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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.9 no.2 Porto Alegre ago. 2010

 

 

Os métodos projetivos na avaliação psicológica

 

 

Marlene Alves da Silva1

 

 

Villemor-Amaral, A. E., & Werlang, B. S. G. (Orgs.). (2008). Atualizações em Métodos Projetivos para Avaliação Psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo.

 

A avaliação psicológica é um processo que tem como objetivo fornecer informações para a tomada de decisão a respeito de uma pessoa ou de um grupo ou de um programa. Assim sendo, é resultante de três aspectos, a medida, o instrumento e o processo de avaliação. Cada um deles é baseado em uma fundamentação teórica e metodologia própria que permite a compreensão do fenômeno psicológico ou objeto de investigação.

Esse campo de conhecimento e intervenção surge de uma série de pesquisas por meio de instrumentos psicológicos e técnicas projetivas que assegurem a sua eficácia e eficiência na tentativa de responder as demandas sociais e as possibilidades de avaliação e previsão do comportamento humano. Com o intuito de auxiliar os profissionais quanto aos métodos projetivos, uniram-se as professoras doutoras Anna Elisa de Villemor-Amaral e Blanca Susana Guevara Werlang na organização do livro Atualizações em Métodos Projetivos para a Avaliação Psicológica. O livro trata de conceitos, aplicações e estudos psicométricos de métodos projetivos como fonte de informação da personalidade e suas possibilidades de uso. Ainda, o uso desses instrumentos em diversos campos de atuação do psicólogo.

A obra está dividida em quatro partes, no total de vinte e quatro capítulos, escritos por 33 profissionais e pesquisadores. Liza Fensterseifer e Blanca Susana Guevara Werlang iniciam com Apontamentos sobre o Status Científico das Técnicas Projetivas, nesse item relatam os atributos positivos e limitações das dessas técnicas projetivas, assim como a suas utilizações. Oferecem uma definição de projeção e apercepção, as contribuições da psicanálise, gestalt, da psicologia do indivíduo, da personalogia de Murray e as abordagens clínica e estatística. Ressaltam ainda, o protocolo nãoquantitativo e a fidedignidade pela concordância entre juízes e baseada na consistência interna do instrumento.

A primeira parte, intitulada Técnica de Percepção de Estímulos Não Estruturados - Rorschach e Zulliger, subdivide-se em seis capítulos. No primeiro capítulo, Atualização em Pesquisas com o Sistema Compreensivo do Rorschach no Brasil, Regina Sônia Gattas Fernandes do Nascimento apresenta uma evolução dos estudos após a morte prematura de Hermann Rorschach, as contribuições da avaliação de John Exner Jr. e o sistema compreensivo (SC). Apresenta as pesquisas estrangeiras realizadas desde 1993, no sistema compreensivo e o estudo brasileiro com participantes diagnosticados com transtorno bipolar.

No segundo capítulo, A Abordagem Fenômeno-Estrutural e o Método de Rorschach, Deise Matos do Amparo e Andrés Eduardo Aguirre Antúnez iniciam com a trajetória das origens da psicopatologia fenômeno-estrutural e os estudos de Minkowska, Helman e Wallon. Após, descrevem os avanços dessa abordagem no Brasil, seus alcances e suas limitações.

Latife Yazigi, no terceiro capítulo, Rorschach e Assimetria Cerebral: Experimentação com o Rorschach Bissimétrico destaca o tema sobre a emoção e sua relação com o hemisfério direito cerebral na visão da neuropsicologia, assim como estudos correlacionais de algumas variáveis do Rorschach com a lateralidade da função psicológica. Ainda, a construção do Rorschach bissimétrico, no qual utilizou outros instrumentos como o teste das faces quiméricas e o questionário de dominância manual.

Já no quarto capítulo intitulado A Utilização do Rorschach em Crianças e Adolescentes, Norma Lottenberg Semer descreve a utilização do instrumento para o conhecimento da personalidade individual como diagnóstico e prognóstico na visão de vários autores estrangeiros. Nas pesquisas brasileiras, ressalta o estudo realizado para a criação de normas com crianças paulistanas na faixa etária de quatro a dez anos, para tanto, utilizou-se como método o sistema Aníbal Silveira.

