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Avaliação Psicológica

versión impresa ISSN 1677-0471versión On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.7 n.3 Porto Alegre dic. 2008

 

RESENHAS

 

Escala de Aconselhamento Profissional: apresentação de um teste para orientação vocacional

 

 

Caio Cesar Rodrigues Toledo*

Universidade São Francisco

 

 

Noronha, A. P., Sisto, F., & Santos, A. A. A. (2007). Escala de Aconselhamento Profissional-EAP- Manual Técnico (Brasil). São Paulo: Vetor.

 

A partir da década de 1990, tem havido maior preocupação com a qualidade dos testes psicológicos existentes, aumentando o interesse de pesquisadores para busca de novos instrumentos e também para a validação, precisão e normatização dos já existentes. Assim, a disponibilização de instrumentos com parâmetros psicométricos apropriados poderá proporcionar aos psicólogos orientadores melhores condições para compreender as dificuldades enfrentadas pelas pessoas.

Na área de Orientação Vocacional/Profissional há grande demanda de serviços especializados, exigindo o aprimoramento da qualidade do trabalho oferecido pelo psicólogo. Em decorrência disto, esta nota técnica tem como objetivo apresentar a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP). Este teste foi desenvolvido pelas psicólogas Ana Paula Porto Noronha e Acácia Aparecida Angeli dos Santos e pelo pedagogo Fermino Fernandes Sisto, no ano de 2007. Os autores são docentes do Programa de Pós Graduação em Psicologia e pesquisadores pela Universidade São Francisco.

O objetivo da EAP é avaliar as preferências por atividades profissionais. O examinando deve quantificar de 1 a 5 a intensidade que ele gostaria de realizar a atividades, descritas em 61 questões. O instrumento é destinado a jovens e adultos a partir de 17 anos, sendo que, para a aplicação, são necessários Caderno de Questões, Folha de Resposta e caneta e a correção é feita manualmente, com auxílio do crivo. A aplicação pode ocorrer individualmente, e também em grupos, não havendo limite de tempo para o término da atividade.

Os autores trazem uma revisão histórica no manual, referente às contribuições nacionais e internacionais em aconselhamento profissional. Eles buscam mostrar, assim, referências da evolução da área no país. Também nesta fundamentação assinalam a preocupação com a formação do orientador profissional, apontando a necessidade do psicólogo adquirir as competências indispensáveis ao pleno desenvolvimento de suas atividades, tais como possuir conhecimento das áreas profissionais, conhecimentos sobre desenvolvimento humano e psicopatologia, bom domínio sobre os testes psicológicos e demais técnicas de avaliação e referencial teórico sólido.

Escolher uma profissão ou ocupação tem sido um grande desafio para as pessoas em diferentes momentos da vida, por isso, nesta segunda parte da fundamentação teórica, os autores discutem as técnicas e testes utilizados na situação de incerteza qunto ao futuro profissional. Deste modo, são apresentados inúmeros autores e teóricos que abordam esta temática.

Após esmiuçar a história e a teoria, os autores expõem diferentes concepções teóricas que definem os interesses, apontando para a confusão e ambigüidade na definição do construto. Trazem também a relação teórica e empírica que trata da associação entre interesses e personalidade do indivíduo, sugerindo assim, que ambientes profissionais com características relativamente dominantes refletem as orientações das pessoas que os compõem. Nessa mesma direção, indicam que combinações adequadas entre indivíduo e ambiente impulsionam o desenrolar de potenciais intelectuais e conduzem à satisfação na adaptação ao ambiente profissional.

Participaram da pesquisa de validação do teste 762 estudantes universitários. Deste montante, 59% eram mulheres, com idade média de 24,14 anos; sendo que as idades variam de 17 e 73 anos, obtendo um desvio padrão de 7,04. Estes universitários freqüentavam 13 carreiras distintas, em que houve as maiores participações do curso de Psicologia (21,9%), Engenharia (11,4%) e Administração (10,4%). Em contrapartida, os cursos que menos contribuíram para a composição da amostra foram Turismo (2,7%), Jornalismo (3,1%) e Veterinária (3,3%).

Continuando com o foco nos estudos psicométricos, as evidências de validade contaram com a utilização do scree plot, podendo assim interpretar a existência de seis a oito fatores. Mas, com base na análise fatorial, achou-se necessário apenas a interpretação de sete fatores. O que garantiu essa afirmação foi a utilização do scree test, como método de análise para verificar os fatores a serem considerados. Nenhum dos itens precisou ser eliminado, considerando que os índices de saturação foram superiores a 0,30. Alguns itens, no entanto, saturaram em vários fatores. Em acréscimo, a variância explicada foi de 57,31%, valor esse bastante expressivo.

Das sete dimensões encontradas, a primeira é a das 'Ciências Exatas', que junta interesses por tarefas mais concretas, que envolvem o uso ou desenvolvimento de tecnologia, tais como envolver-se em pesquisas espaciais; criar programas de computadores; produzir equipamentos de captação de energia solar, elétrica e nuclear e outros.

A segunda dimensão é a de 'Artes e Comunicação', que reúne interesses por atividades criativas e que usem a comunicação para a expressão de idéias. Como exemplo deste fator, o interesse foi por desenhos; escrever e revisar textos; produzir desfiles, catálogos, editoriais de moda e campanha publicitária; editar vídeo ou filmes; entre outros relacionados.

