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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.10 no.3 Itatiba Dec. 2011

 

 

Estudantes de psicologia no Brasil e o contexto sociocultural

 

Social Cultural context of brazilian psychology students

 

 

Neuza Maria de Fátima Guareschi I; Guilherme Welter Wendt II; Simone Maria Huning III

IUniversidade Federal do Rio Grande do Sul
IIUniversidade do Vale do Rio dos Sinos
IIIUniversidade Federal de Alagoas

 

 


RESUMO

Este artigo analisa as características do contexto sociocultural dos Estudantes de Psicologia no Brasil a partir dos questionários socioeconômicos de 23.613 alunos selecionados para o Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (ENADE) de 2006. Foram analisados os hábitos de leitura, bem com como o gênero de leitura mais frequente, os meios de comunicação social que os alunos utilizam na busca de informações, os motivos que levam ao uso da informática, as atividades de lazer e conhecimentos de outra língua. Esses dados podem ser úteis na elaboração de projetos de ensino contextualizados e relevantes para determinada região, ao mesmo tempo em que indicam rupturas e disparidades em algumas dimensões do espectro sociocultural.

Palavras-chave: Ensino superior; Aspectos Sociais; Aspectos Culturais; Formação do Psicólogo.


ABSTRACT

This article analyses the characteristics of the social cultural context of brazilian psychology students based on data of the social economical questionnaires answered by the 23.613 students selected for the ENADE 2006 test. Aspects such as reading habits, as well as the book genre usually chose, means of social communication that the students usually use to gather information, motives that lead to the use of computers, leisure activities and knowledge of foreing languages. The data aquired could be usefull on the elaboration of projects for contextualized teaching revelant to a determined region, while at the same time it indicates ruptures and disparities in some dimensions of the social cultural espctre.

Keywords: Higher teaching; Social aspects; Cultural aspects; Psychology students.


 

 

Este estudo propõe uma análise do perfil dos estudantes de Psicologia no Brasil, no tocante aos "Hábitos de leitura", "Gênero de Leitura mais frequente", "Meios de comunicação social que acessa para busca de informações", "Motivos que levam ao uso da informática", "Conhecimento em segunda língua" e "Atividades de lazer que pratica". Assim, toma-se como princípio de que essas dimensões refletem, em parte, o contexto sociocultural desses estudantes. Os dados analisados foram coletados por meio do Questionário Socioeconômico, que acompanhou a prova do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes para os 373 cursos de Psicologia no Brasil, no ano de 2006. Esse instrumento foi respondido por 23.613 alunos, porém, destes foram validados para as análises um pouco mais de 21 mil protocolos, sendo que em algumas questões há mais respondentes e em outras menos. Tal fato se deve a uma perda de casos no momento da tabulação dos dados, ausência de resposta do aluno, dentre outros. Em todo caso, para que o objetivo proposto seja alcançado de modo eficaz, optamos em avaliar essas dimensões do aspecto sociocultural em razão de algumas variáveis, a saber: categoria administrativa da instituição, se o curso está localizado em capitais ou no interior, bem como a presença ou não se propramas de pós-graduação na área da Psicologia.

Aspectos metodológicos

O questionário entregue aos respondentes do ENADE 2006, tanto ingressantes como concluintes, dispunha de 109 questões de múltipla escolha, que abordam temas referentes aos hábitos e atividades dos alunos, a percepção destes em relação à formação, características socioeconômicas desta população e algumas características do contexto sociocultural dos mesmos (INEP, 2006). A estrutura do questionário utilizado para a realização dessa investigação, com os aspectos, categorias e características abordados, é sumarizada na Tabela 1.

