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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.2 n.2 Porto Alegre dez. 2003

 

ARTIGOS

 

Luz, câmera, ação: desenvolvendo um sistema multimídia para avaliação de habilidades sociais em crianças

 

Light, camera, action: developing a multimedia system to evaluate children social skills

 

 

Zilda A. P. Del Prette; Almir Del Prette

Universidade Federal de São Carlos

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho descreve as etapas do processo de desenvolvimento de um sistema multimídia para avaliação de habilidades sociais de crianças. Apresentam-se, de forma resumida, as preocupações que deram origem ao instrumento e a estrutura conceitual que orientou sua elaboração. Descreve-se, então, passo-a-passo, o processo de construção dos materiais iniciais até sua concepção como um sistema de avaliação que finalmente incluiu: a) versão informatizada (para auto-avaliação); b) versão impressa (para auto-avaliação e avaliação do professor); c) software para processar e integrar os resultados. O instrumento consiste de 21 itens de habilidades sociais, cada um composto por uma situação e três alternativas de reação. A criança é solicitada a indicar a freqüência e dificuldade com que apresenta cada reação e a adequação de cada uma delas. O professor avalia as reações da criança (freqüência) e o conteúdo das reações (adequação e importância). Ao final são indicadas as novas etapas previstas para o aperfeiçoamento do sistema.

Palavras-chave: Avaliação de habilidades sociais, Competência social, Multimídia.


ABSTRACT

This paper describes the stages of a process to develop a multimedia system to evaluate children social. It is firstly presented, in a summarized way, the main concerns leading the decision to invest in this instrument and the conceptual structure guiding its elaboration. It is then described, step-by-step, the process to create the initial materials as far as their conception as an evaluation system, which included: a) a computerized version (for self-evaluation); b) a printed version (self-evaluation and teacher evaluation); c) a software to process and to integrate the results. The instrument has 21 social skills items, each one composed by a situation and three reaction alternatives. The child is required to evaluate the frequency he/she displays each reaction, the difficult to do so and the appropriateness of each one. The teacher evaluates the child reactions (freqüency) and the reactions content (appropriateness and importance). At the end, new stages to improve the system are pointed out.

Keywords: Social skills assessment, Social competence, Multimedia.


 

 

O desenvolvimento socioemocional e, mais especificamente, um repertório elaborado de habilidades sociais vem sendo objeto de crescente interesse de pesquisadores e profissionais de diferentes áreas. Esse interesse se ancora em uma ampla literatura evidenciando a relação entre déficits de habilidades sociais ou competência social e diversos tipos de problemas psicológicos, entre os quais timidez, isola-mento social, pânico e fobia social, transtornos afetivos, depressão e uso de substâncias psicoativas (Del Prette, Z., & Del Prette, A., 1999).

Tomando-se especificamente os transtornos da infância, os estudos mostram concomitância das dificuldades interpessoais com problemas emocionais comportamentais, emocionais e escolares (Del Prette & Del Prette, 1998; Del Prette, Del Prette, Oliveira & Beebe-Frankenberger, s.d.; Forness & Kavale, 1996; Gresham, Lane, MacMillan & Bocian, 1999; Severson & Walker, 2002; McClelland, Morrison & Holmes, 2000; Swanson & Malone, 1992) que se caracterizam também como necessidades educativas especiais no âmbito das deficiências mentais, senso-riais e dos transtornos invasivos do desenvolvimento (AAMR, 1992; Gresham & MacMillan, 1997). Um diagnóstico acurado dos déficits de habilidades sociais na infância e programas destinados à sua superação são providências relevantes uma vez que esses déficits podem se acentuar nas etapas posteriores do ciclo vital e se desdobrar em problemas mais severos como a delinqüência juvenil (Loeber, & Farrington, 1998), o suicídio (Stengel, 1971) e outros desajustes psicossociais (Bedell & Lennox, 1997; Pierce, 1995; Segrin, 1993).

