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Avaliação Psicológica

versión impresa ISSN 1677-0471versión On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.6 n.2 Porto Alegre dic. 2007

 

ARTIGOS

 

Tradução, adaptação cultural e análise de consistência interna do inventário de externalização 1

 

Translation, cultural adaptation and internal consistency analysis of the externalizing inventory

 

 

Hudson C. W. de Carvalho I, *; Ângela Maria Vieira Pinheiro II, **; Christopher J. Patrick III, ***; Robert F. Krueger III, ****; Kristian Erik Markon III, *****

I Universidade Federal de Minas Gerais
II Faculdade Divinópolis
III Universidade de Minnesota

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Externalização é uma dimensão psicobiológica ampla e contínua das diferenças individuais que explica a covariância entre transtornos relacionados ao uso de substâncias e à conduta anti-social e traços de personalidade relativos à impulsividade e agressividade. O Inventário de Externalização é uma medida válida e precisa do construto externalização. O presente estudo objetiva descrever os procedimentos utilizados para adaptar o referido instrumento a um contexto lingüístico-cultural brasileiro e apresentar dados sobre sua fidedignidade. O estudo de adaptação inclui a análise da equivalência entre as versões original e traduzida por meio de traduções reversas, pareceres de juizes, análise de bilíngües e de inteligibilidade dos itens. A análise de fidedignidade foi possibilitada pela estimação do coeficiente alpha em uma amostra de 258 estudantes universitários. Os resultados apontam para o sucesso do método utilizado para adaptar o instrumento e demonstram que a versão brasileira do Inventário de Externalização é uma medida fidedigna da externalização.

Palavras-chave: Tradução, Adaptação cultural, Consistência interna, Psicopatologia, Externalização.


ABSTRACT

Externalizing is conceived as a broad and continuous psychobiological dimension of individual differences that accounts for the covariance among mental disorders related to substance use and antisocial behavior and personality traits related to impulsivity and aggression. The Externalizing Inventory is a reliable and valid measure of the externalizing construct. This study aims the description of the steps used to adapt the Externalizing Inventory to a Brazilian cultural context and to produce data about its reliability. The adaptation study includes analyses of content equivalence between the original and translated versions through back translations, judges' feedbacks, bilingual and item comprehensiveness analyses. The reliability analysis was implemented by the estimation of the alpha coefficient in a sample of 258 undergraduate students. Results indicate the success of the adopted adaptation procedure and also show that the Externalizing Inventory is a consistent measure of the externalizing construct.

Keywords: Translation, Cultural adaptation, Internal consistency, Psychopathology, Externalizing.


 

 

Introdução

Pesquisas epidemiológicas de abrangência populacional têm consistentemente averiguado que o padrão de covariância entre os transtornos mentais pode ser explicado por duas dimensões latentes de vulnerabilidade psicopatológicas correlacionadas (Kendler, Carol, Prescott, Myers & Neale, 2003; Krueger, Caspi, Moffit & Silva, 1998; Krueger, 1999; Vollebergh, Ledema, De Graaf, Smit & Ormel, 2001). A primeira, nomeada de dimensão de externalização, explica a associação entre transtornos relacionados ao uso de substâncias e à conduta anti-social em adolescentes e adultos, enquanto a segunda, nomeada de dimensão de internalização, explica a covariância entre transtornos fóbicos, depressivos e ansiosos em adultos. Essas dimensões são encontradas na literatura sob a rubrica de Modelo Hierárquico de Internalização e Externalização que tem sido visto como um paradigma integrativo dos construtos personalidade e psicopatologia e como uma das bases para a formulação da quinta versão do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (First, 2005; Krueger & cols., 2005; Krueger, Barlow & Watson; 2005, Kupfer, 2005). Recentemente, esse modelo foi aprimorado e discutido por Krueger e Markon (2006) em um estudo meta-analítico que aplicau equações estruturais nas matrizes de correlações tetracóricas disponibilizadas em cinco estudos epidemiológicos de abrangência populacional, a saber, os trabalhos de Krueger e colaboradores (1998); Krueger (1999); Vollenbegh e colaboradores (2001); Kendler e colaboradores (2003); e Kessler, Chiu, Demler e Walters (2005).

