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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.13 no.3 Itatiba Dec. 2014

 

 

Autoeficácia para escolha profissional, suporte familiar e estilos parentais em adolescentes

 

Career choice self-efficacy, family support and parenting styles in adolescents

 

La auto-eficacia para la elleción de carrera, apoyo familiar y los estilos de crianza de los adolescentes

 

 

Cristiane Deantonio Ventura; Ana Paula Porto Noronha1

Universidade São Francisco

 

 


RESUMO

O presente estudo teve como objetivo verificar a predição de crenças de autoeficácia com base no suporte familiar e estilos parentais percebidos pelos adolescentes. Participaram 142 jovens do ensino médio (1º, 2º e 3º anos) com idades entre 13 e 18 anos (M=15,75; DP=1,02) – 45,8% do 1º ano, 51,4% do sexo feminino e 73,9% de escola pública. Foram usados os instrumentos Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional (EAE-EP), Inventários de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) e as Escalas de Responsividade e Exigência, aplicados coletivamente em sala de aula. Os resultados indicaram que a afetividade dos membros da família (IPSF) e a responsividade materna (escalas) são preditores das crenças de autoeficácia para escolha profissional. A análise paterna, nas escalas de responsividade e exigência, demonstrou os menores valores de regressão. Os achados são discutidos à luz da literatura, bem como são sugeridas novas investigações.

Palavras-chave: orientação profissional; avaliação psicológica; família.


ABSTRACT

The present study aimed to verify the prediction of self-efficacy beliefs based on family support and parenting styles as perceived by adolescents. A total of 142 high school students (1st, 2nd and 3rd years) participated in the study, ranging from 13 to 18 years of age (M=15.75; SD=1.02), of which 45.8% were in their 1st year, 51.4% were female and 73.9% attended public school. The instruments Professional Choice Self-efficacy Scale (EAE-EP), Perception of Family Support Inventories (IPSF), and Responsiveness and Demandingness Scales were applied collectively in the classroom setting. Results indicated that the affection of family members (IPSF) and maternal responsiveness (scales) are predictors of self-efficacy beliefs for career choice. Regarding the paternal analysis, the responsiveness and demandingness scales showed the lowest values of regression. The findings are discussed based on the literature, and new investigations are suggested.

Keywords: career guidance; psychological assessment; family.


RESUMEN

El presente estudio tuvo como objetivo verificar la predicción de las creencias de autoeficacia de apoyo familiar y los estilos de crianza percibidos por los adolescentes.142 jóvenes participaron en la escuela secundaria (1º, 2º y 3º) entre 13 y 18 años (M=15,75; SD=1,02), el 45,8% en el 1er año, el 51,4% de sexo femenino y 73,9% de las escuelas públicas. Fueron usados las herramientas de la escala de auto-eficacia para la elección profesional (EAE-EP) Percepción Inventarios de Apoyo a la Familia (IPSF) y las Escalas y requisitos de respuesta. Los resultados indicaron que el afecto de sus familiares (IPSF) y la respuesta materna (escalas) son predictores las creencias de autoeficacia para la elección de la carrera. En cuanto las escalas de análisis paternos de sensibilidad y exigencia mostraron los valores más bajos de regresión. Los resultados son discutidos basados en la literatura, así como se sugieren nuevas investigaciones.

Palabras-clave: formación orientación; evaluación psicológica; familia.


 

 

A adolescência é considerada um período de mudanças importantes, de transformações na vida e de tomada de decisão (Hutz & Bardagi, 2006). É nessa fase do desenvolvimento, período de consolidação da identidade, que o jovem tende a fazer escolhas que vão definir o seu futuro, dentre as quais a escolha profissional (Almeida & Pinho, 2008). A esse respeito, a influência da família como expectativa acerca do futuro dos filhos pode ser trabalhada no processo de orientação profissional, estimulando o jovem a analisar questões que acompanham a escolha tomada.

