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Psic: revista da Vetor Editora

versão impressa ISSN 1676-7314

Psic v.9 n.2 São Paulo dez. 2008

 

RESENHA

 

Práticas psicopedagógicas

 

 

Marlene Alves da Silva *

Universidade São Francisco

 

 

Chamat, L. S. J. (2008). Técnicas de intervenção psicopedagógica. São Paulo: Vetor, 150p.

Crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam também dificuldades em outras áreas da vida, não somente na escolar. Em muitos casos, as causas podem ser familiares, escolares (portadoras de inadequação metodológica) ou ainda, nas relações vinculares, por escassez do nível de operatoriedade. O diagnóstico, a contextualização e a intervenção são procedimentos básicos da ação psicopedagógica em termos específicos ao tratamento de problemas e/ou de dificuldades de aprendizagem. Às vezes, faz-se necessário o trabalho conjunto com o psicólogo. Ao psicopedagogo restringe às dificuldades de aprendizagem e os aspectos pertinentes na área educacional, assim como o contexto no qual convive. Diferentemente dos problemas de aprendizagem, cuja causa é orgânica e o tratamento é neurológico.

Pensando em contribuir para o trabalho psicológico e psicopedagógico de forma teórica e prática, com métodos e técnicas científicas, Leila Sara José Chamat reuniu estudos e experiências de longos anos em relação aos problemas e dificuldades de aprendizagem. Mostra o aparato teórico que fundamenta a intervenção e suas técnicas na ação psicopedagógica, assim como sua interpretação operacionalizada e os limites de atuação do campo do psicopedagogo.

Com uma linguagem simples e acessível que pode ser compreendida não apenas por profissionais, mas também por professores e pais, a autora condensou essas idéias em um livro organizado em oito capítulos, cada um, com um número variado de tópicos e nas considerações finais salienta a necessidade de continuação das pesquisas e leituras das intervenções psicopedagógicas e ainda, discute a obra e sua importância, e apresenta sete anexos em que constam técnicas que considera relevantes para a intervenção profissional.

No primeiro capítulo, apresenta os fundamentos psicopedagógicos, em que explana sobre a criança com dificuldade de aprendizagem, suas possíveis causas e efeitos. Delimita a função/atuação do psicopedagogo, como agente corretor que prioriza o conhecimento do paciente e o vínculo e a aprendizagem, nessa relação segundo a visão de Pichon Rivière, Piaget e Visca.

No segundo capítulo intitulado O desenvolvimento infantil segundo Piaget e os neo-piagetianos, ressalta o desenvolvimento segundo os autores Piaget (1962-1983), Vigostsky (1984), Ferreiro (1985), Visca (1987) e Lúria (1991), e suas teorias na explicação da aprendizagem. Também versa sobre o desenvolvimento infantil com o intuito de explicar as transformações e o percurso do desenvolvimento intelectual apresentando os estágios piagetianos em seu desenvolvimento a partir de características biológicas, da estimulação do meio afetivo e social. Já nos Comentários, apresenta as contribuições de Ferreiro, Piaget, Vigotsky e Visca, para o processo ensino-aprendizagem e ilustra com um exemplo, o ato de aprender.

Delineamento da intervenção é o título do terceiro capítulo. A autora discute o Esquema como a primeira medida psicopedagógica realizada após o diagnóstico, discorre sobre o enquadramento e a forma de atuação com os pais e o paciente, assim como a importância do planejamento e registro das sessões. Em síntese: enquadramento, planejamento das atividades, desenvolvimento das sessões e avaliação. Além disso, a autora descreve a problemática, as sessões de intervenção, o planejamento das atividades, o desenvolvimento das sessões, pontuações, assinalamento e interpretação operacional e avaliação do sujeito de forma periódica para um replanejamento do processo corretor, que para tal é importante o registro das sessões.

Já no quarto capítulo, versa sobre Aspectos relevantes da intervenção, iniciando-se pelo conteúdo introdutório, o contrato sobre a intervenção, esclarecendo o papel do psicopedagogo e de como é a intervenção psicopedagógica. Nas fases de intervenção, descreve a fase pertinente ao conteúdo escolar e a fase de nível de operatoriedade do sujeito e seus déficits. Após a avaliação inicial são elaboradas as hipóteses no sujeito, psicológicas, na família, as relações vinculares e na escola. Já no item esquemas de intervenção, informa as fases, a importância e limitação do psicopedagogo, enfatiza o encaminhamento ao profissional adequado quando tratar de caso no campo emocional, o psicólogo. Para a interpretação no "real", enfatiza o concreto em relação ao abstrato, leva o sujeito a compreender operatoriamente o que lhe foi colocado, mesmo que utilize a comparação com outras situações.