No que tange à dimensão de externalização, pesquisas têm demonstrado que esse construto abrange não somente síndromes psicopatológicas como também traços normais de personalidade relacionados à impulsividade e à agressividade (Krueger, Mcgue & Iacono, 2001; Krueger, 2002; Krueger, 2005). Ainda, outras evidências têm indicado que o fator de externalização é altamente hereditário (Kendler & cols. 2003; Krueger, Hicks, Patrick, Carlson, Iacono & McGue, 2002) e fortemente associado a diferentes marcadores psicofisiológicos (Hall, Bernat & Patrick, 2006; Patrick, Bernat, Malone, Iacono, Krueger & McGue, 2006), o que sugere uma consistente base biológica para o construto externalização.

Em outro estudo, Krueger, Markon, Patrick e Iacono (2005) testaram se a covariância entre transtorno de conduta, transtorno de personalidade anti-social, dependência de álcool, de maconha e de drogas seria mais bem descrita como indicadora de uma dimensão contínua e normalmente distribuída (modelo de traço latente) ou como categorias diagnósticas co-ocorrentes (modelo de classe latente) por meio da aplicação de equações estruturais. Os resultados indicaram que um modelo de traço latente é estatisticamente mais adequado, o que sugere que a dimensão de externalização é mais bem descrita como um fenômeno contínuo e normalmente distribuído.

Apesar de o desenvolvimento do construto externalização ter contemplado sua manifestação em diversos âmbitos ? genético, psicofisiológico, epidemiológico e psicométrico ?, nenhum estudo havia explorado de modo exaustivo e amplo o espectro da externalização. Assim, Krueger, Markon, Patrick, Bening e Kramer (no prelo) desenvolveram um procedimento psicométrico com o objetivo de delinear um modelo quantitativo amplamente descritivo do referido espectro de modo que todos os elementos candidatos a indicadores latentes da dimensão de externalização fossem considerados. Esse esforço resultou no desenvolvimento do Inventário de externalização, um instrumento de auto-relato, composto por 415 afirmativas, mensuradas por uma escala likert de quatro pontos - true, somewhat true, somewhat false e false - cujos itens se organizam em 23 escalas (indicadores comportamentais e traços de personalidade), que são apresentadas na Tabela 1. As propriedades psicométricas do instrumento mostraram-se surpreendentemente boas, indicando que o inventário é uma medida válida (validade fatorial), sensível às diferenças individuais e fidedigna (índices p acima de 0,9 para a maioria das escalas e para o escore total) do espectro da externalização. O desenvolvimento do Inventário de externalização representa um importante marco para o desenvolvimento do construto externalização por diferentes razões: em primeiro lugar, por permitir a estimação conjunta de diferentes indicadores da dimensão de externalização em um mesmo nível de mensuração e da própria dimensão de maneira informativa e confiável e, mais fundamentalmente, por permitir a elaboração de uma taxonomia ampla do espectro da externalização.

Em síntese, o construto ou dimensão externalização é definido como uma dimensão psicobiológica ampla e contínua das diferenças individuais que explica a variância comum entre transtornos relacionados ao uso de substâncias e à conduta anti-social e traços de personalidade relativos à impulsividade e agressividade. Krueger e colaboradores (1998), se atendo para o significado cotidiano desse construto, definem-o como uma orientação geral que coloca o indivíduo contra o mundo, seja pela agressividade ou pelo desrespeito às normas.