 

 

A temática das questões sobre as quais realizamos as análises se refere ao modo como os alunos se situam no contexto sociocultural, ou seja, algumas atividades sociais, culturais e de lazer que indicam o modo como estes alunos acompanham e se inserem na sociedade contemporânea. Essas questões se apresentam nas perguntas 19 a 25 e da 33 a 46 do questionário e buscam levantar informações sobre 6 aspectos do contexto sociocultural dos alunos. Esses aspectos são: "Hábitos de leitura"; "Gênero de Leitura mais frequente"; "Meios de comunicação social que acessa para busca de informações"; "Motivos que levam ao uso da informática"; "Conhecimento em segunda língua" e "Atividades de lazer que pratica".

Cada um desses aspectos é mensurado em um primeiro momento entre as categorias que foram estipuladas para investigá-los e o número total dos alunos que responderam ao questionário. Por exemplo, para mensurar o aspecto "Hábito de leitura" foram estipuladas cinco categorias, são elas: "Nenhum", "No máximo dois exemplares", "Entre três a cinco exemplares", "Entre seis a oito exemplares" e "Oito ou mais". E assim, para cada um dos seis aspectos considerados como aqueles que situam o contexto sociocultural dos alunos foram estipuladas cinco categorias de análise. Cada um dos seis aspectos é investigado por meio das cinco categorias, em relação a seis características dos estudantes de Psicologia, e de forma geral, pela análise do aspecto em si e os resultados obtidos em cada uma das categorias que o constitui.

Discussão dos Resultados

Conforme mencionado anteriormente, nem todos os 23.613 alunos que responderam ao questionário socioeconômico do ENADE preencheram todas as questões ou, ainda, há a possibilidade de perda de dados decorrente de tabulação. Em todo caso, a questão que obteve o menor percentil de respostas foi "Tipo de leitura mais frequente", com 82,69%. As demais encontram-se sumarizadas na Tabela 2.

 

 

Hábitos de Leitura

O aspecto do contexto sociocultural referente ao hábito de leitura é mensurado pelo questionário em relação ao gênero e à quantidade de exemplares mais lidos pelos alunos. O envolvimento dos estudantes com o hábito de leitura, um dos aspectos socioculturais avaliados, é caracterizado, de acordo com a mensuração do questionário, pela quantidade de exemplares lidos. A maioria dos alunos, 39% do total, que responderam aos questionários, indica ter lido no último ano três exemplares de livros, seguido por 27,2% dos estudantes que apontam ter lido no máximo dois exemplares e,somente 12,7 dos alunos leram entre seis a oito exemplares e 13,8 mais de oito, conforme demonstra a Tabela 3.

 

 

 

Se olharmos esse dado, a quantidade de exemplares lidos, em relação às categorias administrativas das IES dos alunos, verifica-se que os alunos das IES estaduais são os que mais leram na categoria "Entre três a cinco exemplares". Porém, se tomarmos a categoria "Oito ou mais exemplares", os alunos das IES municipais são os que se destacam, seguidos novamente pelos alunos das IES estaduais, e os das IES particulares os que menos se incluem nesta categoria.

 

 

 

Entretanto, se verificarmos a categoria de "Entre três e cinco" livros do total de alunos que responderam ao questionário, em relação ao tipo de instituição em que cursaram o Ensino Médio, isto é, se escola pública ou privada, alunos de nenhum tipo de escola se destacam. Existe um equilíbrio que vai de 38% a 39,7% de alunos que apontam terem lido de três a cinco livros no último ano. Isso apresenta um leve destaque em relação ao hábito de leitura, ou seja, que tenham lido mais de oito exemplares no último ano são os alunos que dizem ter cursado metade do Ensino Médio em escolas públicas e metade em escolas privadas. Esses representam 18,1% de todos os estudantes que responderam ao questionário, conforme ilustra a Tabela 5.

 

 

As cinco categorias investigadas pelo questionário em relação ao hábito de leitura, verificadas por meio da quantidade de exemplares lidos no último ano, mantêm uma proximidade grande entre elas e as características dos alunos. Isso é, alunos e o tipo de escola que cursaram o Ensino Médio, a categoria administrativa das IES em que cursam Psicologia e a localização de suas IES, ou seja, se em uma capital ou no interior, o que fica bem demonstrado na Tabela 6. Alunos que não leram nenhum exemplar são bastante próximos dos alunos da capital com os do interior, do mesmo modo que os que leram no máximo dois, entre três a cinco, entre seis a oito, ou mais de oito exemplares.

