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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.11 no.3 Itatiba July/Sept. 2012

 

EDITORIAL

 

 

Desde sua criação, em 2002, a Revista Avaliação Psicológica busca apresentar, a profissionais e pesquisadores da Psicologia, trabalhos instigadores e estimuladores do aprimoramento técnico-científico, englobando os diferentes campos de aplicação dos processos de exame psicológico, acompanhando os avanços e as novas exigências da realidade contemporânea em termos instrumentais. Esse desafio, paulatinamente amadurecido, tem estimulado crescente qualificação dos trabalhos de investigação realizados na área da avaliação psicológica no Brasil, bem como seu aprimoramento em variados contextos de atuação do psicólogo, acompanhando esforços realizados por vários centros de formação pós-graduada na área. Afirma-se, assim, a contínua e necessária qualificação profissional do psicólogo no campo da avaliação psicológica, condição de garantia de adequadas ações e intervenções, merecedora, por certo, de público reconhecimento como área específica de formação e de atuação.

Pautada por esses princípios, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) ofereceu condições para a emergência de Grupos de Trabalho (GT) voltados para os processos de Avaliação Psicológica, fortalecendo a pesquisa e a produção científica qualificada nesta área. Especificamente o GT intitulado “Métodos Projetivos nos contextos da Avaliação Psicológica”, idealizado no ano de 2006 e implementado no XII Simpósio da ANPEPP em 2008, aglutinou pesquisadores que já faziam parte de outros GTs, principalmente do GT “Pesquisa em Avaliação Psicológica”. O foco central do GT “Métodos Projetivos nos contextos da Avaliação Psicológica” centrou-se na questão da cientificidade e da credibilidade dos Métodos Projetivos. Assumiu, entre suas metas, a missão de publicar trabalhos relevantes para a investigação científica e para a prática profissional do psicólogo na atualidade, oferecendo-lhe recursos técnicos aprimorados para a pesquisa e para a atuação em diversos campos. Esse propósito se coaduna integralmente com os objetivos da Revista Avaliação Psicológica, de modo que se julgou relevante compor um número temático exclusivo para abordar estudos específicos com métodos projetivos de avaliação psicológica, ora apresentado. Trata-se, portanto, de produção científica advinda de parcerias gestadas nos trabalhos desse GT da ANPEPP, no período de 2011 e 2012. Buscou-se essa estratégia técnica de um número temático em revista específica de avaliação psicológica para dar visibilidade e alcance público a esses estudos, na perspectiva de estimular a qualificação profissional na área e novas investigações científicas nesse campo.

Desse modo, este número temático está composto por quatro grandes eixos de investigação científica: a) fundamentos da avaliação psicológica de natureza projetiva; b) diversidade de perspectivas teóricas no uso de métodos projetivos, em especial no Método de Rorschach; c) diversidade de métodos projetivos, com destaque para sua aplicação em diferentes faixas etárias; d) interface entre cultura e métodos projetivos, com ilustração no campo das técnicas gráficas em população indígena.

Para a elaboração deste número temático da Revista Avaliação Psicológica, buscou-se colecionar uma diversidade de trabalhos que efetivamente estimulassem o debate e a qualificação profissional na área da avaliação psicológica com métodos projetivos, na realidade brasileira. Desse modo, o primeiro trabalho apresentado, de natureza teórica e prática, aborda condições necessárias para a condução de processos de avaliação psicológica, examinando a influência de características pessoais do avaliador, como competência profissional, habilidades interpessoais e sua visão de mundo e do outro. O autor, Marcelo Tavares, partiu de suas experiências docentes nessa área, especialmente conduzidas na Universidade de Brasília, estimulando a reflexão e o aprimoramento desse tipo de atuação do psicólogo em seus vários campos de trabalho, com ênfase para o contexto clínico.

Firmadas as bases dos processos de avaliação psicológica, aglutinamos trabalhos de pesquisa desenvolvidos com técnicas projetivas a partir de diferentes perspectivas teóricas, em especial com o Método de Rorschach. O estudo conduzido por Andrés Antunez e Deise Amparo realizou a análise de um caso de esquizofrenia a partir de sua produção no Rorschach, tendo por base a Análise Fenômeno- Estrutural enquanto abordagem teórica. Dessa maneira, o foco do trabalho voltou-se ao modo de ver e de expressar qualidades da linguagem desencadeada pelos estímulos imprecisos do Rorschach, num momento de crise psicótica.

