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Avaliação Psicológica

versión impresa ISSN 1677-0471versión On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.5 n.1 Porto Alegre jun. 2006

 

ARTIGOS

 

Psicologia educacional, forense e com adolescente em risco: prática na avaliação e promoção de habilidades sociais

 

 

Zilda A. P. Del Prette 1; Almir Del Prette 2

Universidade Federal de São Carlos

 

 

Trabalho apresentado no I Encontro de Avaliação Psicológica na formação dos psicólogos São Paulo, 29 de Março de 2004

A prática profissional da avaliação psicológica nas áreas definidas para esta mesa poderia ser abordada sob diferentes enfoques. Por exemplo, poder-se-ia tomar cada uma dessas áreas em separado e aprofundar o exame da especificidade de cada uma delas. No caso da avaliação psicológica no campo da Educação, essa análise implicaria resgatar um pouco a história da Psicologia Educacional, fortemente marcada pela Psicometria em seus primórdios. Ao lado de todo o prestígio que a Psicometria trouxe às aplicações educacionais da Psicologia, trouxe também muita polêmica e críticas derivadas da utilização dos instrumentos de medida em uma perspectiva de segregação e estigmatização.

Uma alternativa de enfoque, aqui, seria a de relacionar essas áreas entre si por meio de algum critério e abordá-las todas sob tal critério. Eu escolhi essa segunda alternativa em parte porque de fato eu vejo uma relação importante entre essas áreas quando se fala em prática profissional e, em parte, porque trabalho com uma temática - RELAÇÕES INTERPESSOAIS E HABILIDADES SOCIAIS - que é aplicável a diferentes áreas (clínica, educacional, organizacional, saúde, comunitária etc.) e, portanto, também às três que estamos abordando, seja em termos de avaliação psicológica, seja de possibilidades de intervenção.

Qualquer que seja a perspectiva adotada, acho importante ressaltar que, quando falamos de avaliação psicológica, necessariamente não estamos falando de testes psicológicos e que muitos dos instrumentos e procedimentos que utilizamos na avaliação (observação, entrevistas, questionários) não são de uso exclusivo do psicólogo, embora a avaliação psicológica seja atribuição exclusiva de nossa prática profissional.

Meu objetivo é falar das possibilidades da prática profissional em avaliação e promoção de Habilidades Sociais e Relações Interpessoais nas áreas que são foco desta mesa e contribuir com algumas questões para a discussão mais geral a respeito da avaliação psicológica. Adianto que minha experiência com Psicologia Forense é mínima e, portanto, minhas referências a essa área serão também mais reduzidas e apenas exploratórias.

 

Relações interpessoais na prática em Psicologia educacional, forense e junto a adolescente em risco

Penso que podemos situar a questão do adolescente em situação de RISCO como o elo central de um esquema que tem, de um lado a EDUCAÇÃO, ou mais propriamente, a atuação profissional em Psicologia Educacional ou Escolar, como um foco de intervenção essencialmente preventiva de riscos e outros problemas, não somente na infância e adolescência, mas também em outras etapas do ciclo vital. De outro lado, teríamos a atuação em Psicologia FORENSE como um foco de intervenções de cunho mais terapêutico ou remediativo, especialmente para aqueles adolescentes que vivenciaram situações de risco.

Esse tipo de relação faz todo o sentido no campo específico da minha atuação profissional e se relaciona com avaliação psicológica e com objetivos práticos de intervenção. Um amplo corpo de pesquisas vem mostrando que a qualidade das relações interpessoais é um indicador importante de saúde psicológica e que ela depende, em grande parte, do repertório de habilidades sociais e competência social dos indivíduos. Trata-se de um repertório que tem sido visto como um fator de proteção e resiliência e que se mostra associado a outros comportamentos adaptativos, a uma melhor qualidade de vida e ao ajustamento psicossocial em geral.

