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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.7 n.1 Porto Alegre abr. 2008

 

NOTA TÉCNICA

 

Teste de Fotos de Profissões (BBT-BR): Possibilidades técnicas e padrões avaliativos no Brasil

 

 

Sonia Regina Pasian *; Erika Tiemi Kato Okino **

Universidade de São Paulo

 

 

O Berfusbilder Test - Teste de Fotos de Profissões (BBT) é um instrumento projetivo de avaliação psicológica criado em 1970, por Martin Achtnich, na Suíça. Ele foi introduzido no Brasil por André Jacquemin, na década de 1980, após seu retorno de um estágio de pós-doutorado na Universidade de Louvain-la-Neuve (Bélgica). O grande fator impulsionador das aplicações e das pesquisas com o BBT foram seus bons resultados clínicos, largamente abordados por Achtnich (1991) e pela equipe do Centro de Orientação Psicopedagógica da Universidade de Louvain, na década de 1980 (Pasian, Okino & Melo-Silva, 2007). As ricas possibilidades informativas do BBT, apontadas pela experiência nos Serviços de Orientação Profissional da Europa, com certeza foram decisivas para sua introdução em outros centros de pesquisa e de aplicação clínica, como no Brasil.

A proposta teórica do BBT está relacionada a uma concepção psicodinâmica de personalidade, onde tendências inconscientes (necessidades e interesses motivacionais) são assumidas como elementos constituintes do processo de seleção de certas escolhas ocupacionais e profissionais (Achtnich, 1991), facilitando-as ou comprometendo sua efetivação. Desta forma, tem por objetivo a clarificação das inclinações de interesses pessoais, promovendo um processo de sensibilização relativo às motivações internas, diante de uma específica realidade sócio-cultural vivenciada.

Em respeito aos bons princípios das práticas internacionais em avaliação psicológica (ITC, 2003), o BBT passou por longo processo de adaptação sócio-cultural no Brasil, antes de sua devida utilização prática. Os resultados de cerca de duas décadas destes trabalhos de padronização ao contexto brasileiro, bem como de validação do BBT à nossa realidade, resultaram nas formas masculina e feminina do BBT-Br. Em síntese, a forma masculina do BBT-Br foi publicada em 2000 (Jacquemin, 2000) e, sua forma feminina, em 2006 (Jacquemin, Okino, Noce, Assoni & Pasian, 2006).

Diante deste contexto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar, de modo sucinto e esquemático, o resultado dos padrões normativos do BBT-Br para adolescentes brasileiros, nas suas respectivas formas masculina e feminina. Estes dados encontram-se esparsos em diversas publicações científicas, como comentado por Pasian, Okino e Melo-Silva (2007), podendo aqui serem vistos de modo integrado e prático, caracterizando a originalidade desta nota técnica.

Dentro desta perspectiva, a amostra utilizada para obtenção dos dados normativos do BBT-Br foi composta por 988 alunos das três séries do ensino médio de escolas públicas e particulares de Ribeirão Preto (SP), com idade entre 16 a 19 anos. Todos foram voluntários e documentaram, juntamente com seus responsáveis, a devida autorização para estas pesquisas. Uma distribuição geral do conjunto destes indivíduos avaliados pode ser encontrada na Tabela 1.

 

 

Todos os participantes foram selecionados de modo a possuir, em seu histórico de vida, características de desenvolvimento típico, podendo, desta forma, constituir-se como grupos normativos.

Neste trabalho serão apresentadas as estatísticas descritivas relativas aos índices de produtividade (escolhas positivas, negativas e indiferentes) do BBT-Br e às estruturas primárias e positivas de inclinação dos grupos estudados.

Na Tabela 2 estão apresentados os índices de produtividade do BBT-Br dos alunos do ensino médio, em função da origem escolar (rede pública ou particular) e da forma específica do teste (masculina ou feminina).

 

 

Os resultados dos estudos normativos originais desta técnica no Brasil (Jacquemin, 2000; Jacquemin & cols., 2006) exigiram a apresentação das normas do BBT-Br tendo em vista a escola cursada pelo adolescente. Isto porque foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em seus índices de produtividade (distribuição das escolhas no BBT-Br) em função da origem escolar dos estudantes do ensino médio, exigindo a consideração desta variável na análise e no processo de interpretação de seus resultados clínicos.