No capítulo seguinte O Rorschach e as Técnicas Projetivas no Contexto Forense, Sonia Liane Reichert Rovinski discute as contingências específicas dessa área, enfatiza os fatores importantes nessa avaliação e por fim, as considerações sobre a validade aparente. Descreve ainda, a avaliação no sistema compreensivo e estudos atuais nos contextos de avaliação de guarda de filhos, dano psíquico e área penal.

Para concluir a primeira parte, no sexto capítulo, O Teste Zulliger no Sistema Compreensivo, as autoras Anna Elisa de Villemor-Amaral e Renata da Rocha Campos Franco descrevem um breve histórico do teste, após a utilização brasileira e os seus vários estudos, como meio de acessar o funcionamento psíquico das pessoas ou grupos de pessoas, ou para analisar as qualidades psicométricas do teste. Relatam, ainda, o sistema compreensivo como forma de avaliação do teste.

A segunda parte, Técnicas Temáticas encontra-se distribuída em cinco capítulos. Inicia com as pesquisadoras Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva e Maria Elisabeth Montagna com O Teste de Apercepção Temática. As autoras descrevem a fundamentação teórica, a descrição do material e apresentação dos cartões estímulos, ainda, as estratégias de interpretação fundamentadas no esquema necessidade-pressão de Murray, sistema psicodinâmico de Leopold Bellak, na análise da estruturação dinâmica de Viça Shentoub e no sistema de esquemas de Teglasi. Concluem o capítulo com relato de pesquisas brasileiras.

Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo e Maria de Fátima Xavier, no oitavo capítulo, O Teste de Apercepção Temática Infantil com Figuras de Animais (CAT-A), descrevem as características e fundamentação teórica, o sentido de cada prancha, forma e instrução para aplicação e alguns estudos sobre o teste desde 1954 até a atualidade. Finalizam o capítulo com a pesquisa com crianças paulistas de cinco a oito anos, na qual utilizaram uma ficha de análise criada por Tardivo e o referencial teórico utilizado para a avaliação foi o psicanalítico.

Já Maria Lucia Tiellet Nunes, no nono capítulo, intitulado Teste das Fábulas, descreve o histórico do teste desde a divulgação de seus primeiros estudos em 1940, na França. Após, a versão brasileira com adaptação lingüística e a forma pictórica, ainda a descrição das dez lâminas que apresentam um conjunto de histórias de final aberto semelhante à história em quadrinho. Ressalta as indicações de uso, administração e interpretação do instrumento e as pesquisas realizadas com o teste na versão verbal e pictórica.

No capítulo seguinte, Teste de Apercepção Familiar - FAT, Blanca Susana Guevara Werlang, Liza Fensterseifer e Gabriel Quadros de Lima, relatam sobre o histórico desse teste projetivo criado nos Estados Unidos, com o objetivo de criar uma ponte entre a avaliação individual e familiar de determinado indivíduo. Seu público alvo são crianças e adolescentes que identificam o sistema familiar dos mesmos, mostrando o processo de funcionamento e a estrutura familiar subjacentes. As autoras descrevem ainda, a administração e a forma de correção do instrumento. Concluem com as propriedades psicométricas do instrumento.

Finalizando esse bloco, O Teste dos Contos de Fadas, título do décimo primeiro capítulo, Blanca Susana Guevara Werlang e Mônica Medeiros Kother Macedo fazem um resgate histórico dos contos de fadas desde a sua origem céltica até os estudos mais atuais. Esse teste projetivo temático é composto de 21 cartões com imagens de cenas vinculadas a contos de fadas e destina-se a crianças com idades entre 06 e 12 anos. Após, descrevem o instrumento e a sua administração, ainda, a interpretação e a informação de que esse instrumento encontra-se em processo de adaptação para a realidade brasileira.

