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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.7 no.3 Porto Alegre Dec. 2008

 

RESENHAS

 

Intervenções vocacionais: proposta de modelos e desafios para o futuro

 

 

Geruza Oliveira de Aquino Pereira*

Universidade São Francisco

 

 

Taveira, M. C., Silva, J. T. (2008). Psicologia Vocacional: perspectivas para a intervenção. Imprensa da Universidade de Coimbra.

 

O sucesso na profissão está relacionado às habilidades pessoais do indivíduo, aplicados na área escolhida e como este se posiciona frente às dificuldades encontradas na carreira profissional. Atualmente, a globalização tem estimulado o surgimento e o desaparecimento de profissões, potencializando, desse modo, a instabilidade na carreira. Entretanto, este momento histórico apresenta uma oportunidade de fortalecimento e expansão para a área de aconselhamento vocacional, criando a necessidade de estudantes e profissionais de Psicologia e áreas afins compreender e ampliar o conhecimento sobre o papel da Psicologia Vocacional, visando o aperfeiçoamento das capacidades do profissional que realiza aconselhamento vocacional e intervenções de carreira.

A obra "Psicologia Vocacional: perspectivas para a intervenção", coordenada por Maria do Céu Taveira e José Tomás da Silva e publicada em Portugal, está organizada em seis capítulos, feitos por renomadas autores, que são pesquisadores especialistas da área Vocacional, oriundos de universidades públicas dos Estados Unidos e Europa. Esses autores apresentam uma leitura ampla sobre a dimensão histórica e as principais características do papel da Psicologia Vocacional hoje, com vistas ao futuro direcionamento da economia.

No capítulo introdutório, intitulado Abordagens às intervenções de carreira: perspectiva histórica, o autor Edwin Herr, da Universidade da Pensilvânia, apresenta uma visão panorâmica do aconselhamento vocacional desde o final do século XIX. O ator refere o nascimento da Psicologia Vocacional como disciplina metodológica em 1909, o desenvolvimento das teorias, a expansão das técnicas, o início da orientação de carreira para jovens e adolescentes, os avanços tecnológicos e a Internet do final do século XX fazendo ponte para a globalização da economia no século XXI. Estimula-se o aperfeiçoamento da qualidade e ampliação das intervenções de carreira, visando às possíveis mudanças exigidas de um globalizado mercado de trabalho.

Maria Luisa Rodrigues Moreno, da Universidade de Barcelona, é a autora do segundo capítulo, denominado A Educação para a carreira: aplicações à infância e à adolescência, onde ela faz importantes observações e desafios para profissionais de orientação vocacional, com destaque à educação de carreira nas escolas, onde expõe a necessidade da inclusão da orientação vocacional no currículo escolar desde o nível fundamental, para que o aluno comece a desenvolver a percepção da escola como seu lugar de trabalho, sendo orientado à tomada de decisões e superação das dificuldades em vivências prática da profissão previamente escolhida. Sendo assim, o foco da orientação vocacional passa a ter uma concepção de natureza educativa e deixa de ser uma atividade periférica ao sistema escolar, com o objetivo de preparar o estudante para o desaparecimento das fronteiras entre viver, trabalhar e aprender. Por fim, a autora expõe estratégias e metodologias necessárias para a implantação da educação vocacional no currículo escolar sem, contudo, misturar os papéis do psicólogo e professor, e apresenta um modelo do desenvolvimento de um projeto realizado com sucesso em Barcelona.

O capítulo três, de Lígia Mexia Leitão e Maria Paula Paixão, ambas da Universidade de Coimbra em Portugal, Consulta Psicológica Vocacional para jovens adultos e adultos, aborda o objetivo, as definições e áreas de aplicação da consulta psicológica vocacional em diferentes aspectos. Especificam o papel do conselheiro para a percepção do contexto do consulente jovem adulto e adulto, dentro de seus desafios profissionais e limitações pessoais, com um interessante enfoque da mulher no mercado de trabalho e o impacto das inter-relações de seus papéis. As autoras ainda ressaltam, com descrições específicas e modelos de abordagem relevantes, a necessidade de o conselheiro identificar e direcionar os momentos significativos das transições: identidade pessoal x identidade profissional e principalmente do indivíduo que, na fase adulta, sofre com as interferências na carreira, inclusive a aposentadoria. Em síntese, a consulta psicológica vocacional deveria ser utilizada como instrumento de orientação aos projetos de vida profissional, associando qualidade ao desempenho de outros papéis, possibilitando assim bem-estar ao indivíduo.