No outro lado, os déficits em habilidades sociais e a baixa competência social têm sido vistos como fatores de risco, na medida em que são sistematicamente associados a comportamentos desadaptativos (tanto do tipo internalizante como externalizante), a transtornos psicológicos na infância e a desdobramentos em outros problemas na adolescência e em etapas posteriores do ciclo vital.

Considerando a questão dos adolescentes em situação de risco e ligando-a à possibilidade de uma trajetória anti-social ou delitiva que pode torná-los usuários dos serviços de um Psicologia Forense, acho importante destacar que não estou simplificando toda essa complexa problemática (que envolve também fatores biológicos e macroestruturais) a fatores psicológicos ou, ainda mais focalmente, a questões interpessoais. Estou somente situando o desenvolvimento socioemocional como UM dos fatores associados e, nesse sentido, atribuindo à Educação, em termos mais amplos (a familiar, a das demais agências informais e a da própria mídia) um papel importante, embora não único, na amenização ou redução desse fator.

Aqui, cabe considerar, ainda, a função social das duas agências que aparecem no esquema e o papel que o psicólogo pode ou deve assumir em sua prática profissional junto a essas agências, quando voltados para as relações interpessoais.

No caso da Psicologia Forense, tomando-se apenas o segmento da prática profissional diretamente voltada para a função de ressocialização dos indivíduos, a avaliação psicológica pode se apoiar nos conhecimentos e recursos de avaliação e de intervenção derivados da Psicologia Clínica, Social e da Saúde mas, certamente, enfrenta o desafio desenvolver novas práticas mais adequadas e pertinentes aos problemas específicos desse contexto de trabalho e dessa clientela. Nesse sentido, cabe citar alguns estudos interessantes em outros países, na área de Habilidade Sociais, voltados para a reabilitação psicossocial de indivíduos que cometeram crimes violentos. Um exemplo é o trabalho conduzido na prisão de Vermont, nos Estados Unidos, chamado "terapia de adoção de perspectiva", com presos molestadores de crianças. Entendendo-se que a habilidade social da empatia constitui uma das bases do comportamento moral, os psicólogos buscavam recuperar essa habilidade, por meio de um programa que levava os presos gradualmente a: a) lerem histórias de crimes violentos como os que cometeram, mas contados na perspectiva da vítima; b) assistirem vídeos onde as vítimas contavam, em lágrimas, o que sentiram ao serem molestadas; c) escreverem sobre o próprio crime mas do ponto de vista da vítima; d) lerem a história para um grupo de terapia e tentarem responder às perguntas do ponto de vista da vítima; e) fazerem a encenação do crime, mas colocando-se no papel da vítima.

No caso da Educação, temos que lembrar que hoje, mais do que nunca, a Escola, nos seus diferentes níveis, tem sido instada a assumir um papel mais amplo que o da transmissão de conteúdos acadêmicos, para atender às demandas que os próprios problemas sociais impõem. Assim, para além do âmbito tradicional do conhecimento das letras, dos números e do mundo físico e social, a Escola é chamada para um papel mais ativo na formação geral do educando, o que envolve aquisição de novos conhecimentos que devem incluir, também, mudança de atitudes, valores e formas de convivência. Os parâmetros curriculares estabelecem formalmente esse papel por meio dos chamados "temas transversais" que devem ser abordados em articulação com os conteúdos acadêmicos. É o caso, por exemplo, de temas como ética, pluralidade cultural, relações de trabalho e consumo, meio ambiente, orientação sexual etc. Em relação às possibilidades de prática profissional do psicólogo e, em particular, da avaliação, cabe questionar:

. Como a escola tem avaliado o repertório que o aluno traz sobre esses temas e como tem avaliado a consecução de objetivos educacionais que focalizam mais do que a mera assimilação de informações, ou seja, que focalizam mudança de atitudes, valores, hábitos ou comportamentos pertinentes a esses temas?

