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Psic: revista da Vetor Editora

Print version ISSN 1676-7314

Psic vol.8 no.1 São Paulo June 2007

 

RESENHA

 

Facetas do fazer em avaliação psicológica

 

 

Anelise Silva Dias *

Universidade São Francisco

 

 

Noronha, A. P. P., Santos, A. A. A. & Sisto, F. F. (2006). Facetas do fazer em Avaliação Psicológica. São Paulo: Vetor.

A avaliação psicológica é uma importante prática do psicólogo e, por sua vez, vem sendo aplicada em diferentes especialidades na atuação profissional. Para a realização da avaliação o psicólogo faz uso de instrumentos. Este por sua vez, tem sido foco das pesquisas, especialmente no que se refere ao uso e às normatizações dos instrumentos. O livro Facetas do Fazer em Avaliação Psicológica apresenta estudos e reflexões sobre diversos instrumentos e suas áreas de aplicação, o livro é resultado do esforço conjunto de pesquisas do Grupo de Trabalho de Avaliação Psicológica da ANPEP.

O capítulo inicial, Avaliação da Conjugalidade, escrito por Cilio Ziviani, Terezinha Féres-Carneiro, Andrea Seixas Magalhães e Julia Bucher-Maluschke discute a questão da conjugalidade, destaca que para o papel das expectativas, dos ideais, dos projetos, da individualidade e do espaço lúdico. Tal questão é analisada a partir de três estudos: i) o primeiro discute o potencial criativo da conjugalidade e sua influência na saúde emocional dos cônjuges; ii) o estudo posterior avalia se a qualidade da contribuição de um ou outro cônjuge é positiva ou negativa para a conjugalidade; iii) o último analisa a importância do casal na construção da identidade dos membros da família, assim como a avaliação da conjugalidade dos pais.

Fermino Fernandes Sisto, Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Ana Paula Porto Noronha contribuíram com o texto Uso do Rasch para delimitação de critérios hierárquicos para o Teste de Bender, que discute aspectos sobre a análise da validade de um teste e a estrutura interna dos itens, bem como a preocupação referente às categorias propostas pelo instrumento, que devem ser claramente definidas, de modo que o testando possa ser adequadamente classificado. Para tal, é utilizado o modelo de Rasch para determinação das categorias necessárias e suficientes para a realização do teste, o que favoreceu o agrupamento de critérios. A partir dessa metodologia, acredita-se que pode aumentar a precisão dos critérios de correção, tornando-se um sistema mais confiável de correção.

Patrícia Waltz Schelini, Vera Lúcia Trindade Gomes e Solange Muglia Weschler escreveram o capítulo Avaliação psicológica infantil: aspectos cognitivos e neuropsicológicos. O texto aborda a questão da diferenciação da testagem e da avaliação psicológica. A última consiste numa compreensão da dinâmica do indivíduo, a partir da síntese e interpretação de informações obtidas com base em quatro instrumentos: testes normatizados, entrevistas, observações e procedimentos informais. O texto apresenta uma revisão da literatura sobre modelos de cognição e funcionamento intelectual, além das contribuições da neuropsicologia para a avaliação infantil.

Reflexões sobre a construção de instrumentos psicológicos informatizados é o capítulo escrito por Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly e Ana Paula Porto Noronha. As autoras discutem as iniciativas para rever os instrumentos psicológicos existentes, adequando-os à realidade brasileira e a construção de novos instrumentos com maior qualidade e reconhecimento científico. O texto aborda a questão da análise e desenvolvimento dos recursos computadorizados, uma vez que a utilização da informática permite a padronização da avaliação da qualidade técnica desses instrumentos. As autoras ainda ressaltam os pontos favoráveis, como por exemplo, a rapidez na coleta de informações, e desfavoráveis, como a falta de familiaridade com os equipamentos.

No capítulo Estratégias de aprendizagem: conceituação e avaliação, Evely Boruchovitch e Acácia Aparecida Angeli dos Santos enfatizam a análise do saber estudar e sua relação com a obtenção do sucesso escolar. As autoras analisam o papel da psicologia cognitiva neste processo. O texto apresenta uma revisão conceitual sobre cognição, estratégias de aprendizagem, bem como instrumentos de avaliação de tais estratégias. As autoras colocam que é necessário melhorar os alcances e as propriedades psicométricas dos instrumentos já existentes e construir instrumentos menos contaminados pela desejabilidade social e que possam ser utilizados para a observação mais objetiva. Tais melhorias são importantes, pois a utilização de instrumentos permite que uma intervenção precoce seja realizada, permitindo, assim, o aumento da autonomia e autoconhecimento do aluno.

Foi realizada uma análise histórica dos testes e dos fatos que contribuíram para a renovação da avaliação, o estabelecimento de critérios de qualidade e de administração dos instrumentos por Denise Ruschel Bandeira, Clarissa Marceli Trentini, Gustavo Espíndola Winck e Luana Lieberknecht, em Considerações sobre as técnicas projetivas. Os autores abordam a aplicação de instrumentos para avaliar e caracterizar aspectos afetivos, estruturais e cognitivos, ressaltando que, a mensuração de critérios objetivos está relacionada com a psicometria e a caracterização de aspectos subjetivos está relacionada com a abordagem projetiva. No texto, são focadas as técnicas projetivas, uma vez que elas permitem uma visão mais global do ser humano e que, tais técnicas não devem ser descartadas por profissionais da abordagem comportamentalista. Os autores, contudo, ressaltam que a capacitação do profissional é um dos mais importantes aspectos, para que os instrumentos sejam corretamente utilizados, produzindo laudos mais acurados. Dessa forma, uma formação acadêmica consistente tem um papel preponderante nos resultados obtidos.

Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla, Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly e Josiane Maria de Freitas Tonelotto apresentam o manuscrito Avaliação neuropsicológica e aprendizagem. Nele os instrumentos para a avaliação da linguagem oral, leitura e atenção em crianças. As autoras ainda discutem a escassez de instrumentos baseados em neuropsicologia, que sejam precisos, validados e normatizados, disponíveis para pesquisa e diagnóstico.

Desafios para a cientificidade das técnicas projetivas é o capítulo escrito por Anna Elisa de Villemor-Amaral e apresenta o questionamento das técnicas projetivas sobre precisão, validade e normatização. A autora afirma que os principais problemas decorrem da especificidade do fenômeno que se quer abordar. O texto relata a dificuldade no desenvolvimento de estudos de validade e precisão, sendo necessário a criação de sistemas de análises dos resultados. A autora ainda afirma que, apesar de, por uma análise custo-benefício, as técnicas projetivas pareçam não compensar, elas, ainda assim, devem ser utilizadas por agregarem muitas informações.

Irai Cristina Boccato Alves escreveu Considerações sobre a validade e precisão nas técnicas projetivas, com vistas a discorrer sobre as técnicas projetivas. O texto apresenta um amplo referencial teórico sobre a avaliação da personalidade por meio das técnicas projetivas, discutindo questões sobre sua validação (avaliação da sensibilidade, fidedignidade e validade) e precisão (teste e reteste, formas paralelas e divisão das metades). A autora, ainda, considera as questões de adaptação cultural das técnicas. Sendo necessário considerar o tipo de técnica projetiva, com o cuidado nas traduções, fazendo adaptações necessárias em relação à aplicação e aos inquéritos propostos, também se faz necessário a realização de estudos para a caracterização das respostas e, que garanta a qualidade psicométrica do instrumento.

Em O estudo da inteligência: métodos e concepções, Ricardo Primi apresenta a compreensão da evolução da concepção da inteligência ao longo da história. O autor aborda o desenvolvimento da mensuração na psicologia a partir de três correntes: i) psicometria, de orientação empirista e análise quantitativa, da qual, atualmente, se observa um aprimoramento conceitual e técnico dos conceitos e metodologias por ela fundamentados; ii) desenvolvimentalismo, que reflete a compreensão de como a inteligência se organiza ao longo do desenvolvimento e; iii) psicologia cognitiva, ou também referida como Abordagem do Processamento de Informação. Assim, estão se desenvolvendo concepções mais claras do construto, sobre os processos de pensamento, possibilitando a construção de instrumento baseada na natureza do processo de raciocínio.

Clarissa Marceli Trentini, Denise Ruschel Bandeira e Sonia Liane Reichert Rovinski abordam o psicodiagnóstico no contexto jurídico/forense em Algumas considerações acerca do psicodiagnóstico nos contextos jurídico/forense e clínico. As autoras destacam que no Brasil há escassez de publicações na área, existe a dificuldade de adaptação das técnicas e inferências ao contexto jurídico e a formação dos profissionais ainda é deficitária. No texto ainda é ressaltado que o exame psíquico traz como risco a distorção do periciado (por simulação e dissimulação) e a repercursão do diagnóstico diante das questões legais.

O capítulo Uso de instrumentos na avaliação psicológica de características de personalidade em processos seletivos, elaborado por João Carlos Alchieri e Maiana Farias Oliveira Nunes, avalia a aplicação da avaliação psicológica em processos seletivos. Os autores ressaltam a ausência de instrumentos derivados de teorias desenvolvidas no Brasil, uma vez que são utilizadas adaptações de instrumentos elaborados pela comunidade internacional. Observa-se, contudo, uma difusão dos testes para inventário de personalidade, que pode ser explicada pelo progresso da informática e da utilização de procedimentos objetivos. A aplicação da avaliação psicológica por meio de testes de aptidão e testes de personalidade visa a verificar a competência do indivíduo em relação ao perfil desejado pela empresa.

Os textos do livro abordam temas próximos, mas com perspectivas distintas, fornecendo um amplo referencial teórico sobre a avaliação psicológica e abordando diversas áreas como neuropsicologia, técnicas projetivas e psicologia infantil. A participação de docentes envolvidos com a pós-graduação em psicologia do Brasil favorece o contorno do cenário atual e da investigação sobre o estado da arte do tema no país. O livro permite um incremento em termos de instrumental técnico, fornecendo uma base conceitual para a manutenção da informação e atualização profissional do psicólogo. Os textos ainda possibilitam a divulgação dos trabalhos realizados pela comunidade brasileira e destacam a lacuna existente pela falta de instrumentos de avaliação baseados nas necessidades e nos conceitos criados pelos pesquisadores nacionais, indicando uma possibilidade de pesquisas futuras.

 

Recebido em: maio/2007
Aprovado em: junho/2007

 

Sobre a autora:

* Anelise Silva Dias é psicóloga e mestranda em Psicologia pela Universidade São Francisco. Bolsista CAPES.