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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.6 n.2 Porto Alegre dez. 2007

 

ARTIGOS

 

Avaliação do estresse no contexto educacional: análise de produção de artigos científicos

 

Assessment of stress in the educational context: analysis of scientific article producction

 

 

Silvia Verônica Pacanaro *; Acácia Aparecida Angeli dos Santos **

Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a avaliação do estresse no contexto educacional publicados em revistas científicas na área da psicologia classificadas como A, B e C nacional durante o período de 1996 a 2005. Para tanto, foram criadas categorias de análise, a saber, ano de publicação, freqüência de publicações sobre a temática, autoria, participantes, local em que foi realizada a pesquisa, instrumentos utilizados e referências bibliográficas. A análise desses dados possibilitou verificar um aumento da produção científica sobre o tema ao longo desses 10 anos de pesquisa sobre o assunto e ratificou a importância deste tipo de investigação para uma definição do perfil da produção científica sobre um determinado tema, apontando caminhos para o desenvolvimento de novos estudos.

Palavras-chave: Estresse, Avaliação psicológica, Produção científica.


ABSTRACT

The present study aimed to objective carry through a literature revision on stress it in the educational context through scientific magazines in the classified area of psychology, classified about A, B and C national during the period of 1996 the 2005. The categories of analysis had been, year of publication, magazines that had more published articles about the subject, institution of origin of the author, only or multiple authorship, participant, local where it was carried through the used research, instruments and bibliographical references. The analysis of these data made possible to verify an increase of the scientific production on the subject throughout these 10 years of research on the subject and ratified the importance of this type of inquiry for a definition of the profile of the scientific production on one determined subject, pointing ways with respect to the development of new studies.

Keywords: Stress, Psychological assessment, Scientific production.


 

 

Introdução

Atualmente, vive-se um tempo de grandes exigências de realizações pessoais e profissionais, além de demandas sociais das mais variadas, gerando muitas e difíceis tomadas de decisões. Lipp, Souza, Romano e Covolan (1991, p. 20) caracterizam o estresse como "um conjunto de reações que temos quando algo acontece que nos amedronta, nos irrita, excita ou nos faça extremamente felizes". Pode-se considerar que qualquer situação, boa ou ruim, que leva a uma quebra da homeostase do ser humano e possibilita uma adaptação, gera estresse, mas que só será prejudicial se houver uma predisposição do indivíduo para tanto.

Assim sendo, a resposta ao estresse é o resultado da interação entre características da pessoa e as demandas do meio em que vive, e está relacionada aos aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Em que pese que diferentes situações estressoras ocorram ao longo dos anos, ressalta-se que as respostas variam entre os indivíduos e nas formas de manifestação, podendo até ocasionar algumas patologias como, por exemplo, depressão, ansiedade, dentre outras (Margis, Picon, Cosner & Silveira, 2003).

Rangé (2001) faz uma interessante recuperação dos primeiros achados sobre o conceito, introduzido em 1956 por Selye, que segundo seu propositor, se desenvolve em três fases, a saber, alerta, resistência e exaustão. A fase de alerta é considerada a fase positiva, visto que prepara a pessoa para enfrentar a situação, para em seguida retomar o seu equilíbrio. Caso o estressor não seja eliminado, o organismo passa para a segunda fase, a de resistência, na qual a pessoa tenta se adaptar, gastando muita energia para lidar com o fator estressante. Já na fase de exaustão há um forte desgaste do organismo, podendo surgir patologias, como já mencionado. Em todas as fases há a prevalência de alguns sintomas, que variam de intensidade, como, por exemplo, sensação de desgaste físico constante, aumento da hipertensão arterial, irritabilidade excessiva, mudança extrema de apetite, tontura freqüente, úlcera, cansaço excessivo, angústia, perda do senso de humor, dentre outros.

Uma quarta fase foi identificada por Lipp (1996) e chamada de quase-exaustão. Segundo a autora, encontra-se entre as fases de resistência e exaustão, provocando na pessoa uma sensação forte de esgotamento, afetando a memória e aumentando a chance de descontrole emocional. É importante lembrar que, nem sempre a pessoa passa pelas quatro fases, e só alcançará a fase de exaustão quando o estressor for muito grave e não conseguir se adaptar à situação.

O estresse está sendo investigado por muitos pesquisadores de diversas áreas de conhecimento, principalmente os da área da psicologia. Os estudos sobre o estresse dependem muito da identificação de formas adequadas de avaliação desse construto, o que implica na construção de instrumentos psicológicos elaborados para esse propósito, com parâmetros psicométricos adequados que garantam sua eficácia como medida (Lucarelli & Lipp, 1999, Lipp, 2003; Guimarães, 2003).