No terceiro fator foram agrupados os itens relacionados a 'Ciências Biológicas e da Saúde', foco este no cuidado das pessoas, no sentido físico e psicológico, além do trabalho com pesquisas. Em resumo, refere-se a orientar a população sobre prevenção de doenças; realizar cirurgias; fazer pesquisas genéticas; investigar a natureza e a causa de doenças.

O quarto fator, referente às 'Ciências Agrárias e Ambientais', fundamenta-se pelo interesse em trabalhar em contato com ambientes abertos, com objetos concretos e foco em ações sobre o meio ambiente. Sendo assim, exemplos de itens são atuar na redução do impacto das atividades industriais; empenhar-se na preservação do meio ambiente; prevenir doenças em lavouras e rebanhos; controlar propriedades físicas dos solos; entre outras atividades relacionadas ao meio ambiente.

O quinto fator agrupa interesses relacionados a 'Atividades Burocráticas', que, por sua vez, agrupou itens referentes ao interesse por tarefas de classificação e organização; interesse pela intermediação entre empresas e empregados; foco em atividades financeiras. A dimensão resume-se, então, em pessoas com maior interesse em participar de processos de seleção, admissão e demissão; estruturar e manter bases de dados; classificar e organizar documentos; analisar e interpretar dados numéricos; assim como cuidar de princípios e normas relativos à arrecadação de impostos, taxas e obrigações tributárias.

O sexto e penúltimo fator, 'Ciências Humanas e Sociais Aplicadas', por sua vez, agrupa itens com foco nos trabalhos de cunho assistencial; interesse por conhecer as causas de ações humanas; interesse por conhecer os múltiplos aspectos envolvidos nos problemas da sociedade. Como exemplo, temos o estudo da origem e evolução do homem e da cultura e também analisar a sociedade em questões éticas, políticas e epistemológicas; assim como colaborar na elaboração de programas educacionais.

O último fator é o de 'Entretenimento', que agrupa itens com foco em entreter pessoas por meio de eventos, apresentações, turismo e outros. Assim, refere-se a produzir desfiles, catálogos e editoriais de moda e campanhas publicitárias; gerenciar serviços de aeroportos; gerenciar flats, pousadas, hotéis e parques temáticos.

Para saber até que ponto as dimensões encontradas se ajustariam às carreiras universitárias freqüentadas pelos estudantes, comparou-se as médias obtidas pelos participantes em cada dimensão em relação ao curso de cada um. Assim, a análise de variância encontrada será descrita abaixo, sendo considerada uma evidência de validade de critério.

Com vistas a conhecer quais carreiras poderiam ser diferenciadas pela dimensão 1 (Ciências exatas), procedeu-se a uma análise de variância. As médias mais altas foram de estudantes das Engenharias, e as menores foram encontradas em estudantes de Fisioterapia. A mesma análise foi feita com todas as dimensões, o que possibilitou inferir que houve médias significativamente diferentes entre os cursos nas sete dimensões.

Na dimensão 2 (Artes e comunicação), os estudantes dos cursos de Educação Física, Turismo, Pedagogia e Jornalismo obtiveram a maior média e a menor, os cursos de Veterinária e Medicina. Na dimensão 3 (Ciências biológicas e da saúde), os cursos com maior média foram os de Medicina, Fisioterapia e Veterinária, e os de menor, Educação Física, Jornalismo e Engenharias. Já na dimensão 4 (Ciências agrárias e ambientais), os cursos com maiores médias foram os de Veterinária e Turismo, sendo as médias mais baixas dos cursos de Educação Artística, Jornalismo, Engenharias, Fisioterapia, Educação Física e Psicologia. Por sua vez, na dimensão 5 (Atividades burocráticas), a maior média apresentada foi dos alunos de Administração e Direito, e menores, Educação Artística, Medicina e Fisioterapia. Na dimensão 6 (Ciências humanas e sociais aplicadas), as maiores médias foram dos cursos de Pedagogia, Jornalismo, Psicologia, Direito, e menor em estudantes de Veterinária. Por fim, na dimensão 7 (Entretenimento), a maior média foi do curso de Turismo e a menor dos estudantes de Medicina.

Após o estudo de componentes principais para identificar as dimensões do instrumento, cada dimensão foi analisada separadamente, utilizando o modelo de Rasch. Nesse específico, foi feita a análise do mapa de itens e de pessoas, além da análise do ajuste dos itens. Os estudos de precisão das dimensões foram realizados pelo modelo Rasch (alfas entre 0,97 e 0,99), pelo coeficiente alfa de Cronbach (variando entre 0,97 e 0,99) e pela correlação de duas metades (precisão entre 0,75 e 0,90).

Ao final, o manual traz as normas detalhadas para interpretação e estudos sobre o perfil de diferentes carreiras. A Escala de Aconselhamento Profissional foi aprovada pelo CFP (2007) e pode ser aproveitada por psicólogos que trabalhem com o público que busca ampliar as informações sobre si mesmo e sobre as profissões, para que assim possam realizar uma reflexão mais madura sobre a escolha profissional.

 

 

Sobre o autor:

* Caio Cesar Rodrigues Toledo: discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista do Programa de Iniciação Científica-PIBIC/CNPq. E-mail: caiocesar_toledo@yahoo.com.br.

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