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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.7 n.2 Porto Alegre ago. 2008

 

ARTIGOS

 

Estudo normativo com o Pfister: uma amostra da região nordeste brasileira

 

Normative studies about the color pyramid test in a brazilian north-eastern sample

 

 

Anna Elisa de Villemor-Amaral I, *; Giselle Pianowski I, **; Clênia Maria Toledo de Santana Gonçalves II, ***

I Universidade São Francisco
II Universidade federal da Paraíba

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo desse estudo foi verificar a ocorrência de diferenças significativas entre o desempenho de uma amostra normativa do sudeste e de uma amostra do nordeste, no teste das Pirâmides Coloridas de Pfister. Os estudos até então realizados foram restritos a região sudeste, o que pode restringir sua utilização a apenas essa região do país, ao supor-se que alguns indicadores estejam sob influências culturais, justificando o uso de tabelas normativas regionais. A amostra foi composta por 83 indivíduos não-pacientes de estados nordestinos, com escolaridade mínima de ensino médio, faixa etária entre 18 e 50 anos, ambos os sexos. Foram feitas análises estatísticas descritivas, para a Freqüência de cores e para os Aspectos formais, e análises comparativas entre grupos. Os resultados alcançados demonstram diferenças significativas entre as duas amostras em somente duas variáveis específicas, havendo no geral grande semelhança nos dados, não se justificando a elaboração de novas tabelas nesse momento.

Palavras-chave: Avaliação Psicológica, Pirâmides Coloridas de Pfister, Normatização, Técnicas Projetivas.


ABSTRACT

The aim of this study was to verify the occurrence of significant differences between the recent normative data for the Pfister's Pyramids Test, based on a sample restricted to Southeast region of Brazil, and those ones obtained from a sample of no-patients in the north-eastern population, which could justify the use of regional normative tables. The sample was composed by 83 adults no-patients, volunteers males and females, with high school or a higher level of education, from three states of Northeast. The statistics descriptive tables are presented as well as the results through the comparison of both groups. According to the findings, there is no need for a regional normative work, since there were no significative differences between the two samples which could justify such implementation.

Keywords: Psychological assessment, Color Pyramid Test, Normatization, Projective Techniques.


 

 

Introdução

Faz parte do cotidiano informal do brasileiro escutar frases do tipo "Vivemos em um Brasil de muitos brasis". Certamente, o Brasil é uma terra de grandes proporções físicas e com isto uma convivência marcada pela diversidade. Mas de qual diversidade se fala? Logo de início, pode-se apontar para a grandeza do seu espaço físico e geográfico, para a diferença quanto aos seus aspectos climáticos e para as mais variadas influências culturais. Ainda nesta direção, conta-se, amiúde, com uma convivência cultural de extrema diversificação, sendo aqui lembradas pelas mais variadas formas de expressão em termos de costumes, hábitos, linguagem, entre outras, que apresenta o homem brasileiro nas diversas regiões e sub-regiões por ele habitadas, observando-se conseqüentemente diferenças nos comportamentos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2006).

O campo atual da Avaliação Psicológica encontra-se marcado, notadamente, pela necessidade de constantes estudos e atualizações dos instrumentos de que dispõe - métodos e técnicas psicológicas - visando estabelecimento de normas adaptadas à cultura do seu meio imediato. Entende-se, portanto, que há um grande desafio no sentido de se realizar constantemente pesquisas que procurem verificar e compreender questões culturais específicas que se reflitam no desenvolvimento e funcionamento psicológico, bem como identificar instrumentos que sejam sensíveis a essas mudanças, visto que o uso inadequado de um instrumento psicológico põe em cheque a qualidade do trabalho do psicólogo, enquanto categoria profissional, questiona sua idoneidade e sua ética e, de modo ainda mais grave, pode colocar em risco a qualidade das intervenções feitas com base em resultados equivocados (Anastasi , 1997; Anastasi & Urbina, 2000; Anastasi, 2007; Primi, 2005).

Nesse sentido, trabalhos de referência e normatização de técnicas de avaliação são essenciais para que as interpretações sejam fidedignas ao contexto em que cada uma será utilizada, supondo-se que diferenças de comportamentos determinadas pela cultura podem eventualmente alterar os desempenhos esperados. Segundo Urbina (2007) é essencial a fidedignidade tanto dos escores, como dos itens, porém, é, sem duvida, de grande importância a adaptação ao contexto a ser utilizado, o que é resultado de estudos referenciais de onde normas são geradas para interpretações confiáveis.