Os instrumentos psicológicos são utilizados por profissionais da psicologia e podem fornecer dados importantes referentes à elaboração de um diagnóstico num processo de avaliação. Segundo Noronha e Vendramini (2003), para que os testes ou instrumentos sejam úteis e eficientes, devem passar por processos que comprovem suas qualidades psicométricas e também atender as especificações que garantam o reconhecimento e a credibilidade por parte da sociedade e da comunidade científica. Nesse sentido, alguns instrumentos brasileiros vêm sendo propostos como alternativas para a investigação do estresse (Wechsler, 1999, Pasquali, 2001, Lipp, 2003)

Dentre as pesquisas que elegeram a situação escolar como contexto para o estudo do estresse, algumas delas merecem ser destacadas para demonstrar as várias formas como o tema vem sendo estudado. Diferentes populações têm sido focalizadas nessas pesquisas, sendo que muitas delas são voltadas para o início da fase escolar, de pré-escola ao ensino fundamental (Mulatu, 1995; Vilela, 1995; Lipp e Tanganelli, 1998; Lemes, Fisberg, Rocha, Ferrini, Martins, Siviero e Ataka, 2003; Calais, Andrade e Lipp, 2003). Também pesquisas com o estresse de professores têm sido relatadas Benevides-Pereira, Justo, Gomes, Silva e Volpato (2003), avaliando os sintomas de estresse em educadores brasileiros; Kristensen, Leon, D'Incao e Dell'Aglio (2004) avaliando o impacto de eventos estressantes em adolescentes; dentre outros. Outros estudos foram realizados na população universitária, especialmente com alunos de psicologia e medicina (Baptista & Lara Campos, 2000; Furtado, Falcone & Clark, 2003).

Também se observa na literatura o emprego de outro construto relacionado ao estresse que surgiu na década de 1990, especialmente quando associado ao contexto do trabalho, sendo chamado de Síndrome de Burnout. Essa síndrome é conceituada por França e Rodrigues (1999) como uma resposta emocional a situações de estresse crônico decorrente de relações intensas em situações de trabalho, que envolvem interações com outras pessoas. Como em outros ambientes de trabalho, o Burnout na educação é um fenômeno complexo e multidimensional resultante da interação entre aspectos individuais e o ambiente de trabalho. Esse ambiente não envolve somente a sala de aula ou a escola, mas todos os fatores envolvidos nesta relação, incluindo os aspectos macrossociais como políticas educacionais e sócio-históricos (Carlotto, 2002).

Entre as pesquisas realizadas no contexto educacional sobre a síndrome Burnout, pode-se citar pesquisas de Silva e Carlotto (2003) em professores da rede pública de ensino e Mallar e Capitão (2004) estudando evidências de validade sobre o Burnout e Hardiness em professores que trabalham com alunos portadores de necessidades especiais.

O presente estudo tem por finalidade avaliar o uso de instrumentos de avaliação psicológica em estudos divulgados em periódicos científicos na área da Psicologia, delimitado ao contexto educacional. Para tanto, escolheu-se o construto de estresse que é de interesse para a área, verificando as publicações nas quais ele tem sido investigado em situações escolares.

Segundo Witter (1999), a publicação do que foi produzido deveria ser prática constante em todas as ciências, pois há um grande volume de pesquisas que vem sendo realizadas em todas as áreas da ciência e na maioria das vezes permanecem somente no âmbito acadêmico, como literatura cinzenta, ou seja, divulgadas como textos de dissertações, teses e mesmo relatórios técnicos. Domingos (1999) refere-se à produção científica como uma geração de conhecimento pelo pesquisador e à publicação dos resultados obtidos em um trabalho para a sociedade. Um dos elementos fomentadores de novas pesquisas surge a partir da análise metacientífica, ou seja, da verificação da produção científica que indicará profundidade e a amplitude do conhecimento nas diversas áreas.

A literatura registra no se refere à publicação da produção científica, que cerca de 70% dos periódicos latino-americanos não estão incluídos em nenhum indexador, redundando em uma baixa visibilidade (Gibbs, 1995). Estudo realizado por Meneghini (1998) relata um crescimento de 65% da produção científica nacional de 1987 a 1998 em relação a outros países da América Latina como Chile e Argentina, por exemplo.

Com relação à produção na psicologia, Oliveira (1998) realizou pesquisa sobre a análise da produção científica no período de 1992-1996. Seus resultados apontaram que a média anual de publicações de artigos no Brasil é de aproximadamente 1,3 e no exterior, de 0,3 entre os pesquisadores da área da Psicologia apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na modalidade Produtividade em Pesquisa. Dentre as áreas avaliadas no estudo (Agronomia, Medicina, Física, Química, Educação e Psicologia), a Psicologia apresentou as médias mais baixas.

