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Psic: revista da Vetor Editora

Print version ISSN 1676-7314

Psic vol.8 no.2 São Paulo Dec. 2007

 

ARTIGOS

 

Identificação de variáveis de contextos em universitários de primeiro ano

 

Identifying the motivating and context variable in university students at the first year

 

Identificación de variables de contextos en universitarios del primer año

 

 

Sandra Maria da Silva Sales Oliveira *; Olga Maria Kersul de Souza **; Valdercir Wilson Vieira ***; York da Silva Adário ****; Marisa Antônia de Figueiredo Seda Rezende *****

UNIVAS

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo objetivou identificar variáveis de contextos e motivacionais em universitários que cursam o primeiro ano Participaram do estudo 655 alunos universitários de ambos os sexos, com a média de idade variando entre 20,1 e 28,3, matriculados nas primeiras séries dos cursos: Administração, Gestão de Negócios, Hospitalar, Comércio Exterior, Empresas, Biologia, Ciências Contábeis, Educação Física, História, Jornalismo, Letras, Matemática, Pedagogia, Publicidade e Propaganda, Normal Superior, Sistema de Informação e Turismo. Utilizou-se como instrumento um questionário contendo 14 questões com itens fechados e um em aberto. As questões se referiam ao custeio do curso, renda familiar, expectativas e motivação para com o curso, aplicado em horário regular das aulas. Os resultados demonstraram que dos 655 alunos avaliados, 501 sentem-se muito satisfeitos com seus cursos e que entre as variáveis avaliadas, o aspecto financeiro foi um grande obstáculo para que muitos pudessem continuar seus estudos na universidade.

Palavras-chave: Universitários, Motivação, Cursos.


ABSTRACT

This study aimed at identifying the motivating and context variable in university students at the first year. 655 students took part at the study, being them both male and female, with age average ranging from 20,1 to 28,3, all of them enrolled in such courses as Business Administration, Business Management, Hospital Management, International Trade, Biology, Accounting, Physical Education, History, Journalism, Letters, Mathematics, Pedagogy, Advertising, Superior Teaching Formation, Information Technology and Tourism. A questionnaire presenting 14 closed questions and one open question was applied as an instrument. The questions focused on course prices, familiar income, expectancies and motivation to the course and it was delivered to the students at class time. The results showed that from the 655 students evaluated, 501 are very satisfied in regarding to their courses and, among the variables investigated, the financial aspect was the great obstacle for many of them to go on with their university study.

Keywords: University students, Motivating, Course.


RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo identificar variables de contextos e de motivación en universitarios que frecuentan el primer año. Participaron del estudio 655 alumnos universitarios de ambos sexos, con un promedio de edad variando de 20,1 a 28,3, registrados en los primeros años de los cursos de Administración, Gestión de Negocios, Hospital, Comercio Exterior, Empresas, Biología, Ciencias Contables, Educación Física, Historia, Periodismo, Letras, Matemáticas, Pedagogía, Publicidad y Propaganda, Normal Superior, Sistema de Información y Turismo. Se utilizó como instrumento un cuestionario con 14 preguntas con ítems cerrados y una abierta. Las preguntas se referían al costo del curso, rendimiento familiar, expectativas y motivación con el curso, aplicado en el horario regular de las clases. Los resultados demostraron que de los 655 alumnos evaluados, 501 se sienten muy insatisfechos con sus cursos y que de las variables evaluadas, el aspecto financiero fue un gran obstáculo para que muchos puedan continuar sus estudios en la universidad.

Palabras clave: Universitarios, Motivación, Cursos.


 

 

Introdução

Anualmente milhões de estudantes no Brasil comemoram a entrada na universidade. Uma parcela expressiva deles, no entanto, ficará no meio do caminho. Os estudos feitos a partir do Censo da Educação Superior pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia em 2006, mostram que somente metade dos alunos que ingressam anualmente no sistema consegue, quatro anos depois, se formar. Os dados obtidos por esse instituto apontam, que no ano de 2005 a taxa de evasão, em todo sistema foi de 22%. Isso significa que 750 mil alunos deixaram de estudar, e 25% desse valor encontram-se na rede privada e 12% na rede pública (Góis, 2007).

