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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.12 no.1 Itatiba abr. 2013

 

 

Construção e Validação da Escala de Orgulho e suas Relações com Autoestima

 

Construction and Validation of the Scale of Pride and its Relations with Self-Esteem

 

Construcción y Validación de la Escala de Orgullo y sus Relaciones con la Autoestima

 

 

Lorena Maria LaskoskiI; Jean Carlos NatividadeI; Daniela NavariniI; Maiala BittencourtII; Claudio Simon HutzIII,1

IUniversidade Federal do Rio Grande do Sul
IIPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
IIIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

 

 


RESUMO

O presente estudo visou à construção e validação de uma escala para mensurar orgulho em adolescentes e verificar sua correlação com autoestima. Participaram 580 estudantes de Ensino Médio de três Estados brasileiros, 55% do sexo feminino, média de idade de 16 anos. Os participantes responderam a um questionário com questões sociodemográficas, à escala de autoestima de Rosenberg e a um conjunto de itens produzidos com o intuito de avaliar o orgulho. Os resultados indicaram a emergência de duas dimensões para orgulho com índices satisfatórios de precisão, denominadas orgulho autêntico e orgulho arrogante. O orgulho autêntico relaciona-se a sentimentos de alegria e prazer experienciados após se obter sucesso em realizar uma ação. O orgulho arrogante refere-se à dificuldade em admitir erros e a sentimentos de superioridade. Autoestima apresentou correlação positiva com orgulho autêntico e negativa com orgulho arrogante.

Palavras-chave: emoções; orgulho; autoestima; adolescentes.


ABSTRACT

This study aimed to develop and validate a scale to assess pride in adolescents as well as to investigate its correlation with self-esteem. Participants were 580 high school students from three Brazilian States, 55% female, mean age of 16 years. The participants responded to a questionnaire with socio-demographic questions, to the Rosenberg self-esteem scale, and to a set of items developed to assess pride. The results indicated the emergence of two dimensions that assessed the construct with an adequate internal consistency index: authentic pride and hubristic pride. Authentic pride relates to feelings of joy and pleasure experienced after obtaining success in accomplishing an action. Hubristic pride refers to the difficulty in admitting errors and feelings of superiority. Self-esteem presented a positive correlation with authentic pride and a negative correlation with hubristic pride.

Keywords: emotions; pride; self-esteem; adolescents.


RESUMEN

El objetivo de este estudio fue desarrollar y validar una escala para medir el orgullo de los adolescentes y evaluar su correlación con la autoestima. Participaron 580 estudiantes de escuela secundaria de tres Estados brasileños, 55% mujeres, edad media 16 años. Los participantes respondieron un cuestionario con preguntas socio-demográficas, la Escala de Autoestima de Rosenberg y un conjunto de ítems producidos con el fin de evaluar el orgullo. Los resultados indicaron la aparición de dos dimensiones de orgullo con niveles satisfactorios de precisión, llamado orgullo auténtico y orgullo arrogante. El orgullo auténtico se refiere a un genuino sentimiento de alegría y placer que se experimentan después de tener éxito en la realización de una acción. Orgullo arrogante se refiere a la dificultad en admitir los errores y a los sentimientos de superioridad. La autoestima se correlacionó positivamente con orgullo auténtico y negativamente con orgullo arrogante.

Palabras-clave: emociones; orgullo; autoestima; adolescentes.


 

 

Os sentimentos de alegria e prazer ao cumprir uma ação e os consequentes pensamentos decorrentes da realização de uma atividade em que se acredita ter tido sucesso são comumente denominados de orgulho. Lewis (1993) define orgulho como a consequência de uma avaliação bem sucedida de uma ação específica. O orgulho é também associado com a avaliação positiva do self, apresentando correlações positivas com autoestima e bem estar subjetivo (Stoeber, Harris, & Moon, 2007). Katzenbah (2004) argumenta que o orgulho poderia servir como uma motivação melhor do que recompensas financeiras, por exemplo, em ambientes organizacionais, pois a pessoa não precisaria esperar pelo sucesso para orgulhar- se daquilo que está fazendo. Sentir essa emoção antecipadamente já funcionaria como motivação e incitaria as pessoas a buscarem novamente tais realizações.

