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Avaliação Psicológica

versión impresa ISSN 1677-0471versión On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.8 n.1 Porto Alegre abr. 2009

 

ARTIGOS

 

Revista Avaliação Psicológica: um estudo da produção científica de 2002 a 2007

 

Avaliação Psicológica journal: a study of scientific production from 2002 to 2007

 

 

Adriana Cristina Boulhoça SuehiroI, *; Fabián Javier Marín RuedaII, **

I Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
II Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo investigou a produção científica da revista Avaliação Psicológica, entre os anos de 2002 e 2007. Foram focalizados 12 números, dos quais 100 artigos foram analisados com base nos seguintes critérios: quantidade de artigos publicados por número da revista, distribuição da produção por origem, natureza da autoria, gênero dos autores, tipo de trabalho, tipo de material utilizado nas pesquisas de campo e referências empregadas na fundamentação dos artigos. Os dados evidenciaram um aumento das publicações nos últimos dois anos, sendo 2007 o ano com maior número de artigos. Observou-se que o relato de pesquisa foi a forma mais utilizada e que o sudeste foi a região que mais publicou nesse período. Houve ainda a predominância da autoria múltipla e feminina, além de pesquisas que empregaram testes ou escalas. Quanto às referências utilizadas, a maioria dos trabalhos se fundamentou preponderantemente em artigos de periódicos científicos, tal como esperado.

Palavras-chave: Produção científica, Psicologia, Periódicos.


ABSTRACT

The present study investigated the scientific production of the journal Avaliação Psicológica, between the years of 2002 and 2007. 12 issues were considered, in which 100 articles were analyzed based in the following criteria: amount of articles published per year, type of research, region of origin, nature of authorship, authors' gender, type of work and material used in researches and references employed. The data evidenced an increase of publications in the last two years, being 2007 the year with greater number of articles. The research report was the most used form and the southeast region had published more in that period. There was still the predominance of multiple and feminine authorship and researches that employed tests or scales. The references were mostly based on articles, as expected.

Keywords: Scientific research, Psychology, Journals.


 

 

Introdução

A ciência é definida por Bronowski (1965) como a busca por um denominador comum entre os diversos prismas que compõem a experiência do homem com o seu meio. Ela é um processo de produção do conhecimento que, com base em idéias, confronta o que poderia ser feito com o que de fato o é na busca por soluções (Jacob, 1997; Zancan, 2000). Vários autores, dentre os quais Rutherford e Algreen (1990) e Witter (1999) têm considerado a ciência como a principal realização do século XX, especialmente em razão do seu crescimento e desenvolvimento. No Brasil, esse desenvolvimento se deu em razão dos serviços e produtos derivados da produção do conhecimento e que permitiram que o país crescesse e se tornasse membro integrante e competitivo no mundo veloz da produção científica mundial (Poblacion & Oliveira, 2006).

Diversos autores dentre os quais Rutherford e Algreen (1990), Freitas (1998), Poblacion e Noronha (2002), Souza (2002), Pisciotta (2006), Weitzel (2006) e Yamamoto e Gouveia (2003) enfatizam, no entanto, que os serviços e produtos que possibilitaram a inserção do Brasil no cenário mundial da produção científica só foram plausíveis em razão da natureza social da ciência e dos programas de pós-graduação instituídos no país a partir de 1970 e que passaram a ser os maiores pólos geradores da produção científica brasileira. Nesse sentido, deve-se ressaltar que o crescimento das publicações no país perpassa, então, por uma intensa pressão para publicar, visto que o maior peso nas decisões sobre a avaliação dos programas de pós-graduação é a produção científica dos docentes, bem como que a progressão na carreira universitária e nos institutos de pesquisa tem como base a produção científica, o que insufla a quantidade de pesquisadores ativos e a competitividade em relação aos financiamentos concedidos por agências de fomento que repassam recursos dos governos estaduais e federal, tais como CNPq, FINEP, CAPES e FAPESP (Freitas, 1998; Packer & Meneghini, 2006).