Para Speller, Hipólito & Nunes (2006), autores do estudo coordenado pelo consultor e ex-reitor da USP Roberto Lobo e realizado em parceria com Paulo Motejunas e Maria Beatriz de Carvalho Lobo, as instituições de ensino superior precisam adotar novas estratégias para evitar que o aluno deixe de estudar, em vez de se preocuparem em atrair estudantes. De 2004 para 2005, o número de matrículas no ensino superior aumentou em 290 mil. O número de alunos que evadiu do sistema, no entanto, foi muito maior (750 mil). Acreditava-se muito que a questão financeira era a vilã da história, mas percebeu-se em vários estudos outras razões. A principal delas talvez seja o desestímulo com o curso ou a falta de conhecimento prévio sobre a carreira escolhida no vestibular.

O presidente do Conselho Nacional de Educação, Nunes (1997), considera surpreendente que a taxa de desistência não seja maior, já que muitos cursos não são atraentes para os jovens, por oferecerem visões antigas de mundo, que oferecem pouco do ponto de vista de uma formação mais sólida.

Para Speller (2002), o jovem faz muitas vezes uma escolha não acertada e acaba optando por trocar de curso numa mesma universidade ou até por voltar a fazer um novo vestibular. Salienta que teria de ser dada atenção especial para os estudantes do primeiro ano do curso escolhido da instituição, pois nessa série há cursos em que a estatística mostra mais de 60% de evasão.

A literatura sobre satisfação escolar, segundo Sisto, Sbardelini & Primi (2001), apresenta estudos possíveis de serem classificados em três grupos: a satisfação do ponto de vista do professor, em relação a diretores e orientadores escolares, e do ponto de vista do aluno. Entre os que se referem a satisfação escolar do ponto de vista do aluno, os autores destacam que se trata de uma história antiga, com temas variados e uma primeira pesquisa sobre o assunto é o estudo de Ryans e Peters (1941) sobre calouros universitários. Destacam ainda insatisfação com o tipo de moradia de universitários (Alfert, 1966; Betz, Klingensmith & Menne, 1970) escolha da faculdade (Rand, 1968); orientação vocacional e escolha universitária (Waterman &Waterman, 1969) sucesso acadêmico, habilidade intelectual, classe social e valores pessoais (Diedrich & Jackson, 1969).

Segundo Carvalho (1995) as informações a respeito dos cursos disponíveis no mercado são questões importantes, pois os jovens podem possuir conhecimento a respeito das profissões mais conhecidas e de maior status, social em função das contingências, deixando de conhecer as que lhes oferecem (ou que podem oferecer) maior satisfação pessoal. No processo de escolha profissional há determinantes psíquicos, sociais e econômicos que podem estar atuando ao mesmo tempo. A posição social é o determinante mais relevante. Também as oportunidades locais, educacionais e ou ocupacionais e as condições socioeconômicas existentes influenciam no processo de escolha.

Para Macedo (1998), a carreira profissional pode ser definida como a continuidade da vida do indivíduo no trabalho para produzir algo; uma sucessão de envolvimentos desse indivíduo nas experiências de trabalho ao longo da vida. Por isso, torna-se necessário que após a escolha de sua carreira o aluno se sinta motivado com o curso.

A orientação vocacional é mais que a descoberta de uma profissão. Esse processo diz respeito a conflitos, estereótipos e preconceitos que devem ser trabalhados para sua superação; em que a desinformação é enfrentada e possíveis caminhos são traçados; e o autoconheimento se constrói na relação com o outro, e não como algo que se dá a partir de uma reflexão isolada, descolada da realidade escolar, ou que se conquista através de um esforço pessoal (Aguiar &, Bock, 1995).