 

 

 

A proximidade dessa relação entre a quantidade de exemplares lidos com características dos alunos também se mantém no que se refere ao tempo dos alunos nos cursos de Psicologia, ou seja, se ingressantes ou concluintes. Não existem diferenças significativas em nenhuma das categorias utilizadas para mensurar a quantidade de exemplares lidos com o fato de que os alunos estejam mais no início ou no final do curso. Da mesma forma, isso acontece em relação à característica do turno que o aluno estuda, se matutino, vespertino ou noturno. Existe sim, diferença significativa de uma categoria medida pelo questionário em relação à outra, mas não da categoria em relação às características dos alunos, conforme podemos ver nas Tabelas 7 e 8.

 

 

 

 

 

Quando se trata da quantidade de exemplares lidos em relação à região do país dos alunos, podemos perceber uma pequena diferença a mais na quantidade de exemplares lidos pelos estudantes da região Sul, seguida pela região Norte, na categoria oito ou mais exemplares e, nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, na categoria entre três a cinco exemplares, conforme ilustrado na Tabela 9.

 

 

 

Gênero de leitura mais frequente

O gênero de leitura é investigado em relação ao tipo de obra lida com mais frequência pelos alunos, categorizadas em "Obras Literárias de Ficção", "Literárias de Não-Ficção", "Livros Técnicos","Livros de Auto-Ajuda", além da categoria "Outros". A categoria "Outros", seguida da categoria "Livros Técnicos" são as que os estudantes apontam como as mais lidas por estes, como ilustra a Tabela 10.

 

 

 

Quanto ao gênero de leitura mais frequente, os alunos indicaram a categoria "Outros", a qual não traz nenhuma especificação pelo questionário, e as leituras na área de"Livros Técnicos", com uma diferença um pouco inferior de "Outros".

Na comparação da preferência pelo gênero de leitura em relação à categoria administrativa das instituições onde os alunos estão matriculados, percebe-se que os estudantes das IES federais indicam maior frequência de leitura de obras literárias de ficção. Os livros técnicos se destacam como sendo os mais lidos pelos alunos de todas as IES, porém, com uma pequena vantagem para os estudantes das instituições municipais,que indicam ler mais este gênero. Em relação à categoria "Outros" existe uma diferença significativa em relação às respostas dos alunos das IES Particulares e Municipais quando comparadas às dos alunos das IES Estaduais e Federais. Os estudantes das primeiras IES apresentam uma frequência de leitura bem maior do que os das segundas IES nessa categoria, conforme demonstra a Tabela 11.

 

 

 

Se observamos a escola de Ensino médio de que o aluno é oriundo, se de escola pública ou privada, encontramos algumas diferenças como a frequência de leitura de obras de ficção indicada por alunos provenientes de escola privada, com uma percentagem de 23,5; e os provenientes de escola pública, com 14, 7%. Os livros de auto-ajuda são apontados com uma frequência de 12,7% por alunos que cursaram metade do ensino médio em escola pública e metade em escola particular, seguido por uma frequência de 11,2% apontada por alunos provenientes de escolas públicas. A frequência com que esse gênero de leitura aparece nas respostas de estudantes provenientes de escola particular é significativamente mais baixa, de apenas 7,8%. Temos ainda uma pequena elevação em relação à categoria livros técnicos, quando se trata dos alunos que cursaram a maior parte do Ensino Médio em escola pública e, a categoria "Outros", quando se refere aos alunos que cursaram a metade do ensino médio em escola pública e a outra metade em escola particular, como ilustrado na Tabela 12.