A terceira parte do livro, Técnicas Gráficas, composta de dez capítulos que descrevem instrumentos gráficos de estímulos predeterminados, inicia com as Técnicas Projetivas Gráficas e o Desenho Infantil. A autora Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva descreve a utilização do desenho na prática clínica, tanto para investigação da personalidade como para a prática terapêutica e chama a atenção para o preparo do profissional que a utiliza. Ainda, faz algumas considerações sobre a criança e o desenho, envolvendo tanto os aspectos cognitivos quanto afetivos, e ressalta que o desenho reflete a personalidade da criança.

Já no décimo terceiro capítulo, Desenho da Figura Humana (DFH), Denise Ruschel Bandeira e Adriane Xavier Arteche iniciam pelo histórico e interesse científico do desenho da figura humana desde 1900 até a atualidade. Descrevem a análise e interpretação do desenho como medida do desenvolvimento cognitivo e como expressão de aspectos inconscientes da personalidade. Já no DFH como medida psicopatológica, os aspectos emocionais são vistos à luz do sistema Koppitz e do sistema Naglieri.

No capítulo seguinte, Adriana Martins Saur e Sonia Regina Pasian, estudaram O Desenho da Figura Humana na Investigação da Imagem Corporal: Alcances e Limites, fruto da dissertação de mestrado de Saur, defendida em 2007 pela Universidade de Ribeirão Preto - São Paulo. As autoras descrevem os aspectos iniciais do desenho, após, fazem uma ligação com a imagem corporal e do autoconceito, relatam várias pesquisas e com diversos públicos. Encerram o capítulo com o relato dos resultados encontrados na pesquisa desenvolvida por Saur.

No décimo quinto capítulo, A Técnica da Casa-Árvore-Pessoa (HTP) de John Buck, Maria Cecílica de Vilhena Moraes Silva relata as origens e fundamentações teóricas, os princípios de interpretação nas perspectivas adaptativa, expressiva e projetiva, os aspectos simbólicos da tríade casaárvore- pessoa, assim como os aspectos simbólicos do espaço e o uso das defesas nas técnicas gráficas. Finaliza com pesquisas associadas à obesidade, autoestima, identificação de abuso sexual e cirurgias invasivas e mutiladoras.

No capítulo intitulado Desenhos e Aspectos Transculturais, Sonia Grubits e Ivan Darraut-Harris relatam a experiência com a clínica infantil em comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul. O instrumento utilizado foi o desenho da Casa – Árvore – Pessoa e Família (HTPF) para a avaliação da personalidade, na visão semiótica e etossemiótica, que adota as produções verbais, não verbais e espontâneas do comportamento humano normal e patológico. Esse modelo foi escolhido devido às peculiaridades culturais, familiares e sociais.

No décimo sétimo capítulo, O Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) e seus Derivados: Fundamentação Teórica, Aplicações em Clínica e Pesquisa, Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo, descreve o histórico, as pesquisas, a forma de aplicação e a avaliação do instrumento. Enfatiza o estudo normativo desenvolvido por Tardivo e ilustra com um caso clínico. Esse procedimento técnico avalia a personalidade dentro de um processo diagnóstico compreensivo, portanto deverá ser usado juntamente com outras técnicas; como exemplo, hora do jogo diagnóstico e jogo dos rabiscos.

Já Eda Marconi Custódio, no capítulo cujo tema é O Teste de Bender como Instrumento de Avaliação de Personalidade, aborda a história na visão de vários autores e em diversas correntes teóricas como a gestalt e psicanálise, entre outros. A autora relata, ainda, diversas pesquisas realizadas com crianças visando às características de personalidade, comparação com outros instrumentos, com adultos de ambos os sexos e em diversos contextos.

Os autores, Ana Paula Porto Noronha, Fermino Fernandes Sisto e Acácia Aparecida Angeli dos Santos em Avaliação da Maturidade Percepto- Motora: Contribuições do Bender Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG), descrevem os elementos históricos sobre o teste na visão de vários pesquisadores e apresentam pesquisas sobre as formas de avaliação no Brasil. A seguir, demonstram o sistema de pontuação global construído pelos autores e as pesquisas publicadas sobre o tema. Ainda, mostram as qualidades psicométricas dessa forma de pontuação.

