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Psic: revista da Vetor Editora

versão impressa ISSN 1676-7314

Psic v.9 n.2 São Paulo dez. 2008

 

ARTIGOS

 

Avaliação do Teste de Associação Implícita numa amostra de estudantes de Psicologia

 

The Evaluation of the Implicit Association Test in a sample of students of Psychology

 

Evaluación del Teste de Associação Implícita en una muestra de estudiantes de Psicología

 

 

Mara Sizino da Victoria I, *; Adriana Benevides Soares II, **

I Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação
II Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a estabilidade temporal do Teste de Associação Implícita-Ansiedade (TAI-Ansiedade) pelo método teste-reteste, índice de fidedignidade. O teste foi administrado duas vezes em 51 estudantes de Psicologia com a diferença de uma semana. Foi analisado o coeficiente de consistência interna, o alfa de Cronbach do teste e do reteste, a correlação entre o teste e reteste, além da correlação do TAI-Ansiedade com duas medidas de auto-avaliação, o IDATE (Inventário de Ansiedade Traço) e o BAI (Inventário de Ansiedade de Beck). Os resultados demonstraram um Cronbach entre 0,73 e 0,87, correlação significativa entre o teste e reteste e correlação fraca, entre 0,06 e 0,11 para o TAI, IDATE e BAI. Os dados também foram submetidos à análise fatorial por meio do programa de Análise Paralela e do MAP (Minimum Average Partial), identificando duas dimensões: auto-referência e o ansiedade.

Palavras-chave: Ansiedade, Teste de Associação Implícita, IDATE, BAI.


ABSTRACT

The proposal of this study was to analyze the temporal stability of the Implicit Association Test-Anxiety (IAT-Anxiety) performing the test-retest correlation and the reliability method. The test was administered twice to 51 students of Psychology, with an interval of one week between the applications (short-term stability). The internal consistence coefficient (Cronbach's alpha) of the test and retest were compared. Also, the IAT-Anxiety correlations were compared using two other measures of self-evaluation: The State-Trait Anxiety Inventory (STAI) and Beck's Anxiety Inventory (BAI). The results shown then Cronbach's alpha varying from 0,73 to 0,87, a significant correlation between the test and the retest, and a feeble correlation between 0,06 and 0,11 for the IAT, the STAI-T and the BAI. The results were also submitted to factor analysis by using both the Parallel Analysis Program and the MAP - Minimum Average Partial, which identified two dimenstions: self-reference and anxiety.

Keywords: Anxiety, Implicit Association Test-Anxiety, STAI, BAI.


RESUMEN

El objetivo de este estudio fue analizar la estabilidad temporal del Teste de Associação Implícita-Ansiedade (TAI-Ansiedade) a través del método test-re-test, índice de precisión. El test fue administrado dos veces en 51 estudiantes de psicología con diferencia de una semana. Fue analizado el coeficiente de consistencia interna, el alfa de Cronbach del test y del re-test, la correlación entre el test y el retes, además de la correlación del TAI-Ansiedade con dos medidas de auto-evaluación, el IDATE - Inventário de Ansiedade Traço y el BAI - Inventário de Ansiedade de Beck. Los resultados demostraron un Cronbach entre 0,73 y 0,87, correlación significativa entre el test y el re-test y correlación débil, entre 0,06 y 0,11 para el TAI, IDATE y BAI. Los datos también fueron sometidos a análisis factorial del programa de análisis paralela y del MAP - Minimum Average Partial, identificando dos dimensiones: auto-referencia y ansiedad.

Palabras clave: Ansiedad, Test de asociación implícita, IDATE, BAI.


 

 

Introdução

A ansiedade é provavelmente a disfunção emocional que mais aflige a qualidade de vida humana. De 9 a 18% da população brasileira apresenta, durante a vida, pelo menos um episódio relacionado com transtornos específicos de ansiedade (Almeida-Filho e cols. 1997). Entre a constelação de sintomas que compõe esses transtornos, destaca-se o fato de a ansiedade provocar confusões ou distorções da percepção, alterando o significado de acontecimentos registrados por uma pessoa. Transtornos de ansiedade também podem interferir processos de atenção causando, assim, prejuízos de aprendizado e memória.