Yamamoto, Souza e Yamamoto (1999) realizaram um levantamento da produção científica na psicologia em periódicos brasileiros entre 1990-1997. Os autores analisaram seis periódicos especializados da área, de circulação nacional, sendo (Psicologia: Teoria e Pesquisa; Psicologia: Reflexão e Crítica; Psico; Arquivos Brasileiros de Psicologia; Psicologia USP e Boletim de Psicologia). Foram examinados três aspectos principais, a saber, política de publicação desses periódicos, os perfis dos autores e das instituições as quais eles pertencem. Foram encontrados 749 artigos distribuídos pelas 80 edições dos periódicos. Os principais resultados apontaram que há poucos autores publicando sistematicamente no Brasil, que essa produção está fortemente concentrada em instituições nas regiões Sul e Sudeste e que as universidades públicas são mais produtivas. Foi verificada uma relação entre a quantidade de artigos publicados e a existência de programas de pós-graduação nessas universidades e entre a afiliação institucional dos autores e o periódico no qual publicam.

No que se refere à produção científica Gargantini e Oliveira (2003) realizaram uma pesquisa em relação a estratégias educacionais. Os autores analisaram a produção no periódico Journal Educational Psychology no período de 2001 a 2002, focalizando título, autoria, tipologia das pesquisas, sujeitos e temas. Dentre os resultados obtidos, observou-se que a ocorrência de autoria múltipla prevaleceu em 86,7 % em 2001 e 91,1% em 2002.

Com relação à produção científica do contexto educacional, Oliveira, Cantalice, Joly e Santos (2006) analisaram artigos científicos no período de dez anos (1996 - 2005) da Revista Psicologia Escolar e Educacional. Foi investigado os critérios, a saber, autoria, temática, discurso e análise de avaliações. Os resultados obtidos demonstraram que houve um aumento do número de artigos nos últimos cinco volumes, bem como manteve a regularização de sua periodicidade. A maior parte das publicações era relacionada à pesquisa de campo e a região sudeste foi a que apresentou maior número de trabalhos. Em relação aos participantes, o ensino superior foi o mais investigado e o médio o menos focalizado. Pode-se concluir que houve um aumento de número de pesquisa na área educacional, mas ainda há muitos aspectos para serem explorados.

Em outra pesquisa, Souza Filho, Belo e Gouveia (2006) buscaram traçar o perfil da utilização dos testes psicológicos nas bases eletrônicas disponíveis de periódicos científicos da Capes entre os anos de 2000 a 2004. Do total foram analisadas 18 revistas e 1182 artigos, sendo a média de artigos analisados, por revista, de 65,7. Os resultados indicaram uma predominância dos artigos que não utilizaram nenhum instrumento psicológico (80,5%) e apenas 19,5% utilizaram algum tipo de instrumento. A maior concentração das produções analisadas está situada na região Sudeste com 47,5% da produção nacional. Referente as instituições mais produtivas na área de testes psicológicos destacaram-se entre as primeiras a Universidade São Francisco - USF, a Universidade de Brasília e a Universidade de São Paulo. No que tange ao aspecto da autoria em questão, cerca de 75,6% dos artigos são realizadas com autoria múltipla. Conclui-se nesta pesquisa, que a utilização dos testes psicológicos no contexto da produção nacional ainda é restrita aos âmbitos acadêmicos, na qual estão mais intensamente dedicados aos estudos dos instrumentos.

Considerando a importância de se discutir a produção científica em nosso meio, este estudo buscou-se recuperar e analisar os artigos, cujo objetivo e procedimento envolvessem a avaliação do estresse nos diferentes contextos da área educacional. Para tanto, escolheu-se as revistas científicas na área da psicologia classificadas como A, B e C Nacional na última avaliação do Qualis CAPES em 2005.

 

Método

Material

Em um levantamento empreendido pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP, 2006) em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) para fins de avaliação das publicações em Psicologia, foram registradas aproximadamente 50 revistas de âmbito nacional classificadas em A, B e C segundo a última análise realizada em 2004/2005.

Foram analisados artigos científicos sobre a avaliação do estresse no contexto educacional inseridas nestas revistas entre os anos 1996 a 2005. As revistas foram escolhidas como fonte de análise, por serem consideradas as mais qualificadas da área.