Tradução e Adaptação Cultural do Inventário de Externalização

A adaptação de instrumentos psicológicos - inventários, questionários ou testes - de uma língua para outra requer uma série de cuidados, incluindo uma adaptação cultural da língua de partida para aquela da língua alvo. Dessa forma, garante-se a equivalência entre a versão original e a versão adaptada do instrumento em questão. No entanto, nota-se na literatura que, na maioria das vezes, os instrumentos psicológicos são traduzidos de forma a negligenciar o impacto cultural (Hambleton & Patsula, 1998; Van de Vijver & Hambleton, 1996).

A importância de se levar em consideração o uso da língua no processo de tradução e adaptação de um instrumento se dá por duas razões centrais. A primeira se refere aos aspectos lingüísticos: não somente a linguagem se encontra inextricavelmente ligada à cultura que permitiu o seu uso e articulação (Ochs & Schieffelin, 1995), mas também os diferentes códigos lingüísticos não são isomórficos (Harkness & Shoua-Glusberg, 1998), de forma que uma expressão em inglês americano pode não apresentar uma correspondência perfeita no português brasileiro, por exemplo. A segunda razão se refere diretamente ao procedimento de validade de construto. Smith (2005) pondera que o termo validade de construto não se limita unicamente aos procedimentos de validação de instrumentos psicológicos, mas sim e prioritariamente, ao processo de validação de um modelo teórico por meio de métodos quantitativos. Dessa maneira, todo e qualquer estudo científico que utiliza medidas psicológicas padronizadas - testes, inventários ou escalas - contribui significativamente para o status científico da teoria que motivou e deu suporte para o desenvolvimento dessas mesmas medidas. Nesse contexto, a adaptação e validação de instrumentos para contextos culturais diferentes daquele em que o instrumento foi desenvolvido tem tido grande destaque por trazer informações acerca da universalidade de modelos psicológicos. Uma forte evidência disso é o crescente número de publicações científicas com o objetivo de se verificar a estabilidade da estrutura fatorial de modelos psicológicos em diversas culturas (Barrett, Petrides, Eysenck & Eysenck, 1998, McCrae & Costa, 1997; Terracciano & colaboradores 2005, por exemplo).

 

 

Assim sendo, uma preocupação ao se traduzir e adaptar o Inventário de externalização para o português brasileiro foi a de garantir a equivalência do conteúdo dos itens entre a versão original e a versão traduzida. Para tanto, o delineamento de pesquisa utilizado para traduzir e adaptar o inventário foi desenvolvido com base nas indicações de Pasquali (1998; 2000) e na própria experiência de pesquisa do primeiro autor deste artigo (Carvalho, Mansur & Flores-Mendoza, 2004). O delineamento resultante culminou em seis diferentes etapas que serão descritas na seção de método do Estudo I.

Objetivos

O presente estudo objetiva descrever o procedimento proposto para a tradução e a adaptação do Inventário de externalização para um contexto lingüístico-cultural brasileiro, mais especificamente o de Minas Gerais, e avaliar a sua eficácia. Objetiva ainda disponibilizar dados sobre a consistência interna da versão brasileira do Inventário de externalização em uma amostra composta por universitários mineiros tanto para seu escore total quanto para as suas escalas isoladamente.

Este trabalho está dividido em dois estudos: o Estudo I descreve o procedimento e os resultados referentes ao estudo de tradução e de adaptação do conteúdo do Inventário externalização e o Estudo II se refere à análise de consistência interna efetuada com a versão brasileira do Inventário de externalização por meio da estimação do coeficiente alpha.

 

ESTUDO I - TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO DO INVENTÁRIO DE EXTERNALIZAÇÃO

 

Método

O procedimento proposto para o estudo da tradução e da adaptação do Inventário de externalização se divide em seis etapas, a saber: (1) tradução da versão estrangeira de um instrumento para a língua alvo, no caso, tradução do inglês para o português brasileiro; (2) tradução reversa do português brasileiro para a língua de partida (inglês); (3) comparação da tradução reversa, gerada a partir da versão em português, com a versão original (em inglês) e identificação dos itens cuja tradução não reflete exatamente o sentido original em inglês e que, em decorrência, apresentam necessidade de adequação semântica; (4) reescrita dos itens que apresentam necessidade de adequação semântica; (5) administração da versão original e traduzida do instrumento, no caso, o Inventário de externalização, a uma amostra de bilíngües com um intervalo de quinze dias entre uma aplicação e a outra e análise da consistência entre as respostas dadas por meio de índices de correlação de Spearman; (6) análise da inteligibilidade dos itens realizada a partir do desenvolvimento de uma lista com os itens que apresentam problemas semânticos identificados na etapa cinco.