 

 

Em relação à localização da IES, se na Capital ou no Interior, podemos apontar somente uma diferença entre estudantes da Capital e do interior, quando se trata do gênero de leitura "Obras Literárias de ficção". Alunos que estudam em IES de Capitais apresentam uma frequência de leitura maior nesse gênero, que se mantém entre os alunos ingressantes e concluintes. Os estudantes ingressantes indicaram uma frequência maior desse tipo de leitura, ao passo que os estudantes concluintes destacaram-se pela frequência de leituras de "Livros Técnicos", categoria que sofre a maior variação quando se comparam as respostas de ingressantes e concluintes. As Tabelas 13 e 14 exemplificam a preferência de leituras em relação às características dos alunos, se estudam na capital ou no interior e se são ingressantes nos cursos ou concluintes.

 

 

 

 

 

Quanto ao turno em que estudam e o tipo de leitura mais frequente, novamente, se mantém uma proximidade nas respostas obtidas que relacionam turno de estudo com gênero de leitura. A quantidade de exemplares lidos pelos estudantes dos três turnos nas categorias de obras literárias de ficção, não ficção, livros técnicos, auto-ajuda ou outros se apresenta bastante equiparada quando analisadas em relação às diferentes características dos estudantes, variando somente de uma categoria para outra. Apontamos somente uma diferença mais significante que é a preferência dos alunos do turno vespertino em relação às obras literárias de ficção.

Em relação à característica dos alunos que diz respeito à região do Brasil em que estudam, destaca-se a leitura de livros técnicos na região Norte com uma frequência de 37,2% em comparação com 25,5% da região Sudeste. Esses dados se invertem se for consideradada a categoria "Obras literárias de ficção", onde Sudeste indica resultados de 19,3% e o Norte de 12,1%. As diferenças mais significativas estão entre as categorias ou tipos de leituras e, neste sentido, as leituras mais realizadas pelos alunos foram indicadas pelas categorias "Livros técnicos" e "Outros". Nas Tabelas 15 e 16, podemos ver isso com clareza.

 

 

 

 

 

Uso dos Meios de Comunicação Social para o Acesso à Informação

A terceira característica que é levantada pelo questionário, como o que integra o contexto sociocultural dos alunos, é o uso dos meios de comunicação social para o acesso a informações. Nessa característica são mensurados cinco meios de acesso, ou veículos que os estudantes utilizam. São eles: jornais, revistas, televisão, rádio e internet. A televisão se destaca entre todos os alunos que responderam ao questionário como o meio mais acessado para a busca de informações com 47,8%. A internet está em segundo lugar com 33,5%, os jornais em terceiro lugar com 10,7%, revistas com 5,1% em quarto, ficando o rádio como o veículo menos acessado pelos estudantes, tendo sido indicado somente por 3% dos alunos. A televisão como o meio de comunicação mais acessado é mantida em primeiro lugar em todas as variáveis ou características dos alunos que são investigadas pelo questionário, sempre com uma preferência superior a 40% dos estudantes, chegando, inclusive, a 52,7% quando mensurada em relação à localidade dos alunos, no que se refere às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Essas variáveis, ou características diversas dos alunos, como temos mencionado até aqui, são: categorias administrativas das IES, Escola em que realizou o Ensino Médio, se pública ou particular, localização das IES, se na capital ou no interior, se o aluno é ingressante ou concluinte, turno em que está matriculado, se matutino, vespertino ou noturno e a região do Brasil em que o estudante se encontra, se Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