A aprendizagem de habilidades sociais ocorre durante um processo contínuo ao longo do desenvolvimento humano. Com a transição do ambiente doméstico para outros contextos (escola, trabalho, grupos de lazer etc.), as demandas de interação com outras pessoas se tornam cada vez mais diferenciadas. A participação da criança nesses novos contextos nem sempre ocorre com a supervisão permanente dos pais ou de outros adultos, podendo gerar ansiedade e conflitos interpessoais.

A atuação da escola no desenvolvimento de habilidades sociais da criança geralmente acontece de forma não planejada quando o professor instrui as crianças, por meio de normas ou exortações (quase sempre post-facto), sobre os comportamentos socialmente desejáveis e indesejáveis ou quando valoriza modelos reais ou simbólicos presentes nos textos didáticos. Dada a função social da escola em promover, de forma harmoniosa a aprendizagem e o desenvolvimento, ela poderia (e deveria) desenvolver programas estruturados de habilidades sociais, na medida do possível articulados com a aprendizagem acadêmica, como já ocorre em alguns países.

Entende-se que qualquer investimento em atividades, programas ou diretrizes de ação na área do Treinamento de Habilidades Sociais requer uma definição de objetivos baseada em avaliações bastante detalhadas das necessidades gerais das crianças nessa área. Além disso, os programas de intervenção deveriam ser objeto de aperfeiçoamento contínuo, com base na avaliação de sua efetividade e componentes críticos.

A validação social dos objetivos e da efetividade de programas de promoção de habilidades sociais para crianças em fase inicial de escolarização supõe parâmetros normativos sobre as características interpessoais dessa clientela diante das demandas interativas a que estão sujeitas (Del Prette, A. & Del Prette, Z., 2001). Como ainda não se dispõe, em nosso meio, de instrumentos padronizados de avaliação do repertório de habilidades sociais, a sua construção e validação constituem demandas recorrentemente endereçadas aos pesquisadores dessa temática.

Pressupostos para a avaliação de habilidades sociais

Toda e qualquer construção de instrumentos de avaliação deve ter como base um teoria ou esquema conceitual que orienta a sua elaboração. O campo do Treinamento de Habilidades Sociais apresenta dois conceitos-chave: habilidades sociais e competência social1. Embora a literatura da área se divida entre autores que tomam os dois termos como equivalentes e outros que os diferenciam, entende-se que, para efeito de avaliação, a distinção é fundamental para definir a especificidade dos diferentes instrumentos e estratégias de avaliação (Del Prette, Z. & Del Prette, A., 1999). O termo habilidades sociais, geralmente no plural, é utilizado para descrever as classes de comportamentos abertos e encobertos, requeridas nas interações sociais, enquanto competência social tem um sentido avaliativo e se refere ao nível de proficiência com que tais classes são articuladas em um desempenho bem sucedido (Del Prette, A. & Del Prette, Z., 2001).

Uma característica bastante enfatizada na literatura da área é a especificidade situacional das habilidades sociais e da competência social (Del Prette, Z. & Del Prette, A., 1999). Essa especificidade implica considerar as normas e valores que definem expectativas e padrões de proficiência para diferentes contextos interativos e interlocutores (Achenbach, McConaughy & Howell, 1987), associados às características sócio-demográficas da pessoa (idade, gênero, ocupação, papéis sociais etc.) caracterizando a multidimensionalidade das habilidades sociais.

A avaliação dessas diferentes dimensões requer uma abordagem multimodal, por meio de diferentes avaliadores, procedimentos e instrumentos (Del Prette & Del Prette, 1999; Gresham & Elliott, 1990; Merrell, 1999). A avaliação culturalmente contextualizada e o estabelecimento inicial de padrões normativos são geralmente feitos com a coleta de dados em larga escala (survey). Dentre os vários métodos e instrumentos, o que mais se ajusta a avaliações dessa natureza é o inventário, de auto-relato ou relato por outros informantes, que permite contemplar uma amostra considerável de demandas e reações sociais.