Tendo em vista que a ansiedade vem se configurando um grave problema na sociedade, é necessário que a sua avaliação seja feita de modo apropriado. Nesse sentido, a avaliação do estado ansiogênico em geral é feita por meio das respostas fisiológicas e medidas de auto-relato (também chamadas de medidas explícitas). Todavia, essas medidas apresentam dificuldades quanto à avaliação. As medidas implícitas são uma tentativa de superar essas dificuldades.

A compreensão de que um estado emocional não pode ser desvendado simplesmente perguntando às pessoas como se sentem é a base de uma medida implícita. Isso pode ser justificado porque o aspecto consciente de um estado emocional é apenas parte de um processo complexo, no qual nem sempre o indivíduo está consciente. Enquanto seres emocionais, nós consideramos as emoções experiências conscientes, mas essas experiências constituem apenas um dos aspectos e não necessariamente a função principal dos sistemas que a produzem (Gawronski, 2002). Nesse sentido, as medidas explícitas não são capazes de quantificar emoções de forma completa. Por isso, é necessário buscar outras formas de medir o sistema emocional independentemente do auto-relato e das respostas fisiológicas.

Por volta da década de 1920 e 1940, houve uma das primeiras tentativas de construir medidas capazes de quantificar processos de natureza não consciente, por meio dos testes projetivos, como o Teste de Rorschach (Rorschach, 1921) e o Teste de Apercepção Temática (Murray, 1943). Durante a década de 1960 e 1970, uma outra tradição de pesquisa desenvolveu medidas indiretas, também denominadas de não reativas ou despercebidas (Sechrest & Phillips, 1979). Esse tipo de medida consiste na observação e no registro de determinadas respostas sem que o avaliador esteja presente na situação de avaliação, assim como na ausência de conhecimento do processo de avaliação por parte do sujeito que está sendo avaliado. Embora essas medidas permitam a redução de aspectos artificiais relacionados com o controle consciente sobre a medida, elas apresentam problemas de controle experimental assim como questões de natureza ética, uma vez que essas medidas são realizadas sem o consentimento do sujeito experimental.

Nos últimos anos, uma alternativa extremamente interessante às medidas explícitas começou a surgir por meio de testes que medem o tempo de reação e discriminação de itens. Esses testes são denominados Testes de Associação Implícita (TAI) e foram estudados por um número considerável de pesquisadores (Greenwald, McGhee & Schwartz, 1998; Cunningham, Preacher & Banaji, 2001; Greenwald e cols., 2002; Gawronski, 2002; Fazio & Olson, 2003; Greenwald, Nosek & Banaji, 2003; Egloff, Schwerdtfeger & Schmukle, 2005).

A lógica dos Testes de Associação Implícita parte do tempo de reação, em que se pode deduzir que, quando se pede que um sujeito associe dois conceitos previamente determinados, haverá um tempo, desde a apresentação desse conceito até a sua resposta. Quanto menor o tempo de reação do sujeito a esses conceitos ou itens, mais esses conceitos estarão fortemente associados; ao contrário, quanto maior o tempo de reação, menos esses conceitos ficarão associados em relação a outros conceitos cuja associação não é tão forte assim.

Numa tarefa de tempo de reação, como são os Testes de Associação Implícita, os participantes devem responder o mais rápido possível, pois a atividade que está envolvida nessa associação de conceitos deve ser uma atividade que fuja a qualquer processo de autocontrole. Portanto, o que pretende medir um teste desse tipo e a atividade não-consciente.

Recentemente, um Teste de Associação Implícita foi desenvolvido para medir o autoconceito de ansiedade, o TAI-Ansiedade (Egloff & Schmukle, 2002; Egloff e cols., 2005). Essa medida ainda não foi validada no Brasil e esse estudo foi uma primeira avaliação da sua fidedignidade.

Sobre as suas propriedades psicométricas na Alemanha, a consistência interna do TAI (alfa de Cronbach) foi de 0,80 (Banse, Seise & Zerber, 2001; Bosson, Swann & Penneback, 2000) em aplicação única. Em análise de teste-reteste, existem quatro estudos: Dasgrupta e Greenwald (2001), que acharam uma correlação de 0,65 com intervalo de tempo de um dia; Cunningham e cols. (2001) encontraram uma correlação de 0,32 com intervalo de tempo de 28 dias; Bosson e cols. (2000), uma correlação de 0,69 com intervalo de 31 dias; Greenwald e Farnham (2000) obtiveram uma correlação de 0,52 com intervalo de tempo de oito dias.