Por sua vez, a Tabela 3 apresenta as estruturas primárias positivas (ponderadas) de inclinação motivacional do BBT-Br, em suas versões masculina e feminina. Cabe ressaltar que as escolhas das fotos desta técnica projetiva, dentro de suas possibilidades informativas, permitem a elaboração de componentes principais (estrutura primária) e acessórios (estrutura secundária) dos interesses e das necessidades pessoais dos indivíduos, tanto em termos de suas áreas de preferência quanto de rejeição. Para maiores detalhes técnicos, devem ser consultados os trabalhos originais de adaptação do BBT-Br ao Brasil, como já anteriormente apontado, em especial Jacquemin (2000) e Jacquemin e colaboradores (2006). Neste momento, os resultados focalizaram a estrutura positiva de interesses dos adolescentes avaliados.

 

 

Em termos gerais, a análise dos resultados apontados na Tabela 3 sugere que o grupo masculino tem preferência por atividades criativas, sociais, racionais e de comunicação (sendo os quatro primeiros fatores da estrutura de inclinação G, S, V e O), independentemente da origem escolar. Há apenas indício de aparente diferenciação entre os rapazes da escola pública e particular quanto ao fator K (relativo à força física e psíquica), que ocupou posição intermediária nos adolescentes da escola pública, sendo final na estrutura motivacional dos adolescentes da escola particular. Ou seja, estes últimos sinalizaram maior rejeição do fator K.

Complementando esta análise da Tabela 3, pode-se dizer que as preferências motivacionais do grupo feminino estão relacionadas aos fatores S, Z, O e G. Sugerem, portanto, gosto por atividades que envolvam relações sociais e de ajuda, valorização da estética e do reconhecimento social, comunicação e criatividade. Novamente não houve aparente diferença entre adolescentes da escola pública e particular no tocante à composição geral da estrutura de inclinação motivacional primária positiva no BBT-Br.

Estes dados são resultantes de longo processo de investigação científica com o Teste de Fotos de Profissões, o que possibilitou disponibilizar ao psicólogo brasileiro um instrumento de avaliação psicológica adaptado, com normas para o nosso contexto sócio-cultural. Estes cuidados técnicos certamente embasaram o parecer favorável da Comissão Consultiva de Testes do Conselho Federal de Psicologia (CFP) a respeito do BBT-Br, tanto em suas versões feminina quanto masculina, reafirmando possibilidades de uso clínico deste material no Brasil.

 

Referências

Achtnich, M. (1991). O BBT - Teste de Fotos de Profissões: Método projetivo para a clarificação da inclinação profissional. (J. Ferreira Filho, Trad.). São Paulo, SP: Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia.

International Test Comission - ITC (2003). Diretrizes para o uso de testes da International Test Comission. Tradução autorizada para o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (original 2000). http://www.ibapnet.org.br

Jacquemin, A. (2000). O BBT-Br: Teste de Fotos de Profissões: normas, adaptação brasileira, estudos de caso. São Paulo, SP: Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia.

Jacquemin, A., Okino, E. T. K., Noce, M. A., Assoni, R. F., & Pasian, S. R. (2006). O BBT-Br Feminino. Teste de Fotos de Profissões: Adaptação brasileira, normas e estudos de caso. São Paulo, SP: Centro Editor de Testes e Pesquisas em Psicologia.

Pasian, S.R.; Okino, E.T.K. & Melo-Silva, L.L. (2007) O Teste de Fotos de Profissões (BBT) de Achtnich: Histórico e pesquisas desenvolvidas no Brasil. Psico-USF, 12 (2), 173-187.

 

 

Sobre as autoras:

* Sonia Regina Pasian: psicóloga, Mestre em Filosofia (UFSCar), Doutora em Ciências - Saúde Mental (FMRP - USP), docente do Departamento de Psicologia e Educação (pós-graduação e graduação) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, onde coordena o Centro de Pesquisas em Psicodiagnóstico. É assessora científica de periódicos e de agências de pesquisa e atual Presidente da Associação Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos (ASBRo).
** Erika Tiemi Kato Okino: psicóloga do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, exercendo a função de apoio ao ensino e à pesquisa. É Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da FFCLRP - USP, onde atualmente desenvolve doutorado na área de Avaliação Psicológica, voltado à análise das evidências de validade do BBT-Br.

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