte se divide em seis capítulos trazendo uma proposta de intervenção na Orientação Profissional, enquanto que a segunda parte se detém na Teoria Sistêmica.

No primeiro capítulo, intitulado Tópicos em orientação profissional, a autora faz um levantamento bibliográfico mostrando o nascimento, as diversas pesquisas existentes e as mudanças nas teorias que proporcionaram o atual conhecimento sobre a Orientação Profissional. Em um segundo momento, é abordada a dificuldade da decisão no processo de OP, pois à medida que o jovem escolhe, ele está deixando de ser adolescente, assumindo responsabilidade, o que implica em ganhos e perdas. Nessa direção, os ganhos e as perdas são motivos que levam o adolescente a entrar em conflito, que geram ansiedade e que pressupõem a elaboração de lutos. Para finalizar o manuscrito, a autora trata das etapas do processo de escolha, dividindo-as em três partes, quais sejam, escolhas fantasias, escolhas tentativas e escolhas realistas.

Questões familiares é o nome do segundo capítulo, o qual é dividido em duas partes e trata das questões familiares. O primeiro tema discutido é a família, compreendida como uma das instituições mais antigas, e entendendo por família indivíduos com laços sanguíneos, voltados para criação, socialização e educação dos filhos. A autora busca fontes para citar a diferença de etapas na vida do indivíduo e mostrando a evolução histórica da Idade Média até a sociedade de hoje. Mostrando a diferença entre a educação na antiguidade até os dias atuais, também diferencia alguns conceitos de estrutura familiar atual e define varias categorias de famílias. Na segunda parte, a pesquisadora aborda a influência da família na escolha profissional. Baseando-se em citações anteriores, a autora afirma que é no ambiente familiar que a criança se forma, a partir dos conceitos, valores e ideologias que sua família passa de geração para geração. Assim, a família também interfere na formação de seus hábitos e interesses, incentivando certos comportamentos ou atitudes ou até mesmo, reprimindo-os conforme sua vontade. Dessa forma, a estrutura familiar interfere a livre escolha do adolescente de forma implícita ou explícita.

No capítulo seguinte, Mito e mito familiar, a autora reflete sobre o surgimento, a conceituação e as diferentes interpretações que os estudiosos possam ter a respeito de mitos. O tema abordado em seguida é o mito familiar, cuja finalidade é explicar a influência dele sobre o jovem. Na terceira parte do capítulo é abordada a relação entre o mito e a escolha, mais especialmente na perspectiva de dois autores, os quais indicam que os mitos estruturam a consciência e apontam para a direção que acaba se tornando o caminho. A escolha profissional, por sua vez, não poderia deixar de estar fora desse conceito, pois uma vez que os mitos orientam as escolhas de uma forma geral, podem também orientar as escolhas profissionais. Por fim, na última parte do capítulo, são relacionados os mitos familiares e as orientações profissionais, que por sua vez, podem ganhar um enfoque sistêmico, ao resgatar e trabalhar os conceitos, as ideologias e os mitos familiares, vendo assim o ser humano como um ser integrado, que ao tomar qualquer decisão sobre sua vida estará sendo influenciado por diversos fatores. A proposta de inclusão a investigação dos mitos familiares no processo de orientação profissional se deve ao fato de que ao entendê-los melhor, o indivíduo fará uma escolha mais madura e ajustada.

O quarto capítulo, Método e técnicas aborda em sua primeira parte principais técnicas, que estão distribuídas em um processo de aproximadamente 13 encontros com o orientador, e que estabelece uma proposta de intervenção focada na escolha profissional. Em seguida são dadas oito sugestões de técnicas, nas quais a autora explica a aplicação delas e mostra a utilidade na orientação profissional.