Ao contrário do que ocorre na avaliação de habilidades sociais de adultos, verifica-se uma menor ênfase nos instrumentos de auto-avaliação para crianças (Del Prette, Del Prette, & Gresham, s.d.). Conforme alguns autores, essa situação decorre da maior dificuldade da criança em auto-observação e automonitoria, o que levaria a uma avaliação menos precisa (Merrel, 1999) e ao fato dos critérios de competência social serem geralmente estabelecidos pelos adultos (Gresham & Elliott, 1990). No entanto, dada a importância da autopercepção da criança para o seu envolvimento posterior em programas de ampliação de habilidades sociais, entende-se que tais dificuldades deveriam ser vistas como desafios a serem superados por um maior investimento em instrumentos de auto-avaliação que, progressivamente aperfeiçoados, pudessem produzir indicadores mais confiáveis (Del Prette, Del Prette & Gresham, s.d.).

Um outro aspecto a ser considerado é que a maioria dos instrumentos de auto-relato é do tipo lápis-papel, requerendo, portanto, um repertório acadêmico mais desenvolvido. Isso restringe sua aplicabilidade a crianças em fase inicial de escolarização ou impõe a presença de um aplicador na condução desse processo. Visando superar essas dificuldades, particularmente junto a crianças que apresentam problemas de aprendizagem, uma alternativa potencialmente promissora seria o uso de materiais multimídia, interativos e atraentes, que garantissem o envolvimento da criança e reduzissem a necessidade de leitura e escrita.

No entanto, embora o uso de recursos audio-visuais e multimídia seja bastante disseminado em educação e treinamento, tem sido pouco explorado, mesmo na literatura internacional, para a avaliação de habilidades sociais em crianças (entre os raros relatos disponíveis, ver o de Irvin e Walker, 1994). Em nosso país, é notória a escassez de instrumentos de avaliação do repertório social de crianças, construídos ou validados para a nossa cultura. Essa situação constitui um entrave para a produção de conhecimento sobre características desse repertório em diferentes tipos de clientela, sobre fatores a associados a um repertório mais amplo ou restrito e sobre a efetividade de programas de intervenção nessa área.

A produção de instrumentos multimídia para a avaliação envolve uma etapa inicial de definição de seu conteúdo e formato que implica em intercâmbio do conhecimento psicológico com o de outras áreas como artes (imagem, som) e informática. No Brasil ainda não há uma tradição de relatos sobre a construção de instrumentos de avaliação, em especial utilizando recursos multimídia. Entendendo-se que a divulgação das várias fases e das dificuldades encontradas nesse tipo de empreendimento pode contribuir para estimular o interesse e facilitar o intercâmbio entre pesquisadores de diferentes áreas, aumentando o investimento nesse campo, o presente trabalho tem como objetivo descrever o processo de construção de um sistema multimídia de avaliação do repertório social de escolares do ensino fundamental.

Um pequeno histórico

O desenvolvimento do Sistema Multimídia de Avaliação de Habilidades Sociais para Crianças (SMHSC-Del-Prette) faz parte dos objetivos de um programa de pesquisa que vem sendo conduzido pelo Grupo Relações Interpessoais e Habilidades Sociais (www.cnpq.br) com o apoio de agências de fomento (CNPq e FAPESP) sob a forma de bolsas e auxílio financeiro. Apesar da experiência anterior com a construção de um inventário de habilidades sociais para adultos jovens (Del Prette, Z. & Del Prette, A., 2001), os autores não haviam ainda explorado a tecnologia multimídia para isso.

Em um primeiro momento, o projeto incluía so-mente a construção de um CD-Rom para auto-avaliação denominado de Inventário Multimídia de Habilidades Sociais de Crianças, ou IMHSC-Del-Prette, com base em imagens de vídeo que deveriam ser projetadas em uma tela, de modo a viabilizar sua aplicação coletiva em sala de aula (Del Prette, Del Prette & Costa, s.d.). A construção do IMHSC-Del?Prette foi motivada pela dificuldade encontrada, em estudo anterior, de obter auto-avaliações de crianças com dificuldades de aprendizagem e/ou de comportamento (o estudo visava examinar a relação entre o repertório social e as dificuldades de aprendizagem). Em um segundo momento, com base nas potencialidades evidenciadas pela análise inicial das propriedades psicométricas da auto-avaliação (Del Prette & Del Prette, 2002b) e das possibilidade de diferentes versões, o projeto foi reestruturado em termos de um Sistema de Avaliação.