A tradução da versão em inglês do Inventário de externalização para o português brasileiro (etapa 1) foi realizada por um lingüista brasileiro (professor de inglês) que também possui o título de bacharel em Psicologia. Cuidou-se que o referido tradutor recebesse, juntamente com o material a ser traduzido, informações referentes às características da população-alvo e a definição constitutiva do construto externalização. Assim que a tradução foi concluída, os dois primeiros autores desse manuscrito conferiram, independentemente, a acurácia da tradução e propuseram as modificações que julgaram necessárias.

A tradução reversa, do português brasileiro para o inglês (etapa 2), foi executada por um falante de inglês britânico como língua materna, professor de ensino de inglês como língua estrangeira na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, altamente proficiente em português. Este foi um procedimento cego, de forma que o tradutor não teve acesso à versão original do inventário. Essa etapa teve como objetivo possibilitar a avaliação da correspondência entre as versões traduzida e a original do inventário. Quando concluída, a tradução reversa foi enviada ao grupo de Krueger, autores da versão americana do inventário e co-autor desse estudo, para apreciação da semântica dos itens (etapa 3). Devido às recomendações de reformulações adicionais de alguns itens (etapa 4), houve, para esses itens, a necessidade de se utilizar o serviço de tradução reversa de outros dois lingüistas, especialistas em tradução.

Subseqüentemente, as versões original e traduzida do instrumento foram administradas a uma amostra de universitários bilíngües (etapa 5). Objetivou-se aí avaliar a consistência entre as respostas dadas ao Inventário de externalização em sua versão original e em sua versão traduzida por um grupo de jovens tidos como proficientes em sua língua materna, o português, e em inglês, a língua na qual o instrumento em questão foi formulado - o chamado grupo bilíngüe. A expectativa é a seguinte: se as duas versões do Inventário de externalização - a americana e a brasileira - são equivalentes e se os participantes apresentarem um nível aproximado de proficiência nas duas línguas, correlações significativas serão encontradas nas respostas dadas pelos participantes nas duas versões do instrumento.

Os protocolos referentes aos 24 participantes bilíngües foram tabulados em uma matriz de dados do SPSS para Windows 14ª versão. A consistência entre cada item da versão americana do inventário e seu correspondente na versão brasileira foi analisada por meio de análise de correlação de Spearman, totalizando 415 correlações.

Por fim, a análise de inteligibilidade dos itens (etapa 6) buscou investigar o nível de compreensão dos itens identificados como problemáticos na análise bilíngüe. Em conjunto, esses itens serviram de base para se compor uma lista que foi exposta aos participantes por meio do procedimento de brainstorming (Pasquali, 2000), a fim de que a inteligibilidade de cada item fosse avaliada. Esse procedimento consiste em solicitar aos participantes que leiam e relatem, individualmente, o que entendem sobre cada um dos itens da lista. Com base na qualidade e na unanimidade das respostas obtidas, averigua-se se o significado do item foi apreendido por parte de cada participante conforme o esperado.

Participantes

Participaram da etapa bilíngüe (etapa 5) 24 bilíngües, selecionados por meio da indicação de professores de inglês do curso de Letras da UFMG (habilitação em inglês) e de um curso particular de inglês, ambos situados em Belo Horizonte. Todos os participantes tinham certificados reconhecidos de proficiência em inglês como língua estrangeira e 11 deles já haviam tido experiência mínima de seis meses de moradia em um país de língua inglesa. A idade média dos participantes era de 22 anos e todos estavam cursando ou já haviam completado o ensino superior.