No entanto, o orgulho também pode ser entendido como uma emoção prejudicial àqueles que a manifestam. Em algumas religiões, por exemplo, o orgulho é tido como algo condenável. No catolicismo, o orgulho faz parte dos sete pecados capitais, sendo visto como algo ruim, do qual temos que nos libertar (César, 2004). Ao encontro dessa dicotomia sobre conceituações de orgulho, pesquisas recentes identificaram um lado positivo e um lado negativo do orgulho (Tracy & Robins, 2007).

Tracy e Robins (2007) verificaram, em pesquisa com uma amostra norte-americana, a emergência de duas dimensões para o orgulho, uma que denominaram orgulho autêntico e outra que chamaram de orgulho arrogante. O método usado para chegar a esses resultados foi usar fotos de expressões faciais e solicitar aos participantes que rotulassem o que a pessoa da foto estava sentindo. Além disso, os pesquisadores solicitaram que os participantes descrevessem a experiência de orgulho. As respostas que foram relacionadas ao orgulho autêntico tinham valência positiva e se referiam ao sentimento de triunfo sobre a realização de atividades. Já as respostas que os autores relacionaram com o orgulho arrogante apresentavam caráter negativo e podiam ser representadas por palavras como: arrogante, egoísta, e ser superior aos demais. Os autores concluíram que há duas formas de orgulho que são semânticamente e empiricamente distintas. A utilização da denominação arrogante para uma dimensão não implica que ela seja uma experiência emocional não autêntica, como é chamada a outra faceta do orgulho (Tangney & Tracy, no prelo).

No intuito de avaliar o orgulho e suas facetas, Tracy e Robins (2007) construíram a escala: Authentic and hubristic Pride-proneness Scales, a qual avalia o orgulho nas duas facetas ortogonais (Autêntico e Arrogante). Tracy e Robins (2007) defendem que o orgulho autêntico contribui para investimento pró-social e ao desenvolvimento da autoestima. Já o orgulho arrogante se relaciona à agressão, hostilidade, problemas interpessoais, conflitos de relacionamento, comportamentos autodestrutivos, sentimentos de superioridade e não se relaciona a uma ação específica. Em sua forma extrema, o orgulho Arrogante é bastante semelhante a uma característica do Transtorno de Personalidade Narcisista: a crença de ser uma pessoa superior aos demais, especial ou única e esperar ser reconhecida pelos outros como tal (DSM IV, 2002).

Outro instrumento construído com o intuito de avaliar as emoções autoconscientes é o Test of Self-Conscious Affect (Tangney, Wagner, Gavlas, & Gramzow, 1991). Esse teste é destinado a adolescentes e é composto de 15 descrições de cenários, em que os participantes devem responder sobre a probabilidade de pensarem de acordo com as respostas predeterminadas às situações. O teste propõe-se a aferir vergonha, culpa externalização da culpa, destacamento/indiferença, e orgulhos alpha (orgulho de si, de como se é) e beta (orgulho de um comportamento específico).

Partindo de uma perspectiva funcional das emoções, Tracy e Robins (2007) sugerem que o orgulho pode ter evoluído para reforçar os comportamentos pró-sociais e para melhorar a condição social daqueles que o sentem. Assim, o orgulho autêntico estaria vinculado à promoção de status social por meio de uma relação orientada para motivar comportamentos pró-sociais, e o orgulho arrogante estaria relacionado à busca de atalhos para obtenção desse status. Esse tipo de orgulho, o arrogante, se mostra mais vantajoso em situações em que se faz necessário mostrar uma relação de superioridade, a fim de intimidar um adversário.

Tracy e Robins (2007) também defendem que as duas faces do orgulho variam conjuntamente com a atribuição de causalidade aos eventos, ou seja, se o indivíduo avalia se um fato ocorreu por sua causa ou não. No caso do orgulho autêntico resultaria a partir de atribuições internas, instáveis e causas controláveis: "eu estou orgulhoso do que fiz" ou "eu ganhei porque eu praticava". Já o orgulho arrogante seria o resultado de atribuições internas, estáveis e de causas incontroláveis: "ganhei porque eu sou sempre muito bom" (Tracy & Robins, 2007). Em consonância com essa perspectiva, um estudo recente (Cheng, Tracy, & Henrich, 2010) buscou avaliar o status social de pessoas que demonstravam sentir orgulho autêntico e orgulho arrogante, a partir do autorrelato e do relato de pares. Tal pesquisa constatou que indivíduos percebidos com altos escores em orgulho arrogante tendiam a se ver e ser vistos pelos seus pares como dominantes, enquanto que os indivíduos altos em orgulho autêntico tendiam a se ver e ser vistos pelos colegas como de prestígio.