A orientação profissional (OP), como área de atuação do psicólogo, tem por objetivo facilitar a escolha, auxiliando o adolescente a pensar sobre as questões que dificultam a tomada de decisão e também a explorar o conhecimento de si, das profissões e da própria escolha (Lucchiari, 1993). Bohoslavsky (2007) afirma que a OP é um campo de atividades amplo que inclui o pedagógico e o psicológico, compreendendo situações desde o diagnóstico até a solução da problemática vocacional. Em acréscimo ao conceito, Lehman (2010) afirma que a OP também inclui as diversas etapas da vida, enfatizando a elaboração de projetos ao longo da trajetória pessoal e profissional do indivíduo, até a sua aposentadoria.

Dentre os vários construtos investigados em processos de OP, destaca-se a autoeficácia, objeto de investigação desta pesquisa (Ambiel, 2010; Nunes, 2007; 2009, dentre outros). O estudo da autoeficácia, principalmente em OP, é importante, pois a verificação de atividades em que o sujeito possui crenças fortes, juntamente com expectativas de resultado positivo e interesses, pode nortear a escolha profissional (Nunes, 2008).

A autoeficácia é compreendida como a crença na capacidade das pessoas para organizar e executar ações requeridas para produzir certas realizações (Bandura, 1997). As crenças de autoeficácia dizem respeito à avaliação que o indivíduo faz de sua capacidade para desempenhar ações com controle e sucesso (Vieira & Coimbra, 2006).

Bandura (1997) destaca o papel das crenças de autoeficácia no funcionamento humano, enfatizando que os indivíduos se apoiam no que acreditam. Para Pajares e Olaz (2008), pode-se antecipar a maneira como as pessoas vão agir por meio não de suas capacidades, mas de suas crenças. Nesse sentido, as crenças de autoeficácia auxiliariam a determinar os resultados que se esperam. As pessoas confiantes preveem resultados bem-sucedidos, enquanto os não confiantes podem prever resultados negativos em seu desempenho. Ademais, as crenças de autoeficácia ajudam a estabelecer o quanto de esforço a pessoa destinará a uma atividade, o tempo de persistência frente a obstáculos e a resiliência diante de situações contrárias. Como consequência, essas crenças também podem influenciar as escolhas e as ações dos indivíduos.

Lent, Brown, e Hackett (1994; 2004) propõem uma teoria de desenvolvimento de carreira para explicar a relação entre interesses, escolhas e desempenho à luz do modelo sociocognitivo, enfatizando a aplicação do conceito de autoeficácia no domínio da escolha profissional. Nesse sentido, os trabalhos de Hackett e Betz (1981) foram pioneiros na exploração da autoeficácia no contexto de decisão de carreira, especialmente entre mulheres. Na teoria de Lent et al. (1994; 2004), os construtos autoeficácia, expectativas de resultados e metas formariam os elementos básicos, em que os dois primeiros precedem a formação dos interesses profissionais. Assim, a autoeficácia e as expectativas seriam formadas pelas fontes de eficácia, ou seja, pelas experiências de aprendizagem vivenciadas pelo indivíduo. Posteriormente, as metas são definidas e também influenciadas pela autoeficácia, expectativas de resultados e interesses. Há uma integração dessas informações para a seleção e ação do indivíduo tendo em vista a escolha profissional. Ressalta-se, aqui, que as influências contextuais merecem atenção quando se analisa a escolha de certa profissão em detrimento de outras. Porque as pessoas podem escolher considerando os aspectos sociais, físicos, educativos e financeiros. Dessa forma, a escolha de uma profissão pode se dar muito mais por questões de facilidade de trabalho no mercado, autoeficácia, expectativas de resultados do que pelos interesses vocacionais.

Cheung, Wan, Fan, Leong, e Mok (2013) verificaram que adolescentes norte-americanos e chineses, em um estudo intercultural, são influenciados por pessoas ao seu redor durante o desenvolvimento de carreira. Essas influências percebidas, vindas principalmente dos pais, contribuem para a autoeficácia da carreira, reforçando a contribuição da autoeficácia social.

Na mesma direção, na pesquisa de Nawaz e Gilani (2011), a relação de vínculo dos pais e pares foi positivamente associada com a autoeficácia na tomada de decisão de carreira em adolescentes. Os fortes laços de apego dos pais foram percebidos como mais fortes e aumentaram o nível de autoeficácia para escolha profissional, especialmente com a amostra de adolescentes do Paquistão.