As etapas do processo

A seguir descreve-se as principais etapas de construção desse sistema de avaliação, iniciando-se com o processo passo a passo de construção do CD-Rom e, ao final, com uma síntese dos indicadores psicométricos disponíveis e as características gerais do sistema de avaliação finalmente concebido.

Secionando situações sociais e possíveis desempenhos

Visando o levantamento das situações interativas mais comuns na escola e as demandas a elas pertinentes, o trabalho iniciou-se com a construção de um Protocolo de Avaliação de Situações Sociais (PASS). Após esse levantamento, junto a uma amostra de professores de 1o e 2o graus, cada protocolo foi examinado separadamente, classificando-se as respostas pela similaridade das situações e projetando-se as possíveis reações requeridas em cada uma delas. Com base no conceito de assertividade e sua contraposição com respostas não assertivas e agressivas, ambas entendidas como não assertivas (passivas e ativas, respectivamente), foram previstas três possibilidades de reação para cada um dos itens: habilidosa (respostas de assertividade, empatia, expressão de sentimentos positivos ou negativos de forma apropriada, civilidade etc.), não habilidosa passiva (respostas de esquiva ou fuga ao invés de enfrentamento da situação) e não habilidosa ativa (respostas de agressividade, negativismo, ironia, autoritarismo etc.).

Como as situações e reações foram planejadas inicialmente pelos pesquisadores (adultos), a etapa seguinte consistiu de entrevistas com crianças, para verificar suas reações frente a algumas situações de interação social, comparando-as com as respostas inicialmente projetadas, efetuando-se então os ajustes necessários. Ao mesmo tempo, também foram realizadas observações em sala de aula e recreio para verificar a ocorrência das situações sociais previamente selecionadas e uma análise das habilidades sociais contempladas em outros instrumentos da literatura da área (o MESSY, de Matson, Rotatori & Helsel, 1983 e os de McGinnis, Goldstein, Sprafkin, Gershaw, 1984), para conferir se alguma habilidade, igualmente importante em nosso contexto cultural, teria sido negligenciada.

A partir dessa análise, a lista de situações levantadas foi submetida a exames exaustivos. Como que havia uma quantidade grande de situações, considerou-se necessária a retirada de algumas, optando por excluir as repetidas e aquelas com menor probabilidade de ocorrência. Os interlocutores, contextos e demandas contemplados nos itens do IMHSCDel-Prette são apresentados na Tabela 1.

A Tabela 1 mostra que os itens do IMHSCDel-Prette privilegiam, como planejado, habilidades de interação com pares (diádica e grupal) em con-texto escolar de sala de aula e de recreio. Essas habilidades implicam em responder a demandas positivas (1, 11, 16, 18 e 19), negativas (2, 3, 5, 7, 12, 15, 17, 20) e neutras (4, 6, 8, 9, 10, 13, 14, 21) contemplando amplamente as que vêm sendo consideradas, na literatura (Caldarella & Merrell, 1997) como fundamentais, em seu conjunto ou em partes, para a socialização e o desenvolvimento socioemocional da criança.

Elaborando os roteiros de filmagem

Para cada uma das situações e reações, construiu-se um texto, do tipo esquete de teatro, prevendo-se os locais (contextos naturais), os participantes e os seus papéis (desempenhos). Cada um dos roteiros foi testado junto às crianças, reformulando-se, quando necessário, algumas das falas e termos, bem como a descrição dos aspectos não verbais do desempenho. Tendo em vista o caráter do projeto, optou-se por excluir, na medida do possível, termos próprios da região, até se alcançar uma linguagem de compreensão geral. Buscou-se descrever detalhes que garantissem captar melhor, em vídeo, as demandas da situação e os três tipos de reação previstos para cada uma. Considerou-se finalizada esta etapa com o consenso da equipe sobre as situações, as demandas e os desempenhos, elaborados em roteiro apropriado para filmagem.