Para o TAI-Ansiedade, Egloff e Schmukle (2002) encontraram um alfa de Cronbach de 0,77 para o teste e 0,80 para o reteste, utilizando só itens de teste, retirando os itens de treino (diferença de uma semana). A correlação foi de 0,57 Egloff e cols. (2005), numa análise de estabilidade temporal do TAI-Ansiedade, o Alfa de Cronbach foi de 0,82 para o teste e 0,76 para o reteste. A correlação teste e reteste foi de 0,55 (diferença de uma semana).

Pesquisas anteriores têm mostrado que a relação do TAI com as medidas de natureza explícitas depende do constructo em investigação, mas em geral a correlação é fraca (Fazio, Jackson, Dunton & Williams, 1995; Greenwald & cols, 1998; Rudman & Kilianski, 2000; Bosson & cols., 2000; Greenwald & Farnham, 2000; Kawakami & Dovidio, 2001; Monteith, Voils & Ashburn-Nardo, 2001; Ottaway, Hayden & Oakes, 2001; Rudman & Glick, 2001; Devine, Plant, Amodio, Harmon-Jones & Vance, 2002; Nosek, Banaji & Greenwald, 2002; Dovidio, Kawakami & Gaertner, 2002).

Objetivo da Pesquisa

O objetivo deste estudo foi analisar a estabilidade temporal do TAI-Ansiedade por meio do método teste-reteste, índice de fidedignidade. O teste foi administrado duas vezes com a diferença de uma semana nos mesmos participantes. Foi analisado o coeficiente de consistência interna, o alfa de Cronbach do teste e do reteste, a correlação entre o teste e reteste, além da correlação do TAI-Ansiedade com duas medidas de auto-avaliação, o Inventário de Ansiedade Traço (IDATE) e o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), explicados na metodologia. Os dados também foram submetidos à análise fatorial usando-se o programa de Análise Paralela e do Minimum Average Partial (MAP).

 

Metodologia

Participantes

Cinqüenta e um (51) estudantes de psicologia do 1°, 2° e 3° períodos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro participaram da pesquisa (40 do sexo feminino e 11 do sexo masculino). A idade média dos participantes foi de 24,1 anos (DP= 5,9).

Instrumentos e procedimentos

Foram utilizados três instrumentos que têm por objetivo medir a ansiedade. Os instrumentos serão citados e depois explicados um a um. São eles:

- o Teste de Associação Implícita-Ansiedade (Implicit Association Test, IAT-Anxiety; no português, TAI-Ansiedade) desenvolvido por Egloff e Schmukle (2002).

- o Inventário de Ansiedade-Traço (IDATE) de Spielberger, Gorush e Lushene (1970), adaptado para o português e validado por Biaggio e Natalício (1979), na versão State-Trait Anxiety Inventory (STAI).

- o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) de Beck, Epstein, Brown e Steer (1988), traduzido e adaptado para o português por Cunha (2001) e publicado pela Editora Casa do Psicólogo.

TAI-Ansiedade

O TAI-Ansiedade é um instrumento de medida implícita, na qual o sujeito responde no computador. A tarefa consiste no aparecimento de palavras, uma palavra ou um par de palavra à esquerda da tela do monitor; uma palavra ou um par de palavras à direita da tela do monitor e uma palavra no meio da tela do monitor. A palavra que aparece no meio do monitor é a que o participante deve avaliar se está associada à palavra ou ao par de palavras da direita ou da esquerda. Caso seja com a da esquerda, ele aperta uma tecla do teclado do computador indicativa da esquerda ou da direita. Caso a resposta do participante esteja errada, um "X" vermelho aparece na tela e, ele, então, deve dar a resposta correta.

Após o início do teste, as palavras aparecem numa combinação contrabalanceada. O teste é dividido em cinco blocos. Os blocos 1, 2 e 4, cada um composto por 20 tentativas, são relacionados com tarefas de discriminação simples (1 palavra à esquerda, 1 à direita e 1 ao meio). Os blocos 3 e 5, cada um composto por 80 tentativas, são relacionados com tarefas de discriminação complexa (1 par de palavras à esquerda, 1 par à direita e 1 palavra ao meio). No total, são 220 tentativas, em que resultam 220 tempos de reação. O esquema do teste está apresentado no fluxograma a seguir.