Nesse processo de escolha, a família é importante, pois ela tem sido apontada pela literatura como um dos principais elementos que podem ajudar ou dificultar o jovem no momento da decisão profissional, fazendo parte da realidade do adolescente (Santos, 2005). O apoio da família aos seus membros parece ser indispensável durante as etapas da vida, mas é na adolescência que a influência familiar pode ter maior destaque, especialmente no momento da primeira escolha profissional (Almeida & Melo-Silva, 2011).

Entende-se suporte familiar como a quantidade de cuidado, proteção, afeto, sensibilidade e incentivo à autonomia e independência, cooperação e aceitação dos pais para com seus filhos (Parker, Tupling, & Brown, 1979). Baptista (2007) enfatiza que o suporte familiar pode refletir a forma de agir intra e interfamiliar. O construto suporte familiar, quando percebido de forma positiva pelos adolescentes, tende a favorecer relações de bem–estar entre seus membros (Baptista, Noronha, & Cardoso, 2010).

Além do suporte familiar, a maneira como os pais educam seus filhos também pode influenciar no processo de escolha de carreira. Para Darling e Steinberg (1993), as práticas educativas parentais podem ser vistas como conjuntos de comportamentos na educação ou na socialização dos filhos. Maccoby e Martin (1983) propuseram um modelo teórico de estilos parentais no qual é considerada a existência de duas dimensões de práticas educativas: a exigência (controle do comportamento) e a responsividade (atitudes compreensivas). Com base nessas dimensões, foram caracterizados os quatro estilos parentais: autoritativo, autoritário, indulgente e negligente (Pacheco, Teixeira, & Gomes, 1999).

Os estilos parentais, dessa maneira, podem ser compreendidos como o clima emocional que permeia as atitudes dos pais, cujo efeito é alterar a eficácia de práticas disciplinares específicas, além de influenciar o processo de socialização dos filhos (Costa, Teixeira & Gomes, 2000). Esses estilos estão relacionados com metas ou valores que os pais consideram importantes em suas próprias vidas e também na educação dos filhos (Teixeira & Lopes, 2005).

Hutz e Bardagi (2006) investigaram a influência dos estilos parentais sobre os níveis de indecisão, ansiedade e depressão em uma amostra de 467 alunos do 3º ano do ensino médio de Porto Alegre, com idades entre 15 e 20 (M=17). Os resultados indicaram que, com relação aos estilos parentais, as mães apresentaram médias maiores nas duas dimensões, a saber, exigência e responsividade, e as meninas perceberam maior responsividade, t(465)=3,17; p<0,01, e exigência, t(465)=4,76; p<0,01, maternas do que os meninos, confirmando a maior proximidade da mãe com os filhos.

Um estudo sobre a relação entre estilo parental, indecisão vocacional e instabilidade de metas foi feito por Magalhães, Alvarenga, e Teixeira (2012) com uma amostra de 199 adolescentes, com média de idade de 17,24 (DP=2,17), do ensino médio de escolas públicas do sul do país. Os resultados indicaram que filhos de pais com estilos autoritativos, que oferecem apoio afetivo, regras e limites, mostraram menor instabilidade de metas em comparação ao estilo negligente. Na análise de regressão, os dados estatísticos sugeriram que a instabilidade de metas é mediadora da relação entre a variável responsividade parental e indecisão vocacional, embora com magnitude fraca. Porém, os autores destacaram a relevância da responsividade para o desenvolvimento psicossocial. Segundo eles, os estilos parentais estão entre as variáveis familiares que influenciam o desenvolvimento psicossocial de adolescentes.

Quanto a padrões de interação familiar, Hargrove, Inman, e Crane (2005) examinaram como as percepções desses padrões podem predizer identidade vocacional e atitudes de planejamento de carreira de adolescentes. A amostra contou com 123 estudantes do ensino médio com idades entre 14 e 18 anos (M=15,79; DP=1,3), com 60,97% do sexo feminino (n=75). Os instrumentos utilizados foram a The Family Environment Scale – Form R, Vocational Identidy Scale e Carrer Development Inventory. As percepções da qualidade das relações familiares foram analisadas e revelaram pequeno (mas significativo) papel na predição de atitudes de planejamento de carreira em adolescentes.