Hutz e Bandeira (1993) enfatizaram as discrepâncias quanto à quantidade de instrumentos nacionais e internacionais que eram utilizados em nosso meio e ainda ressaltavam a falta de estudos normativos que gerassem referências para os diferentes contextos. Embora o panorama tenha mudado nos últimos anos com o aumento de pesquisas na área de avaliação psicológica, Primi e cols. (2005) lembram que no Brasil ainda é escassa a realização de estudos periódicos com o objetivo de revisar, atualizar dados, ou ainda que se preocupem com uma sistematização e padronização regional de instrumentos de avaliação psicológica.

Se, de forma geral, a dificuldade para se normatizar um teste psicológico é grande, no que concerne às técnicas projetivas essa dificuldade potencializa-se devido às suas características intrínsecas, já que compreendem estímulos relativamente não-estruturados que permitem uma grande variedade de respostas (Anastasi & Urbina, 2000). Ainda assim, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2003) desde a emissão da Resolução 002/03, exige que os manuais de técnicas projetivas apresentem sistemas precisos de classificação e interpretação dos escores, e deixem bastante claros os procedimentos de aplicação e análise de modo a garantir a precisão dos resultados. Se o sistema for referenciado à norma, essa deve ser também relatada de forma objetiva e detalhada. Observa-se um empenho atual por parte dos pesquisadores desses métodos em fazer valer tais exigências, disponibilizando assim um material útil e confiável, como se pode constatar em publicações recentes (Villemor-Amaral & Werlang, 2008), mas há muito a ser feito nesse sentido.

Buscando aprimorar e expandir as possibilidades de uso do teste das Pirâmides Coloridas de Pfister, vários estudos normativos, de validade e de precisão vêm sendo realizados (Villemor-Amaral, 2005). Os resultados obtidos têm demonstrado sua utilidade para elucidar dados específicos da personalidade dos indivíduos, bem como seu relativo valor na diferenciação entre grupos normativos e psicopatológicos, o que lhe confere um caráter complementar nos processos psicodiagnósticos.

Este método projetivo, criado por Max Pfister na década de 50 na Suíça, é um instrumento que avalia aspectos da personalidade, destacando principalmente a afetividade e indicadores relativos a habilidades cognitivas do indivíduo. Segundo Villemor-Amaral (2005), Pfister utilizou a forma geométrica de uma pirâmide por julgar que esta possibilitaria a composição de variadas configurações, e quadrículos de diversas cores e tonalidades, que propiciam a possibilidade de expressar a dinâmica emocional do avaliando no que se refere à expressão e capacidade de controle sobre os afetos. Por meio da tarefa, aparentemente simples e até mesmo de caráter lúdico, o avaliando organiza as cores escolhidas sobre os esquemas das pirâmides, atribuindo-lhes uma configuração formal que fornecerá para o avaliador os dados necessários, de freqüência das cores e seus arranjos e combinações, importantes para as interpretações.

No Brasil, este instrumento foi introduzido por Fernando de Villemor Amaral sendo objeto de vários estudos seguidos de publicações feitas por diversos autores. O primeiro manual brasileiro foi publicado em 1966, tendo passado por uma revisão em 1978. Atualmente, após quase três décadas de poucos investimentos em pesquisas e publicações, o teste volta a ser fonte de interesse e produções com a edição do novo manual (Villemor-Amaral, 2005).

Além de estudos normativos, esse novo manual apresenta dois estudos de precisão realizados por meio da verificação da concordância entre juízes tanto da codificação dos aspectos formais quanto da classificação da Fórmula Cromática. Está fórmula indica a constância das cores utilizadas na realização das três pirâmides e é um dos dados do teste que poderia também acarretar alguma discordância na codificação, dada a grande variação possível dos seus resultados.

Verificou-se a correspondência entre a codificação apresentadas por dois juízes independentes, resultando numa concordância de 86% para o aspecto formal e 92,4% para a fórmula cromática (Villemor-Amaral, 2005). Ainda a respeito da precisão do teste no que diz respeito à sua estabilidade temporal, Villemor Amaral (1978) já afirmava que, em adultos, a fórmula cromática costumava ser o indicador mais estável no caso de teste-reteste, já que sua interpretação remete à maturidade emocional e à estabilidade na expressão das emoções. No momento, um estudo sobre a estabilidade temporal dessa fórmula ainda está sendo realizado.