 

 

No bloco 1 a tarefa de discriminação é relacionada com o conceito de auto-referência (eu X outros). O bloco 2 está relacionado com o conceito de ansiedade (ansiedade X tranqüilidade). O bloco 4 tem exatamente a mesma discriminação do bloco 2, mas de forma invertida. Os testes de interesse são apresentados nos blocos 3 e 5. Cada um desses blocos está relacionado com uma dupla discriminação. A primeira relacionada com o conceito de auto-referência e a segunda com o conceito de ansiedade. A diferença entre esses dois blocos é a ordem da apresentação dos itens de cada uma dessas tarefas de discriminação de conceitos. Cada bloco de interesse (3 e 5) é composto por 80 tentativas; as primeiras 20 são consideradas de treino. Os itens de cada um desses conceitos estão apresentados na tabela 2. A análise dos resultados é feita pelo tempo de reação de cada item dos blocos 3 e 5. A execução desse teste dura em torno de 5 minutos.

 

 

IDATE

O inventário de Ansiedade Traço-Estado é provavelmente o instrumento mais utilizado para medir ansiedade nas pesquisas sobre o tema. O IDATE já foi traduzido e adaptado para mais de trinta idiomas para pesquisas transculturais e práticas clínicas. Desenvolvido por Spielberger (1970) na Universidade de Vanderbilt, traduzido e adaptado para o Brasil por Biaggio e Natalício (1979), o IDATE é uma escala de auto-relato que depende da reflexão consciente do sujeito no processo da avaliação do seu estado de ansiedade assim como de características de sua personalidade. Dessa forma, a escala mede dois elementos que compõem a ansiedade: ansiedade-estado, que se refere a um estado emocional transitório, caracterizado por sentimentos subjetivos de tensão que podem variar de intensidade de acordo com o contexto; ansiedade-traço, que se refere às diferenças individuais relativamente estáveis na tendência a reagir a situações percebidas como ameaçadoras com elevações de intensidade no estado de ansiedade. Nesta pesquisa, só foi utilizado o Idate-traço.

O IDATE é um instrumento de medida explícita, composto de duas subescalas: a ansiedade-traço com 27 itens e a ansiedade-estado com 26 itens.

Cada inventário deve ser respondido em uma escala em que o participante deve escolher entre quatro opções: 1= muitíssimo, 2= bastante, 3= um pouco, 4= absolutamente não.

BAI

O Inventário de Ansiedade de Beck é um instrumento de auto-avaliação desenvolvido por Aaron T. Beck. O BAI é um conjunto de 21 afirmativas sobre sintomas comuns de ansiedade, em que o participante deve identificar o quanto tem sido incomodado por cada sintoma durante a última semana, incluindo o dia da aplicação.

O participante deve, então, marcar com um "X" a opção que mais se ajuste ao que sente numa escala de 4 intensidades: absolutamente não, levemente - não me incomodou muito, moderadamente - foi muito desagradável mas pude suportar, gravemente - dificilmente pude suportar.

Organização do experimento

O TAI-Ansiedade foi administrado duas vezes com o intervalo de tempo de uma semana. Os participantes responderam todos os testes individualmente.

1ª sessão experimental:

- TAI-Ansiedade

2ª sessão experimental (os mesmos participantes da 1ª sessão experimental).

- TAI-Ansiedade

-IDATE-Traço (forma Y)

- BAI

A primeira sessão experimental durou um tempo médio de 5 minutos e, a segunda, 20 minutos.

Ética experimental

Por uma questão ética, todos os participantes tiveram liberdade de participar ou se retirar do experimento em qualquer momento do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Ao final do experimento, todos os participantes receberam uma explicação sobre o estudo do qual participaram.

Redução dos dados

A redução dos dados seguiu quatro etapas, como sugerida por Greenwald e cols. (1998): Primeiro, as tentativas erradas foram excluídas. Segundo, nos blocos 3 e 5, as primeiras duas tentativas de treino (dos 20 itens) e as primeiras duas tentativas do teste (dos 60 itens) foram retiradas, deixando 76 tentativas por bloco. Segundo, as tentativas com latência menor que 300 e maior que 3000 milésimos de segundos foram ajustadas, respectivamente, para 300 e 3000 milésimos de segundo. Quarto, os resultados foram transformados em logaritmo (log).