A seguir, ainda a partir do Método Fenômeno- Estrutural de análise, a pesquisadora Renata Franco apresentou a produção de um dependente de heroína, ao início e após seis meses de tratamento intensivo da dependência química, nas técnicas projetivas: Zulliger, Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister e Teste Casa-Árvore-Pessoa. Ao longo de seu trabalho, ficaram evidenciadas, a partir desse caso clínico, as possibilidades de acesso a relevantes indicadores das vivências psíquicas na toxicomania, bem como sinais da sensibilidade e da utilidade desses métodos projetivos para acompanhar a evolução terapêutica nesse contexto clínico.

Com base na perspectiva teórica do Sistema Compreensivo do Rorschach, o artigo seguinte deste número temático, de autoria de Regina Gattás Fernandes do Nascimento, sistematizou resultados descritivos dos padrões de resposta obtidos com adultos não-pacientes do interior e do litoral do Estado de São Paulo. Foram apresentados dados relativos às principais variáveis de codificação do Sistema Compreensivo do Rorschach, discutindo-se as implicações de algumas características sociodemográficas no estilo e na organização psíquica de adultos do interior e da capital, estimulando a reflexão sobre o possível efeito destas especificidades no desenvolvimento de marcadores de personalidade, a serem levados em consideração em processos de avaliação psicológica por meio do Método de Rorschach.

Ainda neste mesmo bloco de estudos foi incorporado o trabalho desenvolvido por Ana Cristina Resende, Tereza Rezende de Carvalho e Weber Martins, na região de Goiânia (GO). Os autores estudaram o desempenho médio de crianças e adolescentes no Método de Rorschach, também a partir da perspectiva teórica do Sistema Compreensivo. Os resultados versaram sobre referenciais normativos desse grupo etário, bem como discutiram a influência de algumas variáveis socio-demográficas sobre o padrão de respostas ao Rorschach, estimulando a reflexão sobre a adequada utilização destes dados, bem como novos estudos brasileiros nesta direção.

Destacados esses estudos, organizamos outro grupo de trabalhos neste número temático, agora com a finalidade de explicitar e exemplificar a diversidade de métodos projetivos disponíveis no Brasil, com destaque para sua aplicação em diferentes faixas etárias, atendendo às necessidades da prática profissional cotidiana. Assim, o trabalho assinado por Blanca Werlang, Liza Fensterseifer, Roberta Salvatori e Cristina Aragonez apresentou os primeiros resultados relativos a possíveis respostas populares às 21 lâminas do Teste de Apercepção Familiar (FAT), aplicado em estudantes de seis a 15 anos. A produção desses participantes foi examinada de modo a verificar possível influência do sexo e da idade nos resultados que, embora preliminares, apontaram a riqueza do FAT enquanto recurso para avaliação psicológica no contexto brasileiro.

O trabalho apresentado, a seguir, focalizou o Teste de Zulliger. Hugo Fazendeiro e Rosa Novo procuraram evidenciar alternativa para padronizar esse instrumento como um método projetivo passível de aplicação coletiva, com a devida objetividade e adequadas qualidades psicométricas, para avaliar características de personalidade de indivíduos adultos. O estudo foi conduzido no contexto de Portugal e chegou a evidências empíricas instigadoras para o uso do Sistema Compreensivo de Exner no Teste de Zulliger, estimulando, com grande probabilidade, novas investigações na área.

Voltado para a faixa etária infantil (seis a 12 anos), o estudo desenvolvido por Anna Elisa de Villemor-Amaral, Pâmela Pavan, Fabíola Biasi, Paula Migoranci e Raquel Tavella verificou indicadores de validade do Teste das Pirâmides de Pfister, examinando especificamente diferenças eventuais, na produção destes estudantes, associadas ao desenvolvimento cognitivo e emocional. A hipótese pode ser confirmada pelos achados, fortalecendo as possibilidades de utilização desse método projetivo no contexto brasileiro, agora com crianças escolares, apesar de se tratar ainda de resultado preliminar do estudo ainda em execução.