Dada à importância da produção científica no cenário mundial, bem como o papel de destaque da comunicação dessa produção nesse cenário, a divulgação da ciência é considerada como um aspecto crucial para o seu progresso. Progresso este que afeta a todos os campos científicos (Packer & Meneghini, 2006; Pisciotta, 2006; Weitzel, 2006). No entanto, para que a comunicação da produção científica atinja seus objetivos, a publicação dos resultados obtidos nas pesquisas conduzidas deve ser realizada em veículos de ampla audiência, tais como os periódicos científicos, que possibilitem a disseminação do conhecimento gerado, bem como estimule novos trabalhos.

Desde o seu surgimento, as revistas ou periódicos científicos constituem importantes canais de comunicação formal da ciência. Esse tipo de publicação teve início no século XVII, na Europa, com a criação das sociedades e academias científicas (Freitas, 2006). A primeira revista de psicologia editada no Brasil foi a Revista Brasileira de Psicanálise, que teve seu primeiro número publicado em 1928. Desde então outros periódicos científicos foram editados na área, tais como a revista Boletim de Psicologia, editada em 1945 com o objetivo de promover o desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão e a revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, em 1949. A partir daí, um grande número de títulos que publicam sobre Psicologia surgiu. Atualmente, é difícil precisar o número exato de periódicos de Psicologia. (Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, 2007; Gonçalves, Ramos & Castro, 2006).

Editada desde 2002, em parceria com a Casa do Psicólogo, a Revista Avaliação Psicológica era uma revista semestral (em 2008 passou a ser quadrimestral) vinculada ao Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica. Ela se destina a publicar trabalhos originais que relatem estudos em avaliação psicológica, incluindo artigos de revisão da literatura, notas técnicas e comunicações breves de pesquisa, assim como resenhas de livros e notícias. Com vistas a estabelecer um intercâmbio entre seus pares e pessoas interessadas em avaliação psicológica, conta com uma revisão às cegas e, em conseqüência, os conteúdos nela veiculados não refletem a posição, opinião ou filosofia, do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (Periódicos Eletrônicos em Psicologia, 2007).

A Revista Avaliação Psicológica é Classificada como um periódico A Nacional, de acordo com a avaliação da Qualis 2007, que compreende uma qualificação da produção científica dos docentes e discentes, que subsidia a avaliação conduzida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES e pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP (2007) dos programas de pós-graduação credenciados pela instituição. Cada área da CAPES elegeu uma comissão responsável pela arbitragem dos periódicos correspondentes, que foram classificados, em 2007, quanto ao âmbito de circulação (local, nacional e internacional) e quanto ao conceito (A, B e C) (Costa, 2006; Paula, 2002).

Tendo em vista que, conforme ressalta Costa (2006), a avaliação dos periódicos em psicologia é o principal instrumento para garantir um padrão mínimo de qualidade nas publicações da área, bem como que as revistas científicas são responsáveis pelo registro da produção intelectual e dos avanços no campo do conhecimento, parece compreensível que estes veículos de comunicação também sejam alvo de estudos que se proponham a avaliar a produção científica tanto de pesquisadores, quanto de instituições, ao analisarem, por exemplo, indicadores de citação, autoria, co-autoria e acesso, entre outros (Gonçalves, Ramos & Castro, 2006; Witter, 1996; Witter, 1999, 2006; Yamamoto, Souza & Yamamoto, 1999). A análise da produção científica no campo da psicologia teve início na década de 70 do século XX, época na qual os estudos eram realizados com base na revisão da literatura. Já nos anos 80 e 90, as estratégias empregadas nesse tipo de análise se aproximavam da cientometria (avaliação e análise quantitativa do progresso científico e tecnológico) e, atualmente, abarcam dimensões mais amplas e itens pontuais da produção científica baseando-se para tanto na metaciência, que busca avaliar a qualidade do conteúdo publicado (Witter, 1996; Witter, 1999).

