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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.11 no.1 Itatiba abr. 2012

 

 

Relação das variáveis idade e escolaridade com desempenho escolar de estudantes de ensino fundamental

 

Relation between age and schooling with school performance of students in elementary education

 

Relación de las variables edad y escolaridad con desempeño escolar de estudiantes de enseñanza primaria

 

 

Leila Oliveira BritoI; Rodolfo A. M. AmbielII; Sílvia Verônica PacanaroI; Edla GrisardIII; Gisele Aparecida da Silva AlvesI; Ivan Sant' Ana RabeloI; Irene F. Almeida de Sá LemeI

ICasa do Psicólogo
IIUniversidade São Francisco
IIIUniversidade Estácio de Sá e Universidade de São José

Endereço para correspondência:
Rua Simão Álvares, 1020
Vila Madalena, São Paulo- SP
Cep: 05417-020
E-mail: departamentodepesquisa@casadopsicologo.com.br

 

 


RESUMO

O objetivo do presente estudo foi verificar a relação das variáveis idade e escolaridade com desempenho escolar de alunos do ensino fundamental. Participaram da pesquisa 855 alunos, estudantes de ensino fundamental da rede pública estadual do estado de Santa Catarina, com idades entre 6 e 16 anos. Foi aplicado em todos os participantes o Teste de Desempenho Escolar (TDE), que é composto por três subtestes: Escrita, Aritmética e Leitura. Os resultados demonstraram que o desempenho escolar da amostra estudada relacionou-se de forma significativa com as séries, podendo ser observada uma linearidade entre nível de escolaridade e desempenho escolar. O mesmo não ocorreu com a variável idade. Diante dos dados mencionados é relevante ressaltar a importância em identificar precocemente aspectos relacionados ao desempenho escolar, bem como a necessidade de atualizações de normas para interpretação dos resultados do Teste de Desempenho Escolar (TDE) por meio das análises mostradas nesta pesquisa.

Palavras-chave: desempenho escolar; idade; escolaridade; ensino fundamental.


ABSTRACT

This study aimed at assessing the relation between age and schooling with the academic performance of elementary students. 855 students participated in the research, elementary school students attending at public schools in the state of Santa Catarina-Brasil, aging between 6 and 16 years old. The Teste de Desempenho Escolar (TDE) was administrated to all participants, which is composed of three subtests, namely, Writing, Arithmetic and Reading. The results showed that school performance was significantly related to grades, so that it was observed a linear correlation between schooling and school performance. This was not seen with the variable age. From the data listed above, it is relevant to emphasize the importance of early identification of issues related to school performance, as well as the need for updates of standards for interpreting the results of TDE through the analysis shown in this investigation.

Keywords: academic performance; age; schooling; elementary school.


RESUMEN

El objetivo del presente estudio fue verificar la relación de las variables edad y escolaridad con desempeño escolar de alumnos de enseñanza primaria. Participaron de la investigación 855 alumnos, estudiantes de enseñanza primaria de escuelas públicas del estado de Santa Catarina-Brasil, con edades entre 6 e 16 años. Fue aplicado en todos los participantes el Test de Desempeño Escolar (TDE), que es compuesto por tres subtestes: Escrita, Aritmética y Lectura. Los resultados demostraron que el desempeño escolar de la muestra estudiada se relacionó significativamente con los años escolares, siendo observada una linealidad entre nivel de escolaridad y desempeño escolar. Lo mismo no ocurrió con la variable edad. Ante esos datos, es relevante señalar la importancia de identificarse precozmente aspectos relacionados al desempeño escolar, así como la necesidad de actualizaciones de normas para interpretación de los resultados del TDE a través de análisis mostradas en el presente trabajo..

Palabras-clave: desempeño escolar, edad, escolaridad, enseñanza primaria.