Na sequência dos trabalhos, Mariana Bastos- Formighieri e Sonia Pasian apresentaram dados relativos às características da produção de idosos no Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister. O estudo procurou descrever eventuais marcas típicas dos processos de envelhecimento por meio desse método projetivo, facilmente aplicável e lúdico para diferentes faixas etárias. As autoras, portanto, disponibilizaram material relevante para estimular a inserção do Teste de Pfister em processos de avaliação psicológica com indivíduos de idade superior a 60 anos, no contexto do Brasil.

Para concluir este terceiro eixo de trabalhos deste número temático, ainda focalizando o Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister, Luciana Silva e Lucila Cardoso apresentaram um levantamento descritivo e reflexivo a respeito dos manuscritos científicos relacionados a este método projetivo produzidos no Brasil desde a década de 1950, quando aqui foi introduzido. Recorreram a um levantamento bibliográfico realizado a partir da base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS-Psi), trazendo ao público uma síntese descritiva dos achados, de modo a favorecer um panorama nacional relativo aos estudos desenvolvidos com esse método projetivo, mostrando seus campos de aplicação e qualidades técnicas, estimulando novas investigações nesta área.

Para finalizar os eixos temáticos, este número abordou a questão da interface entre cultura e métodos projetivos, com ilustração no campo das técnicas gráficas em população indígena. Para tanto, o trabalho elaborado por Grubits, Bonfim, Arias, Tardivo, Grubits Freire, Noriega e Vizzotto reúne três estudos desenvolvidos sobre desenhos de indígenas brasileiros. O primeiro foco foi dado à identificação de peculiaridades da produção gráfica de crianças indígenas e não índias, almejando identificar elementos culturais presentes no desenvolvimento do desenho infantil. Depois se procurou analisar desenhos produzidos por crianças em momentos de experiências de escuta psicológica em uma aldeia específica. No terceiro momento desse estudo, objetivou caracterizar a psicodinâmica familiar de crianças indígenas a partir da análise de desenhos de família e histórias, interpretados pelo referencial psicanalítico. Foram, por fim, discutidas evidências de elementos culturais específicos presentes nas diferentes produções gráficas dessas crianças, ilustrando a sensibilidade dos desenhos para identificar componentes socioafetivos conjuntamente a aspectos das experiências vividas no processo de formação da personalidade.

Em complemento a esses trabalhos, produzidos no âmbito das parcerias do GT “Métodos Projetivos nos Contextos da Avaliação Psicológica” da ANPEPP, foi apresentado o estudo desenvolvido por Cathérine Azoulay, na França, com a faixa etária adolescente. Este trabalho aborda a possibilidade do processo de avaliação psicológica de orientação psicanalítica se constituir como objeto de mediação com fins terapêuticos. A autora ilustra esse processo com o caso de uma estudante de 16 anos, oferecendo estímulos práticos e teóricos para embasar a avaliação psicológica como uma estratégia integrada para a intervenção clínica. Finalizamos este número temático, deste modo, com um trabalho que integra teoria e prática concernente à avaliação psicológica de natureza projetiva.

Diante do exposto, temos a clareza de que as contribuições científicas aqui apresentadas certificam os esforços e o empenho dos pesquisadores no sentido de evidenciar e demonstrar, com fundamentos teóricos e empíricos, as qualidades dos métodos projetivos de avaliação psicológica. Isso para diferentes faixas etárias, diversos campos de aplicação profissional e amplos contextos socioculturais. Portanto, os instrumentos estão sendo aprimorados e certificados, conforme diretrizes nacionais e internacionais da área de avaliação psicológica. Temos a esperança de que a leitura desses trabalhos convide a todos ao pleno desejo de contínuo e necessário aprimoramento técnico-científico na área! Boas leituras e ótimos trabalhos!

 

Sonia Regina Pasian e Deise Matos do Amparo

Organizadoras do Número Temático

“Métodos Projetivos de Avaliação Psicológica”

13 de Setembro de 2012