Embora a análise da produção científica seja considerada como essencial por diversos autores e se constitua como um alvo de preocupação nos últimos anos, estudos têm demonstrado que a produção científica no Brasil tem sido veiculada, diferentemente do desejável, predominantemente em anais de congressos (Freitas, 1998; Macedo & Menandro, 1998; Meneghini, 1998; Soares, Victoria, Cavalieri & Bottino, 2006; Yamamoto & colaboradores, 2002; Yamamoto & colaboradores; 1999). Ao lado disso, Aguiar Netto (1988), Matos (1988) e Yamamoto e colaboradores (1999) ressaltam a produção relativamente pequena da psicologia quando comparada a outras áreas do conhecimento, assim como os poucos estudos específicos sobre sua produção registrados na literatura brasileira.

Yamamoto e colaboradores (1999), por exemplo, analisaram 719 artigos distribuídos pelas 80 edições de seis periódicos brasileiros especializados em psicologia, de circulação nacional, editados entre 1990 e 1997. Constataram que havia poucos pesquisadores publicando sistematicamente e que essa produção estava concentrada em um grupo reduzido de instituições localizadas nas regiões Sul e Sudeste. Ao lado disso, evidenciaram que a maioria dos pesquisadores era do sexo feminino. Esses resultados estão em consonância com os de outros estudos que também encontraram esse panorama (Cunha, Suehiro, Oliveira, Pacanaro & Santos, no prelo; Oliveira, Cantalice, Joly & Santos, 2006; Oliveira & colaboradores, 2007; Souza Filho, Belo & Gouveia, 2006; Suehiro, Cunha & Santos, 2007; entre outros) e, no que diz respeito ao sexo, reforçam a constatação de que ao longo de mais de três décadas de regulamentação da profissão de psicólogo, o predomínio marcante do sexo feminino entre os seus profissionais se faz cada vez mais presente (Bock, 2003; Castro & Yamamoto, 1998; Conselho Federal de Psicologia - CFP, 2005; Rosas, Rosas & Xavier, 1988).

Alguns desses resultados também foram verificados por Oliveira e colaboradores (2006) que investigaram a produção científica de dez anos de publicações da Revista Psicologia Escolar e Educacional. A exemplo do estudo aqui realizado, as autoras se basearam em alguns critérios da metaciência, como autoria, temática, discurso e análise dos tipos de avaliações realizadas. Dentre os resultados obtidos destacaram-se, mais uma vez, a predominância da autoria múltipla e feminina. Constatou-se, ainda, que a região Sudeste foi a que mais apresentou trabalhos, bem como um aumento na quantidade de artigos publicados nos últimos anos, sendo que a maior parte das publicações foi de pesquisas de campo. Embora as temáticas testes/construção de instrumentos, método de ensino/aprendizagem, leitura e criatividade tenham sido mais freqüentemente pesquisadas, não houve diferença significativa entre a temática abordada e a distribuição da produção.

Soares e colaboradores (2006), por sua vez, verificaram, ao analisarem a produtividade dos variados campos de atuação da Psicologia nos anos de 2000 e 2001, tanto em revistas populares de grande circulação nacional, quanto em revistas científicas da área, que a Psicologia Social foi o campo mais contemplado por ambos os veículos de comunicação e que dentre as áreas menos estudadas estavam Fundamentos e Medidas, Psicologia do Ensino e Aprendizagem e Psicologia do Desenvolvimento Humano. Esses resultados estão, segundo os autores, de acordo com o esperado, tendo em vista que estas refletem áreas do saber psicológico menos compartilhadas com o senso comum. Já entre os periódicos científicos, as áreas com maior destaque, depois da Psicologia Social, foram Fundamentos e Medidas, Tratamento e Prevenção e Psicologia Cognitiva, cuja produção estava concentrada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.