A frequência de utilização dos diferentes tipos de meios de comunicação se mantém em relação a todas essas características dos alunos mensurados. Por exemplo, a internet é o segundo meio mais acessado pelos estudantes em todas as variáveis investigadas, sempre com muito pouca diferença entre elas. Isso é, se tornarmos a variável ingressante e concluinte, a internet é o meio mais acessado com 32,9% para os primeiros e 34,1% para os segundos. Além disso, a internet é acessada por 33,9% dos alunos que estudam nas capitais e por 33,1% por aqueles que estudam em cidades do interior dos Estados.Ou seja, não existem diferenças que chamam a atenção quanto às diversas características dos alunos em relação ao tipo de meio de comunicação acessado. Existem sim, diferenças significativas entre os meios de comunicação em que buscam as informações, havendo variações em relação às diferentes características consideradas, como poderemos ver nas Tabelas de 17 a 22.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em relação às regiãões do país em que estudam, quando comparadas entre si, elas revelam algumas diferenças na frequência de acesso aos diferentes meios. Delas destacam-se o acesso à internet por estudantes da região Norte, com frequência de 23,9% na região Norte e 35,6% na região Sudeste. Na região Norte destaca-se a utilização de jornais, com uma percentagem de 13,2, seguida das regiões Sul e Sudeste, em comparação com uma frequência de 7,3% na região Nordeste.

 

 

 

Frequência do Uso da Informática

O aspecto "Motivos para o uso da informática", como um dos que investiga o contexto sociocultural do aluno, é abordado pelo questionário, principalmente, em relação a duas grandes questões: a frequência e a finalidade. A frequência é mensurada por meio de cinco categorias: "Nunca", "Raramente", "Às vezes", "Frequentemente" e "Sempre".

 

 

 

Já a finalidade é mensurada por meio de dois motivos para o uso: "Entretenimento" e "Trabalhos escolares". Tanto as questões de frequência do uso, como da sua finalidade são analisadas em relação às mesmas características já apontadas nos outros aspectos socioculturais mencionados.

 

 

 

 

 

Não se apresentam diferenças significativas que relacionam a frequência do uso do computador/informática com características específicas da amostra estudada. As diferenças não são verificadas dentro de cada uma das categorias em relação às variáveis das características dos alunos, sendo somente observadas no que diz respeito à comparação entre as categorias.

Os motivos para o uso da informática e sua frequência também apresentam resultados bastante próximos nas respostas dos estudantes ao questionário e às categorias que analisam o aspecto sociocultural independente das características dos alunos. Por exemplo, se tomarmos a característica "Categoria Administrativa das IES em que estudam", a categoria "Sempre", em relação ao uso do computador, é apontada por 64,6% dos alunos das IES federais, 64,1% dos alunos das IES estaduais, 58,5% dos alunos das IES municipais e 58,8% dos alunos das IES particulares. Essa mesma lógica se mantém em relação à categoria "Frequentemente", ficando entre 27 e 29%, entre 5 e 9% para a categoria "Às vezes", entre 1 e 3,2% para a categoria "Raramente", sendo que a categoria "Nunca" faz uso do computador é apontada numa frequência de no máximo 1,1% dos estudantes e, por alunos de IES particulares, do interior, do curso noturno e das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil.

Assim, os resultados indicados pelas respostas dos alunos, como ilustram as diferentes tabelas, apontam essa equiparação das categorias que mensuram a frequência do uso do computador em relação a todas as características dos alunos com algumas pequenas exceções, como por exemplo, na categoria "Sempre" de alunos ingressantes e concluintes. Os primeiros apresentam um percentual de 54,9 e os segundos de 65,1. E, nessa mesma categoria, os alunos da capital que apresentam um percentual de 63,4 e os do interior com um percentual de 56,4.

 

 

 

 

 

 

 

 