Um estudo de caso é discutido no quinto capítulo. Nele, a autora descreve os procedimentos adotados no estudo, inclusive a identificação de mitos. Na parte subseqüente são tratados os resultados e a discussão de dados, de tal forma que não identificados os mitos familiares e estrutura familiar. Após isso, a autora separa a discussão em três partes, sendo que na primeira abordam-se os mitos presentes na família, relatados sessão a sessão. A posteriori, a autora enfatiza o tema da estrutura e o funcionamento familiar, ressaltando alguns fundamentos teóricos sobre o assunto bem como relatando as frases mais importantes usadas pela paciente em suas entrevista. Por último, a autora relata o trabalho de levantamento das questões familiares, sendo que o primeiro passo foi investigar a história do nome do paciente, e após descobrir seu significado. Relaciona-se ainda com a história familiar, e ao resgatar a história profissional da família, o genoprofissiograma e a história de vida trigeracional pode-se identificar melhor os mitos familiares. Filomena conclui o capítulo discutindo que, isso possibilita a paciente realizar uma escolha mais madura e ajustada, podendo-se dizer que a escolha profissional feita por ela tem relação com os seus mitos familiares e com a estrutura e funcionamento de sua família, possibilitando a realização de vários desejos e expectativas.

No capítulo subseqüente, Finalizando, a autora traz as considerações finais, a partir das concepções de que o mito pode ter grande influência sobre a escolha profissional, de tal modo que, ao estudar a estrutura e o funcionamento familiar pode-se entender os motivos que levam a escolha de uma carreira.

O último capítulo, intitulado Teoria sistêmica, aborda como concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e integração. Os sistemas são totalidades interligadas, cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores. Posteriormente, a autora trata da cibernética, dividindo-a em dois momentos. No primeiro momento é o interesse pela estabilidade e pela estrutura, entendendo que os sistemas funcionam com um propósito que equivale a um equilíbrio, tendo como principal mecanismo a homeostase, que são as ações dos sistemas e organismos para o mantimento de sua estabilidade. Os terapeutas que trabalham com a Primeira Cibernética são mais diretivos, planejando ativamente suas estratégias e ações, tendo como objetivo definir o problema de forma clara e aplicar técnicas de eliminação ou redução dos sintomas da família. A idéia básica é gerar, a partir de intervenções, situações para quebrar a homeostase, resistir a mudança e empurrar a família para outro padrão de funcionamento que não necessite da presença do sintoma. O tratamento é concluido rapidamente tornando-se eficiente e breve, entretanto muitas famílias voltavam a ter sintomas em busca da sua homeostase. Surge então a Segunda Cibernética, que tem como fundamentação que o sintoma não é o foco. Ele apenas serve para identificar que algo "não vai bem" pra família. Essa visão implica a idéia de que o sistema tem e adquire seus próprios recursos para realizar mudanças, possuindo uma autonomia. O próximo assunto que a autora discute é o Construtivismo, no qual o pressuposto é que os indivíduos reagem a um mundo não tal como ele é na sua objetividade, mas conforme percebido, sendo todo o conhecimento auto-referente. Encerrando o capítulo a autora descreve alguns pressupostos da Teoria Sistêmica segundo Grandesso (2000).

Por fim, este é um livro que aborda um tema pouco estudado, e que foi a base da dissertação de mestrado da autora, tratando a orientação profissional com uma visão sistêmica. A obra propõe-se a enfatizar de que forma as relações, estruturas e mitos familiares podem interferir na escolha profissional de um adolescente, principalmente se ele não tiver conhecimento suficiente sobre seus mitos ou suas estruturas familiares. Com uma linguagem clara, este livro pode ser lido por pessoas de graduação, pós-graduação, adolescentes que tenham interesses sobre esta área, ou até mesmo pessoas que estão em dúvida de procurar uma ajuda profissional para sua orientação.

 

 

Endereço para correspondência
Rua Carlos Guimarães, 150. Ap. 82 - Cambuí
13024-200 Campinas - SP
E-mail: dario.fernandes@gmail.com

Recebido em: março/2006
Aprovado em: maio/2006

 

 

Sobre o autor:

1Dario Cecilio Fernandes é acadêmico de psicologia pela Universidade São Francisco.