 

 

A partir da década de 1950, a aprendizagem começou a ser trabalhada como tema de interesse à ciência, tanto na Psicologia quanto na Educação, porém, parece não haver ainda consenso sobre sua definição. Ciasca (2003) apresentou e discutiu as definições de Traivers (1977) e Ross (1979) sobre tal problemática. Segundo a primeira definição, a aprendizagem aparece como uma mudança permanente de comportamento em função da exposição a condições do meio ambiente. Ou seja, por essa definição, pode-se entender que o processo de mudança está implicado no comportamento aprendido, embora não especifique os caminhos pelos quais a mudança ocorre. De acordo com a outra definição apontada por Ciasca (2003), a aprendizagem é a aquisição de conhecimento ou de especialização a respeito de dado assunto, abordando apenas o produto de um processo, desconsiderando todos os aspectos envolvidos nele.

Avançando no sentido de especificar as variáveis arroladas no processo de aprendizagem, mas abordando especificamente a aprendizagem formal, Núnez e González-Pumariega (1998) mencionam que, na dimensão cognitiva, variáveis como os conhecimentos prévios, as atitudes, os estilos cognitivos e as estratégias de aprendizagem têm papéis importantes, juntamente com variáveis motivacionais, dentre as quais se destacam as expectativas de realizações futuras do aluno. Segundo os mesmos autores, além desses tipos de variáveis, a aprendizagem e o rendimento escolar encontram- -se relacionados a certas características relativas à personalidade como, por exemplo, ansiedade e estabilidade emocionais.

Em adição, de acordo com Lozano e Rioboo (1998), a aprendizagem formal pode ser definida por três dimensões. A primeira considera-a como um processo ativo, pois os alunos, necessariamente, devem se envolver em uma série de atividades para que os conteúdos possam ser assimilados. A segunda refere-se à aprendizagem como um processo construtivo, porque as atividades que os alunos realizam têm como finalidade a construção do conhecimento. Por fim, a terceira dimensão aborda a aprendizagem como um processo significativo, pois o aluno deverá gerar estruturas cognitivas organizadas, baseadas de forma lógica e coerente com conhecimentos previamente aprendidos. Assim, os autores concebem aprendizagem como um processo de assimilação/ adaptação de hábitos, conceitos, acontecimentos, procedimentos, atitudes, valores e normas, em que o sujeito adquire determinados esquemas cognitivos provenientes do meio a que pertence, por meio de sua própria estrutura cognitiva, com a finalidade de resolver tarefas e adaptar-se de forma ativa e construtiva.

Ciasca (2003) destaca que a aprendizagem encontra-se implícita em uma relação bilateral, cujos participantes são a pessoa que ensina e a que aprende. Contudo, para aprender, não basta tal relação, mas são necessárias algumas funções básicas, tais como, as funções psicodinâmicas, relativas à internalização de conhecimentos novos e assimilação destes com os conteúdos já existentes; funções do sistema nervoso periférico, relacionado aos órgãos de sentido, responsáveis pelo input das novas informações; e as funções do sistema nervoso central, responsáveis pelo armazenamento, recuperação e processamento das informações.

Em adição, fatores externos à pessoa também exercem influência no desempenho escolar. Dentre tais fatores, as políticas públicas de educação se constituem como foco de grandes debates no Brasil, ainda que o desempenho em si seja apenas uma das facetas desta questão.

Um dos assuntos que têm sido foco de debates é a progressão continuada, que consiste no fim da seriação, com aprovações e reprovações ao final de cada série, e o oferecimento dos diferentes níveis de ensino em ciclos, com possibilidade de repetência apenas nos finais dos ciclos (Jacomini, 2009). Estudiosos dessa prática sugerem que a seriação e a possibilidade de reprovação anual estariam diretamente ligadas aos altos níveis de evasão escolar desde as etapas iniciais de escolarização, por servir como desestímulo aos alunos com pior desempenho. Por conseguinte, a evasão tem sido um problema de cunho social, econômico e político, além de uma questão puramente educacional, pois tamanho e distribuição da renda estão fortemente relacionados à quantidade de anos de escolaridade (Barros & Mendonça, 1996; Menezes-Filho, 2001).

