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Psic: revista da Vetor Editora

versão impressa ISSN 1676-7314

Psic v.9 n.1 São Paulo jun. 2008

 

RESENHA

 

Transtornos alimentares: pesquisa com grupos de apoio aos familiares de pessoas diagnosticadas com anorexia e bulimia

 

 

Bruno Borine *

Universidade São Francisco

 

 

Souza L. V. & Santos. M. A. (2007). Anorexia e bulimia: conversando com as famílias. São Paulo: Vetor Editora.

Os transtornos alimentares constituem patologias graves, complexas e com alto grau de morbidade, afetando ampla e severamente o desenvolvimento do indivíduo. Esses transtornos apresentam prognóstico reservado e, caracteristicamente, envolvem a família. Diante da necessidade de pesquisas que aprimorem o conhecimento acerca dos transtornos alimentares, foi desenvolvido por Laura Vilela e Souza e Manoel Antônio dos Santos o livro Anorexia e Bulimia: conversando com as famílias, no qual os autores detalham, de forma significativa e bem elaborada, uma pesquisa com grupos de apoio aos familiares de pessoas diagnosticadas com anorexia e bulimia nervosa no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, São Paulo (FMRP-USP). O livro é composto por cinco capítulos dividido em subitens para um maior aprofundamento dos temas.

No primeiro capítulo, intitulado A abordagem construcionista social, é transmitida para o leitor a base teórica e conceitual que será usada no livro, os autores apresentam os conceitos centrais do construcionismo social e sua origem histórica e epistemológica desenvolvendo não só o aspecto amplo dessa base teórica, como também descrevendo aspectos familiares e de grupos diante de tal preceito. Na concepção construcionista, os significados são construídos obedecendo às regras do processamento conceitual e processamento da realidade. Sendo assim, segundo os autores, a preocupação do pensamento construcionista é entender como as pessoas geram e sustentam seus significados, uma vez que o ato de significar é construtor de realidades.

Após a apresentação dos conceitos necessários, no primeiro capítulo, para que o leitor tenha condições de acompanhar e avaliar criticamente o conteúdo do livro, os autores, no segundo capítulo, apontam a metodologia utilizada no estudo, levando em conta os cuidados éticos necessários. Esse capítulo foi intitulado O delineamento da pesquisa, e detalha todas as suas etapas. Traça o delineamento para a coleta dos dados, bem como as estratégias de sistematização e análise desses dados. Nessa etapa, foram transcritas dez sessões e, entre estas, foi selecionada uma que continha o material grupal mais rico para a utilização e descrição no livro. Os autores deixam claro para o leitor a grande importância de um estudo com grupos de apoio aos familiares de pessoas diagnosticadas com anorexia e bulimia.

A descrição dos participantes é o título do terceiro capítulo. Nele são abordadas as características verificadas nos familiares que participaram do estudo, sendo ao todo quatro mães e três pais na sessão selecionada. O grupo contou com a participação da coordenadora que era psicóloga, da pesquisadora e também dos observadores do grupo que totalizavam seis estagiários das áreas de medicina e psicologia. As descrições dos familiares e da coordenadora, de acordo com a impressão da pesquisadora, foram construídas ao longo de seu contato nas sessões grupais junto com uma breve descrição dos pacientes atendidos no serviço, como idade, diagnóstico, tempo de atendimento e comentários sobre sua situação atual no serviço.

Após a escolha da sessão e delineamento da pesquisa foi exposto todo o material ao leitor no quarto capítulo, intitulado Conversando com as famílias. Nesse capítulo são amplamente discutidas e apresentadas as falas dos familiares dos participantes como também são feitas reflexões sobre momentos importantes da sessão, tanto em aspectos individuais como em aspectos grupais. Essas reflexões feitas por Laura Vilela e Souza e Manoel Antônio dos Santos levam em consideração a base teórica do pensamento construcionista, base esta que foi amplamente discutida no primeiro capítulo do livro, tornando a leitura agradável e simples de ser entendida.

No quinto e último capítulo, Considerações finais, os autores discutem e refletem, à luz da teoria, a produção e modificação de realidades no trabalho realizado identificando quais são essas realidades construídas e quais ações elas podem produzir. Os autores discutem a noção de família psicopatogênica e os preconceitos sociais que mantêm a estigmatização dessas famílias que estão diretamente ligadas aos transtornos alimentares.

O livro valoriza, com as reflexões apresentadas, a criação de novas realidades grupais e individuais. Nele o leitor encontrará um trabalho precioso que vai pouco a pouco mostrando como os familiares vão construindo os discursos ao longo do trabalho grupal, na tentativa de dar sentido à experiência de terem na família uma pessoa diagnosticada com anorexia e bulimia nervosa. Os autores conseguem mostrar como os familiares lidam com a experiência de dor, sofrimento e, muitas vezes, de desconhecimento da doença. Expõem também como é o enfrentamento no cotidiano, o esforço de lidar com as diferenças e semelhanças dentro do próprio grupo e da esperança e do alívio que traz compartilhar esses sentidos ou a angústia com os demais familiares participantes do grupo de apoio. Utilizando-se de uma linguagem simples e acessível o livro pode ser de grande valia tanto para leitores leigos como para profissionais que lidam com grupos de apoio ou que estejam trabalhando diretamente nas áreas de transtornos alimentares.

 

Recebido em: maio/2008
Aprovado em: junho/2008

 

Sobre o autor:

* Bruno Borine é psicólogo. Mestrando em psicologia pela Universidade São Francisco. Bolsista CAPES.