Os autores (1995) colocam que a melhor escolha profissional é a que o jovem realiza a partir de um maior conhecimento de si, como ser histórico, determinado pela realidade social e maior conhecimento das possibilidades profissionais oferecidas pela sua sociedade. Além disso, é importante trabalhar para que o jovem se compreenda como ser em movimento que pode mudar seus interesses e possibilidades no decorrer de sua vida. Ressalte-se que a escolha é um ato de coragem do jovem, pois ao escolher a futura profissão está se dispondo a perdas, ou seja, deixar de realizar outra escolha.

Bohoslavsky (2003) diz que as exigências do sistema produtivo são interiorizadas e articuladas com o desejo, gerando a escolha profissional, que, por meio de um jogo intrincado de identificações, possibilita a construção de identidade profissional.

Silva (1996) embasa suas idéias em Bourdieu e indica que a escolha profissional é marcada pelo habithus de cada sujeito, ou seja, conjunto estruturado de disposições que, interiorizados simbolicamente sob a forma de preceitos éticos ("o isso não é pra nós") e padrões de comportamentos, regem as estratégias de vida, operando a mediação entre o sujeito e a história, entre a dimensão individual e dimensão social e os deslocamentos no espaço social que constituem sua trajetória social.

Entretanto, ainda são poucos os jovens que elaboram essa decisão de forma consciente e madura e muitos acabam abandonando seus projetos profissionais. Algumas pesquisas baseadas na realidade brasileira indicam que apenas 5% dos jovens que ingressam em um curso superior tem certeza de sua escolha (Avancini, 1998, Giacaglia, 2003, Levenfus & Nunes, 2002, Moura, 2001, Neiva, 1998, Zanella, 1999).

Segundo Soares (1993), de 25 % a 30% dos alunos que ingressam nas diversas universidades públicas brasileiras já haviam iniciado anteriormente outro curso superior do qual se afastaram. A maturidade para escolha profissional corresponde a um conjunto de atitudes e conhecimentos que o indivíduo deve adquirir a fim de elaborar uma escolha profissional madura e consciente (Neiva, 1998,1999).

Primi, Munhoz, Bighetti, Di Nucci, Pellegrini & Moggi (2000) propõem que a escolha profissional é de grande importância no plano individual, uma vez que envolve definição de futuras experiências profissionais, o que significa definir quem ser, mas do que escolher o que fazer, acarretando benefícios próprios e para a sociedade. Desse modo a orientação profissional oferece auxílio, propiciando uma auto-reflexão e aprendizado oferecendo uma escolha ajustada e madura.

O jovem, quando atendido individualmente verbaliza sobre os valores grupais, influências e dependência de grupos (familiares, amigos e outros) aos quais pertence. As dificuldades na escolha profissional estão relacionadas a diferentes fatores indefinição de autoconceito, a insegurança e os medos que fazem parte de um momento na adolescência comum aos jovens. Neste período de transição, o jovem constrói sua identidade ocupacional, construção esta que é submetida às mesmas regras da construção da identidade pessoal, pois é parte desta. As influências relevantes na vida do jovem atuam na escolha da futura ocupação e é essa escolha que o leva à consolidação da identidade pessoal (Carvalho, 1995).

Segundo Sarriera (1999), quando o jovem toma decisões ocupacionais de maneira reacional e sistemática marcada pela exploração vocacional e autoconfiança ele desenvolve normativamente sua identidade. Portanto, ele tem oportunidades e, à medida que estas vão se afunilando de acordo com os seus interesses e aptidões, ele vai se decidindo por uma profissão. No entanto, quanto mais difusa é a identidade do jovem, mais ele evita a exploração vocacional, e a decisão é fundamentada no que acredita ser o mais correto ou conveniente, sem reflexões mais profundas.

No desenvolvimento da identidade ocupacional, ocorre a análise do contexto sociocultural, das instituições das organizações existentes, das tecnologias disponíveis, etc., relacionando-se às oportunidades que os adolescentes podem vivenciar, significando quando, onde e como será a profissão escolhida. O jovem está, portanto, na etapa da exploração, em busca de respostas à escolha profissional e da definição de seus projetos de vida (Bohoslavsky, 2003).