O uso das tecnologias na intervenção vocacional: implicações para a teoria e prática, é o título do quarto capítulo, de autoria dos pesquisadores de Portugal, Maria do Céu Taveira e José Tomás da Silva, que fazem um interessante relato sobre o impacto das tecnologias de comunicação, os desafios e as possibilidades que agregam ao profissional quando bem utilizados. Os autores fazem uma análise da tendência do uso de softwares e Internet nas atividades de orientação vocacional, ressaltando a necessidade da comunicação entre os profissionais da área de Tecnologia de Comunicação e Informação com psicólogos, para a eficácia dessas ferramentas e contínua qualidade ao desenvolvimento e atualização das mesmas.

O quinto capítulo, A avaliação psicológica na intervenção vocacional: princípios, técnicas e instrumentos, escrito por Maria Eduarda Duarte, da Universidade de Lisboa, destaca o importante papel da avaliação psicológica nos aconselhamentos e intervenções de carreira, ressaltando o rigor da preparação ao nível da fundamentação teórica e dos aspectos éticos, destacando a necessidade do profissional conhecer e usar corretamente instrumentos que sustentam e apóiam a intervenção solicitada. A autora apresenta categorias de testes e caracteriza-os, especificando como devem ser utilizados no aconselhamento de carreira. Em suma, salienta que o objetivo da orientação psicológica vocacional não é apenas o auxílio ao desenvolvimento profissional, mas o auto-conhecimento e satisfação pessoal do indivíduo, resultando em qualidade de vida.

Finalizando com o sexto capítulo, chamado Mudança de paradigma na educação e novos rumos para a atuação dos professores e dos psicólogos nas escolas, Manuel Viegas Abreu - Universidade de Coimbra, inicia fazendo um questionamento dos motivos para os fracos resultados nas reformas do sistema educativo em escala mundial. Faz uma severa crítica à influência do dualismo cartesiano como fator preponderante à anti-sociabilidade da mente e corpo na metodologia escolar atual. Com inquietante emergência, descreve duas propostas radicais para um novo paradigma de escola e educação, onde a transmissão de conhecimento seria um dos instrumentos de formação acadêmica, e que o principal objetivo pedagógico seria a motivação ao desenvolvimento de uma personalidade globalizada no aluno. Para Viegas Abreu, a necessidade da atuação dos psicólogos no contexto escolar é imprescindível para que ocorra com sucesso mudanças na prática educativa, suscetíveis a contribuição para o desenvolvimento dessa nova personalidade no aluno. Esclarece o conceito de personalidade fazendo observações quanto a uma revisão desse conceito no contexto da sociedade atual. Termina o capítulo identificando as principais mudanças que este novo modelo pedagógico provocaria à Educação e à Psicologia.

Trata-se de uma obra que explora com lucidez e pertinência tópicos importantíssimos do aconselhamento e intervenção na carreira e contribui muito para a Psicologia e Educação Vocacional no país, já que na língua portuguesa há escassez de literatura na área. A leitura torna-se agradável e interessante pela linguagem simples, acessível e pelo encadeamento objetivo e instigante dos temas abordados. Para estudantes e profissionais, é uma imprescindível ferramenta que elencará qualidade à execução da prática, tornando compreensível a visão atual sobre a posição mundial da Psicologia Vocacional, e possibilitando a compreensão dos rumos da profissão, que estão sendo moldados pela emergente economia globalizada.

 

 

Sobre a autora:

* Geruza Oliveira de Aquino Pereira: discente do curso de Psicologia e voluntária de iniciação científica da Universidade São Francisco. E-mail: psico.geruza_oliveira@hotmail.com.

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