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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.5 n.1 Porto Alegre jun. 2006

 

RESENHA

 

Desenho da Figura Humana - Escala Sisto. Manual

 

 

Dario Cecilio Fernandes1

Universidade São Francisco

 

 

Sisto, F. F. (2005). Desenho da Figura Humana - Escala Sisto. Manual. São Paulo: Vetor, 153 p.

Ao escolher um teste de inteligência, devem-se levar em consideração aspectos como sua concepção básica, seu caráter não invasivo e sua aceitação pelas crianças independentemente de sua idade, tendo que considerar que avaliar crianças pequenas, não alfabetizadas ou que não falam a língua do examinador e que tem diminuição da capacidade auditiva ou deficiências neurológicas. O Teste da Figura Humana é uma boa opção para a avaliação dessa população. Sua característica não verbal o torna particularmente conveniente para o exame mental das crianças estrangeiras, surdas-mudas ou com dificuldades de atenção. Essas características o tornaram um dos testes mais usados no mundo.

Sisto começa o seu manual mostrando como o constructo de inteligência mudou ao longo dos anos, e como o conceito de aptidão geral surgiu de correlações significativas entre os testes de inteligências. Entretanto, não tem sido fácil determinar quantas aptidões existem. O autor aponta várias referências que contribuíram com as diferentes idéias de aptidões, e com diversos estudos do Desenho da Figura Humana (DFH) até chegar a Goodenough, uma das primeiras estudiosas do DFH. Sisto faz um grande estudo mostrando as principais idéias defendidas por Goodnenough, como ser o estudo sobre as influências na pontuação e, por ultimo, proposta de interpretações psicológicas dos desenhos infantis. Posteriormente, o autor mostra outros sistemas de avaliações do DFH, trazendo o estudo de outros três grandes pesquisadores, quais sejam, Harris, Koppitz e Naglieri. Por ter uma literatura muito extensa, Sisto faz uma seleção desse material com vistas a mostrar um panorama das investigações que foram feitas sobre o DFH, separando os estudos, entre internacionais e nacionais.

Após esta detalhada introdução ao teste, o autor traz um levantamento bibliográfico dos estudos feitos na escala de Goodenough-Harris, Koppitz e Naglieri, que ajudaram a padronizar e validar o teste no Brasil. Na seqüência, trata dos estudos psicométricos, começando pela construção do DFH- Escala Sisto. Mostrando a importância da unidimensionalidade, o pesquisador nos traz que sua escala é unidimensional, tendo como conseqüência, que o sujeito usa a mesma habilidade para responder todos os itens e a dificuldade relativa do item permanece constante por todos os sujeitos estudados.

Em participantes, é mostrado que foram estudadas 2750 crianças, com idade variando de 5 a 10 anos, estando distribuídas da pré-escola até a quarta serie de escolas públicas e particulares, de ambos os sexos. Posteriormente, Sisto mostra como foi fornecida a instrução para a aplicação do DFH e seus critérios de correção.

Na parte subseqüente é descrito que a busca de validade do DFH tem sido principalmente em três vertentes, uma delas foi correlacionar a pontuação total com o resultado de outros testes de inteligência. Outra que mostra a evidência de validade interna dos itens, é realizada por meio de analises fatoriais ou pelo modelo Rash. Finalmente, foram buscadas correlações entre idades e as pontuações, como também diferenças de médias entre as pontuações totais e as idades. Outro detalhe importante que Sisto enfatiza, é que o DFH é uma realidade colocada pela pessoa e não imposta para a pessoa. Posteriormente são descritos as características do grupo estudado em relação ao DFH. Em seguida, é mostrada a evidência de validade relativa ao desenvolvimento, sendo utilizados coeficiente de correlação de Pearson, análise de variância, prova de Tukey, correlação de cada item com as idades e uma análise com base no funcionamento diferencial dos itens, pelo modelo de Rash.

A próxima evidência de validade descrita por Sisto é relativa à estrutura interna dos itens pelo funcionamento diferencial do item (DIF), isto é, numa leitura psicométrica, significa que a escala apresenta diferentes propriedades estatísticas em razão de diferentes grupos. Devido aos resultados dessa análise e da análise dos coeficientes de correlação item-idade geral, decidiu-se estudar os dados relativos aos gêneros separadamente.