A equipe de filmagem e definição de local

Nesta etapa, foram incorporados, à equipe do projeto, alunos bolsistas de Treinamento Técnico (apoio FAPESP) e uma professora do Curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos.

Esses bolsistas foram divididos em dois grupos, sendo um responsável pelas filmagens e o outro pelos trabalhos de laboratório para a edição de CD-Rom.

Foram realizadas várias reuniões objetivando a compreensão geral do projeto e os objetivos específicos de cada situação selecionada para avaliação. Com base nos roteiros, elaborou-se o plano de filmagem para cada situação e reações, discutindo-se os possíveis locais, participantes e tomadas de cenas.

 

 

Concomitantemente, o projeto foi apresentado a uma escola pública de São Carlos que se dispôs a colaborar facilitando o contato com os professores, alunos e pais, bem como cedendo várias de suas dependências para a realização das filmagens. Antes das gravações, foram realizadas visitas ao local, previsão das técnicas de filmagem, montagem do plano de produção/execução da coleta de imagens e o projeto de navegação para o CD-Rom.

Escolhendo os "atores"

Em grande parte, as cenas previstas centraram-se nas interações entre crianças. Quando os adultos (pais, professores) apareciam, mesmo assim o foco era sobre o desempenho da criança. Os professores colaboraram fazendo uma lista consensual de crianças que atendiam os critérios de desenvoltura e possível consentimento dos pais. Os alunos indicados concordaram em participar, solicitando-se, então, que eles trouxessem seus pais para uma reunião previamente agendada. A decisão de solicitar que cada criança convencesse os pais a comparecer serviu para testar a motivação de cada uma delas.

Na reunião com os pais, explicou-se detalhadamente o projeto e uso posterior das imagens, enfatizando-se sua natureza acadêmica e esclarecendo-se que a escola apenas colaborava com o projeto e que os pais tinham liberdade para consentir ou não na participação de seus filhos. Os pais assinaram, então, o Termo de Consentimento Informado quanto à participação do filho no projeto e a cessão de imagens.

Realizando as filmagens

Inicialmente foram feitas várias reuniões com os "atores" objetivando: a) fornecer informações quando à importância de cada papel, mesmo os secundários; b) avaliar a manutenção do interesse da criança, uma vez que a mesma poderia deixar o trabalho no momento em que quisesse; c) familiarizar os atores com os equipamentos de gravação (câmera, luz, microfone) e com a equipe (diretor de filmagem, monitor de câmara e auxiliar); d) testar os participantes em diferentes papéis. Procurou-se, na medida do possível contemplar a diversidade de gênero e de características físicas e étnicas entre as crianças que apareciam como protagonistas principais das diferentes situações.

Nesta etapa, também foi realizado o planeja-mento das gravações, selecionando-se o tipo de material necessário, bem como o estudo cênico e foto-gráfico, as gravações em vídeo e captação do som. Após vários ensaios sem gravação, as cenas foram finalmente gravadas. Essa etapa exigiu bastante de toda a equipe que devia avaliar simultaneamente a qualidade técnica da filmagem e sua adequação ao objetivo da avaliação em cada item.

Editando as imagens e inserindo-as em um CD-Rom

O trabalho de laboratório, realizado em ilha de edição não linear, visava "limpar" ruídos presentes na gravação, melhorar a qualidade da imagem e elaborar cortes de partes não essenciais para os objetivos. Essa tarefa esteve sob a super-visão da professora da área. As decisões, no entanto, foram de responsabilidade dos coordenadores do projeto.