• Que instrumentos de avaliação se encontram hoje disponíveis ao psicólogo escolar (e aos educadores em geral) para esse tipo de avaliação?

• Como a prática avaliativa pode ser hoje caracterizada nas escolas em termos de sua vinculação ideológica?

A questão das relações interpessoais e da competência social tangenciam ou cobrem grande parte dos temas transversais e tem sido, também, isoladamente, um tema recorrente no cotidiano escolar, justificando o investimento em uma prática profissional do psicólogo voltada para a avaliação e intervenção sobre o repertório de habilidades sociais de crianças e adolescentes.

Somente para exemplificar, vale lembrar as questões mais antigas quanto à disciplina e a qualidade das relações professor-aluno, clima de sala de aula e relações interpessoais que caracterizam o contexto organizacional da escola, mas também a discussão mais recente, a partir dos anos 90, sobre as propostas pedagógicas construtivistas e sócio-interacionistas. Com sua ênfase em um tipo particular de interação professor-aluno e no papel do professor como mediador de interações sociais educativas entre alunos, a discussão acabava incluindo, direta, ou indiretamente, a questão da competência interpessoal profissional do professor e, em particular, o que identificamos como "habilidades sociais educativas". Do lado do aluno, ela podia ser vista também em termos das habilidades sociais que se constituíam em pré ou co-requisito importante para atender às demandas do processo de ensino-aprendizagem. Essa associação entre habilidades sociais e aprendizagem acadêmica vem sendo exaustivamente investigada na literatura internacional com resultados indicativos de que déficits no repertório de habilidades sociais se correlacionam a dificuldades de aprendizagem e, por outro lado, que o investimento na superação desses déficits e na melhoria da qualidade de relacionamento interpessoal dessas crianças pode ser um fator de superação daquelas dificuldades.

Ao lado disso, tem-se hoje o desafio da INCLUSÃO de crianças com necessidades educativas especiais. A maior parte dos quadros de deficiência (física, sensorial ou mental) envolve comprometimento da competência social, dificultando a integração efetiva destas no ensino regular. Portanto, além das avaliações usuais relacionadas à área de cada deficiência, uma prática profissional voltada para a avaliação e promoção do repertório de habilidades sociais dessa clientela poderia ser particularmente relevante. No entanto, para que a inclusão ocorra, não basta melhorar o desempenho social das crianças com necessidades educativas especiais: é importante investir na promoção dos valores e atitudes - de todas as demais crianças e mesmo de professores - favoráveis à inclusão, tais como aceitação de diferenças, tolerância, combate ao preconceito e desenvolvimento de comportamentos pró-sociais. Essa perspectiva implicaria em um programa ainda mais abrangente na escola nessa área.

Assim, seja para contribuir na prevenção de problemas de aprendizagem que redundam em fracasso escolar, seja para maximizar o sucesso escolar e o processo de inclusão ou, ainda, para amenizar ou reduzir esse fator de risco de muitos adolescentes, entendemos como possível um maior investimento da Psicologia no campo das relações interpessoais, juntamente com os desafios que também aí se situam.

Buscado estender o campo das Habilidades Sociais a várias dessas questões candentes da Educação e da Escola, fomos identificando aí uma área ainda pouco explorada pelo psicólogo, seja em termos de avaliação, seja em termos de intervenção. Ao lado disso, também um conjunto de desafios em termos da carência de instrumentos e procedimentos de avaliação bem como de estratégias de intervenção nessa área, uma vez que praticamente só dispúnhamos de material produzido em outros países.

 

Desenvolvendo instrumentos de avaliação de habilidades sociais de adultos e crianças

Nosso esforço, enquanto grupo de pesquisa e de atuação profissional (extensão) da Universidade foi se direcionado, nos últimos anos, para suprir algumas dessas lacunas. Ao lado da produção de livros textos para nossos alunos 3, desenvolvemos materiais de avaliação que hoje estão sendo bastante utilizados e que têm uma grande aplicação nas três áreas que estamos abordando nesta Mesa (além de também na Psicologia Clínica, Organizacional, Saúde etc.).