Para entender a relação das duas facetas do orgulho com as dimensões de personalidade, Tracy e Robins (2007) fizeram uma pesquisa com estudantes de graduação usando um instrumento de personalidade no Modelo dos Cinco Grandes Fatores e o Authentic and hubristic Pride-proneness Scales. Os resultados encontrados apontaram que o orgulho autêntico foi positivamente correlacionado com Extroversão, Socialização e Realização. Já o orgulho arrogante relacionou-se negativamente com Socialização e Abertura a experiências, duas características que refletem uma orientação pró-social, e também, pode em parte ser uma resposta defensiva a sentimentos de vergonha (Tracy & Robins, 2007).

Resultados da pesquisa de Tracy, Cheng, Robins e Trzesniewski (2009) relacionam autoestima, narcisismo e duas facetas do orgulho. Os pesquisadores correlacionaram o orgulho, medido pela escala de Tracy e Robins (2007), com a autoestima, aferida pela Escala de Autoestima de Rosenberg. Os achados apontaram que o orgulho autêntico correlacionou-se positivamente com autoestima e o orgulho arrogante mostrou correlação negativa. Por fim, verificaram correlação positiva entre orgulho arrogante e sintomas do Transtorno de Personalidade Narcisista. Resultados semelhantes foram encontrados por Orth, Robins e Soto (2010) que realizaram uma pesquisa nos Estados Unidos com mais de 2000 pessoas, com idades entre 13 e 89 anos, para verificar como orgulho, vergonha e culpa se desenvolviam ao longo do ciclo vital. Esses pesquisadores correlacionaram depressão e autoestima com os níveis de vergonha e culpa avaliados pelo instrumento Test of Self-Conscious Affect-3 e orgulho autêntico e arrogante pelo Authentic and hubristic Pride-proneness Scales. No que diz respeito ao orgulho, o orgulho autêntico foi correlacionado positivamente com autoestima e negativamente com depressão, já o orgulho arrogante apresentou correlação positiva com depressão e negativa com autoestima.

Até o momento, não foram encontradas pesquisas sobre orgulho, a partir da perspectiva de Tracy e Robins (2007), para o contexto brasileiro. Tampouco estudos que tenham identificado as duas dimensões para o construto no Brasil ou demais países de língua portuguesa. Além disso, as evidências de relações desse construto com fenômenos como autoestima e depressão ressaltam a importância de pesquisas empíricas sobre o tema. Diante desses apontamentos, desenvolveu-se este estudo com o objetivo de construir e buscar evidências de validade de uma escala para avaliar o orgulho em população adolescente.

 

Método

Participantes

Participaram 580 adolescentes com idade entre 13 a 18 anos (M = 16,0; DP = 1,19). Do total, 55,6% eram do sexo feminino e todos cursavam o Ensino Médio em escolas no Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Eram provenientes de escolas públicas 54,7% dos participantes, os demais eram de escolas particulares. O projeto de pesquisa foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, devidamente registado no CONEP.

Instrumentos

Foi utilizado um questionário autoaplicável de respostas fechadas contendo questões sociodemográficas como: sexo, idade, série; a Escala de Autoestima (Hutz & Zanon, 2011) e os itens elaborados nesse estudo para aferir o orgulho. A escala inicial para orgulho foi formada por 21 afirmativas. Ao lado de cada uma delas os participantes deveriam assinalar, em uma escala Likert de cinco pontos, o quanto concordavam com a afirmativa, tal que o ponto 1 significava discordo completamente e o ponto 5 correspondia a concordo plenamente. A escala não continha itens invertidos.

Procedimentos

Construção dos itens

Para a construção dos itens das escalas realizou-se um levantamento de dados com 114 jovens da cidade de Porto Alegre, em que se solicitou que eles conceituassem, com suas próprias palavras, o orgulho. Esses adolescentes não participaram do estudo principal. A partir das respostas obtidas a essa questão aberta, elaborou-se uma lista de frases referentes às definições fornecidas para os construtos. Então, foram agrupadas as frases com sentido semelhante e, a partir desses agrupamentos, criaram-se afirmativas que compuseram os itens da escala. Além disso, foram elaborados itens inspirados no conceito proposto por Lewis (1993).

