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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.7 n.3 Porto Alegre dez. 2008

 

RESENHAS

 

Inteligência e trânsito

 

 

Dario Cecílio-Fernandes*

Universidade São Francisco

 

 

Sisto, F. F. (2006). Teste Conciso de Raciocínio. Manual. São Paulo: Vetor, 75 p.

 

O Teste Conciso de Raciocínio (TCR) é um teste rápido (tempo máximo de 15 minutos) que permite detectar casos graves de deficiência cognitiva, como também altos níveis de inteligência. Os itens foram selecionados para pessoas que procuram os exames para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Hoje em dia os testes psicológicos são desenvolvidos baseados nos princípios científicos, ou seja, é necessário uma teoria organizadora, pois, pressupõe-se que quanto mais elaborada a fundamentação teórica, maior será a probabilidade do instrumento fornecer pontuações confiáveis. Em relação aos estudos psicométricos o instrumento apresenta a técnica da Teoria Clássica dos Testes e da Teoria de Resposta ao Item.

O autor começa o manual com uma vasta introdução, que tem o seu desenvolvimento desde a descoberta do fator g por Charles Spearman em 1904, apresentando a essência do fator g, a discussão em torno dele e as diferenças culturais existentes entre a medição da inteligência baseada no quoeficiente de inteligência (QI). Em seguida, Sisto traz uma revisão detalhada sobre a abordagem psicométrica da inteligência, mostrando as divergências teóricas e diversas pesquisas. Em seqüência são descritos o fator g, as leis noegenéticas e as diferenças de sexos. Após isso, Sisto descreve as contribuições posteriores ao fator g, que foram divididas em sete partes.

Na primeira parte trata da inteligência geral e de sua base biológica, apresentando as variações e as razões pelas quais ocorrem mudanças cognitivas no âmbito biológico e ambiental. O próximo tópico diz respeito ao desempenho acadêmico, ou seja, relaciona a inteligência com a educação formal e também com a aquisição de conhecimento não relacionado ao âmbito escolar. Posteriormente, a inteligência é relacionada ao trabalho, na qual o autor discute se realmente a inteligência influenciaria diretamente o trabalho conseguido pelo sujeito, ou seja, que tipo de trabalho o sujeito irá executar; em seguida há uma discussão da relação entre a inteligência e a exclusão social, focando-se principalmente na herança cultural e idioma. Apresentando-se, portanto, a questão das diferenças raciais. Após isso, Sisto apresenta um tópico ao qual que denominou o viés dos testes, mostrando a importância da utilização do funcionamento diferencial dos itens (DIF) para retirar os vieses que podem ser encontrados nos testes, sendo relacionados às questões anteriores ou até mesmo ao sexo.

No último tópico o autor aborda a inteligência com os condutores de veículos automotores. O autor indica que as pesquisas que envolvem o comportamento em relação ao ato de dirigir e inteligência têm sido realizadas sob várias perspectivas. Dentre essas perspectivas, podem ser encontrados na literatura estudos sobre variáveis psicológicas, aprendizagem por máquina, avaliação das resistências à monotomia de dirigir e problemas emocionais, sendo essas relacionadas ao contexto especifico do trânsito. No final, após a discussão de várias pesquisas, Sisto mostra que há uma relação entre inteligência e conhecimento de comportamentos relacionados ao ato de dirigir um veículo automotor; entretanto, com o aumento da experiência de dirigir, essa relação pode apresentar um decréscimo.

Na seqüência são tratados os estudos psicométricos. Na seção "Participantes", observa-se que foram estudados 514 sujeitos, com idade variando de 18 a 73 anos, sendo que todos eles procuraram clínicas de Avaliação Psicológica para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Os participantes eram provenientes dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Posteriormente são fornecidos os estudos das características dos itens, começando pelo ajuste do teste ao modelo de Rash. Após a análise do teste pelo modelo da Teoria Resposta ao Item, os dados são analisados pela Teoria Clássica dos Testes.

No manual do Teste Conciso de Raciocínio (TCR) são encontrados, ao todo, 11 evidências de validade, quais sejam, por análise fatorial, pelo estudo da unidimensionalidade da escala (modelo Rash), por análise bifatorial, pelo funcionamento diferencial do item (DIF), pela validade desenvolvimental, validade de critério pela correlação com o teste R1 e com uma prova de conhecimentos sobre trânsito, evidência de validade por grupos contrastantes com uma prova de conhecimento sobre trânsito, evidência de validade divergente com os Testes de Atenção Dividida e Sustentada e; por fim, evidência de validade divergente com o Teste de Atenção Concentrada (AC).

Em seguida são mostrados os estudos de precisão, que está relacionado com a estabilidade dos resultados obtidos. Quando esse estudo se refere aos itens, normalmente é analisado sob duas perspectivas. Uma delas é se os itens têm uma constância de medida semelhante ao longo do instrumento. A outra refere-se ao desgaste temporal, ou seja, se o resultado de uma segunda aplicação é muito dispare da primeira. Com isso nota-se a importância desse tipo de estudo. No caso do TCR, foram calculados os coeficientes de precisão pelos procedimentos do modelo de Rash, pelo alfa de Cronbach e pelo método das duas metade. Todos os indicadores foram considerados bons.

Na parte subseqüente são apresentadas as normas de aplicação, correção e interpretação. No caso da aplicação, ela é dividida em duas partes, a saber, instruções gerais, que consiste nas condições de aplicação, ou seja, número de pessoas, condições físicas, entre outras; e instruções especificas, que mostra o que o aplicador deve falar. Posteriormente são apresentadas as normas para correção e, por fim, as normas para interpretação, com tabelas com as pontuações da Teória Clássica dos Itens para os estados de Minas Gerais e São Paulo e tabelas com as medidas Rash também para ambos os estados.

Tanto manual, como os estudos traz uma contribuição muito grande para a área da Avaliação Psicológica, por ser um teste que apresenta estudos confiáveis, com várias evidências de validade, bem como uma grande discussão teórica sobre o construto da inteligência, um tema há muito tempo estudado. É um teste que apresenta evidências de validade especificas para o contexto do trânsito, sendo que dentro desse âmbito quase não há estudos e materiais específicos. É um texto, na qual o leitor necessita um bom conhecimento de estatística, pois o autor mostra todas as análises e estudos feitos, sendo estudos com a Teoria Clássica dos Testes e com a Teoria Resposta ao Item. Com um linguajar técnico, porém acessível, é recomendado para psicólogos interessados em um teste rápido que diferencia pessoas com inteligências altas e baixas.

 

 

Sobre o autor:

* Dario Cecílio-Fernandes: é acadêmico em Psicologia pela Universidade São Francisco, bolsista FAPESP.

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