Os altos índices de desistência nos cursos superiores evidenciam a importância de se conhecer as variáveis presentes na condição de insatisfação com a opção realizada, com vistas não apenas ao atendimento desta população, mas também à prevenção desse quadro de alta evasão no nível superior.

Para Moura e Menezes (2004), caracterizar e observar jovens universitários evadidos de seus cursos de primeira escolha viabiliza condições distintas para um delineamento e condução de programas específicos que orientem mais sujeitos possibilitando uma reescolha profissional.

É nesse contexto que o presente estudo busca viabilizar, por meio do levantamento a de identificação de variáveis de contexto e motivacionais de universitários primeiro-anistas a compreensão dos problemas específicos vivenciados por essa população, além de trazer subsídios para uma reavaliação pessoal e conseqüentemente profissional.

 

Método

Sujeitos

Foram sujeitos, 655 universitários com idade acima de 18 anos, de ambos os sexos, alunos dos primeiros anos dos cursos: Administração de Empresas, Biologia, Ciências Contábeis, Comércio Exterior, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Gestão de Negócios, História, Jornalismo, Letras, Matemática, Medicina, Nutrição, Pedagogia, Psicologia, Publicidade e Propaganda, Normal Superior, Sistema de Informação e Turismo.

Instrumento

Questionário construído pelos pesquisadores para identificar variáveis de contexto e motivacionais de universitários que cursam o primeiro ano. Foram abordadas questões referentes ao custeio do curso, renda familiar, expectativas e motivação para com os cursos.

Procedimento

Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa e do Consentimento dos participantes, o instrumento foi aplicado em sala de aula (coletiva), em horário regular de aulas dos cursos da universidade.

A análise estatística foi realizada com base na qualidade das respostas, após serem catalogadas quantitativamente por grupos, a partir do número de respostas iguais. A estratégia de pesquisa utilizada é a pesquisa de levantamento de dados e os resultados serão avaliados quali-quantitativamente.

 

Resultados

Após todo material ter sido digitado e transcrito, iniciou-se o processo de análise do mesmo que consiste num processo de organização sistematizada dos materiais acumulados durante a investigação. Essa organização tem como objetivo auxiliar a compreensão e interpretação dos dados, assim como apresentar ao leitor aquilo que foi encontrado.

Na seqüência, apresenta-se a Tabela 1 com a média de idade, gênero, dados referentes ao trabalho e estado civil dos alunos de cada curso.

Pela Tabela 1 pode-se perceber que, no que se refere à idade, os alunos do curso de Jornalismo são os que apresentam a menor média de idade, 20,1 anos, seguidos dos alunos dos cursos de Medicina, 20,6 anos e Biologia, 20,8 anos. A média de idade mais alta é a do curso Normal Superior, 28,3 anos. Percebe-se que a idade dos universitários varia de 20,1 a 28,3 anos. Trata-se de uma variação significativa. Pelo fato de a Universidade possuir a maioria de seus cursos no período noturno, há uma maior condição a que alunos mais velhos os freqüentem. Ao relacionar média de idade com desenvolvimento acadêmico os trabalhos de Dennis, Hartley e Trueman (1996), Hoskins & Newstead (1997) Santos e Silva (2004), Simonite (1997), Woodley (1984), apontam para o fato de que alunos maduros obtiveram melhores notas do que alunos mais novos durante o primeiro ano de graduação.

 

 

Quanto ao gênero, observa-se um predomínio de alunos do gênero feminino, pois, dos 655 alunos avaliados, 420 são mulheres e 235 homens. A diferença existente entre os gêneros no rendimento acadêmico já havia sido destacada por Nowell e Hedges (1998), com superioridade a favor das mulheres nos estudos publicados nos últimos trinta anos. Além disso, outros pesquisadores, como Chapmam (1995), Dennis, Hoskins e Newstead (1997), apontam em seus estudos a probabilidade maior de as mulheres obterem melhores resultados acadêmicos do que os homens. Outros autores têm enfatizado a falta de pesquisas enfocando essa variável no ensino superior, o que dificulta as reflexões sobre os resultados aqui encontrados (Carelli, 2002, Richardson, 1994). Com isso pode-se inferir que, havendo um predomínio de mulheres, o problema rendimento escolar não deve ser um fator que leva os universitários em questão, a abandonarem seus estudos.