Participaram do estudo de inteligibilidade dos itens (etapa 6) oito indivíduos com nível educacional equivalente ao ensino médio, naturais de Belo Horizonte, selecionados pela equipe de pesquisa.

 

Resultados

A análise da tradução reversa realizada pelo grupo de Krueger (etapa 3) culminou com a identificação de 80 itens (19,2% do total de itens) cuja tradução não parecia refletir exatamente o sentido original em inglês. A apreciação feita sobre cada um desses itens foi tomada como referência para a sua reescrita em português (etapa 4). Os itens reescritos foram retraduzidos para o inglês por uma lingüista americana altamente proficiente em português - novamente por meio de um procedimento cego - e reenviados ao grupo de Krueger para nova apreciação. Desses 80 itens, 67 necessitaram de ajustes semânticos adicionais, sendo reformulados e, então, retraduzidos por uma lingüista brasileira e reenviados para uma terceira apreciação. Por fim, foram identificados 23 itens que necessitavam de ajustes mínimos, sendo reformulados com base nas sugestões dos autores.

Ao se analisar o conteúdo dos itens que necessitaram ser reformulados três vezes, identificou-se que, em todos os casos, havia presença de gírias cuja correspondência cultural nem sempre apresentava o mesmo coloquialismo. A Tabela 2 mostra o detalhamento do procedimento de tradução e de tradução reversa de um item, dentre aqueles que necessitaram ser reformulados três vezes, em suas três versões: o item original em inglês, suas versões em português e inglês (tradução reversa) e as explicações dos autores sobre o significado do item mediante a incompatibilidade entre o significado contido na versão original e na versão traduzida do item.

Com relação à etapa bilíngüe, de um total de 415 correlações efetuadas entre os itens originais e os traduzidos, 69 (cerca de 16,6% do total) apresentavam índices não significativos (menores que 0,4), 313 (cerca de 75,42% do total) mostravam índices significativos (entre 0,4 e 0,99) e 33 (cerca de 7,95% do total) evidenciaram índices perfeitos de correlação.

Para se obter uma maior compreensão dos 69 itens com índices não significativos de correlação, efetuou-se uma segunda análise em que apenas os dados referentes aos 11 participantes que haviam morado por minimamente seis meses em algum país de língua inglesa foram utilizados. O resultado dessa análise mostrou, então, que apenas 36 itens apresentaram correlações menores que 0,4, 29 itens apresentaram correlações entre 0,4 e 0,99 e 4 itens apresentaram índices perfeitos de correlação. Como houve diminuição do número amostral de 24 para 11, foram consideradas apenas as correlações que apresentaram um coeficiente de correlação acima de 0,4, desconsiderando-se o nível de significância, já que, com essa redução de sujeitos, a correlação deveria ser muito elevada para se obter resultados significativos ao nível de 0,05.

 

 

Três hipóteses foram levantadas com o objetivo de se identificar a razão pela qual 36 itens não apresentaram índices de correlação acima de 0,4: (1) os participantes bilíngües não compreenderam adequadamente o conteúdo do item em inglês; (2) o seu equivalente em português pode ter sido mal formulado ou mal traduzido e (3) o conteúdo do item não se mostrou culturalmente válido para a estimação da tendência à externalização.

Essas hipóteses foram verificadas por meio da análise de correlação do item com o escore total no inventário (correlação item-total). Dessa maneira, se um item em português apresentasse uma correlação significativa com o escore total em português, teríamos evidência de que o item mede o mesmo construto que o teste como um todo e, portanto, provavelmente, o problema relativo à baixa correlação estabelecida entre um item e o seu correspondente em inglês está na compreensão do item em inglês por parte dos respondentes. Se o padrão oposto for o encontrado, ou seja, um item em inglês apresentar elevada correlação com o escore total em inglês e o seu correspondente um baixo índice em português, teríamos, então, um indicativo de que o item em inglês mede o mesmo domínio que o inventário e a baixa correlação com o seu correspondente em português é fruto de sua má formulação/tradução. Caso fossem encontradas baixas correlações item-total em ambas as versões do inventário, a hipótese três, de inadequação cultural do item, confirmar-se-ia.