No estudo de Menezes-Filho, Vasconcellos, Werlang e Biondi (no prelo) foram analisados dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2006 e Prova Brasil, de 2005, que avalia a proficiência dos alunos de 4ª e 8ª séries em português e matemática. No total, participaram estudantes de 22.940 escolas urbanas de todos os estados brasileiros. Os dados encontrados revelaram que, nas escolas que adotaram o sistema de progressão continuada, houve maior taxa de aprovação e menor taxa de abandono. Entretanto, observou-se pior desempenho dos alunos da 8ª série. Os autores argumentam que o programa parece ser efetivo para o aumento dos anos de escolaridade, o que poderia trazer benefícios econômicos às pessoas e ao país no longo prazo, apesar da queda do desempenho. Porém, deve-se questionar essa conclusão no sentido da manutenção ou sustentabilidade de tais benefícios, uma vez que podem ser fragilizados pela baixa qualidade da aprendizagem e do consequente desempenho posterior.

Dessa forma, observa-se que o processo de aprendizagem formal pode ser influenciado por fatores de ordem interna e externa, de modo positivo ou negativo. Diante das questões conceituais e contextuais que se colocam em relação à aprendizagem, confere-se complexidade ao seu estudo, especialmente na realidade educacional brasileira. Nesse sentido, uma das tarefas dos estudiosos da área é buscar a compreensão dos fatores imbricados na aprendizagem, que podem estar relacionados ao desempenho escolar, especialmente nas séries ou anos iniciais.

Assim, formas padronizadas de avaliação do desempenho escolar são úteis e necessárias e é nesse cenário que se insere o Teste de Desempenho Escolar (TDE) de Stein (1994). Esse instrumento, que avalia de forma padronizada o desempenho em provas de leitura, escrita e aritmética, é direcionado para a avaliação de estudantes das antigas séries iniciais (1ª a 4ª séries) que, desde a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, correspondem aos anos 2º a 5º. Considerando as condições existentes no percurso escolar atualmente, em decorrência da adoção da progressão continuada e da necessidade de atualização de estudos com o TDE, a seguir serão relatados alguns estudos que buscaram estudar fatores associados ao desempenho escolar.

Capellini, Tonelotto e Ciasca (2004) realizaram pesquisa com o objetivo de avaliar o desempenho escolar de 164 alunos do ensino fundamental, sendo 81 do sexo masculino e 83 do feminino. Os alunos foram divididos em dois grupos, sendo o primeiro composto por 80 participantes que apresentavam alguma dificuldade de aprendizagem e o segundo composto por 84 participantes sem dificuldade de aprendizagem. Foi aplicado o TDE, cujas médias obtidas foram maiores para os participantes do sexo feminino em todas as provas do instrumento, com diferença significativa no subteste de escrita. Verificou-se também que as médias obtidas foram maiores para os participantes da 4ª série, com diferenças significativas nos subtestes escrita e aritmética. Quando os grupos foram comparados, foi observado que aqueles que não apresentavam dificuldades obtiveram maiores médias, indicando um melhor desempenho global.

No sentido de avaliar o desempenho escolar e habilidades básicas de leitura em escolares do ensino fundamental, Tonelotto e cols. (2005) realizaram um estudo com 120 pessoas entre 8 e 11 anos, sendo 57 do sexo masculino e 63 do sexo feminino. Os instrumentos utilizados foram o TDE e a Prova de Reconhecimento de Palavras e Pseudopalavras. Os resultados apontaram que não houve diferença significativa entre pessoas com classificação superior, média e inferior em reconhecimento de palavras em relação aos três subtestes do TDE, embora tenha sido observada associação entre melhor desempenho no TDE com os acertos em Palavras e Pseudopalavras.

Dias, Enumo e Turini (2006) avaliaram 172 estudantes de segunda a quinta série de uma escola pública de Vitória (ES), com progressão continuada, utilizando o TDE. Todos os estudantes responderam duas vezes o instrumento, com intervalo de 12 meses entre as aplicações. Observou-se que, em ambas as aplicações, a maioria dos estudantes foi classificada como tendo desempenho inferior quando comparados às normas do TDE, embora tenha havido diferença significativa entre as aplicações, com maiores médias para a segunda aplicação.