A categoria referente ao item trabalho demonstra que o curso de Medicina, por ser de período integral, não oferece condições para que os alunos trabalhem, mesmo assim, dos 57 alunos avaliados 2 trabalham para ajudar no custeio do curso. Em seguida tem-se que, nos outros cursos diurnos, como Psicologia e Enfermagem, existem alunos que trabalham e que não trabalham. No curso de Psicologia, dos 25 alunos avaliados, apenas 6 trabalham e no curso de Enfermagem, dos 18 alunos avaliados, 11 trabalham. A esse respeito, Unglaub (2003) comenta que os alunos que trabalham, pelo fato de terem menor tempo disponível para estudo, apresentam um nível maior de diligência e isso os ajuda na trajetória acadêmica. A maioria deles se esforça, concentra-se e dedica-se mais do que os outros que apenas estudam. Os que não exercem alguma atividade profissional gastam muito tempo com outras atividades que não são específicas do curso, como dança, língua estrangeira e internet. O autor concluiu também que se a área de trabalho do universitário tem correlação com a área de estudo, seu aproveitamento é melhor do que os que não trabalham ou que trabalham em alguma área diferente. Isso acontece porque o aluno pode aliar os conhecimentos teóricos que aprende na Universidade com a aplicação prática de seu dia-a-dia de trabalho. Entretanto, para os estudantes que atuam em área de trabalho diferente, não há conseqüências negativas. O fato apenas não interfere positivamente em seus estudos, mas eles continuam sendo mais diligentes do que os que só estudam.

Por fim, a categoria que se refere ao item estado civil, demonstra que a maioria é solteira, com predominância para o curso de Medicina, pois, sem dúvida, freqüentá-lo exige muito dispêndio de tempo e o solteiro pode dispor dele com mais facilidade, uma vez que não tem os encargos de família, além de ser um curso em período integral. O curso de Pedagogia, em período noturno, é mais freqüentado pelo sexo feminino e metade dos alunos tem o estado civil casado.

 

 

A Tabela 2 se refere ao Custeio do Curso. Por ela pode-se perceber que a universidade em questão possui alunos cujos cursos são custeados pelos pais, outros que têm bolsa de estudo, que recebem ajuda de familiares e que se sustentam por si próprios. Percebeu-se que alunos dos cursos de período integral, como Medicina, por exemplo, em sua maioria não trabalham, então os pais, ou familiares, custeiam o curso. Os alunos dos cursos noturnos em sua maioria se sustentam e pagam seu curso e alguns, apesar de trabalharem, têm a ajuda dos pais. Os estudos de Carelli e Santos (1998) demonstram que a maioria dos alunos de cursos noturnos afirmou não dispor de tempo suficiente para seus estudos e que a razão principal da insuficiência de tempo para os estudos é atribuída ao fato de terem que dedicar grande parte do seu tempo ao trabalho. Observou-se ainda que o perfil socioeconômico de quem estuda a noite é sempre mais baixo de quem freqüenta curso diurno. Mas é importante ter em mente que esse processo de graduação deve ser encarado com leveza e concebido como momento fundamental de aprendizado e não ser transformado em um fardo difícil de carregar.

Pôde-se observar também que a maioria dos alunos dos cursos de Matemática, Ciências Contábeis, Normal Superior, Letras, Biologia, Pedagogia, Administração, Comércio Exterior e Publicidade e Propaganda são os responsáveis pelas despesas com o curso de graduação. Entre as opções de cursos oferecidas pela universidade, esses alunos fazem a escolha de acordo com suas expectativas futuras.

 

 

A tabela 3 mostra o modo pelo qual o custeio do curso é realizado. Pôde-se observar que a maioria dos alunos sente muita dificuldade para arcar com as despesas do curso de graduação. Apenas 2 alunos do curso de Matemática, 1 de Ciências Contábeis, 2 de Letras, 1 de Farmácia, 1 de Biologia, 2 de Pedagogia, 2 de Administração, 2 de Comércio Exterior, 2 de Psicologia e 1 de Sistema de Informação sentem muita facilidade para arcar com os gastos realizados.