Além disso, resultados de pesquisas de validade têm mostrado que o instrumento é útil para o auxílio psicodiagnóstico de algumas patologias, pois demonstram claramente a diferenciação emocional e cognitiva que tais transtornos apresentam entre si (Cardoso & Campos Franco, 2005). Pesquisas foram realizadas com grupos diagnosticados com os transtornos alcoolista, esquizofrênico, de pânico, depressivo, somatoforme e obsessivo compulsivo, alcançando resultados que corroboram conceituações teóricas existentes a respeito das manifestações destas psicopatologias. Sendo assim, foi possível demonstrar indicadores confiáveis para perturbações graves de percepção e pensamento característicos da psicose (Villemor- Amaral, Silva, & Primi, 2002; Villemor-Amaral, Silva, & Primi, 2003; Villemor-Amaral, Primi, Farah, Silva, Cardoso & Franco, 2004; Villemor-Amaral, Farah & Primi, 2004; Villemor-Amaral, Primi, Franco, Farah, Cardoso & Silva, 2005). Num outro estudo, Costa e Villemor-Amaral (2005) confirmaram o que já se afirmava na literatura existente sobre as relações entre nível intelectual e aspecto formal das pirâmides, ao constatarem que adolescentes produziram formas mais elaboradas quanto mais altos foram seus desempenhos em uma prova de raciocínio.

Entretanto, apesar do aparecimento de novos estudos verificando a validade do Pfister em diversos contextos, as amostras dessas pesquisas ficaram restritas à região sudeste, o que pode se apresentar como uma limitação na confiabilidade das interpretações propostas quando se considera o contexto nacional e sua diversidade regional. Na região nordeste, as investigações encontram-se muito aquém do que espera e propõe o Conselho de Psicologia Federal, bem como as atuais discussões das sociedades especializadas da área, o que se constata pela ausência de pesquisas na presente técnica, quando se busca a bibliografia a respeito. Portanto, a realização dessa pesquisa na referida região constitui uma contribuição necessária, posto que vem suprir uma lacuna ao mesmo tempo que pode viabilizar a inclusão desse instrumento, com maior segurança, nos procedimentos de avaliação realizados em outras regiões do país.

O presente estudo objetivou verificar se ocorrem diferenças significativas entre os resultados de um grupo de sujeitos de diferentes regiões brasileiras no teste de Pfister que justifiquem a inclusão de tabelas regionais em seu manual. Com base em dados anteriores (Villemor Amaral, 1978) que indicavam pouca variação dos resultados entre tabelas suíças e brasileiras, o que, até certo ponto, mostra o seu poder de expansão e independência cultural, partiu-se do pressuposto que tal fato necessitaria ser corroborado com pesquisas e metodologias mais atuais. Além disso, a verificação mostrava-se necessária, pela carência de estudos que investiguem diferenças regionais em instrumentos que propõem avaliar a personalidade.

 

Método

Participantes

A amostra foi composta por 83 indivíduos, sendo destes 64% do sexo feminino, com escolaridade restrita ao ensino médio completo ou cursando, numa faixa etária de 18 a 50 anos (M=26; DP= 9,93), naturais da região nordeste, mais especificamente capital e interior da Paraíba, e interiores do Rio Grande do Norte e Pernambuco. O critério para a exclusão da amostra foi a existência de histórico de tratamento psicológico ou psiquiátrico, bem como de dependência química, incluindo o álcool. Para a coleta da amostra contou-se com o apoio de três psicólogas e de sete alunos de 4° e 5° anos de graduação. A comparação dos resultados foi feita com base na tabela normativa de não-pacientes da região sudeste incluída no manual do teste de Pfister, composta por 111 sujeitos, com caracterização similar, (Villemor-Amaral, 2005).

Instrumentos

Entrevista semi-estruturada: foi elaborada e utilizada uma entrevista semi-estruturada para coleta de dados de identificação dos sujeitos bem como questões específicas que possibilitassem verificar os critérios de inclusão ou exclusão da amostra.

As Pirâmides Coloridas de Pfister compreendem o jogo de quadrículos coloridos de dez cores subdivididas em vinte e quatro tonalidades diferentes, três cartelas contendo o esquema de uma pirâmide quadriculada, um mostruário de cores e folha de protocolo individual. Nesse estudo foram analisadas a freqüência de cores e as categorias de aspecto formal.

