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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.5 no.1 Porto Alegre June 2006

 

RESENHA

 

Facetas do fazer em avaliação psicológica

 

 

Tatiana Freitas da Cunha1

Universidade São Francisco

 

 

Noronha, A. P. P., Santos, A. A. A., & Sisto, F. F. (2006). Facetas do Fazer em Avaliação Psicológica. São Paulo: Vetor.

O contexto da avaliação psicológica é caracterizado por diversos temas, perspectivas e abordagens, reflexos do interesse pelo estudo do também diversificado funcionamento psicológico humano. Ou seja, é um contexto de diversas facetas, que por sua vez refletem as diversas experiências humanas.

O livro Facetas do Fazer em Avaliação Psicológica, organizado por Ana Paula Porto Noronha, Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Fermino Fernandes Sisto retrata um panorama do atual cenário promissor da avaliação psicológica no Brasil, expondo em doze capítulos avanços preciosos e diversificados sobre o ensino e a pesquisa da avaliação psicológica no país.

O livro se inicia com o capítulo Avaliação da Conjugalidade, escrito por Cilio Ziviani, Terezinha Féres-Carneiro, Andrea Seixas Magalhães e Julia Bucher-Maluschke. Os autores discutem a avaliação psicológica da conjugalidade a partir de três estudos. Colocam em destaque a conjugalidade e sua influência na saúde emocional do casal, discorrem sobre a análise da contribuição das partes no todo conjugal e discutem a conjugalidade refletida nos padrões de relacionamento familiares, detalhando instrumentos que vêm sido desenvolvidos para avaliar estes dois últimos aspectos.

A fim de disponibilizar informações acerca do uso de métodos de análise cada vez mais sofisticados no que se refere à precisão e interpretabilidade de um teste, Fermino Fernandes Sisto, Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Ana Paula Porto Noronha disponibilizam o texto Uso do Rasch para delimitação de critérios hierárquicos para o Teste de Bender. A preocupação central dos autores se refere à necessidade das categorias de um instrumento psicológico serem claramente definidas, permitindo uma classificação mais adequada dos sujeitos que são testados. Neste sentido, eles fazem uso do modelo de Rasch para avaliar e verificar o ajuste das categorias de ordenação do Teste de Bender, buscando a determinação de categorias mais discriminativas de respostas ao instrumento e, consequentemente, o aumento da precisão nos critérios de correção.

Avaliação psicológica infantil: aspectos cognitivos e neuropsicológicos é o título do capítulo escrito por Patrícia Waltz Schelini, Vera Lúcia Trindade Gomes e Solange Muglia Weschler. Nele as autoras discutem o conceito da avaliação psicológica infantil expondo duas das principais contribuições para a compreensão do funcionamento intelectual da criança, advindas da psicologia cognitiva e da neuropsicologia. Através da exposição dos modelos mais recentes de avaliação das habilidades cognitivas, e da contribuição da neuropsicologia para intervenções terapêuticas específicas, elas demonstram a importância dos fatores biológicos, estruturais, educacionais e ambientais no processamento intelectual.

No capítulo Reflexões sobre a construção de instrumentos psicológicos informatizados, Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly e Ana Paula Porto Noronha discorrem sobre a construção de instrumentos psicológicos no Brasil. Dentro desse contexto, traçam um panorama do desenvolvimento de instrumentos informatizados na avaliação psicológica, propondo que a avaliação informatizada enquanto modelo de construção para testes têm se mostrado um recurso bastante crescente nos mais variados contextos da avaliação. Para as autoras os avanços nos estudos nessa área devem, portanto, ser realizados com o intuito de se ampliar as possibilidades e recursos desse tipo de avaliação.

Em Estratégias de aprendizagem: conceituação e avaliação, Evely Boruchovitch e Acácia Aparecida Angeli dos Santos discorrem sobre o contexto das estratégias de aprendizagem, destacando a importância das mesmas em todos os níveis de escolarização, bem como ressaltando que a identificação dos elementos capazes de incrementar o processo de aprendizagem e proporcionar aos alunos o controle sobre a capacidade de processamento de informações é um grande desafio para educadores e pesquisadores. Além de uma revisão conceitual acerca do contruto, as autoras traçam um panorama dos instrumentos disponíveis na literatura internacional para avaliação das estratégias de aprendizagem, bem como explicitam os principais estudos nesse sentido que vem acontecendo no Brasil.

Introduzindo uma temática discutida em mais dois capítulos do livro, Denise Ruschel Bandeira, Clarissa Marceli Trentini, Gustavo Espíndola Winck e Luana Lieberknecht propõem em Considerações sobre as técnicas projetivas uma discussão sobre a legitimidade das técnicas projetivas enquanto instrumentos usados para a avaliação psicológica, defendendo que os mesmos são importantes recursos de acesso a aspectos intrínsecos dos sujeitos. Nesse sentido, os autores posicionam as técnicas projetivas dentro do contexto atual da área da avaliação psicológica, trazendo informações sobre a caracterização dos instrumentos projetivos, sobre os pressupostos que fundamentam esse tipo de técnica, além das suas aplicações. Defendem que a adequada administração das informações avaliadas através desses instrumentos depende não só dos indicadores de validade das técnicas, mas também da competência do profissional em se posicionar de forma crítica e reflexiva diante dos fenômenos humanos que busca investigar através desses instrumentos.