As respostas quanto ao curso de Medicina, devido ao fato de ser em período integral, indicam que os alunos são sustentados pelos pais e/ou familiares, conforme já citado anteriormente. Mesmo assim 5 alunos afirmam que o curso é custeado com relativa facilidade e 8 que o curso é custeado com facilidade. Os alunos dos outros cursos responderam que sentem dificuldade, relativa dificuldade e muita dificuldade em custear seus estudos.

 

 

A tabela 4 se refere à renda familiar dos alunos avaliados. Por ela pôde-se perceber que existem alunos cuja a renda familiar varia, em sua maioria, de três a seis salários mínimos. Dos 655 avaliados, 290 possuem renda familiar de um e três salários mínimos e 229 possuem renda familiar entre quatro e seis salários mínimos e 101 alunos entre sete e dez salários mínimos. Apenas 2 alunos do curso de Ciências Contábeis, 1 aluno do curso de Biologia, 1 aluno do curso de Administração, 1 aluno do curso de Enfermagem, 3 alunos do curso de Psicologia, 24 alunos do curso de Medicina, 2 alunos do curso de Publicidade e Propaganda e 1 aluno do curso de Nutrição responderam que a renda familiar é de 11 a 15 salários mínimos.

Observa-se que o ensino brasileiro passa por uma inversão em seu sistema, uma vez que os alunos de classe alta e média/alta estudam nas universidades públicas e os de classe média/baixa, nas particulares. Por isso, grande parte dos alunos avaliados encontra dificuldade no custeio de seus estudos. Este pode ser, um dos fatores responsáveis pelo abandono do curso. Pode acontecer também que, durante a graduação, o aluno fique desempregado e, como é o responsável pelas despesas na faculdade, interrompa o curso para, se for o caso, posteriormente retornar.

 

 

A tabela 5 refere-se à expectativa com o curso. Pôde-se perceber que os alunos, em sua maioria, têm boas expectativas relacionadas ao curso que estão fazendo.

Nos cursos Normal Superior, Letras, Administração e Comércio Exterior houve uma grande quantidade de alunos que respondeu que a expectativa com relação ao curso é satisfatória. Pode-se inferir, nesse caso, que a escolha da profissão foi feita por fatores que não dizem respeito às características e aos desejos pessoais de cada um e sim por outros fatores como econômico, menor concorrência no vestibular e outros.

O curso Normal Superior tem a particularidade de ser obrigatório para a maioria dos alunos, pois o curso é uma exigência do Estado de Minas Gerais para que possam lecionar. Desse modo, é condição necessária para que continuem no trabalho. E as diversas prefeituras da região arcam com parte da despesa que o aluno tem (condução, alimentação, mensalidade, etc.). Mesmo assim os dados mostram que os alunos têm boas expectativas com o curso que escolheram.

A tabela 6 se refere à porcentagem de alunos motivados em cada curso. Por ela pôde-se perceber que os alunos mais motivados foram os do curso de Medicina, correspondendo a 92%, em segundo lugar encontram-se os alunos do curso de Matemática, com 89,7%; e em terceiro lugar o curso de Publicidade e Propaganda, com 88,1%. Dos três cursos, dois são noturnos e um (medicina) é diurno, não se podendo dizer, portanto que alunos de cursos noturno são desmotivados. Os cursos em que os alunos se mostraram menos satisfeitos foram Normal Superior, com 48%; Comércio Exterior e Psicologia, ambos com 52%. Desses três, Psicologia é diurno e os outros dois são noturnos, reforçando mais uma vez, que não se pode relacionar satisfação com o período em que o aluno estuda.