Alterações mais comuns no comportamento do aprendiz é o título do capítulo 5. Nesse capítulo a autora aponta e discute as alterações comportamentais mais comuns, como hiperatividade, dislexia, distúrbios da escrita, disortografia, déficit de alfabetização, disgrafia, agrafia, distúrbios de raciocínio, dislalia, acalculia, criança agressiva, desordem de atenção, crianças sem limites, rebaixamento intelectivo e alteração de comportamento em que descreve causas, características, intervenção e comentários sobre o diagnóstico e ressalta a atuação/papel do psicopedagogo e de outros profissionais. Trata a problemática da Deficiência Física como área do psicólogo e a inclusão de alunos com déficits é discutida de forma pedagógica. No item a importância da disciplina mostra a necessidade em trabalhar a família e os professores. Por fim, apresenta outras patologias referentes à aprendizagem.

No sexto capítulo, a autora apresenta Casos ilustrativos sobre o tratamento, resultados e formas de avaliação. No exemplo de sessão com jogos, apresenta um caso de distúrbios de déficit de atenção (DDA) e ilustra com o caso clínico de K., sobre a deficiência na aprendizagem da leitura e da escrita e DDA. Um Caso de Hiperatividade, de um garoto de 7 anos. Caso de agressividade, de uma criança de 8 anos. Caso de Dislexia, de um menino de 9 anos. Caso de Disgrafia, em que relata as causas específicas. Caso de Disortografia, a autora fala do diagnóstico, provas específicas, tratamento, planejamento, origem do déficit de alfabetização, outras dificuldades mais específicas, tipos e intervenção. Nos déficits da alfabetização, exemplifica o tratamento psicopedagógico e fala da deficiência física e de casos de inclusão. E nos déficits de raciocínio, relata Casos de acalculia, crianças sem limites, e relação vincular/mediador.

Jogos e atividades específicas é o tema do sétimo capítulo, em que a autora fala do despertar da criatividade e suas implicações psicopedagógicas dos jogos que auxilia na defasagem da aprendizagem do sujeito. Das situações atípicas, ilustra seis situações de intervenção nas sessões psicopedagógicas. No oitavo capítulo, Avaliação, descreve o que avaliar no sujeito, na família e na escola, os aspectos gerais e os resultados dos testes. Nas Considerações finais, a autora coloca a intenção da obra e a importância do planejamento das sessões. Valoriza a função do psicopedagogo e de outros profissionais.

Por fim, a autora apresenta os anexos com as seguintes técnicas: Anexo 1, Técnica de dramatização e espelhamento, em que inclui o jogo psicodramático para trabalhar o imaginário e a realidade da criança. A técnica do espelho, pode ser aplicada em sala de aula, incentiva a inversão de papéis e a movimentação; e a Técnica do espelho concreto, em que a criança conversa com si mesma em frente ao espelho após a dramatização. Anexo 2, Influências benéficas da música, o corpo por si mesmo acompanha o ritmo da música e ajuda o indivíduo a interiorizar a sua atenção. E, também o uso da música com relaxamento. Anexo 3, Relaxamento gradativo, a autora sugere tipos de relaxamento. Anexo 4, Aplicação da trilha, técnica utilizada para crianças que estão no pré-operatório ou inicio do estádio Operatório Concreto. Anexo 5, Sugestões para formar palavra, ajuda na assimilação. Anexo 6, Jogo da velha 3D, objetiva desenvolver os esquemas e/ou as estruturas de pensamento do sujeito, por meio da aquisição das noções de conservação, antecipação da ação, pensamento reversível e percepção lógica da ação. Anexo 7, Jogo no processo de ensino e aprendizagem, tem dupla função, consolidar os esquemas já formados e dar prazer ou equilíbrio emocional à criança. O uso da informática na educação é uma das formas de exploração do desejo de aprender. Os jogos mantêm uma estreita relação com a construção do conhecimento e pode ser um elemento motivador no processo de ensino e aprendizagem. Dessa forma, o conteúdo deste livro torna um importante material de apoio para todos que de uma forma ou de outra, estejam inseridos no contexto pedagógico.

 

Recebido em: outubro/2008
Aprovado em: novembro/2008

 

Sobre a autora:

* Marlene Alves da Silva é psicóloga, perita e examinadora do trânsito e mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.