 

Resultados

A média do teste (com a redução de dados) foi de 3,02 (DP= 0,21) e do reteste foi de 2,95 (DP= 0,19).

O cálculo do alfa de Cronbach foi feito da seguinte forma: primeiro, a redução de dados em quatro etapas foi cumprida. Segundo, cada latência do bloco 3 foi subtraída do bloco 5 (primeira latência do bloco 3 menos a primeira latência do bloco 5, segunda latência do bloco 3 menos a primeira latência do bloco 5, etc.). O alfa de Cronbach foi calculado com os itens de treino (76 itens) e sem o treino (58 itens). Os valores do alfa de Cronbach com o treino (76 itens) foram de 0,87 para o teste e 0,73 para o reteste. Os valores do alfa de Cronbach sem o treino (58 itens) foram de 0,82 para o teste e 0,73 para o reteste. A correlação teste e reteste com treino (76 itens) e sem o treino (58 itens) foi significativa (Pearson, r = 0,51; p<0.01, com treino; Pearson, r = 0,50; p<0,01, sem treino).

O valor da correlação do TAI-Ansiedade com o IDATE-Traço no reteste com treino (76 itens) foi de 0,11 e sem o treino (58 itens) foi de 0,09. A correlação mostrou-se fraca também com a outra medida de auto-avaliação, o BAI. A correlação TAI-Ansiedade e BAI obteve no reteste 0,08, utilizando itens com treino (76 itens) e 0,06 com itens sem treino (58 itens).

A pontuação da correlação entre as medidas de auto-avaliação, Idate-traço e BAI, foi de 0,42 (r = 0,42; p<0,05).

 

 

A análise fatorial revelou dois fatores na primeira aplicação, o teste, e um único fator na segunda aplicação, o reteste, por meio do programa de Análise Paralela e do MAP (Minimum Average Partial, O'Connor, 2000). Após a determinação do número de fatores, aplicou-se o método de rotação Promax sobre as 20 variáveis do TAI-Ansiedade. Todas as variáveis com suas respectivas cargas fatoriais (coeficientes) foram selecionadas para efeito de análise dos componentes principais.

O processamento de dados que permitiu revelar os 2 fatores do teste por meio do método de rotação Promax, com regularização Kaiser, recebeu as seguintes denominações e valores na Pattern Matrix:

 

 

A análise fatorial identificou dois fatores relacionados aos dois tipos de discriminação:

a) Fator 1: discriminação relacionada com o conceito de auto-referência (Eu X Outros). As palavras que representam essa discriminação são: tranqüilo, ansioso, sossegado, calmo, relaxado, inseguro, sereno, nervoso, tenso, preocupado.

b) Fator 2: discriminação relacionada com o conceito de ansiedade (Ansiedade X Tranqüilidade). As palavras que representam essa discriminação são: eu, sou, você, seu, dele, eles, meu, mim, auto, outros.

 

Discussão

Os resultados encontrados foram próximos aos de Egloff e Schmukle (2002) e Egloff e cols. (2005). Em suas pesquisas, os valores do alfa de Cronbach para o teste foram de 0,82 e 0,77 com itens de treino (76 itens) e sem itens de treino (58 itens), respectivamente. Na presente pesquisa, os resultados foram maiores: 0,87 e 0,82, respectivamente. Já no reteste, o alfa de Cronbach encontrado pelos pesquisadores alemães foi de 0,76 e 0,80 com itens de treino (76 itens) e sem itens de treino (58 itens), respectivamente. Nesta pesquisa, a pontuação foi de 0,73 para ambos os grupos de itens.

As correlações teste e reteste dos pesquisadores citados foram entre 0,52 e 0,55 para itens com treino (76 itens) e 0,57 para itens sem treino (58 itens). No presente estudo foram encontrados 0,51 e 0,50, respectivamente.