Procedimento

As pesquisas foram realizadas por meio da Internet e em bibliotecas nas quais foram feitas as pesquisas. Após o levantamento dos artigos, foram elaboradas as seguintes categorias: ano de publicação, revistas que mais publicaram artigos da avaliação do estresse no contexto educacional, instituição de origem do autor (pública ou particular), autoria (única ou múltipla), participantes, instrumentos utilizados e referências bibliográficas citadas com maior freqüência (artigos, livros, dissertações e teses).

Utilizou-se uma Ficha de Registro contendo as categorias de análise para serem lançados os dados correspondentes a cada aspecto da produção analisada e as leituras de cada um dos artigos, bem como as avaliações dos itens que constavam na Ficha de Registro. O estudo teve três momentos, primeiramente buscou-se analisar as revistas científicas classificadas como A nacional (N=29). Nesta busca, encontrou-se 18 artigos sobre o tema proposto, não alcançando o número mínimo de artigos para a análise que seria de 20 artigos. Posteriormente, analisou-se as revistas científicas classificadas como B nacional (N=10), não encontrando artigos sobre o tema. E por último verificou-se as revistas C nacional (N=11), encontrado um artigo sobre o tema, totalizando 19 artigos. Deve-se ressaltar que não houve um acesso a todas as revistas científicas classificadas como B e C, devido a dificuldade em encontrá-las em periódicos eletrônicos e na biblioteca na qual as revistas foram pesquisadas.

 

Resultados e discussão

Das revistas classificadas como A, B e C nacional, analisou-se 50 revistas científicas da área. Do total das revistas analisadas, encontraram-se artigos relacionados ao construto estresse no contexto educacional em 10 revistas, obtendo um total de 19 artigos sobre o assunto.

Observou-se que a revista científica Aletheia obteve maior número de publicação utilizando o construto estudado, correspondendo a 21 % do total da amostra, seguida da revista Psico USF, correspondendo a 15,8%. Em relação ao ano de publicação, resgataram-se artigos dos últimos 10 anos (1996 - 2005). Este estudo observou que o maior período de publicação sobre o assunto se concentrou durante os anos de 2002 a 2005, na qual correspondeu a 78,9% da amostra, comparando com os anos anteriores, destacando-se um aumento dos últimos quatro anos sobre a avaliação do estresse no contexto educacional. Este dado pode ser corroborado com os achados de das pesquisas realizadas por Menighini (1998) em relação ao aumento da produção cientifica, indicando uma preocupação das agências de fomento em relação à ampliação de investimentos de pesquisas, na qual promove o aumento de produção e pesquisa realizada por Oliveira, Cantalice, Joly e Santos (2006) em relação ao aumento das publicações dos últimos cinco volumes publicados pela revista Psicologia Escolar e Educacional.

Exploraram-se os resultados referentes à instituição de origem do autor e à freqüência de autoria dos artigos. Pode-se observar que os autores oriundos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas publicaram mais artigos na área, correspondendo a 21% da amostra. Isto pode estar relacionado a esta Universidade ter uma linha de pesquisa na Pós-graduação Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado) sobre o construto estresse. Também foi explorado a distribuição geográfica dos artigos e pode-se observar que as Universidades prevaleceram nas regiões Sul (49 %) e Sudeste (49%), com prevalência nas particulares como as que mais produziram artigos neste período. Yamamoto, Souza e Yamamoto (1999), constata em sua pesquisa a prevalência da produção científica nestas regiões. Mas no que tange a prevalência de Faculdades/Universidades públicas e particulares, diferente dos achados nesta pesquisa, os autores encontraram maior número de publicações nas Universidades públicas.

Em relação à autoria dos artigos foram divididas em categoria única e múltipla. Refere-se à autoria única à produção isolada por um único autor e autoria múltipla, referente a trabalho conjunto entre pesquisadores. Os dados obtidos mostraram a prevalência da autoria múltipla (95%) em todas as universidades mencionadas neste estudo, havendo preferência dos autores em escrever seus artigos em grupos de pesquisadores. Estes achados correspondem com a pesquisa realizada por Gargantini e Oliveira (2003), que entre os fatores analisados, os autores mostraram a relevância da autoria múltipla nas publicações encontradas nos periódicos analisados e no artigo de Souza - Filho, Belo e Gouveia (2006) na qual se destaca que 75,6% eram de autoria múltipla.