Dos 36 itens assim avaliados, somente seis geraram baixas correlações com o escore total em português, atestando sua má formulação ou tradução, sendo reformulados previamente à etapa de inteligibilidade dos itens. Outros sete itens geraram baixas correlações com ambos os escores, indicando inadequação cultural. Todo o restante (23 itens) apresentou elevada correlação item/total em português e baixo em inglês, demonstrando incompreensão do item em inglês pela amostra. Além disso, o escore total da versão americana foi correlacionado (r de Pearson) ao escore total da versão brasileira e encontrou-se um escore significativo, ao nível de 0,05, equivalente a 0, 96.

Os resultados da análise de inteligibilidade de itens apontaram para a necessidade de reformulação semântica de apenas três itens dentre os 13 que compunham a lista, levando à modificação de eu sou uma pessoa que faz planos para eu sou uma pessoa que faz planejamentos, de eu já restringi alguém fisicamente para eu já forcei alguém fisicamente e de às vezes, eu gosto de pressionar as pessoas e fazer com que elas me obedeçam para às vezes, eu gosto de mandar (controlar) nas pessoas. Nos três casos, os itens faziam parte daqueles identificados na análise bilíngüe como "culturalmente inadequados".

O trabalho de tradução (etapa 1-4) e de ajuste da tradução original (etapas 5 e 6) culminou na versão brasileira do Inventário de externalização, cujos itens foram submetidos à análise de consistência interna.

 

ESTUDO II - ANÁLISE DE FIDEDIGNIDADE

 

Método e Participantes

O estudo contou com a participação voluntária de 258 universitários (39,1% de homens) que responderam coletivamente, em sala de aula, durante o período letivo, à versão brasileira do Inventário de externalização. O instrumento foi aplicado por estudantes de Psicologia devidamente treinados e que já haviam cursado as disciplinas referentes à avaliação psicológica do curso de psicologia da UFMG.

Os respondentes eram originários de diferentes áreas de formação, de maneira que 16,7% eram estudantes da área de saúde (Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia ocupacional), 45,7% da área de ciências humanas (Psicologia, Letras, Antropologia e Comunicação social) e 37,6% da área de artes (Artes cênicas, Design gráfico e Design de produtos). A Tabela 3 traz uma descrição detalhada da amostra estudada.

 

 

Resultados

A consistência interna do Inventário de externalização, levando-se em consideração os 408 itens analisados para este fim, mostrou-se admirável, alcançando um coeficiente alpha total de 0,983. A redução do número de itens de 415 para 408 se justifica pela exclusão automática pelo aplicativo (SPSS) dos itens de número 61 (Eu já usei uma arma em uma briga), 86 (Eu já injetei drogas), 101 (Eu já deixei de pagar a pensão alimentícia), 117 (Eu já comprei coisas usando um cartão de crédito ou seu número roubado), 208 (Eu já usei uma arma para conseguir algo que eu desejava), 271 (Eu já fui indiciado(a) por agressão) e 387 (O meu hábito de beber já me causou problemas com a lei), já que eles não apresentaram variabilidade quanto às respostas dadas.

O conteúdo dos itens excluídos descreve comportamentos com um grau relativamente alto de tendências externalizantes. Por conseguinte, um indivíduo que faz uso de drogas injetáveis, que já usou uma arma em uma briga, que já foi indiciado por agressão ou que já comprou algo com um cartão de crédito roubado, provavelmente, não se encontra entre universitários. Assim, é possível que a ausência de variabilidade de respostas dadas a esses itens se deu devido à inexistência de indivíduos na amostra estudada que pudessem se localizar no extremo de severidade da distribuição do traço na população. Acredita-se que os itens excluídos podem ser sensíveis às diferenças individuais em amostras clínicas (dependentes químicos, indivíduos diagnosticados com transtorno de personalidade anti-social) ou em situações especiais (como no sistema carcerário) e, por essa razão, foram mantidos na versão final do inventário.