Finalidade do Uso

Em relação à segunda grande, a questão que investiga o uso do computador pelos alunos que responderam ao questionário, que se refere à finalidade deste uso, foi mensurada em relação a dois motivos: finalidade de entretenimento e finalidade para realização de trabalhos escolares. Os dois motivos de uso são apontados com um índice bastante elevado pelos estudantes de psicologia. Sendo, porém, a finalidade para a realização de trabalhos escolares quase que indicado pela totalidade dos alunos, isto é, 98,8% deles. Já a finalidade de entretenimento, indicada por 81,2% dos alunos, não tem variações significativas entre as características elencadas no estudo. Pequenas exceções são encontradas em relação à categoria "Não"quanto ao uso do computador para fins de entretenimento, no que diz respeito às respostas dos alunos das IES particulares, em que 29,2% deles apontam não fazer uso para este fim. Da mesma forma, os alunos que cursaram o Ensino Médio metade em escola pública e metade em escola particular e alunos que estão na Psicologia turno noturno também apontam não fazer uso do computador para esse fim, sendo 27,6% no caso dos primeiros e 20,7% no caso dos segundos. Quanto à finalidade do uso do computador para realização de trabalhos escolares, a categoria "Sim" se mantém na faixa entre os 98,6% e 99,3% no que diz respeito a todas as características dos alunos com as quais é mensurada. Já a categoria "Não", para o uso do computador para a realização de trabalhos escolares, se mantém entre a faixa dos 0,6% a 2,3% em relação a todas essas mesmas características dos alunos. A exceção do não uso do computador para essa finalidade fica maior nos alunos da região Norte do país, 2,3% e, de 1,9% para os alunos que cursaram a maior parte do Ensino Médio em escolas privadas.

Os percentuais para Finalidade de uso do micro-Entretenimento foram para "Sim" 81,2% e para "Não" 18,8%. Já para a finalidade de uso do micro para trabalhos escolares, a frequência foi de 98,8% para "Sim" e 1,2% para "Não".

 

 

Conhecimento em Segunda Língua

O aspecto "Segunda Língua" como fator componente do contexto sociocultural dos alunos dos cursos de Psicologia no Brasil é analisado pelo questionário por meio de duas línguas: Inglesa e Espanhola. O conhecimento dos alunos para cada uma dessas línguas é também mensurado por meio de cinco categorias, são elas: "Leio, escrevo e falo bem"; "Leio, escrevo e falo razoavelmente"; "Leio e escrevo, mas não falo"; "Leio, mas não escrevo nem falo" e por último, "Praticamente nulo". Em ambas as línguas, o que se destaca, ou seja, a categoria que apresenta um maior índice é a "Praticamente nulo". Porém, a categoria com o segundo maior índice não é a mesma para as duas línguas. Enquanto que para a Língua Inglesa a segunda categoria com maior índice é a "Leio, escrevo e falo razoavelmente", para a Língua Espanhola a categoria com o segundo maior índice é a "Leio, mas não escrevo nem falo".

 

 

 

 

Mais uma vez percebe-se que não existem diferenças significativas dentro de cada uma das categorias em relação às características dos estudantes, mas somente quando se compara uma categoria à outra. Algumas exceções, entretanto, podem ser apontadas. Uma delas diz respeito aos alunos das IES federais que na categoria "Leio, escrevo e falo razoavelmente" apresentam um índice de 36,5%, mais elevado do que dos estudantes de outras IES, principalmente, dos alunos das IES municipais e particulares que apresentam um índice de 24,1% e 25,3% respectivamente. Isso aponta para o índice dos alunos das IES municipais e particulares, no que diz respeito à categoria "Praticamente nulo", na qual os alunos apresentam um índice bem superior aos outros: 43,5% e 41,9% respectivamente.

 

 

 

Outro destaque a ser apontado e que pode se considerar coerente se pensarmos sobre uma determinada correspondência direta entre condições econômicas e escola pública e particular diz respeito aos alunos que cursaram todo o ensino médio em escola pública. Eles, na categoria "Praticamente nulo", apresentam um índice de 52,8%, se contrapondo aos alunos que cursaram todo o Ensino Médio em escolas particulares que apresentam, na categoria "Leio, falo e escrevo razoavelmente", um índice de 35,5%. Em ambos os casos, são os índices mais elevados na comparação categorias e alunos de escolas públicas e particulares em relação a conhecimento da Língua Inglesa. Ainda podemos perceber que, em relação a essas duas categorias que apresentam o maior índice de respostas pelos alunos, no que se trata de estudantes da capital e do interior, os primeiros apresentam um índice de 29,4% na categoria "Leio, escrevo e falo razoavelmente" e, os segundos um índice de 43,5% na categoria "Praticamente nulo". Quanto aos alunos ingressantes e concluintes, estes últimos apresentam um índice levemente superior em relação aos primeiros, no que se refere à categoria "Leio, escrevo e falo razoavelmente". Isso é, concluintes 28,4% e ingressantes 25,3%. Já, os primeiros, apresentam um índice pouco superior na categoria "Praticamente nulo". Ou seja, ingressantes 41,4% e concluintes 35,9%. Indica-se, ainda, uma variação na categoria "Leio, escrevo e falo bem", respondida positivamente por 13% dos estudantes do Sudeste e por 7,8% dos estudantes da região Norte do Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