Na parte final deste trabalho, apresentamos rapidamente dois dos principais instrumentos de avaliação com os quais vimos trabalhando e suas aplicações na prática profissional nas áreas que são foco desta mesa.

Inventário de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette4)

O IHS-Del-Prette é um instrumento de fácil aplicação com o objetivo de caracterizar o desempenho social em diferentes situações (trabalho, escola, família, cotidiano) possibilitando diagnóstico para uso na clínica, na educação, na seleção de pessoal e no treinamento profissional.

Trata-se de um inventário com 38 itens, cada um deles apresentando uma situação de relacionamento interpessoal e uma reação (socialmente habilidosa ou não) para a qual o respondente deve estimar a freqüência com que reage dessa forma. Na tabulação dos escores são invertidos os valores atribuídos aos itens que apresentavam a reação não habilidosa. O instrumento, aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia, apresenta um estrutura de cinco fatores: (1) enfrentamento/auto-afirmação com risco; (2) auto-afirmação de afeto positivo; (3) conversação e desenvoltura social; (4) auto-exposição a desconhecidos e situações novas; (5) autocontrole da agressividade) e dados normativos preliminares obtidos com um grupo amostral de 472 sujeitos de ambos os sexos, na faixa etária entre 17 e 25 anos.

O manual apresenta estudos sobre as qualidades psicométricas do instrumento 5, como análise de itens (correlação item total e índices de discriminação), consistência interna (Alfa de Cronbach = 0.75), estabilidade teste-reteste (r=0,90; p=0,001), validade concomitante com o Inventário de Rathus (r=0.79, p=0.01) e dados adicionais validade e confiabilidade da escala. O escore total e os escores de cada fator, obtidos no grupo amostral, foram convertidos em percentis para o sexo masculino e feminino.

Embora a motivação inicial, para a construção do IHS-Del-Prette, tenha sido a avaliação e promoção da competência social do psicólogo, entendida enquanto parte de sua competência profissional em um processo de atendimento individual ou em grupo, logo buscamos estender essa noção à da competência social de outros profissionais que têm, na interação, um componente crítico de sua atuação, como é o caso do professor. Ainda que a presença de habilidades sociais cotidianas, como as avaliadas no IHS-Del-Prette, não garanta um processo de ensino-aprendizagem pautado por interações sociais educativas e um efetivo compromisso com a construção social de conhecimento, a falta desse repertório compromete a qualidade das relações professor-aluno, o que também avaliamos com outros instrumentos e procedimentos que vimos desenvolvendo nos últimos anos, parte deles descritos em algumas de nossas publicações 6.

Temos utilizado o IHS-Del-Prette para avaliar intervenções em habilidades sociais (tanto as de caráter clínico como educacional), aplicando-o antes e depois do processo de intervenção, com isso verificando que se trata de uma medida útil e sensível para aferir a efetividade dessas intervenções. O IHS-Del-Prette tem sido também utilizado na avaliação do repertório de habilidades sociais de adolescentes em situação de risco 7. Em outro trabalho, Gomide8 utilizou o IHS-Del-Prette para a validação concomitante de um Questionário de Estilos Parentais, aplicado a pais de adolescentes em situação de risco, com o qual apresentou correlações positivas e significativas. Pode-se citar também sua aplicação em estudo que comparou dependentes químicos de álcool com não dependentes, identificando déficits interpessoais no primeiro grupo. Temos tido notícia de alguns profissionais que trabalham em contexto forense e que têm utilizado o IHS-Del-Prette para avaliar a competência social de internos em recuperação, com vistas à prepará-los para o contexto de trabalho e reinserção social.

Por todas as suas aplicações e qualidades referidas em muitos estudos, entendemos que o IHS-Del-Prette constitui uma ferramenta útil para profissionais que atuam em diversas áreas com interesse na questão das relações interpessoais e habilidades sociais em geral.