Procedimento

Após contato com o grupo de aplicadores, ministrou-se um mini-curso enfatizando a padronização na aplicação para a fidedignidade na coleta dos dados. Após o treinamento, e estabelecidos os critérios para a seleção dos participantes, o grupo passou ao levantamento dos voluntários em instituições da região ou por indicação pessoal, respeitando os procedimentos éticos quanto ao esclarecimento sobre a pesquisa e a assinatura do termo de consentimento. As aplicações foram feitas na Universidade, em salas devidamente organizadas, com boa iluminação, pouco estímulo visual e mobília necessária para a execução do teste, ou nas instituições contatadas, onde se teve o cuidado em estabelecer um ambiente de aplicação similar e apropriado. As aplicações foram individuais, iniciando-se pela entrevista para identificação do sujeito, seguida do teste. A coleta totalizou o número de 100 sujeitos, embora para esta análise apenas 83 tenham sido efetivamente aproveitados. Após codificação dos protocolos, foram obtidos os resultados através de procedimentos estatísticos no SPSS, utilizando-se a análise descritiva e o t de student para a comparação entre as médias dos grupos normativos do nordeste e sudeste.

 

Resultados e Discussão

Os dados foram obtidos por meio de procedimentos de análises estatísticas do programa SPSS e expostos em tabelas. Os resultados encontrados serão detalhados, a seguir, e discutidos de acordo com a literatura estudada. A Tabela 1 apresenta a análise descritiva das médias encontradas na amostra do nordeste referentes à categoria Freqüência de cores, para cada cor presente no teste.

 

 

A Freqüência de cores é a categoria que se refere à freqüência com que cada cor foi utilizada no teste pelo grupo em questão. No caso percebe-se que a média mais alta encontrada foi da cor verde, como esperado de acordo com as normas do manual, e a menos utilizada foi a cinza, como também previsto nas normas.

A Tabela 2 refere-se à análise descritiva do desempenho do grupo do nordeste quanto à categoria Aspecto formal.

A categoria Aspecto Formal diz respeito à estruturação formal elaborada pelo indivíduo em teste. São categorizadas em Tapetes, Formações e Estruturas. Cada categoria apresenta subcategorias específicas que também foram analisadas separadamente. Pode-se perceber que a maior média foi referente ao Tapete furado e desequilibrado, e a menor Formação alternada e Formação tendendo à estrutura, não havendo incidência da categoria formal Estrutura em Escada.

 

 

A seguir será apresentada a Tabela 3, contendo a comparação das médias entre a amostra do nordeste e a do sudeste na categoria Freqüência de cores.

 

 

A comparação da Freqüência de cores entre os grupos evidenciou diferença significativa nas médias da cor laranja, aparecendo aumentada para a região do sudeste. A cor laranja está relacionada à ambição intelectual e expansão. Verifica-se que nas outras cores não há diferenças significativas.

A Tabela 4 apresentará as análises descritivas das cores nos grupos normativos do sudeste, o primeiro de 1978 e o atual de 2005, e a amostra do nordeste realizada para o presente estudo.

 

 

Os resultados encontrados nos grupos pesquisados demonstram certa homogeneidade no que diz respeito aos índices estudados, apontando para resultados médios similares. Logo a seguir, na Tabela 5, far-se-á a comparação entre os grupos na categoria Aspecto Formal, dentro de cada subcategoria maior, os Tapetes, as Formações e as Estruturas, não detalhando cada variação das subcategorias existentes. Julgou-se desnecessário analisar detalhadamente, mesmo que tenha sido assim apresentado na análise descritiva do grupo do nordeste, pelas interpretações estarem baseadas, em sua grande parte, nas três variações de composições formais, trazendo dados sobre os aspectos relativos ao processamento cognitivo e maturidade emocional dos indivíduos.

 

 

Os resultados mostram diferença significativa nos Aspecto Formal referente à Formações, aparecendo rebaixado para o grupo do nordeste, e marginalmente significativo em Tapetes, apresentando a tendência ao aumento para o mesmo grupo.

Os resultados expostos demonstram certa homogeneidade no desempenho dos grupos, verificando-se poucas diferenças nas médias de freqüência de cores bem como nas categorias de aspecto formal entre a amostra do nordeste e a do sudeste.