As cenas foram examinadas várias vezes por todos os participantes do projeto, efetuando-se uma seleção com base na sua adequação aos objetivos de cada situação a ser avaliada e na qualidade das imagens e do som. Além disso, foi elaborado, testado e implementado todo o plano de navegação e apresentação visual do CD-Rom, com a inserção das imagens que ilustravam cada situação e respectivas reações.

O retorno à escola e os estudos psicométricos iniciais

Encerrada a etapa de produção do CD-Rom, os coordenadores do projeto solicitaram da escola uma reunião com os professores, pais e alunos participantes para apresentar o resultado final do trabalho. Nessa ocasião foi projetado em tela, pela primeira vez, o IMHSC-Del-Prette finalizado. Os coordenadores fizeram um resumo das etapas concluídas e das que ainda estavam em andamento agradecendo a colaboração de todos.

Uma vez construído, o instrumento deveria ser testado em larga escala, para se verificar suas qualidades psicométricas. Assim, realizou-se novo re-torno ao sistema escolar (agora em várias escolas) para a aplicação do IMHSC-Del-Prette. Na aplicação coletiva em sala de aula, cada situação e suas possibilidades de reação eram projetadas em uma tela e as crianças indicavam, individualmente, em uma ficha lápis-papel, suas respostas a cada reação. Três tipos simples de resposta podiam ser solicitados à criança: a) freqüência com que apresentava a reação (N=nunca; V=às vezes; S=sempre); b) dificuldade em emitir a reação habilidosa (M=muita; P=pouca; N=nenhuma); c) adequação que atribuía a cada reação (C=certa; M=mais ou menos; E=errada). Para facilitar a aplicação, foram construídos cartões com siglas e legendas e um roteiro de instruções para o aplicador.

Nesse estudo inicial, a versão CD-Rom do IMHSC-Del-Prette foi aplicada a 853 crianças, distribuídas em subamostras que respondiam a diferentes indicadores e reações uma vez que, como as aplicações eram coletivas, ficava difícil realizar todas as possibilidades de avaliação com o mesmo grupo de crianças. Em síntese, os resultados obtidos (Del Prette & Del Prette, 2002b) permitiram verificar: a) correlações significativas, item-escore

e teste-reteste, para dificuldade e freqüência, com maior estabilidade para os de dificuldade; b) consistência interna razoável e estrutura fatorial com três fatores para freqüência (empatia/civilidade, assertividade de enfrentamento ascendência sobre colegas) e quatro para dificuldade (empatia/civilidade, assertividade de enfrentamento, autocontrole

e participação); c) reações habilidosas considera-das mais adequadas que as não habilidosas ativas, mas não diferenciadas das passivas; d) maior valorização para as habilidades de empatia/civilidade e de participação; e) correlação positiva e significativa entre a avaliação de passividade pelo professor e a auto-avaliação de dificuldade pelo aluno bem como correlação entre negativa passividade e habilidade atribuídas pelo próprio professor.

Melhorando a qualidade técnica do CD-Rom

Não obstante os resultados da análise de propriedades psicométricas se mostrarem animadores, foram constatadas algumas dificuldades na aplicação que indicavam a necessidade de aperfeiçoamento do instrumento, o que poderia também se reverter em melhoria das qualidades já identificadas. Além disso, ainda não se tinha chegado a um instrumento efetivamente independente de fichas lápis-papel, embora estas fossem extremamente simples para crianças a partir da segunda série.

Procurou-se então investir no aperfeiçoamento da qualidade das imagens e do som do CD-Rom, uma vez que, apesar de todo o cuidado inicial, algumas cenas apresentavam problemas de ruído e outras requeriam uma melhor edição da situação ou das reações. Adicionalmente, foi feito um replanejamento da apresentação visual do CD-Rom de modo a torná-lo mais atrativo para a criança (tipo de letras, molduras, cores etc.) e com instruções escritas

e sonoras na tela para que a criança pudesse responder diretamente no teclado do computador, em aplicação individual, independente do aplicador e re-querendo um mínimo de leitura (somente as letras para operar as teclas). Um outro aperfeiçoamento do IMHSC-Del-Prette foi a elaboração do Sistema Gerenciador de Banco de Dados, um programa de informática que permitia a armazenagem e o processamento imediato das respostas da criança.