Resultados semelhantes com relação à área de Fundamentos e Medidas foram observados por Suehiro, Cunha, Oliveira e Pacanaro (2007). Ao investigarem a produção científica veiculada na Revista Psico-USF entre 1996 e 2006, as autoras constataram que a maioria dos artigos avaliados abordou assuntos relativos a Fundamentos e Medidas da Psicologia, tais como, construção e validade de testes, escalas e outras medidas psicológicas; história, teorias e sistemas em psicologia; metodologia, instrumentação e equipamento em psicologia e técnicas de processamento estatístico, matemático e computacional em psicologia. Ao lado disso, observaram um aumento no número das publicações nos últimos seis anos, sendo que a maior quantidade de artigos foi verificada em 2006. Os resultados também indicaram a preponderância da autoria múltipla e feminina, assim como dos relatos de pesquisa e da região Sudeste como maior produtora do conhecimento divulgado.

Na mesma direção, Oliveira e colaboradores (2007) evidenciaram, em seu estudo sobre a produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar, o predomínio de autoria múltipla e feminina nos trabalhos. No que se refere aos instrumentos empregados pelos autores em suas pesquisas verificou-se que os instrumentos psicométricos foram os mais utilizados, embora as entrevistas e a observação também tenham sido freqüentes. Segundo as autoras, o resultado obtido no que concerne ao tipo de instrumento utilizado nas avaliações sugeriu que, de modo geral, os pesquisadores têm aplicado técnicas que apresentam alguma fundamentação estatística para realizar sua avaliação, o que pode gerar resultados mais confiáveis.

Diferentemente do observado por Oliveira e colaboradores (2007), Suehiro, Cunha e Santos (2007), verificaram, ao focalizar a produção científica relacionada à avaliação da escrita no contexto escolar, entre 1996 e 2005, em periódicos científicos de psicologia classificados como A Nacional, que o instrumento mais utilizado para a avaliação da escrita foi o ditado e que menos de 30% dos instrumentos empregados na avaliação apresentavam evidências de validade, o que gera pouco conhecimento útil e generalizável. As autoras verificaram ainda que as publicações se concentraram nos anos de 2003 a 2005 e que as produções na área eram realizadas predominantemente por instituições localizadas na região Sudeste do país. A maioria dos artigos publicados pelos periódicos avaliados foi do tipo relato de pesquisa, com delineamento correlacional, tratamento quantitativo e estatística inferencial. Em acréscimo, constataram que as informações mais utilizadas para a fundamentação dos artigos científicos analisados foram aquelas veiculadas ou divulgadas pelos periódicos.

Os estudos aqui apresentados parecem reforçar de alguma maneira a importância da avaliação da quantidade e qualidade das produções dos pesquisadores, na medida em que esta assegura o desenvolvimento e o aprimoramento não apenas das áreas da psicologia, mas das atividades de pesquisa. Especificamente no que se refere à avaliação psicológica, considera-se que estudos desse porte são extremamente relevantes especialmente em razão das modificações pelas quais a área passou nos últimos anos em conseqüência de uma série de eventos que podem ser considerados marcantes para o desenvolvimento desse campo da psicologia. Dentre esses acontecimentos destacam-se a promulgação da primeira resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) sobre a construção e o uso de testes psicológicos, bem como a criação do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) e a aprovação, pela CAPES, do primeiro curso de mestrado em psicologia, com área de concentração em avaliação psicológica. Diante do exposto, este estudo tem por finalidade analisar a tendência das publicações da revista oficial do IBAP, qual seja, Revista Avaliação Psicológica, desde sua criação até 2007 no intuito de verificar seu desenvolvimento.

 

Método

Fonte

Foram analisados 12 números da Revista Avaliação Psicológica, totalizando 100 artigos. Ressalta-se que no periódico podem ser encontrados trabalhos apresentados em congressos, notas técnicas, resenhas, conferências, homenagens e editoriais, porém, apenas os artigos foram analisados neste estudo. Para tanto, utilizaram-se as versões impressas do periódico.