 

Conhecimento da Língua Espanhola

Quanto à Língua Espanhola, a exemplo da Língua Inglesa, a categoria que apresenta maior índice de respostas é a "Praticamente Nulo". Porém, diferente da Língua Inglesa, o segundo maior índice de respostas dessa Língua é na categoria "Leio, mas não escrevo nem falo". Em relação à categoria administrativa das IES que os alunos estudam, percebemos que os das IES federais e estaduais apresentam um índice mais elevado na categoria "Leio, mas não escrevo nem falo", que é de 41,5 % e de 42,6 % respectivamente. Já os alunos das IES municipais e das IES particulares apresentam um índice mais elevado na categoria "Praticamente Nulo", que é de 51,4 % e 48,7 % respectivamente. Da mesma forma como foi apontado em relação à Língua Inglesa, os alunos que cursaram todo o Ensino Médio em escolas públicas também apresentam o índice mais elevado, em relação a todas as outras categorias e características dos estudantes, no que se refere à categoria "Praticamente Nulo" no conhecimento da Língua Espanhola. Esse índice é de 56,2 %. Em relação aos alunos da capital e do interior, novamente, as duas categorias com o maior número de respostas apresentam um índice inversamente proporcional. Ou seja, os alunos da capital possuem um índice de 32,4 % na categoria "Leio, mas não escrevo nem falo" e de 41,7 % na categoria "Praticamente nulo"; enquanto que os alunos do interior apresentam um índice de 28,2 % em relação à primeira categoria e de 50,1% no que diz respeito à segunda categoria aqui mencionada.

Quanto às outras características dos alunos como ingressantes e concluintes, turno em que estudam e região do Brasil onde estão, não aparecem diferenças significativas, com exceção dos alunos do turno noturno, que apresentam um índice de 51,7 % na categoria "Praticamente nulo", superior, portanto, aos outros estudantes no que diz respeito aos turnos ou mesmo em relação a outras características dos alunos investigados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Atividades de Lazer

O último aspecto do contexto sociocultural dos alunos dos cursos de Psicologia que é investigado pelo questionário é do "Lazer". Esse aspecto é também analisado por meio de cinco categorias que buscam saber quais são atividades artísticas e culturais mais praticadas pelos estudantes. São elas: "Cinema", "Espetáculos teatrais", "Shows musicais e/ou concertos", "Dança", ou "Nenhuma".

 

 

 

Entre essas categorias, a atividade "Cinema" está em primeiro lugar nas respostas do total dos alunos respondentes, com um percentual de 51,7, seguida pela atividade de "Shows musicais e/ou concertos" com menos da metade da categoria "Cinema", ou seja, 21,4%. Em terceiro lugar está a atividade "Espetáculos teatrais" com 13,6%, com pouca diferença em relação à atividade "Dança", que corresponde a 10,4% das respostas dos estudantes e por último, com um índice de 3,0%, a indicação de "Nenhuma atividade".

A atividade artístico-cultural mais praticada pelos estudantes, o cinema, se mantém em destaque, independentemente de características como categoria administrativa das IES, localização destas, se na capital ou interior, se o aluno é ingressante ou concluinte, do turno em que estuda, tipo de escola em que realizou o Ensino Médio e região do Brasil em que está o estudante.