No que tange à categoria participante, optou-se por dividí-los pela etapa de escolaridade, a saber, (a) ensino fundamental (1º a 8º série); (b) ensino médio (1º, 2º e 3º anos do segundo grau); (c) alunos universitários e (d) professores (do ensino fundamental, médio, graduação e pós-graduação). As pesquisas concentraram-se mais em alunos do ensino fundamental, na qual correspondeu a (42 %) da amostra. Estes achados podem ter ocorrido devido ao fato da presente pesquisa ser sobre o estresse no contexto educacional, ocorrendo maior participação do ensino fundamental. Também deve-se levar em conta o fato de ter instrumentos validados para esta população, como demonstra estudo de Lucarelli e Lipp (1999) que validaram uma Escala de Stress Infantil.

Ao que se refere aos números de sujeitos, observou-se que na maior parte das pesquisas houve uma variação no tamanho da amostra desde amostras menores que 100 até maiores que 300 sujeitos. Ainda com relação aos participantes, abriu-se uma categoria em relação às escolas públicas, particulares ou mista. Houve uma predominância dos participantes oriundos das Escolas Públicas. Isto pode ser em decorrência da facilidade de contato com estas instituições e a maior participação das escolas. Exploraram-se também os resultados referentes à freqüência dos instrumentos de avaliação sobre o estresse somente no contexto educacional. A ilustração destes resultados pode ser observada na Tabela 1.

 

 

Observou-se que os instrumentos mais utilizados para a avaliação do estresse neste contexto foram a Escala de Stress Infantil de Lucarelli e Lipp e o Inventário de Sintomas de Stress para adultos de Lipp com prevalência de 34, 8%. Para verificar a presença ou ausência da Síndrome de Burnout, o instrumento mais utilizado foi o Maslach Burnout Inventory, correspondendo a 17, 4% da amostra. Foi considerado que em uma única pesquisa mais de um instrumento poderia ser utilizado. A utilização dos instrumentos mostra-se um dado relevante para a análise dessa pesquisa, pois demonstra como esta sendo avaliado o construto estresse no contexto educacional. Nestes 10 anos na qual a pesquisa foi focada, encontrou-se 19 artigos e demonstrou que a avaliação do estresse passou a ser mais publicadas nos últimos 4 anos. Mostra-se necessário rever as qualidades psicométricas de alguns instrumentos, para que possam ser mais eficazes na avaliação de um determinado construto e promover avaliações adequadas.

Referente à freqüência das análises de referências bibliográficas, foram selecionadas nesta categoria artigos, livros, dissertações e teses tanto no contexto nacional como internacional. Com relação aos artigos, houve uma predominância nos artigos científicos estrangeiros. Isto pode ser decorrência da maioria das revistas científicas darem uma importância em pesquisas internacionais. Com relação as categorias livros, dissertações e teses, houve a predominância nas referências nacionais, demonstrando que muitas pesquisas estão sendo realizadas em nosso meio, aumentando ainda mais a produção científica em nossa área.

 

Considerações finais

O objetivo da presente pesquisa foi avaliar o estresse no contexto educacional, realizando uma revisão de literatura por meio de revistas científicas classificadas pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP) em parceria com a CAPES como A, B e C nacional. Entre os resultados alcançados, pode-se destacar que nestes 10 anos na qual a pesquisa deu enfoque, houve um aumento na avaliação do estresse no contexto estudado nos últimos quatro anos da pesquisa, ou seja, entre 2002 a 2005.

Supõe-se que depois desta data, vários aspectos podem ser justificados para o aumento da produção científica. Pode-se citar a Resolução do Conselho Federal de Psicologia (2001 - 2003) referente a uma avaliação contínua dos instrumentos psicológicos comercializados, estabelecendo requisitos mínimos que os testes devem possuir para serem utilizados pelos profissionais, entre outros. Surgimento de laboratórios de pesquisa (UnB, UFRGS, PUC-Campinas, USF, USP) com a finalidade de estudar instrumentos psicológicos, surgimento de Pós - graduação Stricto Sensu (mestrado - doutorado) somente na área de avaliação psicológica, criação do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP), entre outros.

Os dados encontrados propiciaram uma ampliação do conhecimento sobre a condição atual das pesquisas sobre a avaliação do estresse no contexto educacional. Esse estudo levantou lacunas e possibilidades que envolvem a área, o que proporciona subsídios para a realização de novas pesquisas, uma vez que, de acordo com Witter (1999), a observação do que já foi produzido deveria ser prática constante em todas as ciências.

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: psisilpac@yahoo.com.br

Recebido em Fevereiro de 2007
Reformulado em Agosto de 2007
Aceito em Outubro de 2007

 

 

Sobre os autores:

* Silvia Verônica Pacanaro: Psicóloga, mestranda do Programa de Pós-graduação Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
** Acácia Aparecida Angeli dos Santos: Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP; docente da graduação e do Programa de Pós-graduação Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq.

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