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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.4 n.1 Porto Alegre jun. 2005

 

RESENHA

 

Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática

 

 

Évelin Zago de Oliveira1

Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 

Del Prette, Z. A. P. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes.

Zilda Aparecida Pereira Del Prette e Almir Del Prette, professores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pesquisadores da área de Habilidades Sociais, oferecem sua obra voltada para a prática da psicologia clínica e educacional, por meio do Treino de Habilidades Sociais (THS). Atentos para a necessidade de desenvolver as habilidades sociais de crianças e jovens, os autores reúnem no livro Psicologia das Habilidades Sociais na Infância: Teorias e Práticas, técnicas de intervenção e treinamentos de habilidades sociais, que visam melhorar a qualidade de vida.

A obra, composta de 13 capítulos, é dividida em três partes, a saber, Visão Geral e Conceitos Básicos, que se destina a esclarecer e orientar os profissionais em relação às habilidades sociais dentro de uma perspectiva teórica, Programa de Treinamento de Habilidades Sociais, no qual formas de desenvolver a competência social são apresentadas e Habilidades Sociais relevantes: análise e intervenção, que oferece uma explicação detalhada das habilidades essenciais e uma gama de ferramentas para a avaliação e aplicação dos conceitos. Logo na apresentação, Prof. Dr. Bernard Rangé da Universidade do Rio de Janeiro, destaca o desenvolvimento de pesquisas no campo da competência social, assim como a importância dos autores para o contexto nacional.

Os primeiros três capítulos apresentam o conceito de competência social como a capacidade de articular pensamentos, sentimentos e ações em função de conseqüências positivas para si e para os outros. Para que isso ocorra, algumas habilidades são indispensáveis ao funcionamento adaptativo das crianças, tais como autocontrole e expressividade emocional, civilidade, empatia, assertividade, fazer amizades, solução de problemas interpessoais e habilidades sociais acadêmicas. A ausência ou ineficiência dessas habilidades pode resultar em problemas comportamentais, emocionais e conseqüentemente, em transtornos psicológicos que se apresentam de duas formas, problemas internalizantes e externalizantes, que atuam em conjunto dependendo da gravidade da situação.

No capítulo quatro, destaca-se a importância da socialização no amadurecimento das habilidades sociais da criança, que ao socializar-se a criança passa a obter novas informações sobre o ambiente e sobre as pessoas ao seu redor. O aprendizado das habilidades sociais ocorre como conseqüência dessa interação, ou seja, a forma de se relacionar será aprendida dependendo dos exemplos de competência social, assim como da qualidade dos estímulos oferecidos. Nesse aspecto pais, professores e psicoterapeutas devem estar atentos, estabelecer regras justas, utilizar o feedback de maneira sábia e não oferecer exemplos contrários. Tais ações podem favorecer o desenvolvimento da criança em seu aspecto social.

A forma de planejar o Programa de Treinamento de Habilidades Sociais é apresentada no capítulo cinco, citando que o treino pode ser utilizado tanto para superar algum déficit ou problema já identificado, como para ampliar o repertório das habilidades existentes. Ao buscar o THS, algumas premissas devem ser observadas, como os processo envolvidos nas habilidades sociais, a forma como o aprendizado das mesmas ocorre, as influências que o contexto social e cultural exerce sobre elas, assim como as dificuldades decorrentes de fatores organísmicos e ambientais.

As intervenções, dentre as quais se destacam os jogos e brincadeiras, exigem um planejamento detalhado, e para tanto, os autores oferecem uma estrutura completa de organização do processo que abrange desde a homogeneidade dos grupos até a conceituação da avaliação do próprio treinamento. Partindo desse contexto, o capítulo seis ilustra o método de vivências como forma eficaz para o trabalho relacionado às habilidades sociais. As vivências reúnem atividades estruturadas de demandas sociais nas quais a intervenção pode ser feita, orientando a criança em relação à sua necessidade especifica ou grupal. É importante lembrar, que o terapeuta ou o profissional que ocupa o papel de facilitador, deve estar preparado para tal atuação, pois demandas individuais e coletivas podem apresentar conteúdos diversos.

A terceira parte do livro aborda as habilidades consideradas indispensáveis para desenvolvimento da competência social na infância e adolescência. Todos os capítulos contêm sugestões de atividades de desenvolvimento das habilidades e técnicas de vivências detalhadas, apresentando ilustrações e textos adequados a cada situação, que enriquecem o treino de habilidades sociais.

No capítulo sete, as primeiras habilidades a serem abordadas são o autocontrole e a expressividade emocional, que destacam a dificuldade que os adultos possuem em expressar suas emoções, pois não foram educados para isso. Por mais que a emoção seja observável, a necessidade de expressão verbal se faz presente. É nesse momento que a dificuldade de nomear as emoções se apresenta, conseqüentemente as formas de agir perante algumas situações também não ficam claras.