Procedimento

Os artigos foram analisados na íntegra com base em alguns critérios estabelecidos por Witter (1999) e outros considerados relevantes pelos autores. Os itens pesquisados foram: (a) a quantidade de artigos publicados por número da revista; (b) a distribuição da produção por origem (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, Norte, parcerias e internacionais); (c) a natureza da autoria (individual ou múltipla), bem como, (d) o gênero dos autores; (e) a distribuição do tipo de trabalho (relato de pesquisa de campo ou manuscrito teórico), sendo que nas pesquisas de campo procurou-se pesquisar ainda; (f) o tipo de material utilizado (testes ou escalas, podendo ser eles nacionais, internacionais ou traduzidos para o português; aqueles artigos que utilizaram outro tipo de material, tais como observações, questionários elaborados pelo(s) autor(es) ou outro tipo de procedimento específico e ainda; os trabalhos mistos, caracterizados pela utilização de instrumentos de medida e outro tipo de material) e, por fim; (g) as referências utilizadas em cada artigo publicado.

 

Resultados e Discussão

Num primeiro momento foi verificada a quantidade de volumes, números e o total de artigos publicados por ano. Os resultados desse levantamento estão apresentados na Tabela 1.

Na Tabela 1 pode ser observado que o número de artigos publicados pela Revista Avaliação Psicológica aumentou a partir do ano de 2006, sendo registrada uma média de 10,5 por número. Ainda, 2007 foi o ano no qual se constatou o maior número de publicações (N=23; M=11,5).

O aumento no número de publicações nos últimos anos também foi verificado por Oliveira e colaboradores (2006) e Suehiro e colaboradores (2007). As primeiras autoras investigaram a produção científica de 1996 a 2005 da Revista Psicologia Escolar e Educacional. Já Suehiro e colaboradores (2007), verificaram a produção científica veiculada na Revista Psico-USF entre 1996 e 2006 e constataram um crescimento no número das publicações nos últimos seis anos, sendo que a maior quantidade de artigos foi observada em 2006.

 

 

Para avaliar a origem da produção, levantou-se a procedência dos artigos. Para tanto, avaliou-se a região, o país e as parcerias regionais e internacionais realizadas. Esses resultados encontram-se na Tabela 2. Deve ser ressaltado que os artigos foram considerados "parcerias" quando foram elaborados entre pesquisadores de diferentes regiões do Brasil ou de diferentes países. Quando os artigos foram produzidos por pesquisadores de diferentes instituições, porém da mesma região, os artigos foram considerados referentes à região da qual os autores eram provenientes.

 

 

Os resultados referentes à origem da produção indicaram que a região Sudeste foi a que mais contribuiu para as publicações da revista, representando mais da metade do total (N=51; 51%), enquanto a Norte não contribuiu com nenhuma publicação nos seis primeiros anos da Revista Avaliação Psicológica. O fato da região Sudeste se configurar como a região de maior produção do conhecimento divulgado pelo periódico avaliado também foi constatado por outros estudos que se detiveram na análise da produção científica de diversas revistas científicas da área (Oliveira & colaboradores, 2006; Soares & colaboradores; 2006; Suehiro & colaboradores, 2007; Suehiro & colaboradores, 2007; Yamamoto & colaboradores, 1999).

Quanto ao tipo de autoria, individual ou múltipla, verificou-se que os artigos foram escritos, na maioria, por mais de um autor (N=88; 88%), assim como constatado por Oliveira e colaboradores (2006), Oliveira e colaboradores (2007) e Suehiro e colaboradores (2007). A média de autores por artigos foi 2,61, sendo que o mínimo foi 1 e o artigo com maior número de autores apresentou 8. Quanto ao total, a maior parte dos autores foi do sexo feminino (N=154; 59%). Ainda, dos 100 artigos publicados, em 59 deles o primeiro autor também foi do sexo feminino.