A inspeção visual das correlações item/total e do coeficiente alpha if item deleted indica que, de maneira geral, os itens apresentam correlações moderadas e altas com o escore total do Inventário de externalização e que a exclusão de itens, em todos os 408 casos analisados, não contribuiria significativamente para a elevação do coeficiente alpha do teste.

Além disso, a análise de consistência interna das 23 escalas que compõem o Inventário de externalização resultou em coeficientes alpha muito bons (acima de 0,8) e admiráveis (acima de 0,9) para 19 delas, de maneira que o coeficiente mais robusto foi o da escala de uso de álcool (0,959). As escalas de agressão destrutiva, agressão física, assalto e fraude obtiveram alphas moderados, estando eles entre 0,75 e 0,764. A Tabela 4 apresenta cada uma das escalas do Inventário de externalização, destacando o número de itens e os coeficientes alpha e um exemplo de item para cada uma das escalas, além do coeficiente alpha total do inventário.

 

 

Discussão

A presente pesquisa teve como objetivo geral traduzir e adaptar o Inventário de externalização desenvolvido por Krueger e colaboradores (no prelo) para o português brasileiro de modo a possibilitar sua utilização em adultos, independentemente de seus perfis educacionais e psicológicos. Esse instrumento possibilitará a avaliação de toda a amplitude do espectro de externalização, desde suas manifestações mais tênues e normais até suas manifestações mais intensas e patológicas. Esse objetivo foi atingido por meio de dois estudos independentes. O estudo I objetivou descrever os procedimentos referentes à tradução e à adequação dessa tradução. O Estudo II centrou-se na análise de consistência interna do instrumento por meio da estimação do coeficiente alpha.

Com relação ao Estudo I, merece destaque o procedimento cego de tradução da versão brasileira do Inventário de externalização para o inglês (tradução reversa) e a participação ativa dos autores da versão original do inventário durante todo o processo de tradução de seu instrumento para o português. Por meio da tradução reversa, Krueger e sua equipe puderam constatar a acurácia dos itens traduzidos para o português e oferecer explicações adicionais sobre o significado dos itens cuja tradução não revelou o significado sutil e subjacente de seus equivalentes na versão original. Assim, pôde-se construir versão em português do Inventário de externalização que não somente manteve-se fiel ao significado das informações contidas no original, mas também preservou o seu mesmo formato.

A participação de bilíngües permitiu a verificação da acurácia da tradução dos itens do Inventário de externalização para o português. A avaliação desses participantes se mostrou proveitosa na identificação de seis itens que necessitavam de reformulações e de outros sete que seriam, possivelmente, inadequados para a mensuração do fator de externalização no contexto de universitários mineiros e, provavelmente, de brasileiros de maneira geral. Esses resultados, todavia, não puderam ser considerados como inequívocos, uma vez que a maioria dos itens avaliados nessa etapa (23 em 36) apresentaram baixas correlações item-total com a versão em inglês e altas correlações com a versão em português, indicando limitações de compreensão do inglês por, pelo menos, parte dos bilíngües. Além disso, o número reduzido de participantes bilíngües e a dificuldade de se controlar o efeito de teste-reteste indicam a presença de variáveis intervenientes importantes.

A análise de inteligibilidade dos itens contribuiu para a reformulação de mais três itens identificados como "culturalmente inadequados" anteriormente à coleta de dados. O que garantiu a inteligibilidade do conteúdo do instrumento em camadas educacionais menos privilegiadas.