Iniciando pelo sexo feminino, o autor descreve os participantes, e posteriormente faz um estudo de correlação entre itens e idades. Após esta análise Sisto procedeu com os estudos do ajuste do DFH ao modelo de Rash e o fator geral e saturação da escola, selecionando assim os itens em razão das três análises. Utilizou-se o mesmo procedimento para a análise da escala do sexo masculino, eliminando assim os itens não adequados.

Na parte subseqüente é fornecido os resultados dos critérios usados para a seleção dos itens em relação a ambos os sexos. Com a aplicação desses critérios foram selecionados 30 itens, os quais foram usados para compor a escala. Depois das análises feitas, as escalas masculina e feminina apresentaram a mesma composição, apenas mudando a ordem dos itens, ficando apenas com os itens ordenados por dificuldades. Posteriormente, é fornecida a facilidade dos itens em sua escala, por porcentagens de acerto. Com base em pesquisa, foram estudado os itens com DIF no DFH- Escala Sisto. Nessa análise foi usada a análise de variância e a prova Tukey, sendo aplicado tanto no sexo feminino como no masculino.

Após os estudos psicométricos, o autor trata das evidências de validade do DFH-Escala Sisto, na qual se encontraram 12 evidências, sendo elas, evidências de validade à estrutura interna dos itens por meio do modelo de Rash para a escala masculina e feminina, evidência de validade relativa ao desenvolvimento para ambas as escalas, evidência de validade sobre a estrutura interna dos itens da escala masculina e feminina, pela saturação no fator geral, evidência de validade convergente com o Teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (CPM), evidência de validade critério por grupos extremos com o Raven, evidência de validade de critério pelos níveis de interpretação do Raven e DFH- Escala Sisto, aquisição da escrita e DFH- Escala Sisto, desenvolvimento cognitivo do ponto de vista piagetiana e DFH- Escala Sisto pela evidência de validade concorrente e evidência de validade por grupos contrastantes em relação ao desenvolvimento cognitivo na perspectiva piagetiana.

Posteriormente, são apresentados os desenhos representativos da evolução das crianças com base no critério de idade, sendo escolhidos desenhos típicos da faixa etária, podendo ser encontrados desenhos mais ou menos evoluídos. A seguir são mostrados os estudos de precisão da escala, que busca conhecer a quantidade de erro envolvida na medida realizada, tendo por base a estabilidade dos resultados tanto no instrumento como num todo como ao longo do tempo. Refere-se também à possibilidade do erro do examinador, por causa de uma dose de interpretação razoável na avaliação dos desenhos. Portanto, a precisão foi examinada por três estudos, sendo o primeiro pela consistência interna, teste-reteste e entre avaliadores.

Por último, Sisto descreve as normas de sua escala, começando por procedimento de aplicação e correção, critérios para avaliação dos itens do DFH- Escala Sisto, sendo que, este critério é dividido em duas partes: itens imprescindíveis e itens para pontuação. Posteriormente vêm as normas de interpretação, na qual está dividida em cinco subitens sendo eles: normas em relação às pontuações, normas em relação às medidas Rash, características de protocolos não interpretáveis ou não ajustados à escala, e exemplos de protocolos corrigidos. No final desse capítulo o autor traz a folha de aplicação e em anexo traz a correspondência entre a terminologia dos sistemas DFH - Escala Sisto e Goodenough.

Este manual traz uma contribuição muito grande para a área de Avaliação Psicológica, por ser um teste que apresenta estudos confiáveis, com várias evidências de validade e mostra um grande estudo no DFH, um tema há muito tempo estudado, sendo um texto que necessita um conhecimento de estatística, pois o autor mostra todas as análises e estudos feitos por ele até encerrar e chegar a sua escala final. Com um linguajar técnico, porém acessível, é recomendado para psicólogos interessados em estudar o DFH, estudantes da graduação e da pós-graduação.

 

 

Sobre o autor:

1 Dario Cecilio Fernandes: acadêmico em Psicologia pela Universidade São Francisco. E-mail: dario.fernandes@gmail.com

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