Ampliando a proposta inicial para um sistema de avaliação

À medida que novos componentes de avaliação foram sendo desenvolvidos e adicionados à proposta inicial de um CD-Rom de auto-avaliação o conjunto foi se caracterizando como um sistema multimodal, denominado de Sistema Multimídia de Habilidades Sociais para Crianças (SMHSC-Del-Prette) com os seguintes componentes:

. IMHSC-Del-Prette - CD-Rom de Auto-avaliação. Nesta versão, os itens são apresentados sob a forma de trechos de vídeo com a própria criança respondendo no teclado do computador (se aplicação individual) ou em uma Ficha de Resposta (se aplicação coletiva); um sistema de ajuda on-line permite ao aplicador a navegação pelo CD-Rom, a programação de várias alternativas de avaliação e dos produtos a serem processados, bem como a inserção de dados produzidos na versão Cadernos.

. IMHSC-Del-Prette - Caderno para Auto-avaliação. Nesta versão, os itens são apresentados em pranchas ilustradas com as imagens digitalizadas; o examinador mostra as pranchas, pede que a criança verbalize sua resposta e a anota na Ficha da Criança, que também faz parte do material (no Anexo A é exemplificada uma situação e suas três reações).

. IMHSC-Del-Prette - Caderno do Professor. O mesmo conjunto de pranchas é apresentado ao professor que preenche uma Ficha de Resposta avaliando as reações (importância e adequação) e outra avaliando o desempenho da criança (freqüência).

. Manual de Aplicação (em desenvolvimento). Texto impresso, com informações detalhadas sobre a forma de aplicação, apuração e interpretação dos resultados.

. Sistema Gerenciador de Banco de Dados. Trata-se de um software que processa as respostas da criança no CD-Rom e também aceita a inclusão dos dados dos Cadernos, organizando-os em três tipos de produtos: a) Protocolo Final, com a síntese dos resultados de cada criança e os itens ou áreas de déficits relevantes, facilitando a seleção de objetivos para intervenções educativas e/ou terapêuticas; b) Gráficos Ilustrativos dos resultados individuais da criança, situado-a em relação à média e desvio-padrão da amostra de referência; c) Planilha para Exportação, agrupando os dados das crianças avaliadas, que pode ser enviada a outros programas de análise estatística. A apuração permite uma avaliação sobre o repertório social da criança, em termos de:a) um perfil geral; b) freqüência de emissão em cada tipo de reação; c) dificuldade nas reações habilidosas; d) adequação atribuída a cada tipo de reação; e) importância da reação habilidosa (os itens a e c são obtidos somente na auto-avaliação, o item e, somente na do professor e os itens b e d, em ambas)

A concepção do SMHSC, enquanto sistema, baseou-se, portanto, em sua caracterização multimodal e multidimensional, com diferentes avaliadores (auto-avaliação e avaliação pelo professor) e métodos de avaliação (versão CD-Rom e versão Cadernos) que focalizam não somente as reações socialmente competentes mas também reações indicadoras de problemas de comportamento do tipo internalizante (passivos) ou externalizante (ativos) diante das mesmas situações (Achenbach & Edelbrock, 1978). Em cada reação, podem ser avaliadas dimensões comportamentais (freqüência e dificuldade) e cognitivo-afetivas (adequação, importância), aferindo-se, assim, simultaneamente o repertório da criança e a validade social dos comporta-mentos avaliados, o que tem sido bastante recomendado na literatura da área (Merrell, 1999; Kamphaus & Frick, 2002). Para a tabulação integrada de todos esses indicadores, o Sistema Gerenciador de Banco de Dados também computa os dados da versão cadernos nele inseridos.

