EDITORIAL

Neste segundo número que se apresenta da Revista Avaliação Psicológica em 2008 muitas são as reflexões propostas por pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Mais especificamente a Revista oferece 14 artigos, duas resenhas e uma nota técnica. Ao todo são 38 autores brasileiros de seis estados brasileiros, e três estrangeiros. Esta informação preliminar, ao lado da análise dos demais números, fortalece a crença de que estamos em desenvolvimento. Grande parte disto deve-se ao ânimo individual de pesquisadores que se esforçam para manter os níveis de publicação com qualidade. Aos autores e aos pareceristas, nossas saudações acadêmicas!

Os autores do artigo Inteligência, escolarização e idade: normas por idade ou série escolar?, Leandro S. Almeida (Universidade do Minho, Portugal), Gina Lemos (Universidade de Évora, Portugal), M. Adelina Guisande (Universidade de Santiago de Compostela, Espanha) e Ricardo Primi (Universidade de São Francisco, Brasil), questionam o uso de normas baseadas na idade ou escolaridade para a interpretação de escores de testes de inteligência. A análise de dados provindos de uma amostra representativa de alunos portugueses ajudou os autores a discutir essa questão, sugerindo que a norma por série parece ser mais adequada.

Escala de motivação para aprender de universitários (EMA-U): propriedades psicométricas é o título do artigo de Evely Boruchovitch, da Universidade Estadual de Campinas. O objetivo da autora foi examinar as propriedades psicométricas de uma escala de motivação para aprender destinada a alunos universitários. A partir da aplicação em uma amostra de 225 estudantes de cursos superiores, foi aplicada a análise fatorial que revelou uma estrutura bifatorial, a saber, de motivação intrínseca e motivação extrínseca. Os índices de precisão foram satisfatórios, indicando boa qualidade psicométrica, tendo sido sugeridos outros estudos com amostra mais diversificada.

O objetivo dos pesquisadores Silvio José Lemos Vasconcellos, das Faculdades de Taquara Pontifícia e Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e Cláudio Simon Hutz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi relatar a construção de uma escala para avaliação do fator de personalidade conhecido como abertura à experiência. São relatados os resultados dos procedimentos de validação de construto e consistência interna. O nome do artigo é Construção e validação de uma escala de abertura à experiência.

Desenvolvimento e validação de uma Escala de Afetos no Trabalho (ESAFE), artigo escrito por Maria Cristina Ferreira, Ana Paula Correa e Silva, Helenita de Araujo Fernandes e Stanley Pacheco de Almeida, da Universidade Salgado de Oliveira, teve como objetivo desenvolver e validar uma escala para avaliação dos afetos dirigidos ao contexto do trabalho. Foram sujeitos trabalhadores de ambos os sexos, que responderam a uma versão inicial da escala de afetos, a uma escala de satisfação no trabalho e a uma de exaustão emocional. Os resultados geraram bons indicativos de validade e precisão para a escala.

Márcia Elia da Mota, Rhaisa Gontijo, Stella Mansur-Lisboa, Rafaela Olive, Danielle Silva, Jaqueline Dias, Nádia Delgado e Ricardo Kamisaki da Universidade Federal de Juiz de Fora, autores de Avaliação da Consciência da Morfologia Derivacional: Fidedignidade e Validade avaliaram a qualidade psicométrica de tarefas utilizadas para medir a consciência morfológica de séries iniciais do ensino fundamental. Os resultados revelaram que algumas dessas tarefas revelaram boas indicações de precisão e validade.

O estudo de Sebastião Elyseu Júnior e Elisa Medici Pizão Yoshida, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, apresenta a avaliação inicial das propriedades psicométricas da Escala de Padrões de Posse - EPP. A amostra foi composta por universitários, e os resultados indicaram estabilidade temporal aceitável e consistência interna satisfatória, além de a possibilidade de se avaliar o construto a partir de duas dimensões. O título do artigo é EPP -Escala de Padrões de Posse: construção, validade e precisão.

Precisão do teste Goodenough-Harris em crianças é o título do artigo de autoria de Helena Rinaldi Rosa (Universidade Estadual Paulista) e Irai Cristina Boccato Alves (Universidade de São Paulo). O trabalho investigou a precisão da avaliação Goodenough-Harris para o desenho de um homem pelo método das metades e pelo reteste. A amostra foi de crianças de 5 a 11 anos, de ambos os sexos, sendo que a precisão pelo método das metades (par-ímpar) foi obtida para cada idade e para a amostra total. As autoras concluíram que a precisão obtida pelos dois métodos pode ser considerada satisfatória pelos critérios da literatura.

