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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471

Aval. psicol. vol.12 no.3 Itatiba dez. 2013

 

 

Avaliação e medidas psicológicas no contexto dos relacionamentos amorosos

 

 

Jeferson Gervasio Pires

Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina

 

 

 

O livro “Avaliação e medidas psicológicas no contexto dos relacionamentos amorosos” traz uma coletânea de 8 artigos referentes aos processos psicológicos e culturais presentes nas relações amorosas, bem como a sua abordagem nos instrumentos de medida e de avaliação psicológica. Os dois primeiros capítulos levantam aspectos filosóficos e sociais das relações amorosas e os demais avançam em questões mais específicas e relacionadas à avaliação psicológica destes contextos. A coletânea foi organizada durante a disciplina de Psicometria, do curso de Psicologia da UFSC, entre os anos de 2005 e 2007.

O primeiro capítulo, intitulado “O estudo dos relacionamentos amorosos em diferentes campos disciplinares”, aborda questões referentes à complexidade envolvida na construção, no desenvolvimento e na manutenção das relações amorosas. Discute, também, a pluralidade dos modos de conjugalidade, escolhida pelos casais. Os autores sugerem que a manutenção das relações amorosas esteja associada à capacidade do casal de sustentar o desenvolvimento individual e de crescimento pessoal das suas partes, contrapondo a noção mais antiga, de relação a partir de uma fusão entre suas partes.

As noções de “terceira jornada” e de “negociação do espaço individual com o espaço privado” ganham importância nesta seara, e a avaliação da funcionalidade da família está correlacionada com alguns indicadores, tais como a comunicação, a circularidade, as tarefas do ciclo vital, crescimento e libertação, entre outros.

No segundo capítulo, denominado “O amor como prática social: Uma perspectiva teórica”, o amor é citado não como uma pulsão, mas como um construto social, ou um jogo social, que pode ser percebido por meio das práticas cotidianas e no desenvolvimento de hábitos específicos no “roteiro de Interações Sociais”, tais como as trocas de confidências e de cartas, o que contrapõe a versão clássica do amor irracional. É abordada também, a questão do “amor confluente”, como sendo uma forma política e ideológica, a qual mantém as hierarquias do poder do homem sobre a mulher e o “amor confluente”, que torna as relações amorosas mais democráticas, igualitárias e cidadãs. Também é citado o amor sendo exercido entre pessoas com identidades semelhantes, e que este parece ser algo mágico, baseado na primeira fase, e que vem antes dos conflitos e dos confrontos e, por fim, há uma discussão sobre o amor não ser percebido como um sentimento, mas sim como um código simbólico, informando, de alguma maneira, as condições que as pessoas podem amar umas às outras.

No capítulo seguinte, entra-se, de fato, no universo da aplicação de medidas em psicologia nos contextos amorosos. Nomeado “O universo das medidas psicológicas na avaliação de relacionamentos amorosos”, o terceiro capítulo discute, inicialmente, a falta de instrumentos de medida psicológica no contexto em questão, ainda que se encontrem alguns instrumentos no mercado. O capítulo trata o fenômeno como um construto multidimensional e, em seguida, os autores apresentam 9 dos principais instrumentos para a mensuração de aspectos psicológicos em relacionamentos amorosos, dentre eles, o Personal Assessment of Intimacy in Relationships, o Dyadic Adjustment Scale, o Attitudes about Romance and Mate Selection Scale, a Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de Casal, entre outras.

No quarto capítulo, nomeado “Satisfação no contexto dos Relacionamentos Amorosos”, é discutida a questão de como fazer a avaliação psicológica das relações amorosas, bem como a definição do construto, o qual está relacionado com fatores como a intimidade, o compromisso e a satisfação com a relação. Esse último fator recebe atenção especial no construto, funcionando, de alguma maneira, como um preditor destaque para a avaliação das relações.

Os autores tratam da avaliação do nível de satisfação da relação baseados no nível de positividade do mesmo e, ao mesmo tempo, reiteram a importância de avaliar o construto de uma maneira total, uma vez que não seria suficiente encontrar apenas resultados como “satisfeito” ou “insatisfeito” com a relação, haja vista que tal medida pode ser compreendida em termos mais específicos, tais como “totalmente satisfeito” ou “razoavelmente satisfeito”.

Há também a apresentação do modelo teórico que menciona a tríade da avaliação da relação (qualidade da relação, satisfação global com a relação e a satisfação com aspectos específicos da relação) e, também, são apresentados com detalhes os passos para a construção e validação de uma escala com o propósito de medir a satisfação da relação do casal, chamada de Escala Fatorial de Satisfação em Relacionamento de Casal. Ainda são citados outros dois instrumentos com propósitos semelhantes: As Escalas Rubi e a Kansas Marital Satisfaction Scale.