Inventário multimídia de habilidades sociais para crianças (IMHSC-Del-Prette9)

O Inventário Multimídia de Habilidades Sociais para Crianças (IMHSC-Del-Prette) é um sistema de avaliação que inclui tanto a auto-avaliação (com recursos multimídia em Cd-Rom e recursos visuais em versão impressa) como a avaliação pelo professor ou outro profissional relacionado à criança (em versão impressa), com os materiais adicionais usuais (fichas de resposta, cadernos, cartões etc.).

A versão multimídia é composta por arquivos de vídeo, contendo 21 seqüências filmadas que retratam situações do cotidiano escolar de crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental (1ª à 4ª séries), em suas interações com outras crianças e com adultos. Cada situação cria, portanto, um contexto onde determinada habilidade social é requerida e, para cada uma delas, são apresentadas à criança três possibilidades de reações: uma habilidosa, uma não habilidosa ativa e uma não habilidosa passiva. A versão impressa apresenta imagens digitalizadas ilustrando cada situação e reação.

Embora não esgote as possibilidades do repertório social da criança, as situações retratadas pelo IMHSC-Del-Prette permitem uma amostragem das habilidades em áreas do funcionamento sócio-afetivo (empatia e civilidade, expressão de sentimentos, comportamentos pró-sociais e cooperação, assertividade e autocontrole), que configuram a multidimensionalidade do conceito de habilidades sociais e, portanto, a sua validade de conteúdo. Essas habilidades têm sido destacadas na literatura como importantes para qualidade das relações da criança com colegas e professores, para o seu desempenho acadêmico e, a médio e longo prazo, para o seu desenvolvimento sócio-emocional e saúde psicológica.

Cada uma das reações apresentadas no IMHSC-Del-Prette (versão CD ou versão impressa) pode ser avaliada, pela criança, nos seguintes indicadores: a) freqüência estimada de emissão de cada tipo de reação; b) dificuldade para emissão da reação habilidosa; c) adequação de cada uma das três reações. Na avaliação do professor ou profissional, os indicadores avaliados são: a) freqüência de emissão de cada tipo de reação atribuído à criança que está sendo avaliada; b) importância de cada reação habilidosa para funcionamento socioemocional e rendimento acadêmico das crianças em geral; c) adequação de cada uma das três reações para funcionamento socioemocional e rendimento acadêmico das crianças em geral.

O IMHSC-Del-Prette possui Módulo Processador que permite visualizar os resultados imediatamente após a aplicação, organizando-os em Protocolos, Gráficos e Planilhas para avaliação individual e para pesquisa em larga escala. Com isso, é possível identificar pontos fortes e fracos no repertório social da criança, tomando-se como base sua própria avaliação de freqüência, dificuldade e adequação e comparando-a aos resultados preliminares de referência obtidos com 853 crianças. A avaliação do professor ou profissional sobre a freqüência das reações da criança é tomada como um critério externo para os dados de auto-avaliação, enquanto que sua avaliação de adequação de cada um dos três tipos de reações e de importância da reação habilidosa constitui indicadores de relevância e validade social dos itens contemplados no IMHSC-Del-Prette.

Os estudos psicométricos realizados apontaram, em linhas gerais 10: a) correlações positivas e significativa (p<0,01), de todos os itens com o escore total, para os dois indicadores; b) correlação significativa e positiva entre os escores de teste e re-teste para dificuldade e freqüência, com maior estabilidade para os de dificuldade; c) consistência interna com coeficiente Alpha de Cronbach de 0,6413 para freqüência e de 0,6890 para dificuldade; d) estrutura fatorial com três fatores para freqüência e quatro para dificuldade, com coeficientes alfa variando de 0,6751 a 0,4045 no primeiro caso e de 0,6274 a 0,3147 no segundo; e) correlação significativa e positiva entre a avaliação de passividade pelo professor e a auto-avaliação de dificuldade pelo aluno e correlação negativa entre a avaliação de habilidade pelo aluno e pelo professor com o grau de dificuldade de aprendizagem.