Outros estudos investigaram relações do desempenho, tal como avaliado pelo TDE, com outras variáveis. Medeiros, Loureiro, Linhares e Marturano (2000) encontraram dados relacionando baixo desempenho escolar a crenças de autoeficácia fracas e avaliação de dificuldades comportamentais por parte dos pais. O estudo de Milani e Loureiro (2009) indicou que crianças que tinham sofrido violência doméstica apresentaram mais autoconceito negativo e mais dificuldades em escrita. Cia e Bahram (2009) encontraram correlações positivas entre repertório de habilidades sociais, autoconceito e desempenho escolar. A pesquisa de Paiva e Boruchovitch (2010) sugeriu que a motivação intrínseca se relaciona com o desempenho nas tarefas do TDE.

Tendo sido apresentadas algumas pesquisas com o TDE, verifica-se que diversas variáveis psicológicas e contextuais parecem estar relacionadas com o desempenho no teste. Assim, como já citado, o objetivo deste trabalho é verificar a relação das variáveis idade e escolaridade com desempenho escolar, tal como avaliado pelo TDE, de estudantes de ensino fundamental.

 

Método

Participantes

Participaram da pesquisa 855 estudantes de ensino fundamental da rede pública estadual do estado de Santa Catarina, sendo 481 (56,3%) do sexo masculino e 373 (43,7%), do feminino. Com relação à escolaridade, 69 (8,1%) estavam na primeira série, 275 (32,2%) na segunda, 258 (30,2%) na terceira e 252 (29,5%) na quarta série. As idades variaram entre 6 e 16 anos, com média de 9,6 (DP=1,9), sendo que um estudante não informou a idade. A Tabela 1 especifica a quantidade de participantes com as idades compreendidas na amostra do estudo e a distribuição das idades por série.

 

 

Instrumento

Foi utilizado o Teste de Desempenho Escolar (TDE) de Stein (1994), publicado pela editora Casa do Psicólogo. É um instrumento para ser aplicado individualmente como avaliação psicopedagógica inicial e visa avaliar quais áreas da aprendizagem estão preservadas ou precisam de intervenção. É composto por três subtestes, a saber, Escrita, que consiste de um ditado de 34 palavras, a ser feito pelo aplicador; Aritmética, composto por uma série de 36 problemas envolvendo operações de adição, subtração, multiplicação e divisão e; Leitura, que envolve a apresentação e reprodução em voz alta de 70 palavras. Destaca-se que quanto maior a pontuação do instrumento, melhor é o desempenho de cada subteste proposto.

A amostra de padronização foi composta de 538 pessoas que cursavam da 1ª a 6ª série do Ensino Fundamental de escolas municipais, estaduais e particulares. Foi realizada a análise de consistência interna (alfa de Cronbach) para cada subteste do TDE, e os índices encontrados variaram entre 0,93 e 0,98. Por meio de MANOVA, foram observadas diferenças significativas entre as séries.

Procedimentos

As aplicações foram realizadas individualmente por quatro psicólogas num período de aproximadamente três meses, em salas próprias, com pouca estimulação visual e auditiva. Cada aplicação levou em média 40 minutos. As aplicações foram realizadas após a assinatura dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais, em parceria com as escolas. Todas as aplicações ocorreram durante o horário de aula. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade para o Desenvolvimento do Alto do Vale do Itajaí – SC - UNIVADI e pela Secretaria de Educação do Município de São José, no estado em que ocorreu a coleta, que avaliou o teor do mesmo, além de seguir todos os procedimentos éticos necessários para a realização da pesquisa.

 

Resultados

Tendo em vista os objetivos deste estudo, foram realizadas análises de variância (ANOVA) para todos os subtestes e o escore geral do TDE. Inicialmente, serão apresentadas as análises com diferentes combinações de faixas etárias. Nesse sentido, foram exploradas três configurações diferentes, expostas na Tabela 2.

 

 

As configurações apresentadas na Tabela 2 foram formadas a partir de dois critérios, a saber, proximidade entre idades e quantidade de pessoas por faixa etária formada, ou seja, buscou-se, na medida do possível, manter um equilíbrio entre a quantidade de participantes dos grupos. A intenção de se formar grupos distintos foi de testar se algum grupo etário específico estaria relacionado de forma diferenciada às variáveis avaliadas neste estudo. Assim, o primeiro grupo (C1) variou entre 154 e 275 pessoas, o segundo (C2) entre 112 e 275 e o terceiro grupo (C3) entre 88 e 187. Considerando esses agrupamentos, foram realizadas as ANOVAS para os subtestes do TDE, conforme apresentado na Tabela 3.