O quinto capítulo recebe o nome de “Satisfação no relacionamento amoroso e bem-estar psicológico” e inicia relacionando as facetas “satisfação com o relacionamento”, apresentada no capítulo anterior, com o aspecto saúde e o seu significado em outros aspectos da vida. Essa discussão se limitou à relação com dois construtos: (1) bem-estar psicológico do indivíduo e (2) satisfação com aspectos específicos do relacionamento, muito embora, o próprio texto sugira não haver consenso na comunidade científica a respeito do bem-estar psicológico enquanto um construto.

Na sequência, o texto versa sobre a medida do bem- -estar psicológico, exemplificando o modelo que avalia o construto, sendo constituído, inicialmente, pelo afeto positivo e negativo; além de mostrar também a segunda vertente que foca a satisfação com a vida, trazendo exemplos de instrumentos de ambos os modelos. No capítulo também é apresentado o modelo das seis dimensões do bem-estar psicológico, proposto por Ryff. Nesse sentido, a relação entre os dois modelos teóricos, em complementaridade, foi vislumbrado e o construto foi denominado como resultante das esferas dos afetos (positivo e negativo) e da satisfação com a vida. Por fim, é apresentado o resultado de uma pesquisa que correlacionou a satisfação com o namoro às outras áreas da vida pessoal. Esses resultados complementam os estudos de validade da Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de Casal. Foi apresentada também a adaptação da escala do bem- -estar psicológico proposta por Ryff.

O sexto capítulo recebe o título de “Comportamentos associados à utilização do preservativo masculino em relacionamentos amorosos” e resume os resultados de uma pesquisa que levantou alguns comportamentos dos contextos dos relacionamentos amorosos, associados ao uso do preservativo, e buscou também apresentar a validação da Escala Fatorial de Percepção de Comportamentos Presentes em Relacionamentos Amorosos (EFPC-RA), a qual visa medir a percepção de alguns comportamentos nos relacionamentos amorosos. Apresenta-se a versão final do instrumento supracitado, bem como são descritas as propriedades psicométricas do mesmo.

No sétimo capítulo, os autores discorrem acerca da satisfação sexual feminina, no contexto das relações amorosas. Para isso, foram discutidos aspectos como a sexualidade e o casamento, e a sexualidade e a satisfação sexual feminina. Foram apresentadas, também, medidas da sexualidade feminina, a exemplo dos instrumentos: Escalas Beck, Rosenbergy Self-Esteem Scale e a Escala de Percepções de Amor e Sexo. O capítulo reitera a importância de serem construídas novas medidas no campo da sexualidade, bem como apresenta a construção da medida de satisfação sexual feminina.

O oitavo e último capítulo recebe o título de “Sentimentos predominantes no término dos relacionamentos amorosos” e apresenta estes sentimentos percebidos com base em uma pesquisa realizada com sujeitos que haviam vivenciado tal situação. Segundo o capítulo, nesses contextos costumam sofrer mais aqueles indivíduos tidos como “deixados” e os autores ainda salientam que para suavizar ou neutralizar os efeitos do sofrimento, costumam surgir os sentimentos de ódio e de frieza, mas que estes também alertam para as múltiplas formas de esta situação ser vivenciada.

Por fim, o oitavo capítulo apresenta os estudos de construção e de validação da Escala de Sentimentos Após o Término de Relacionamentos Afetivos, bem como o resultado final da escala. Nesse sentido, são apresentados também alguns resultados da pesquisa, na qual foram identificados, por exemplo, que altos escores de sentimentos positivos estão associados a baixos escores de sentimentos negativos, e vice-versa, além do fato de que os sujeitos com predomínio de sentimentos positivos após o término do relacionamento possuíam baixo índice de sentimentos negativos, e vice-versa.

Com base no exposto, é possível concluir que o livro se propõe a apresentar a temática da avaliação e das medidas psicológicas no contexto dos relacionamentos amorosos de maneira bastante diversificada. Ele faz um levantamento bibliográfico a respeito do construto, apresenta alguns instrumentos utilizados no exterior para este contexto, bem como apresenta estudos de adaptação dessas escalas. O livro também incentiva a criação de mais instrumentos adaptados à realidade das relações amorosas brasileiras.

 

Referências

Cruz, R. M., Wachelke, J. F. R., Andrade, A. L. (Orgs). (2012). Avaliação e medidas psicológicas no contexto dos relacionamentos amorosos. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

 

 

Recebido em outubro de 2012
Reformulado em fevereiro de 2013
Aprovado em abril de 2013

 

 

Sobre os autores

Jeferson Gervasio Pires: é acadêmico do último semestre do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina, e monitor do Laboratório de Testagem Psicológica na mesma instituição.