Porém, dois pontos merecem destaque. Com relação à freqüência de cores, foram encontradas diferenças na média da cor laranja, e na categoria de qualidade formal Formações, ambas aumentadas significativamente na região sudeste. Tais diferenças na média da cor laranja e na incidência de Formações, no grupo do sudeste, podem sugerir um aumento da ambição e um "fazer-se valer pela produtividade" (Villemor Amaral, 1978, p. 75), bem como configurar-se por uma estrutura subjetiva de teor racional, um funcionamento afetivo submetido a um maior controle intelectual.

No que diz respeito ao aspecto formal, mais especificamente, a diferença significativa entre as médias encontrada na categoria Formações, diminuída para o grupo do nordeste, e a tendência ao aumento de Tapete nesse grupo, pode ser compreendida em parte devido a diferenças educacionais, já que na amostra normativa do sudeste há alguns sujeitos com nível superior completo, diferentemente da amostra nordestina, cuja amostra restringiu-se apenas ao nível do Ensino Médio completo. De fato, outros estudos já demonstraram que o aspecto formal é sensível a diferenças intelectuais, culturais e educacionais (Brauer, 1998; Costa & Villemor-Amaral, 2004; Oliveira, Pasian & Jacquemin, 2001).

Os dados obtidos levam à discussão de que alguns instrumentos, entre eles os métodos projetivos, apreendem aspectos mais profundos e estruturais referentes a mecanismos básicos de processamento de estímulos que não necessariamente sofrem variações significativas devido a influências culturais. O presente estudo permite enquadrar o teste das Pirâmides Coloridas de Pfister nesta categoria, uma vez que avalia o modo como a pessoa processa estímulos afetivos, seu nível de maturidade emocional e o maior ou menor nível de controle diante de situações estimulantes. Essa menor variação em decorrência de aspectos culturais já tinha sido constatada em estudos prévios realizados na Alemanha e no Brasil, onde as médias em pouco diferiram (Villemor-Amaral, 1978).

É importante enfatizar que as interpretações propostas pelo teste de Pfister não se vinculam a médias dos indicadores considerados isoladamente, mas sim a uma combinação de dados que, entrelaçados, expõem aspectos individuais do funcionamento do sujeito avaliado. Sendo assim, as poucas diferenças encontradas também podem estar vinculadas ao fato de que os estudos estatísticos descritivos e a comparação de médias foram as estratégias escolhidas para realização desse trabalho, o que não quer dizer que outras estratégias metodológicas não trouxessem dados distintos. Mais uma vez enfatiza-se o que caracteriza um indivíduo por meio do Pfister resulta de uma complexa combinação de indicadores e suas intercorrelações com outros dados, o que pode ser um caminho mais promissor para diferenciação de sujeitos ou grupos.

 

Conclusão

Por este estudo pôde-se verificar que os resultados não se diferenciam significativamente quando se compara o desempenho de amostras das regiões nordeste e sudeste brasileiras, no teste das Pirâmides Coloridas de Pfister. A despeito da grande diversidade de manifestações culturais e comportamentais no contexto brasileiro, o estudo revela uma homogeneidade no desempenho nesse teste.

Tal resultado veio a corroborar com as expectativas e, embora possa ser prematuro afirmar definitivamente que estudos do Pfister no sudeste sejam válidos para indivíduos de outras regiões do país, o resultado desse estudo sugere tal conclusão. Por se tratar de um instrumento que apreende dados mais profundos e estruturais do funcionamento humano, é possível que isso o torne menos suscetível a influências contextuais, justificando-se assim a pouca diferença encontrada entre os grupos pesquisados.

Por outro lado, confirma-se ainda mais a necessidade de se dar uma atenção especial aos instrumentos e a suas peculiaridades, evitando-se generalizar as conclusões de alguns estudos. Essa pesquisa evidencia que embora a cultura interfira nos resultados de muitos exames psicológicos, os instrumentos variam quanto à sua sensibilidade à fatores culturais. Isso não desqualifica qualquer instrumento mas, ao contrário, reforça a necessidade de se estudar cada instrumento em contextos variados para usá-los com maior propriedade.

 

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Endereço para correspondência
E-mail: anna.villemor@saofrancisco.edu.br

Recebido em Fevereiro de 2008
Reformulado em Junho de 2008
Aceito em Agosto de 2008

 

 

Sobre as autoras:

* Anna Elisa de Villemor-Amaral: Profª. Drª. do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
** Giselle Pianowski: Aluna do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
*** Clênia Maria Toledo de Santana Gonçalves: Profª. Mestre da Universidade Federal da Paraíba.

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