Os resultados aqui obtidos com relação à superioridade feminina na autoria dos trabalhos que têm sido divulgados pelos periódicos científicos corroboram a hegemonia verificada por diversos estudos dentre os quais os realizados por Yamamoto e colaboradores (1999), Oliveira e colaboradores (2006), Oliveira e colaboradores (2007) e Suehiro e colaboradores (2007). Deve ser ressaltado, ainda, o fato de que desde a sua criação a Psicologia têm se constituído como uma profissão tipicamente feminina, o que faz com que essas constatações pareçam algo natural (Bock, 2003; Castro & Yamamoto, 1998; Conselho Federal de Psicologia - CFP, 2005; Rosas & colaboradores, 1988).

No que se refere à análise por tipo de trabalho, buscou-se investigar a modalidade na qual o manuscrito se enquadrava. Para tanto, consideraram-se as categorias relato de pesquisa de campo e manuscrito teórico. Tal qual observado em outros estudos como os de Oliveira e colaboradores (2006), Suehiro e colaboradores (2007) e Suehiro e colaboradores (2007), os resultados evidenciaram que a maior parte do material publicado se referia a relatos de pesquisa (N=83; 83%), enquanto os manuscritos teóricos representaram 17% do total.

Dentre as pesquisas de campo procurou-se ainda diferenciar os artigos que utilizaram testes ou escalas, daqueles artigos que utilizaram outro tipo de material e, ainda, os trabalhos mistos. Dessa forma, nas pesquisas de campo verificou-se uma preponderância de artigos que utilizaram testes ou escalas (N=50; 60,24%), seguido pelos trabalhos que utilizaram outro tipo de material (N=26; 31,33) e, por fim, os trabalhos mistos (N=7; 8,43%). Do mesmo modo, Oliveira e colaboradores (2007) evidenciaram, em seu estudo sobre a produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar, que embora outras técnicas como as entrevistas e a observação também tenham sido freqüentemente utilizadas pelos autores, predominaram os instrumentos psicométricos. Esses resultados parecem indicar que há uma preocupação crescente entre os autores em gerar resultados mais confiáveis e que possibilitem a ampliação do conhecimento útil e generalizável.

Pesquisaram-se ainda quais instrumentos foram empregados pelos autores, sendo verificada a utilização de 88 testes e/ou escalas (nacionais, internacionais ou traduzidas para o português). Dessa forma, pôde ser constatado que houve uma variabilidade muito grande de instrumentos, sendo que dos 88 testes apenas 11 foram utilizados em mais de uma pesquisa. São eles, o Questionário de Personalidade 16PF, a Escala de Avaliação de Dificuldades na Aprendizagem da Escrita (ADAPE), as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven e o Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender (todos utilizados em três pesquisas); e o Desenho da Figura Humana, a Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5), as Escalas de Responsividade e Exigência Parental, o Teste de Pensamento Criativo de Torrance, o Inventário Beck de Depressão (BDI), a Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ) e a Escala de Avaliação do Reconhecimento de Palavras (utilizados em duas investigações).

Por fim, foram analisadas as referências utilizadas nos artigos. Para tal foram consideradas seis categorias de análise, quais sejam, (a) artigo publicado, no prelo ou submetido para publicação; (b) livro ou capítulo de livro; (c) tese de doutorado, dissertação de mestrado, relatório técnico, monografia de especialização ou trabalho de conclusão de curso; (d) manual de teste; (e) trabalho apresentado em congresso, podendo o mesmo ser na forma de comunicação oral, painel, mesa redonda ou conferência e; (f) categoria outro, sendo agrupadas nesta categoria as leis, resoluções e manuscritos não publicados. Os resultados dessa análise podem ser observados na Tabela 3.

Na análise da Tabela 3 pode ser verificado que em todos os números da Revista Avaliação Psicológica houve uma maior consulta a artigos científicos, sendo que quando considerados todos os números do periódico a consulta a esse tipo de material foi maior do que 50%. Ainda, os livros ou capítulos de livro também apresentaram uma quantidade considerável de citações, apresentando uma média superior a 30%. Por sua vez, as outras quatro categorias, quando somadas, apresentaram uma porcentagem um pouco maior do que 10%. Tais resultados são coerentes com os obtidos por Suehiro e colaboradores (2007) que constataram que as informações mais utilizadas pelos autores para a fundamentação dos artigos científicos analisados foram aquelas veiculadas ou divulgadas pelos periódicos científicos.