O Estudo II centrou-se na análise da consistência interna do inventário pelo método alpha de Cronbach. Os resultados indicaram que o inventário é uma medida fidedigna do fator de externalização na amostra estudada, no que diz respeito tanto à totalidade dos itens contidos no inventário quanto aos itens contidos em suas subescalas isoladamente. Outra importante implicação desse estudo se refere à noção de homogeneidade do construto implícita no coeficiente alpha. O Inventário de externalização é uma medida ampla e diversificada do fator de externalização, o conteúdo de suas 23 escalas abarca, por exemplo, desde o uso de substâncias à propensão ao tédio e desde a honestidade a diferentes modalidades do comportamento agressivo. Além disso, a estruturação dos itens é diversificada, de forma que alguns deles são afirmativas sobre a maneira cotidiana de agir e pensar e outros se referem a eventos pontuais que podem ou não ter ocorrido. Assim sendo, o elevado alpha encontrado para o referido instrumento não pôde ter sido explicado pela semelhança entre o conteúdo dos itens - que poderia ter ocorrido devido ao efeito de sobreposição do conteúdo - mas sim pelo fato de eles refletirem diferentes manifestações de uma mesma dimensão psicológica, o fator de externalização.

Com base nos procedimentos descritos, considera-se que o método utilizado para a tradução e adaptação cultural do Inventário de externalização foi bem sucedido por ter permitido que os itens originalmente formulados em inglês e traduzidos para o português brasileiro apresentassem equivalência semântica, de forma que ambas as versões refletissem o uso cotidiano da linguagem em seus respectivos contextos culturais. Todavia, recomenda-se cautela no que se refere ao uso de participantes bilíngües como uma maneira de se estimar a equivalência entre itens por duas razões principais, a saber: em primeiro lugar, é muito difícil se estimar adequadamente o nível de proficiência lingüística dos participantes na língua-alvo, principalmente no que concerne ao conhecimento de gírias e de linguagem cotidiana; em segundo lugar, essa experiência mostrou que é relativamente difícil se encontrar um número suficientemente grande de participantes verdadeiramente proficientes em língua estrangeira que permita análises mais complexas e inequívocas.

Essas razões são particularmente relevantes dependendo da similaridade das línguas em questão. Possivelmente, o sucesso de Carvalho e colaboradores (2004) no uso de bilíngües para averiguar a consistência entre a versão original e a traduzida do Big Five Questionnaire for Children deveu-se à semelhança do italiano e do português e pela intensa presença de descendentes de italianos em Minas Gerais, o que facilitou a identificação de bilíngües verdadeiros de português e italiano em Belo Horizonte. Adicionalmente, o uso de participantes bilíngües poderia ter sido mais proveitoso caso fosse possível se realizar um delineamento como o de, por exemplo, Sireci e Berbero?lu (2000) que analisaram a equivalência dos itens, em duas amplas amostras paralelas aleatórias de estudantes universitários turcos tendo como o inglês segunda língua, por meio da aplicação da teoria de resposta ao item. Este procedimento permitiu testar equivalência dos itens originais e traduzidos tendo-se como parâmetro inferências estatísticas acerca do funcionamento diferencial dos itens em ambas as línguas.

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: hdsncarvalho@yahoo.com

Recebido em Março de 2007
Reformulado em Outubro de 2007
Aceito em Novembro de 2007

 

 

Sobre os autores:

* Hudson W. de Carvalho: psicólogo e mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é professor do curso de Psicologia da Faculdade Divinópolis (www.faced.br).
** Ângela Maria Vieira Pinheiro: professora titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestra em psicologia da educação pela Universidade de Glasgow e doutora em psicologia cognitiva pela Universidade de Dundee - Escócia.
*** Christopher J. Patrick: um Starke R. Hathaway Distinguished Professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Minnesota e diretor do programa de pós-graduação em Psicologia Clínica na mesma instituição.
**** Robert F. Krueger: professor associado do Instituto de Psicologia da Universidade de Minessota.
***** Kristian Erik Markon: doutorando em psicologia clínica pela Universidade de Minnesota.
1 Agradecimentos ao CNPq que, por meio de uma bolsa de mestrado, possibilitou a realização dessa pesquisa.

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