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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.8 no.1 Porto Alegre Apr. 2009

 

RESENHAS E NOTA TÉCNICA

 

Aplicabilidade dos informes psicológicos: princípios, contextos e formas

 

 

Lucas Dannilo Aragão Guimarães*

Universidade Estadual do Piauí

 

 

Cattaneo, B. H. (org.). (2005). Informe Psicológico: elaboración y características em diferentes âmbitos (2ª ed.). Buenos Aires: Eudeba.

 

A avaliação psicológica tem se caracterizado por suas diversas possibilidades de levantamento, análise e interpretação de fenômenos psicológicos e comportamentais, os quais oportunizam ao psicólogo respaldar-se para a tomada de decisões e delineamento de intervenções. Antes de mais nada, a consolidação dos achados psicológicos, oriundos do processo avaliativo, deve substancialmente ser clara, objetiva, concisa e precisa ao que de fato é exigido para a demanda profissional investigada. Nisto, o papel do informe psicológico resultante do output avaliativo é condição sine qua non para a clareza sobre os objetivos, a justificativa e os procedimentos metodológicos norteadores da avaliação psicológica. A organizadora da obra, Beatriz Haydée Cattaneo, entende que as demandas de avaliação psicológica tradicionais devem se combinar com outros tipos de demandas, produtos de novas necessidades sociais e éticas.

Nisto, o psicólogo encontra-se posicionado frente a contextos profissionais os quais a intervenção avaliativa deverá fundamentar-se tanto no delicado esmero teórico quanto na adequabilidade prática de sua atuação. Todo este processo se realiza para dar uma resposta profissional e especializada à demanda destacada e deve veicular-se através da comunicação dos resultados deste, que constitui o momento de fechamento da avaliação. É através dos informes finais que se pode descrever e transmitir os processos psicológicos e a dinâmica interpessoal que caracteriza o sujeito, através de suas amostras comportamentais, emocionais e cognitivas. Isto ocorre segundo os objetivos que orientam a avaliação psicológica e as pessoas a quem se destinam o informe psicológico.

A organizadora aponta que "si el informe es un punto de llegada, las diferentes fases del proceso evaluativo constituyen sus puntos de partida" (p. 8). No entanto, há um movimento dialético entre a recepção dos estímulos e a forma de organizar do psicólogo, quem deverá oferecer unicidade e integração aos dados recebidos. A finalidade é poder comunica-los tendo como referencial a pessoa, a situação e os destinatários. Há de se citar que a obra enfatiza a avaliação psicológica no contexto clínico (psicodiagnóstico), à medida que apresenta recorrentemente princípios, métodos e propostas avaliativas neste cenário.

O primeiro capítulo, de autoria da organizadora, discorre sobre os aspectos gerais da avaliação psicológica e que todo processo avaliativo supõe uma intervenção contextualizada, em função das condições e objetivos que o determinam. Isso justifica que cada processo ocorra com modalidades e enquadres diferentes. Neste mesmo capítulo, ela ponta ainda a importância da formação, aprimoramento, compromisso ético e social do psicólogo; as considerações sobre as variáveis do examinando, como sexo, idade, grau de instrução e outros; a escolha e utilização adequada dos instrumentos de avaliação, de acordo com princípios teóricos e metodológicos; o reconhecimento do processo de avaliação psicológica, através de sua complexidade e rigor, que exige noções teóricas sobre desenvolvimento humano, psicopatologia, personalidade e formação social; os limites e possibilidades a nível institucional de desenvolvimento do processo avaliativo; e, por último, a peculiaridade do âmbito de trabalho, seja laboral, educacional, clínico, jurídico, da saúde e comunitário.

No capítulo seguinte, ainda sob autoria de Cattaneo, a evolução textual conduzirá o leitor acerca de critérios de seleção e análise dos materiais de avaliação, como a escolha de instrumentos e testes, de acordo com suas propriedades de avaliação de amostras do comportamento e/ou personológicas. A mesma continua e disserta sobre níveis de inferência, destacando conteúdos dos mais elementares ao mais complexos acerca do funcionamento humano. São destacados quatro níveis inferenciais, reconhecidos e amplamente estudados por Fernández Ballesteros (1998), Klopfer (1975), Korchin (1996) e L´Abate (1967). São citados ainda a importância da avaliação de cada técnica, a análise formal acerca de características empíricas de traços de personalidade, a análise de conteúdo acerca dos aspectos mais dinâmicos, motivacionais e conflitivos da personalidade, as características intratestes, bem como as intertestes, e, por último, a integração dos dados quanti e qualitativos.

No terceiro capítulo, a autora e organizadora disserta sobre a finalidade do informe psicológico, considerando que o mesmo é reconhecidamente o documento que certifica o trabalho do psicólogo e a confirmação de seus domínios e competências esboçados na avaliação psicológica, através dos diferentes dados e técnicas utilizadas neste processo. Cattaneo cita ainda a importância contínua da elaboração do informe psicológico após todo e qualquer processo avaliativo, independente do âmbito. Neste capítulo ainda, a autora apresenta os principais erros que podem ocorrer, bem como os princípios e regras fundamentais que devem ser respeitados nos variados tipos de informes.