Segundo os autores, além destas habilidades, outras devem ser trabalhadas, como o reconhecimento das emoções, o comportamento de falar sobre elas, expressá-las, lidar com o próprio humor e com sentimentos negativos, tolerar frustrações e desenvolver o espírito esportivo. Sugerem, ainda, alternativas imediatas para ajudar as crianças, tais como conversar sobre o assunto e não menosprezar o que as crianças sentem, assim como utilizar vivências com cores e histórias para estimular o reconhecimento das emoções.

Já no capítulo oito a habilidade de civilidade é abordada como um conjunto de regras mínimas de interação social. Estes comportamentos padronizados se caracterizam pelas expressões de "boas maneiras" que em um determinado contexto cultural podem definir a inclusão das crianças e adolescentes em determinados grupos. Tais habilidades como cumprimentar, aceitar e fazer elogios, entre tantas outras, auxiliam as crianças a manter um bom contato social com seus colegas e com os adultos. O livro apresenta em suas vivências, textos que abordam questões relacionadas à importância da convivência, palavras mágicas e jogos de adivinhações que abordam o comportamento de ouvir o outro e falar de si mesmo.

Outra habilidade que engloba o conhecimento das emoções é a empatia, discutida no capítulo nove. Essa habilidade que começa a se desenvolver nos primeiros dias de vida, faz com que as crianças identifiquem emoções sentidas por outras pessoas. A empatia é vista hoje na Psicologia como a habilidade de colocar o foco na necessidade do outro e pode desenvolver-se por meio dos aspectos cognitivo, emocional e afetivo, durante todo período da vida da criança e do adolescente. A obra indica vivências intituladas "Crianças também ajudam" e "Olhando e ajudando" e destaca um exercício de aprendizado empático, tal como a visita da criança a um amigo doente, de forma que ela possa identificar várias emoções, suas e de seu colega, desenvolver a capacidade de ouvir o outro, acolhe-lo e aplicar muitas habilidades necessárias ao aprimoramento da empatia.

Entre todas as competências sociais citadas no livro, uma se sobressai por ser desejada, mas pouco compreendida pelos adultos. A assertividade, discutida no capítulo 10, é erroneamente comparada com rebeldia e agressividade, mas oferece às crianças a habilidade de se adequar a um contexto, como o exemplo da criança que questiona sua nota junto à professora, e espera o momento oportuno, faz suas colocações adequadamente, sem ansiedade ou maus modos. A aquisição desta habilidade favorece a manutenção de outras, como a civilidade, o autocontrole e a expressividade emocional. Para não ser confundida, cabe ao facilitador ajudar a criança a utilizar o pensamento assertivo, ensinado o conceito da reciprocidade até que ela compreenda a questão entre direito e deveres.

Partindo deste aprendizado, a criança possuirá mais ferramentas para solucionar problemas interpessoais, assunto abordado no capítulo 11. Ao saber diferenciar o que deve e o que pode fazer ela automaticamente faz uso de suas habilidades assertivas, de civilidade e de empatia. Pesquisas demonstram que a capacidade de solucionar problemas interpessoais está ligada à maneira com que a criança trabalha com o estresse e com a diminuição da impulsividade. Esse capítulo oferece sete princípios para o treinamento de resolução de problemas, como pensar antes de agir e explicar que problemas, em sua maioria, podem ser resolvidos.

Outra habilidade que atua como facilitadora das competências sociais é a capacidade de fazer amizades, que é vista como fonte de aprendizagem e autoconhecimento. No capítulo 12, os autores mostram que este desenvolvimento social depende de algumas condições para ocorrer, como a possibilidades do contato social, atração física, que para as crianças se concentra na aparência relacionada à higiene e à semelhança em relação a pensamentos e preferências. O capítulo também oferece vivências que estimulam o coleguismo e a aproximação entre as crianças.

Por fim, no último capítulo os autores discutem a importância das habilidades acadêmicas, que se destacam por influenciar de maneira positiva o desempenho escolar. Recentes pesquisas, citadas na obra, demonstram a relação entre os déficits de habilidades sociais e os problemas de aprendizagem, assim como a contribuição de habilidades bem desenvolvidas para um bom rendimento acadêmico. Os autores pontuam as características interpessoais necessárias para que professores, colegas e alunos possam relacionar-se e produzir um bom desempenho social.

Sendo essa a descrição dos temas tratados nos capítulos, pode-se constatar que os autores contribuem de forma técnica, teórica e prática para a compreensão e desenvolvimento das habilidades sociais na infância e adolescência. Vale ressaltar que o livro é destinado a todos os profissionais que atuam no contexto clínico e educacional, assim como para as pessoas interessadas no desenvolvimento saudável da infância.

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: evelinzagooliveira@hotmail.com

 

 

Sobre a autora:

1 Évelin Zago de Oliveira é acadêmica do curso de Psicologia e bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIC/PROBAIC) da Universidade São Francisco.

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