Poucas diferenças são percebidas na categoria cinema em relação às características mencionadas acima, pois esta se mantém quase sempre em um índice acima dos 50% nas respostas dos alunos. As poucas exceções que encontramos são em relação aos estudantes de escolas particulares, em que essa preferência baixa para 43%, porém, os alunos destas IES, são os que apresentam maior índice na categoria"Shows musicais e/ou concertos", apresentando um índice de 27,5%.

 

 

Os estudantes que cursaram a metade do Ensino Médio em escola pública e a metade em escola particular, juntamente com os que cursaram o Ensino Médio maior parte em escola pública, apresentam um índice de prática da atividade "Cinema" inferior à faixa dos 50%, ficando ambos os grupos de alunos em 47,7% e 47,9% respectivamente. Contudo, esses estudantes, seguindo os mesmos movimentos dos alunos de escolas particulares, indicam mais participação em atividades de "Shows musicais e/ou concertos", ou seja, de 23,7% e de 22,1%, nesta ordem.

 

 

 

A frequência de participação é maior na atividade de "Shows musicais e/ou concertos" pelos alunos cujas IES estão no interior do Estado, ou seja, de 23,3% e pelos estudantes ingressantes nos cursos de Psicologia que é de 23,4%, bastante próximo ao primeiro grupo. Esses dois grupos de alunos – interior e ingressantes – são os que também afirmam frequentar mais"Cinema", principalmente, quando comparados aos alunos da capital, que é de 55,3% e com os alunos concluintes, que é de 55,8%.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Algumas considerações sobre os resultados obtidos

Embora os dados levantados nos deem indicativos de um perfil dos estudantes de psicologia do Brasil, deve-se atentar para o fato de que os mesmos são dados descritivos de um recorte da realidade dado pelo modo como a mesma foi investigada, que merecem ser problematizados em relação a outros aspectos para que não criem ou recrudesçam estereótipos e preconceitos. Seu valor pode estar na medida em que tais informações possam ser usadas para a elaboração de estratégias de diminuição de desigualdades impostas por desvantagens socioeconômicas e regionais, tão discutidas no cenário nacional. Nesse sentido, é importante notar que apesar de o questionário ter buscado levantar informações considerando características que poderiam apontar para especificidades em relação aos aspectos socioculturais em questão, nota-se que, de um modo geral, os resultados tendem a indicar certa homogeneidade dos estudantes de psicologia no Brasil, com exceções em relação a aspectos específicos já apontados, a despeito das grandes diferenças socioculturais brasileiras. Desse modo, há que se ter cuidado para que não se tomem esses resultados no sentido de anular diferenças específicas das diferentes populações investigadas, em relação ao acesso aos diferentes aspectos socioculturais que o questionário abordou.

Outra consideração que deve ser feita, diz respeito à pontualidade das questões que foram feitas para os estudantes, que demanda cuidado na interpretação dos resultados. As perguntas se limitam ao levantamento de frequência dos diferentes aspectos elencados, permitindo-nos apenas levantar hipóteses em relação aos motivos e implicações de tais frequências. A análise do que faz com que os estudantes acessem mais determinados meios de comunicação, leiam determinados gêneros de livros, pratiquem determinadas atividades de lazer e assim por diante, só poderia ser feita se forem agregados mais elementos, de modo que estes não sejam tomados como mera "preferência" ou mera "necessidade" de uns ou outros. Por fim, assinala-se que este levantamento aponta para elementos que podem se constituir em disparadores de futuras investigações na medida em que suscite a problematização dos resultados obtidos e as implicações para a formação em psicologia no Brasil.

 

Referências

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2006). Resumo Técnico ENADE 2005. Ministério da Educação. Brasília (DF). Retirado em 22/03/2011 do World Wide Web: http://www.inep.gov.br/download/enade/2005/Resumo_Tecnico_ENADE_2005.pdf         [ Links ]