Coleta e Análises

Estabeleceu-se contato com os coordenadores pedagógicos das escolas a fim de verificar a possibilidade de realização da pesquisa. Naquelas em que houve aceitação, definiu-se as turmas a serem abordadas e os dias da coleta de dados. Entregou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos pais ou responsáveis pelos adolescentes, e solicitou-se a anuência dos estudantes. Em outro momento, previamente agendado com a coordenação, ocorreu a aplicação. Os participantes responderam aos questionários em sala de aula e em horários de aula. Inicialmente, foi realizado um rapport de apresentação da pesquisa e dos procedimentos, explicitando o caráter voluntário da participação. A maioria dos participantes preencheu os instrumentos em menos de 15 minutos.

Realizou-se análise fatorial, pelo método Principal Axis, incluindo todos os itens da escala, com o intuito de verificar a validade do construto. Utilizou-se rotação Varimax, tendo em vista os achados de Tracy e Robins (2007) sobre a ortogonalidade do construto. Por fim, calculou-se média e desvio-padrão da escala e o coeficiente Alfa (Cronbach, 1951) para verificar a precisão do instrumento e, por fim, testaram-se correlações com autoestima.

 

Resultados

Verificou-se que os dados da escala estavam adequados à fatorização, KMO = 0,80; assim como estava adequada a matriz de correlação dos itens, teste de esfericidade de Bartlett, p<0,001. Com base nos critérios de Kaiser (1960), fatores com eigenvalue maior que 1, e Cattell (1966), análise do Scree Plot (Figura 1), verificouse ser adequado extrair dois fatores. Foram retirados 10 itens que não apresentaram cargas maiores que 0,30 em nenhum dos fatores. A variância explicada pelos dois fatores foi de 38,0%.

 

 

O Fator 1, denominado orgulho Autêntico, agrupou itens com conteúdo referente ao reconhecimento de qualidades e feitos, além de sentimentos positivos relacionados a conquistas. O Fator 2, nomeado orgulho Arrogante, agrupou itens associados a dificuldades em admitir e corrigir erros. Ambos os fatores apresentaram índices de precisão adequados (Cronbach, 1951), como pode ser visto na Tabela 1.

 

 

A média dos participantes para o orgulho Autêntico foi de 3,88 (DP = 0,62), já para o orgulho Arrogante a média foi de 2,97 (DP = 1,07). Não foram encontradas diferenças entre sexos para o orgulho Autêntico, t(575) = 0,65; p = 0,52; tampouco para o orgulho Arrogante, t(575) = 0,53; p = 0,60. A idade dos participantes apresentou correlações próximas de zero com os escores dos fatores Orgulho Autêntico e Orgulho Arrogante (respectivamente, r(577) = 0,03 e r(577) = -0,04). A correlação entre as duas dimensões do orgulho (r(577) = -0,06) também foi muito próxima de zero, indicando a ortogonalidade dos fatores. A correlação da autoestima com o orgulho Autêntico foi positiva [r(573) = 0,61; p<0,001]. No entanto, a correlação com o orgulho Arrogante foi negativa [r(573) = -0,10; p<0,05].

 

Discussão

Este estudo teve como objetivo construir e validar uma escala para avaliar orgulho em adolescentes e verificar a relação entre orgulho e autoestima. A partir da Análise Fatorial, observou-se que os itens se separaram em dois fatores independentes, ambos com índices de precisão adequados. As respostas à questão aberta sobre conceituação de orgulho forneceram conteúdo para a construção de itens de uma escala que se mostrou adequada para aferir o construto. O levantamento prévio utilizado a fim de elaborar os itens, além de ser um procedimento recomendado para a construção de instrumentos psicológicos (Pasquali, 1998), permitiu constatar a emergência de uma, até então não explorada, dimensão do orgulho no Brasil.

Os achados sobre a escala construída neste estudo vão ao encontro do que propuseram Tracy e Robins (2007), que encontraram duas facetas opostas para o orgulho e as denominaram orgulho autêntico e orgulho arrogante. Os resultados das correlações entre as duas dimensões, praticamente zero, reforçam a noção de que os dois tipos de orgulho são ortogonais, como também sugerem aqueles autores. Assim, é possível pensar que as pessoas podem demonstrar escores altos ou baixos em cada fator, independentemente.