O IMHSC-Del-Prette é um instrumento que ainda não dispõe de muitos estudos de suporte, mas que pode ser muito útil para psicólogos escolares e clínicos que trabalham com crianças, não somente em termos de seus recursos de avaliação mas, também, por seus recursos multimídia que já estão sendo explorados, em alguns estudos, como material de apoio a intervenções individuais ou em grupo com crianças. Além disso, trata-se de um instrumento construído em nosso meio e com base em situações e reações típicas de nossas crianças.

 

À guisa de conclusão

Concluindo, entende-se que as áreas mencionadas nesta mesa redonda apresentam desafios e perspectivas associadas às atividades de avaliação e intervenção do psicólogo no campo específico das relações interpessoais e habilidades sociais. Tais questões devem, ainda, merecer muita atenção dos pesquisadores mas já sinalizam uma perspectiva que ultrapassa a elaboração de laudos e diagnósticos para uma articulação mais dinâmica entre as atividades de avaliação e intervenção.

 

 

 

 

Sobre os autores:

1 Zilda A. P. Del Prette: Professora Titular do Departamento de Psicologia da UFSCar.
2 Almir Del Prette: Professor Titular aposentado pela UFSCar.
Ambos coordenam o Grupo de Pesquisa Relações Interpessoais e Habilidades Sociais (www.rihs.ufscar.br)
3 Del Prette, A. e Del Prette, Z. A. P. (2001). Psicologia das relações interpessoais e habilidades sociais: Vivências para o trabalho em grupo.Petrópolis: Vozes (4 edição em 2006); Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (1999). Psicologia das Habilidades Sociais: Terapia e Educação. Rio de Janeiro: Vozes (4 edição em 2005).
4 Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2001). Inventario de Habilidades Sociais (IHS-Del-Prette): Manual de Aplicação, Apuração e Interpretação. São Paulo: Casa do Psicólogo (3 edição em 2005).
5 Ver, entre outros: Bandeira, M., Costa, M. Neves, Del Prette, Z. A. P., Del Prette, A. & Gerk-Carneiro, E. (2000). Qualidades psicométricas do inventário de Habilidades Sociais (IHS): Estudo sobre a estabilidade temporal e a validade concomitante. Estudos de Psicologia, 5(2), 401-419; Del Prette, Z. A. P, Del Prette, A., & Barreto, M. C. M. (1998). Análise de um Inventário de Habilidades Sociais (IHS) em uma amostra de universitários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 14(3), 219-228.
6 Ver, por exemplo: dois capítulos de: Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (Orgs.), (2003). Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: Questões conceituais, avaliação e intervenção. Campinas: Alínea.
7 Campos, T. N., Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2000). Sobrevivendo nas ruas: Habilidades sociais e valores de crianças e adolescentes. Psicologia Reflexão e Crítica, 3(3), 515-525.
8 Gomide, P. I. C. (2003). Estilos parentais e comportamento anti-social. In: Del rette, A. & Del Prette, Z. A. P. (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: Questões conceituais, avaliação e intervenção (pp. 21-60). Campinas: Alínea.
9 Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2005). Sistema Multimídia de Habilidades Sociais para Crianças: Manual e materiais de aplicação. São Paulo: Casa do Psicólogo; Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2003). Luz, câmera, ação: Desenvolvendo um sistema multimídia para avaliação de habilidades sociais em crianças. Avaliação Psicológica, 2(2), 155-164.
10 Parte dessas qualidades foram referidas em Del rette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2002). Avaliação de habilidades sociais de crianças com um inventário multimídia: Indicadores psicométricos associados ã freqüência versus dificuldade. Psicologia em Estudo, 1(7), 61-73.

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