 

 

Pode-se verificar que em todas as configurações foram encontradas diferenças significativas, indicando que os grupos formados de acordo com as idades apresentaram desempenhos diferentes no teste. Para se apurar como se deram essas diferenças, foram solicitadas provas post hoc de Tukey. A Tabela 4 mostra essas análises para a configuração 1.

 

 

Por meio desses dados, pode-se perceber que o desempenho das crianças de 10 anos foi melhor em todos os subtestes e também no escore total do TDE. Entretanto, ao se considerar as outras faixas etárias envolvidas nas análises, não se observou uma linearidade nos desempenhos, ou seja, não houve uma tendência de aumento nas pontuações conforme o aumento das idades. A Tabela 5 mostra a prova de Tukey para a segunda configuração de faixas etárias, com cinco grupos.

 

 

Assim como na análise anterior, observa-se que o grupo de crianças de 10 anos apresentou desempenho superior em todos os subtestes, enquanto que nos outros grupos não foi possível verificar uma relação direta entre desempenho no teste e idade. A Tabela 6 mostra análises considerando seis faixas etárias.

 

 

Os dados apresentados na Tabela 6 mostram novamente que as crianças de 10 anos tiveram desempenho significativamente superior às demais em todos os subtestes. Um fato novo é que, nessa configuração, as crianças de até 7 anos de idade demonstraram desempenho escolar inferior às outras faixas etárias nos subtestes do TDE. Todavia, os demais grupos etários novamente não mostraram um desempenho diferenciado sistematicamente ao longo do teste.

Assim, tendo finalizado as análises relativas ao desempenho em função da idade, serão apresentados os dados referentes às análises tendo como variável independente a escolaridade. A Tabela 7 apresenta os dados da ANOVA.

 

 

A Tabela 7 mostra que houve diferença significativa em todos os subtestes e no escore total do TDE entre as séries. Para verificar como essas diferenças se deram, foi solicitada a prova post hoc de Tukey, apresentada na Tabela 8.

 

 

Diferente dos resultados em função da idade, o desempenho escolar da amostra estudada mostrou estar relacionado significativamente às séries, podendo ser observada uma linearidade entre nível de escolaridade e desempenho. Observa-se que, em leitura, alunos da terceira e quarta séries não se diferenciam entre si, mas apresentaram desempenho superior às demais. Nos outros subtestes e no total, todas as séries se diferenciam entre si.

Discussão

De acordo com Barca, Brenlla, Canosa, & Enriquez (1999), quanto mais precoce for a identificação das dificuldades referentes ao ato de ler, escrever e calcular dos alunos, mais eficazes podem ser as estratégias interventivas e as práticas pedagógicas. Dessa forma, questões que permeiam assuntos relacionados à aprendizagem na sala de aula, como fracasso escolar, a repetência, a baixa-autoestima tanto do professor como do aluno e a evasão escolar podem ser minimizadas, a partir do oferecimento de melhores condições de estabelecimento da relação desenvolvimento/aprendizagem. O TDE, utilizado neste trabalho, é uma das ferramentas utilizadas para o contexto em questão, que numa avaliação psicopedagógica inicial, avalia quais áreas da aprendizagem estão preservadas ou precisam de intervenção.

A utilização de tal instrumento neste estudo possibilitou uma contribuição para o estudo da população em questão, sendo observado que o desempenho escolar na amostra estudada relacionou- se significativamente tanto com idade quanto com as séries escolares. No entanto, no que se refere a sua relação com a escolaridade, observou- -se uma linearidade, indicando consistente aumento do desempenho ao longo das séries, como já havia sido observado anteriormente por Stein (1994) e Capellini e cols. (2004). É importante destacar que tal relação, neste trabalho, foi verificada pelo padrão de diferenciação do desempenho dos alunos, tanto em relação à idade quanto à série.