Outro fato que merece atenção refere-se à escolha profissional, segundo Giacaglia (2003) é importante e uma grande responsabilidade para os estudantes de hoje, pois a todo o momento surgem novos cursos e a cobrança quanto à escolha faz com que muitos jovens, não se atendo a uma orientação profissional para a escolha mais acertada, se deixem influenciar por familiares, amigos e modismos. As conseqüências para quem escolhe um curso com o qual não se identifica, entre outras, são a insatisfação e a decepção, que podem até impedir a plena realização profissional e abandono do curso. Alunos satisfeitos com o curso são mais motivados e têm mais consciência de seu papel como estudante e profissional.

 

 

Salienta-se que a motivação de um aluno e suas causas não é um assunto que se limite à família, a ele próprio, à escola ou a outras condições fora da situação escolar. O que ocorre normalmente é uma combinação de fatores, resultando num sistema de interações multideterminadas. De maior relevância é o que acontece dentro da escola e da própria sala de aula. O conhecimento de tais aspectos da escola e da sala de aula é de grande valia para educadores e professores, pois esse é o espaço de sua atuação efetiva, o qual deve ser assumido com conhecimento e competência.

 

Considerações finais

A entrada na universidade corresponde ao momento inicial de um projeto de vida decisivo para a maioria dos estudantes universitários. As características pessoais do estudante, bem como os apoios que a universidade lhe disponibiliza, desempenham um importante papel nos níveis de adaptação dos estudantes ao contexto universitário.

A função da universidade e do ensino superior não deve ser delimitada, nem seu desempenho avaliado somente pelo índice de diplomas que forneça; além disso, há a formação cultural dos indivíduos, a introdução na sociedade de modos de pensar e agir, a sua interação com as demais forças sociais, a produção e a sistematização do conhecimento, que nem sempre se medem pelo número de diplomas ou títulos expedidos. Ao nos envolvermos na análise do abandono dos cursos de graduação por nossos alunos, não para justificar os índices e buscarmos os vilões, mas para compreendê-lo dentro de um contexto que envolva tanto o interno quanto o externo à universidade, poderíamos estar discutindo se essa instituição vem atendendo às suas propostas e se vem respondendo aos anseios da sociedade.

A pesquisa apontou que a evasão do ensino superior é um processo que envolve complexas interações entre fatores relacionados ao estudante, à instituição, corpo docente e a eventos externos. De todos os fatores destacados um se tornou evidente como responsável pelo abandono e insatisfação com o curso: o aspecto financeiro. O conhecimento e a identificação desse fator possibilitarão à instituição promover um ambiente que desperte no estudante mais confiança e empenho, gerando assim um melhor rendimento. Aumentar a distribuição de bolsas, facilitar o pagamento das mensalidades, considerando cada caso evidentemente proporcionará a diminuição do índice de evasão e da insatisfação no ensino superior.

Foi visível perceber que é indubitavelmente singular o modo como o aluno experimenta e interpreta a sua vivência universitária e como se mostra maduro e conseqüente nas suas reflexões e afirmativas. Ficou evidente a importância da preocupação em se compreender como o estudante universitário percebe e vivencia essa nova fase de sua vida, repleta de novos e complexos desafios acadêmicos, sociais, pessoais e vocacionais. Outros estudos devem ser feitos nesse sentido, levando à investigação de segmentos, por vezes negligenciados e pouco explorados pela literatura vigente.

 

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Endereço para correspondência
E-mail: smsso@uol.com.br

Recebido em: agosto/2007
Revisado em: outubro/2007
Aprovado em: novembro/2007

 

 

Sobre os autores:

* Sandra Maria da Silva Sales Oliveira é psicóloga, mestre em Avaliação Psicológica, Coordenadora do CIPE e Docente da UNIVAS.
** Olga Maria Kersul de Souza é bióloga e psicóloga, mestre em Bioética. Pertence ao grupo CIPE da UNIVAS.
*** Valdercir Wilson Vieira é psicólogo e pós-graduando em Gestão Avançada de Pessoas. Pertence ao grupo CIPE da UNIVAS.
**** York da Silva Adário é psicólogo. Pertence ao grupo CIPE da UNIVAS.
***** Marisa Antônia de Figueiredo Seda Rezende é psicólogo. Pertence ao grupo CIPE da UNIVAS.