No vigésimo capítulo, Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva com O Teste de Complemento de Desenhos de Wartegg (WZT), descreve os fundamentos teóricos e suas bases para interpretação. Mostra as contribuições de Marian Kinget sobre a flexibilidade e integração em relação à interpretação do instrumento. Conclui com as recomendações para o uso do instrumento, assim como o contexto da aplicação e fontes de informação. Ressalta, ainda, as limitações do instrumento.

No capítulo seguinte, Pesquisas com o Teste de Wartegg no Brasil, Irai Cristina Boccato Alves apresenta um levantamento das pesquisas realizadas. Descreve a introdução do teste no Brasil foi em 1952, na área de seleção de pessoal e na orientação profissional. O referido teste já recebeu o status de quinto colocado em testes mais usados pelos psicólogos, assim como o teste projetivo mais ensinado nos cursos de psicologia.

Na quarta e última parte do livro, apresentase as Técnicas com Estímulos Diversos, dentre todos os instrumentos disponíveis no Brasil destacam-se um teste usado na orientação profissional e de carreira, o Teste de Fotos de Profissões (BBT), um instrumento clínico, o Questionário Desiderativo e um instrumento projetivo que avalia uma compreensão dinâmica da personalidade, Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister.

Mariana Araújo Noce, Erika Tiemi Kato Okino, Renata de Fátima Assoni e Sonia Regina Pasian, no vigésimo segundo capítulo, intitulado BBT – Teste de Fotos de Profissões: Teoria, Possibilidades de Uso e Adaptação Brasileira, descrevem sobre a fundamentação teórica, aplicação, interpretação e pesquisas do instrumento criado pelo pesquisador suíço Martin Achtnich. Após, relatam as pesquisas sobre o teste no Brasil para sua adaptação, esses estudos resultaram em duas versões, a masculina e a feminina. Por fim, as autoras apresentam um estudo de caso de um adolescente de 16 anos com o objetivo de ilustrar o processo avaliativo e interpretativo da técnica.

No capítulo seguinte, O Questionário Desiderativo: Possibilidades Teóricas e Empíricas na Atualidade, Nicole Medeiros Guimarães, Sônia Regina Pasian e Sônia Regina Loureiro mostram os aspectos conceituais desse instrumento criado por psiquiatras espanhóis em 1946, e as suas modificações ao longo do tempo, destacando os trabalhos realizados nos últimos vinte anos. A seguir, os aspectos relativos à aplicação, codificação e interpretação do instrumento. Finalizam apresentando os parâmetros de fidedignidade e normativos para o Questionário Desiderativo para uma amostra de adolescentes.

No último capítulo, Anna Elisa de Villemor- Amaral e Renata Rocha Campos Franco expõem as Novas Contribuições para o Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister, instrumento que permite uma compreensão dinâmica e integrada do funcionamento psíquico do indivíduo. Nesse capítulo constam a origem, material e modo de aplicação, interpretação dos dados e estudo de validade e normatização. As várias pesquisas e estudos psicométricos atendem as exigências das resoluções editadas pelo CFP para comercialização e uso de instrumentos psicológicos no Brasil.

De modo estruturado, claro e didático, o livro oferece subsídios para a avaliação de forma quantitativa e qualitativa dos métodos projetivos utilizados pelos pesquisadores e profissionais. Vale ressaltar que dentre as técnicas expostas no livro, 40% dos testes apresentados não estão incluídos na lista de instrumentos recomendados pelo Conselho Federal de Psicologia.

Assim, o livro cumpre seu objetivo em auxiliar os profissionais em sua prática de investigação da personalidade por meio de métodos projetivos, possibilitando um planejamento de intervenção adequado. Ressalta-se, ainda, que a obra é recomendada a todos os estudantes de psicologia, pois em um único volume encontram-se a descrição e atualização de uma gama de técnicas projetivas.

 

 

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