 

Considerações finais

Cada dia torna-se mais evidente a necessidade de instrumentos de diagnóstico precoce de problemas de relacionamento interpessoal. Os instrumentos importados precisam ser validados e padronizados para nossa cultura, conforme determina o Conselho Federal de Psicologia. No entanto, mesmo com todo esse cuidado, podem não contemplar certas especificidades ou generalidades próprias das relações de nosso contexto histórico-cultural. Daí a importância de pesquisas nessa área, tanto as de investigação e promoção de características interpessoais da clientela infantil como as de construção e desenvolvimento de métodos e técnicas para isso.

Ao finalizarmos a construção da primeira ver-são do CD-Rom, concluímos uma etapa importante, mas entendida como apenas preliminar do longo trabalho de construção de um instrumento de avaliação. Pela frente, havia todo o conjunto de tarefas de coleta e análise de dados, visando verificar as qualidades psicométricas do instrumento produzido e, na medida do necessário e do possível, aperfeiçoar suas características técnicas. Ao indicarem a potencialidade do instrumento, os resultados iniciais nos levaram a investir no conjunto de alterações adicionais, algumas ainda em andamento, voltadas para o seu aperfeiçoamento e funcionalidade.

A experiência de construção da base física de um CD-Rom e sua posterior ampliação em termos de um sistema avaliação de habilidades sociais implicou em um esforço interdisciplinar que tem sido cada vez necessário em muitas áreas da Psicologia. O produto elaborado e em desenvolvimento - SMHSC-Del-Prette - constitui, em nosso entender, uma ferramenta importante para a pesquisa e a prática clínica e educacional. Além de instrumento de avaliação, há ainda a possibilidade de utilização das imagens (situações e reações) como recurso pedagógico em programas de treinamento de habilidades sociais.

Por se tratar de uma interface ainda pouco explorada, pode-se prever que as tentativas de articular Psicologia e recursos de vídeo deverão ainda, por longo tempo, constituir um desafio para os pesquisadores psi. Esperamos que a descrição desse trabalho possa ser útil para facilitar, e quem sabe instigar, o envolvimento de novos pesquisadores com essa área.

 

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Endereço para correspondência
Alameda das Ameixeiras nº 60 - Parque Faber
13570-970 - São Carlos-SP
Tel.: +55-16 272-4230
Fax.: +55-16 260-8361
E-mail: zdprette@power.ufscar.br

Recebido em 15/04/2003
Aceito em 28/06/2003

Trabalho financiado pela FAPESP (Processos 98/10461-3; 98/10462-0; 98/10472-5; 98/10463-6) e CNPq (Processos 520988/95-7/ RE; 463699/00-9) e apresentado em reuniões científicas da Sociedade Brasileira de Psicologia e da Associação Psicológica Iberoamericana de Clínica e Saúde. A versão original do IMHSC-Del-Prette contou com a participação das alunas Aline Christina Torres e Elisângela Maria Machado Pratta (Bolsistas CNPq, do Curso de Psicologia da UFSCar), da Profa. Ms. Maria Yolanda de Oliveira Costa (Departamento de Artes da UFSCar) e seus alunos Fabiano Pierri Dias Campos, Glauco Madeira de Toledo, Martin Eikemeir, Maurício Baffi Pellegrinetti (Bolsistas TT/Fapesp, do Curso de Imagem e Som). O aperfeiçoamento do sistema multimídia está sendo efetuado com a participação da Profa. Dra. Júnia Coutinho Anacleto Silva (Departamento de Computação da UFSCar) e dos alunos Tiago Claus (Curso de Computação da UFSCar) e Anita Stefania Nadai (Curso de Imagem e Som da UFSCar), ambos Bolsistas CNPq. Os autores agradecem também a todos os pais, alunos, docentes e equipe administrativa da Escola Estadual Bento da Silva César, onde foram realizadas as filmagens.

 

 

1 Alguns pesquisadores incluiriam aqui o conceito de assertividade, que é entendido pelos autores como uma subclasse de habilidades sociais (Del Prette, A. & Del Prette, Z., 2001).

 

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