O quarto capítulo, apresentado por Eduardo Daniel Levin, caracteriza o processo de avaliação psicológica no âmbito forense, relacionando os fundamentos da prática no âmbito jurídico. Analisa o contexto de inserção da atuação psicológica avaliativa do profissional, através da execução de perícias. O autor encerra com a apresentação e análise de laudos periciais forense, destacando regras de elaboração e principais erros cometidos.

No quinto capítulo, Javier Gonzalo Calzada e Natalia Andrea Vaccaro discutem a experiência de perícia em âmbito judicial de menores e de família. São apresentados os principais objetos de perícia e avaliação psicológica neste contexto. São descritos os critérios de avaliação psicológica, os principais recursos de avaliação e apresentados os tópicos de construção do informe psicológico. Ainda são apresentadas e discutidas temáticas como interconsultas, entrevista devolutiva com familiares, autonomia da criança e o enquadramento da atuação profissional.

O capítulo seguinte trata do informe psicológico na área educacional, de autoria de Beatriz H. Cattaneo. A autora teve a preocupação em discutir o perfil das demandas e do público que busca o serviço de avaliação psicoeducacional, ou psicopedagógica. Esta cita que a delimitação do trabalho diagnóstico entre o campo de saúde mental e educacional nem sempre é nitidamente diferenciável. Isso ocorre devido a presença de transtornos do desenvolvimento, transtornos de ansiedade, de personalidade ou de outra ordem, que podem estar presentes em dificuldades de aprendizagem, convivência escolar e outros. Cita a importância da participação do psicólogo no segmento educacional e os objetivos gerais da atuação neste, considerando a instituição, a família e o aluno. São discriminados e discutidos as possibilidades de intervenções avaliativas, através dos principais recursos e estratégias avaliativas. É apresentado um roteiro de observação e acompanhamento educacional, destacando os aspectos formais e informais, os conteúdos, as inferências sobre os alunos e sobre o professor, as atividades de avaliação complementar e os principais tipos de erros presentes no processo avaliativo educacional. A autora encerra com uma análise detalhada de um informe psicológico decorrente de avaliação nesta área

Quanto ao informe laboral, pode ser verificado que o capítulo sete, através da autoria de María Alejandra Ibánez, cita que neste contexto do trabalho, ou organizacional, o processo de avaliação psicológica possui uma peculiaridade - a solicitação deste mesmo sempre ser feita pelo gestor ou empregador, ou seja, a empresa ou organização. Isto irá determinar modos de intervenções avaliativa distintos. Outro determinante é o dilema entre o desenho de cargo e o perfil do profissional que o ocupa, fato este que gera implicações durante o processo avaliativo. Vários aspectos são, portanto, avaliados tais como aptidões específicas, desempenho intelectual, comportamentos como liderança, iniciativa e proatividade, ou mesmo grau de agressividade e interação social satisfatória. A autora conclui enfocando que a avaliação deve conduzir à tomada de decisões que favoreçam o bom desenvolvimento organizacional e o aprimoramento do colaborador, de acordo com seu perfil.

No capítulo seguinte, Angélica Lucía Zdunic destaca o informe psicológico no contexto de seleção de pessoal, resultante do processo avaliativo. São apresentados vários casos de seleção de pessoal para cargos específicos, através dos instrumentos, processos e estratégias de avaliação.

O capítulo nove destaca a elaboração do informe psicológico, dentro da perspectiva do estudante de Psicologia, em seus trabalhos de supervisão. O capítulo intentou orientar didaticamente na elaboração deste informe final, como resultado da integração prática da avaliação psicológica realizada durante estágios de campo. Vários exemplos são destacados com a finalidade de apresentar modelos e versões que possam contribuir com aprimoramento do estudante da área de psicologia. É apresentado ainda um guia de orientação para elaboração do informe psicológico, após o processo avaliativo de forma a integrar os dados.

O capítulo dez discute a casuística de informes psicológicos nos contextos clínico, educacional, jurídica e organizacional ou do trabalho. São apresentados casos, descrições sobre o processo de avaliação, considerando instrumentos e estratégias avaliativas, bem como a integração dos dados e os resultados encontrados.

A organizadora apresentou, com a referida obra, a importância da elaboração do informe psicológico, considerando princípios, contextos e formas presentes no processo de avaliação psicológica, que deve se adequar e ser adequado a distintos contextos. Foram reunidos ainda autores que colaboraram através de suas amplas experiências, notoriedade e domínios teórico, técnico e prático acerca da avaliação psicológica aplicada à áreas da psicologia. Destaca-se que não só noções pari passum sobre a elaboração de informes psicológicos e sobre o enquadre do processo avaliativo foram transmitidos, mas, sobretudo, as particularidades, os dilemas e as possibilidades de superação destes dentro de distintos contextos.

 

 

Sobre o autor:

* Lucas Dannilo Aragão Guimarães: Coordenador do Núcleo de Avaliação Psicológica e Psicologia da Saúde, da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual do Piauí. Mestrando em Ciências e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências e Saúde, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Email: lucasdag@uespi.br.

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