As correlações do TAI-Ansiedade com as medidas de auto-avaliação foram fracas (entre 0,11 e 0,06), confirmando a literatura anterior sobre o assunto. Fazio e Olson (2003) e Gawronski (2002) fazem uma exaustiva análise sobre a relação entre medidas implícitas e explícitas e revelam que este é um assunto de muita discussão e depende, em parte, do constructo em investigação. De toda forma, o que se verifica nas pesquisas é uma correlação muito fraca, como referenciado na introdução deste trabalho. Isso pode ser justificado porque o aspecto consciente que leva à auto-avaliação de um estado ou um traço emocional é apenas parte de um processo complexo que gerencia as emoções. A maior crítica que se pode direcionar às medidas explícitas é de que nem sempre o sujeito está consciente de seu traço ou estado emocional. Mais que isso, o sujeito pode se avaliar de uma forma diferente da sua "real" situação (Fazio & Olson, 2003). O Teste de Associação Implícita-Ansiedade, assim como o priming (que é uma técnica de apresentação de estímulos que aparece com muita brevidade para ser registrada no nível consciente, Sharkey & Sharkey, 1992), é uma medida implícita que vai além de uma auto-avaliação e, portanto, representa um avanço na quantificação das emoções, em especial, a ansiedade.

Comparando o Teste de Associação Implícita com o priming, o TAI apresenta pontuações de correlação teste-reteste e de consistência interna (alfa de Cronbach) maiores que o priming. Cunningham e cols. (2001) encontraram 0,25 para o alfa de Cronbach. Bosson e cols. (2000) em correlação teste-reteste, obtiveram 0,08 e 0,28 para dois tipos de priming com intervalo de tempo de 31 dias.

A correlação entre as medidas explícitas atendeu às pontuações encontradas em pesquisas brasileiras anteriores (por exemplo, Maluf, 2002). O valor da correlação entre Idate-traço e BAI foi de 0,42. Uma das dificuldades encontradas nas escalas de auto-avaliação é a superposição com sintomas depressivos. As escalas têm dificuldade em separar ansiedade e depressão tanto em amostras clínicas como em não-clínicas (Andrade & Gorenstein,1998). A correlação entre escalas de ansiedade e depressão varia entre 0,35 e 0,70 (Endler, Cox, Parker & Bagby, 1992). Essa dificuldade retorna mais uma vez às desvantagens que as medidas de auto-avaliação apresentam.

Nesse sentido, o artigo procurou analisar a estabilidade temporal do Teste de Associação Implícita (TAI-Ansiedade). A medida implícita é um tipo de medida para emoções que, até a presente pesquisa, não vinha sendo trabalhada no Brasil. O Teste de Associação Implícita é um instrumento com aplicações para uma variedade de constructos. Parte da idéia de que as pessoas podem não dizer o que pensam quer porque não querem ou porque não são capazes de fazer. Por exemplo, se perguntar a uma pessoa com alta ansiedade "Você é muito ansiosa?", esta pode propositadamente dizer que é pouco ansiosa porque pode sentir-se constrangida ao admitir o correto. Também é possível que essa pessoa possa dizer que é pouco ansiosa porque acredita sinceramente que seja pouco ansiosa.

O não querer responder corretamente ou não ser capaz de responder corretamente revela uma deficiência das medidas de auto-avaliação. O Teste da Associação Implícita torna possível penetrar em ambos os tipos de ocultação. O TAI-Ansiedade mede o conceito de ansiedade implícita que as pessoas ou não querem ou não são capazes de revelar.

Para concluir, é preciso dizer que há muitas questões e perguntas referentes ao TAI. No estágio em que as pesquisas se encontram, principalmente aqui no Brasil, sendo esta pesquisa uma primeira proposta, há maior número de perguntas que respostas a oferecer. No momento, o que podemos dizer é que o TAI, certamente, é uma medida valiosa para predizer um comportamento.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Av. Bartholomeu Mitre, 390/402. Leblon CEP. 22431-000 - Rio de Janeiro - RJ - Tel.: 2274-8407
E-mail: absoares@posgrad.nce.ufrj.br

Recebido em outubro de 2008
Revisado em novembro de 2008
Aprovado em dezembro de 2008

 

 

Sobre as autoras:

* Mara Sizino da Victoria é psicóloga, mestre em Psicologia, professora de Psicologia Experimental e Psicologia da Motivação e Emoção do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (UNI-IBMR).
** Adriana Benevides Soares é professora adjunta do departamento de Fundamentos da Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Professora Titular da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Paris XI.