Embora as duas variáveis (série e idade) sejam bastante relacionadas, ou seja, é esperado que conforme haja o avanço da idade, haja também o aumento do nível escolar, a amostra estudada revelou que em todas as séries havia certa heterogeneidade quanto às idades, o que pode ser uma tendência de escolas que adotem o sistema de progressão continuada. Esse dado reforça a ideia de que, apesar das mudanças quanto à estrutura do ensino fundamental, os conteúdos ainda parecem ser ensinados de maneira seriada.

Apesar de esse resultado parecer obvio, especialmente pelo fato de o TDE ter seu conteúdo baseado nas séries iniciais do ensino fundamental, é importante relembrar a pesquisa de Menezes-Filho e cols. (no prelo), cujos resultados indicaram que, em escolas com progressão continuada, o desempenho é menor em séries mais avançadas, embora haja menos desistências. Portanto, o fato de não haver repetência entre as séries e menor índice de desistência, parece levar a uma falsa sensação de melhoria da educação, mas que pode esconder dificuldades de aprendizagem importantes para o desenvolvimento acadêmico dos alunos. É nesse sentido que o TDE pode auxiliar, ao identificar possíveis focos interventivos em relação ao desempenho escolar.

Considerações finais

O TDE é um instrumento de avaliação psicopedagógica que pode ser utilizado por profissionais da educação e da psicologia e que objetiva avaliar quais áreas da aprendizagem de estudantes do ensino fundamental estão preservadas ou precisam de intervenção. Ele auxilia os profissionais da área da educação no processo de avaliação, mostrando aspectos relevantes do desempenho escolar do avaliado. Tal processo é essencial para delinear as intervenções dos profissionais.

Assim, outros estudos com o TDE devem ser realizados, buscando verificar se os resultados encontrados neste estudo são replicados tanto em escolas com progressão continuada, quanto naquelas que não adotem tal sistema. Além disso, considerando que o TDE foi publicado originalmente em 1994, é necessária uma revisão tanto em seu conteúdo quanto em suas normas de interpretação dos resultados. Nesse sentido, sugere-se que a atualização das normas do TDE leve em conta tais achados, considerando que a avaliação por meio da escolaridade parece ser mais adequada do que por idade. Vale ressaltar que entre as limitações deste estudo está a restrição da amostra a um único estado. Considerando que a educação fundamental é responsabilidade dos estados, há a necessidade de outros estudos que incluam outros estados e regiões, bem como pesquisem estudantes de diferentes tipos de escola. Espera-se ter contribuído para a área da avaliação educacional, ressaltando a relevância de identificar os aspectos relacionados ao desempenho escolar, assim como auxiliar nas soluções de dificuldades durante o processo de escolarização.

 

Referências

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Recebido em janeiro de 2011
1ª reformulação em setembro de 2011
2ª reformulação em outubro de 2011
Aceito em dezembro de 2011

 

 

Sobre os autores:

Leila Oliveira Brito: Psicóloga.
Rodolfo A. M. Ambiel: Psicólogo, Mestre em Psicologia com foco em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco. Pesquisador do Departamento de Pesquisas e Produção de Testes da Editora Casa do Psicólogo.
Sílvia Verônica Pacanaro: Psicóloga. Mestre em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco. Pesquisadora do Departamento de Pesquisas e Produção de Testes da Editora Casa do Psicólogo.
Edla Grisard. Psicóloga: Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora da Universidade Estácio de Sá e da Universidade de São José.
Gisele Aparecida da Silva Alves: Psicóloga. Mestre em Psicologia com foco em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco. Pesquisadora do Departamento de Pesquisa e Produção de Testes da Editora Casa do Psicólogo.
Ivan Sant'Ana Rabelo: Psicólogo. Doutorando em Educação Física com ênfase em Psicologia do Esporte pela Universidade de São Paulo. Pesquisador do Departamento de Pesquisas e Produção de Testes da Editora Casa do Psicólogo.
Irene F. Almeida de Sá Leme: Psicóloga. Pesquisadora do Departamento de Pesquisa e Produção de Testes da Editora Casa do Psicólogo.