 

À Guisa de Conclusão

O objetivo do presente estudo foi realizar um levantamento dos trabalhos publicados na Revista Avaliação Psicológica, periódico oficial do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica, desde sua criação, em 2002, até 2007 no intuito de verificar sua tendência de publicações e desenvolvimento. Para tanto, foram consideradas algumas categorias, quais sejam, quantidade de artigos publicados por número da revista, região em que prevaleceram as pesquisas, natureza da autoria, gênero dos autores, distribuição do tipo de trabalho, tipo de material utilizado nas pesquisas de campo e as referências utilizadas na fundamentação dos artigos publicados.

No que se refere às tendências de publicação e ao desenvolvimento da Revista Avaliação Psicológica, há que se destacar o fato de que na primeira avaliação realizada pela CAPES em parceria com a ANPEPP, em 2004, a revista foi classificada como Nacional C e na segunda avaliação, em 2007, passou para Nacional A. Importante lembrar que essa avaliação é realizada com base nos seguintes critérios: normalização (aspectos como identificação, sumário, resumo, descritores, referências, filiação institucional e endereço dos autores), publicação (tempo, regularidade e periodicidade), circulação (presença em bases de dados, formas de distribuição, entre outros), autoria e conteúdo (tipos de autoria e de trabalhos publicados e indexação) e, por fim, gestão editorial (comissão consultiva, editor responsável e aspectos relacionados ao corpo editorial).

Ainda nesse sentido, e mais especificamente com relação ao critério "publicação" empregado na avaliação dos periódicos científicos pela CAPES/ANPEPP, pôde-se verificar que o número de artigos permaneceu estável em 2002 e 2003. Observou-se, ainda, uma diminuição no número de publicações em 2004 e uma retomada da quantidade anterior e, portanto, uma volta ao normal em 2005, sendo que em 2006 e 2007 houve um aumento considerável no número de publicações. Possivelmente, essa configuração seja decorrente de um período de transição entre editores da revista.

 

 

Discussões sobre os materiais ou técnicas utilizadas também merecem destaque, uma vez que houve grande variabilidade de instrumentos empregados. Variabilidade essa considerada muito boa, especialmente porque a revista em questão tem como objeto de estudo a avaliação psicológica, área para a qual os testes são importantes fontes de informação. Essa questão pode ser foco de futuras investigações que, mais do que verificar quais instrumentos têm sido utilizados, avaliem a forma como eles estão sendo usados, para que finalidade e se apresentam as características psicométricas necessárias, bem como a implicação das resoluções do Conselho Federal de Psicologia nas pesquisas que estão sendo realizadas. Tais estudos possibilitariam a compreensão do novo contexto no qual a avaliação psicológica e a atuação profissional se encontram inseridas.

Em que pese as limitações desta pesquisa, considera-se que estudos com um maior aprofundamento devem ser realizados levando em consideração as possibilidades de investigação citadas anteriormente. Pesquisas desse porte são relevantes não apenas por possibilitarem o desenho e o desenvolvimento dos periódicos científicos, mas, sobretudo, porque funcionam como um indicativo das lacunas que precisam ser preenchidas, contribuindo assim para a disseminação, a qualidade e progresso do conhecimento produzido nas academias.

 

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Endereço para correspondência
E-mail: dricbs@uol.com.br

Recebido em Julho de 2008
Reformulado em Janeiro de 2009
Aceito em Março de 2009

 

 

Sobre os autores:

* Adriana Cristina Boulhoça Suehiro: Psicóloga. Mestre em Avaliação Psicológica. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco/Itatiba e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
** Fabián Javier Marín Rueda: Psicólogo. Perito e Mestre em Avaliação Psicológica. Doutor pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco/Itatiba.

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