O artigo Estudo normativo com o Pfister: uma amostra da região nordeste brasileira verificou a ocorrência de diferenças significativas entre o desempenho de uma amostra normativa do sudeste e de uma amostra do nordeste, no teste das Pirâmides Coloridas de Pfister. Anna Elisa de Villemor-Amaral (Universidade São Francisco), Giselle Pianowski (Universidade São Francisco) e Clênia Maria Toledo de Santana Gonçalves (Universidade Federal da Paraíba) fizeram análises descritivas e comparativas, que indicaram diferenças em variáveis específicas, não se justificando elaboração de normas exclusivas para as regiões.

O artigo de Marina Menezes, Carmen L. O. Ocampo More e Roberto Moraes Cruz, da Universidade Federal de Santa Catarina, intitulado O desenho como instrumento de medida de processos psicológicos em crianças hospitalizadas, buscou identificar os diferentes usos do desenho infantil no contexto da hospitalização, saúde e doença em trabalhos brasileiros e da América Latina. De forma geral, as autoras comentam os critérios adotados para interpretar o desenho, usos desse tipo de avaliação no ambiente hospitalar e fora dele. Ressaltaram, ainda, o uso do desenho nos contextos de diagnóstico e pesquisa.

Adriana Martins Saur e Sonia Regina Pasian, da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, investigaram a influência do sexo e idade na satisfação de pessoas com diferentes pesos. Os resultados não indicaram associação entre a satisfação com a imagem corporal e sexo e idade, os indivíduos de peso normal e abaixo do peso apresentaram níveis de satisfação corporais maiores que os grupos de sobrepeso e acima do peso, indicando que a ESIC se mostrou instrumento de avaliação psicológica capaz de sinalizar níveis diferenciados de satisfação com o próprio corpo. O título do artigo é Satisfação com a imagem corporal em adultos de diferentes pesos corporais.

Percepção dos pais em relação a mudanças após o processo psicodiagnóstico é o título do artigo de Janete Márcia Waszczuk Lazzari e Eluisa Bordin Schmidt, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Com o objetivo de investigar a percepção dos pais acerca das mudanças dos filhos após o processo psicodiagnóstico, trata-se de uma pesquisa qualitativa, que utilizou entrevistas como procedimento de coleta de dados.

Investigar as práticas de psicólogos em avaliação psicológica envolvendo disputa de guarda, em diferentes regiões brasileiras foi o objetivo de Vivian de Medeiros Lago e Denise Ruschel Bandeira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no artigo As Práticas em Avaliação Psicológica envolvendo Disputa de Guarda no Brasil. A partir da resposta de 51 psicólogos a um questionário online, indicaram os procedimentos mais utilizados em avaliações desse tipo, entre testes psicológicos, visitas, e entrevistas. O estudo apresentou um panorama sobre as avaliações em casos de disputa de guarda no Brasil.

Com o objetivo de verificar a correlação entre depressão, Índice de Massa Corpórea (IMC) e qualidade de vida em usuários de um serviço de cirurgia de obesidade do interior do estado de São Paulo, Makilim Nunes Baptista (Universidade São Francisco), Juliana Furlan Vargas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) e Adriana Said Daher Baptista (Centro Universitário Hermínio Ometto) compuseram o trabalho intitulado Depressão e qualidade de vida em uma amostra brasileira de obesos mórbidos. Os resultados sugeriram relações entre IMC com qualidade de vida e com sintomas depressivos, mas não entre os dois últimos construtos.

Da Universidade de Passo Fundo vem a contribuição de Christiane Albuquerque de Miranda, Carla Ventura Tarasconi e Silvana Alba Scortegagna. No trabalho intitulado Estudo epidêmico dos transtornos mentais, as autoras investigaram a incidência de transtornos, tais como classificados pelo CID-10, em serviços de saúde mental entre 1997 e 2001. De acordo com as autoras, os resultados podem contribuir com o planejamento de serviços e políticas públicas para a região avaliada.

Por fim, duas resenhas e uma nota técnica são apresentadas. Bruno Borine, mestrando do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco, introduz o livro Fundamentos da testagem psicológica, de Susana Urbina, indicando sua leitura para pessoas que trabalham ou pesquisam testes psicológicos. Adriana Carneiro Munhoz (bolsista de iniciação científica da Universidade São Francisco) comenta o livro Estatística para Psicólogos (que não gostam de números) de Paulo R. Morais, ressaltando sua importância para o uso instrumental da estatística em psicologia. Gabriel Tortella (bolsista de iniciação científica da Universidade São Francisco) fala sobre a avaliação da atenção em estudantes do ensino fundamental ao apresentar o Teste de Atenção por Cancelamento, de José M. Montiel e Alessandra Gotuzo Seabra Capovilla, citando vários estudos que atestam sua qualidade psicométrica.

Ana Paula Porto Noronha, editora.