Os itens relativos à dimensão de orgulho Autêntico visam à identificação do orgulho como sendo um construto associado positivamente aos sentimentos de felicidade e prazer em realizar uma ação na qual se acredita ter tido sucesso. Esses achados reforçam a noção do orgulho como referente à percepção de sucesso na realização de uma tarefa (Tracy & Robins, 2007). Também se encontrou correlação positiva entre orgulho autêntico e autoestima (r=0,61), assim como encontrado em outros estudos (Stoeber e cols., 2007; Tracy e cols., 2009), demonstrando que se perceber como tendo sucesso em realizar uma atividade está relacionado a uma alta autoavaliação positiva. Além disso, a semelhança dos resultados deste estudo com outros que utilizaram o instrumento para aferir o orgulho nas duas dimensões fornece evidências de validade da escala aqui apresentada.

O segundo fator encontrado, o orgulho arrogante, mostrou conteúdo referente à dificuldade em se relacionar e admitir erros, sentimentos de superioridade, além da desvalorização da contribuição dos outros, bastante semelhante ao conceito proposto por Tracy e Robins (2007). Embora a correlação entre autoestima e essa dimensão do orgulho demonstre uma relação fraca (r=-0,10), o sentido da correlação (negativo) é o mesmo do encontrado na pesquisa de Tracy e cols. (2009) e reforçam as evidências de similaridade entre os construtos avaliados pela escala em inglês (Tracy & Robins, 2007) e a escala em português. As semelhanças encontradas entre este estudo e outros que utilizaram uma escala de orgulho permitem inferir que orgulho arrogante pode atuar como a manifestação de uma defesa para pessoas que possuem baixa autoestima.

 

Considerações Finais

Este estudo teve como objetivo construir e validar uma escala para mensurar orgulho em adolescentes e verificar possível correlação com autoestima. Foram encontradas duas dimensões para a escala de orgulho: Autêntico e Arrogante. Os itens relativos à dimensão de orgulho Autêntico visam à identificação do orgulho como sendo um construto positivo associado aos sentimentos de felicidade e prazer em realizar uma ação na qual se acredita ter tido sucesso. O segundo fator encontrado neste estudo é o orgulho Arrogante, o qual está associado à dificuldade em admitir erros, sentimentos de superioridade, além da desvalorização da contribuição dos outros. As correlações das duas dimensões do orgulho com autoestima mostraram-se significativas e semelhantes às de estudos anteriores em outra cultura.

Esse estudo fortalece a importância de se conhecer o orgulho em adolescentes, sobretudo porque há evidências de que a faceta orgulho Autêntico está correlacionada positivamente com a autoestima. Ressalta também a importância de estimular o reconhecimento e regulação do orgulho Arrogante, uma vez que ele está relacionado negativamente à autoestima.

Sugere-se que novas investigações sejam realizadas para verificar se essa escala também é válida para adultos e para procurar relacionar o construto orgulho com outras emoções morais, como vergonha e culpa. Além disso, dada a confirmação da correlação relativamente elevada entre orgulho Autêntico e Autoestima, seria também importante investigar suas relações com outros construtos na área da Psicologia Positiva, especialmente no que diz respeito ao Bem-estar Subjetivo.

O presente estudo teve resultados semelhantes aos encontrados na literatura internacional. Porém, seria interessante realizar estudos de validade de conteúdo com relação especialmente ao fator orgulho arrogante. Tais estudos poderiam permitir a produção de novos itens e talvez gerar formas de uma avaliação mais completa dessa faceta do orgulho.

 

Referências

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Recebido em junho de 2011
Reformulado em dezembro de 2011
Aceito em setembro de 2012

 

 

Sobre os autores

Lorena Maria Laskoski: Pedagoga pela Universidade Federal do Paraná. Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Jean Carlos Natividade: é Psicólogo, doutorando em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro do Laboratório de Mensuração do Instituto de Psicologia da UFRGS.
Daniela Navarini: é estudante de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Maiala Bittencourt: é Bolsista de Iniciação Científica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Claudio Simon Hutz: é Psicólogo, doutor em Psicologia pela University of Iowa. É Professor Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


1Endereço para correspondência:
Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 101, Laboratório de Mensuração, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Santa Cecília, Porto Alegre-RS, Brasil, CEP: 90035-003. Tel.: (51) 3308 5246. E-mail: claudio.hutz@terra.com.br