No capítulo Avaliação Neuropsicológica e Aprendizagem, Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla, Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly e Josiane Maria de Freitas Tonelotto expressam o interesse no desenvolvimento da avaliação neuropsicológica no Brasil. Diante de um panorama no qual notam a escassez de instrumentos precisos, validados e normatizados para pesquisa, diagnóstico e orientação da intervenção do profissional, relatam as principais contribuições na área, mais especificamente em relação à aprendizagem. Consideram que a avaliação neuropsicológica na identificação dos distúrbios da aprendizagem é fundamental e se empenham em expor com muita qualidade os instrumentos que vêm sido desenvolvidos para esse fim, dando ênfase aos contrutos Atenção e Linguagem Oral.

Desafios para a cientificidade das técnicas projetivas coloca novamente em pauta a temática projetiva, sempre muito atual na área da avaliação psicológica. Escrito por Anna Elisa de Villemor-Amaral, o capítulo faz uma análise das especificidades das técnicas projetivas. A autora expõe algumas das características desse tipo de técnica citando instrumentos, bem como tece comentários referentes às limitações das técnicas projetivas, se referindo também às dificuldades de realização de pesquisas no Brasil que tenham como foco estudos de validade, precisão e normatização desses instrumentos. Ao mesmo tempo, reitera a grande riqueza de informações que este tipo de técnica provê ao psicólogo interessado em utilizá-la, defendendo a importância da atuação científica na busca contínua pela superação dos obstáculos e por avanços no contexto dos métodos projetivos.

No capítulo Considerações sobre a validade e precisão nas técnicas projetivas, Irai Cristina Boccato Alves discorre sobre as técnicas projetivas discutindo os conceitos de validade e precisão, fazendo diversas referências a estudos relacionados a instrumentos deste tipo. Além disso, expõe os limites e avanços da aplicação dos conceitos de validação neste tipo de técnica, sem deixar de enfatizar a crucial importância da formação profissional para o uso adequado e preciso das técnicas projetivas. Defende também a necessidade de fundamentação teórica das técnicas, bem como os cuidados referentes à adaptação cultural das mesmas, quando usadas em países diferentes daquele em que foram criadas.

Saindo da temática projetiva, voltamos a atenção para um dos construtos mais estudados em avaliação psicológica, tema do décimo capítulo do livro. Em O estudo da inteligência: métodos e concepções, Ricardo Primi faz uma revisão acerca da evolução dos estudos da inteligência na Psicologia, explorando as três principais correntes encontradas na literatura especializada sobre as concepções do construto: o modelo psicométrico, o modelo desenvolvimentalista e o cognitivista. Ao dar ênfase aos aspectos metodológicos dessas abordagens no estudo da inteligência ele expõe com bastante riqueza a evolução desses estudos, trazendo muitas informações acerca dos avanços na área, bem como traçando um panorama atual sobre o estudo do contruto.

Em Algumas considerações acerca do psicodiagnóstico nos contextos jurídico/forense e clínico, Clarissa Marceli Trentini, Denise Ruschel Bandeira e Sonia Liane Reichert Rovinski trazem à tona a questão da avaliação psicológica jurídica. A partir da constatação de que a psicologia vem contribuindo de modo significativo em casos judiciais, as autoras colocam em discussão a necessidade de adaptação de instrumentos e técnicas de investigação psicológica ao contexto forense. Abordam também questões relativas à diferenciação do psicodiagnóstico no contexto clínico e no contexto judicial forense, considerando que a investigação psicológica neste último exige do profissional a familiarização com a terminologia jurídica, bem como o domínio de conhecimentos específicos da área.

A avaliação de aspectos comportamentais ou da personalidade analisados pelos psicólogos nos processos seletivos é o tema do último capítulo, Uso de instrumentos na avaliação psicológica de características de personalidade em processos seletivos, escrito por João Carlos Alchieri e Maiana Farias Oliveira Nunes. Os autores trazem informações acerca da importância dos fatores socioculturais nos aspectos psicológicos, bem como acerca dos processos seletivos e do uso das medidas de personalidade como preditoras de performance nestes processos. Ao apresentar uma revisão do instrumental usado na avaliação de características da personalidade e do comportamento em processos seletivos, eles expressam a preocupação com o uso de instrumentos com propriedades psicométricas e metodológicas precisas, descrevendo no capítulo os testes mais atuais destinados a esse uso, provendo suas principais características e informações psicométricas.

O livro se constitui como uma ferramenta essencial de atualização para profissionais da área, pois atinge com primor o objetivo dos organizadores: é um registro preciso do estado da arte que atualmente vivemos no contexto da avaliação psicológica. Vale ressaltar que o mesmo não só expõe facetas da avaliação psicológica, mas também expõe a constante preocupação com a qualidade psicométrica dos instrumentos e com a adequada formação profissional para uso dos mesmos. A criteriosa seleção dos textos fornece uma visão panorâmica extremamente rica, diversa e interessante, bem como reflete o alto nível dos pesquisadores que se dedicam aos estudos na área da avaliação psicológica no Brasil.

 

 

Sobre a autora:

1 Tatiana Freitas da Cunha: psicóloga, aluna do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia pela Universidade São Francisco. Bolsista CAPES. E-mail: tatifc@gmail.com

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