Para relacionar autoeficácia, suporte familiar e lócus de controle, Baptista, Alves, e Santos (2008) avaliaram 403 universitários (M=23,33; DP=6,23 anos) com idades entre 17 e 64 anos, com 80,2% do sexo feminino e solteiros (89%). Foram verificadas correlações positivas, de magnitude baixa, entre as dimensões adaptação familiar, autonomia familiar e afetivo-consistente do Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) e a dimensão de autoeficácia geral, indicando que, quanto mais o indivíduo percebe o suporte, mais os escores em autoeficácia aumentam. Esse dado pode sugerir que, quanto maior a quantidade de carinho, interesse, clareza de regras recebidas pela família, maior será a percepção da pessoa acerca de sua capacidade para realizar uma tarefa.

Assim, tendo em vista os conceitos arrolados, propôs- se como objetivo desta pesquisa verificar se suporte familiar e estilos parentais predizem crenças de autoeficácia para escolha profissional. A relevância de estudos dessa natureza se justifica pela influência da família no processo de decisão de carreira (Almeida & Melo-Silva, 2011; Bohoslavsky, 2007; Santos, 2005). O estudo analisou uma amostra de adolescentes do ensino médio, de 1º, 2° e 3º anos.

 

Método

Participantes

Participaram da pesquisa 142 adolescentes do ensino médio de duas escolas, uma pública e outra particular, na região de Campinas. Do total da amostra, 45,8% (n=65) cursavam o primeiro ano, 51,4% (n=73) eram do sexo feminino e a maioria dos alunos 73,9% (n=105) frequentava escola pública. A faixa etária dos participantes foi de 13 a 18 anos (M=15,75; DP=1,02), em que 32,4% (n=46) tinham 16 anos.

Instrumentos

Foram usados três instrumentos de avaliação psicológica. A Escala de Autoeficácia para Escolha Profissional – EAE-EP (Ambiel & Noronha, 2012a) tem como objetivo investigar as crenças das pessoas com relação à capacidade para se envolver em tarefas de escolha profissional. É composta por 47 itens em formato tipo Likert de quatro pontos, com 1 para "pouco" e 4 para "muito". A pessoa deve responder à frase "quanto você acredita na sua capacidade de...". Quatro fatores compõem a escala: Autoeficácia para Autoavaliação (fator 1), Autoeficácia para Coleta de Informações Ocupacionais (fator 2), Autoeficácia na Busca de Informações Profissionais Práticas (fator 3) e Autoeficácia para Planejamento de Futuro (fator 4). Além desses fatores, a escala fornece também um escore geral.

Os estudos psicométricos foram realizados com amostra de 1318 jovens, sendo 63,4% alunos de escolas públicas, 56,4% mulheres, com idades variando entre 14 e 21 anos (M=16,2; DP=1,2) e 33,8% matriculados na 3ª série do ensino médio de quatro cidades do interior de São Paulo e uma de Minas Gerais. Com o objetivo de buscar evidências de validade baseada na relação com outras variáveis, a EAE-EP foi correlacionada com os instrumentos Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), o Inventário de Levantamento das Dificuldades de Decisão Profissional (IDDP) e a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP). Os dados revelaram evidência de validade para a EAE-EP, pois mostra que, embora relacionados, os construtos avaliados nos instrumentos são diferentes. A estimativa de precisão do instrumento identificou resultados que variaram entre 0,79 e 0,88 para os fatores e 0,94 para o escore geral. O coeficiente de alfa da amostra deste estudo foi de 0,80 para o instrumento total.

O Inventário de Percepção de Suporte Familiar – IPSF (Baptista, 2009) pretende avaliar a percepção do indivíduo sobre o suporte que recebe de sua própria família. O inventário é composto por 42 itens com o formato de uma escala tipo Likert de três pontos ("nunca ou quase nunca", "às vezes" e "quase sempre e sempre"). O instrumento possui três dimensões ou fatores, a saber, Afetivo- Consistente, Adaptação Familiar e Autonomia Familiar. O IPSF pode ser aplicado de forma individual e coletiva, e a pontuação pode variar entre 0 e 84 pontos, com cálculo invertido somente para o fator Adaptação. Sabe-se que, quanto maior o escore, melhor a percepção desse suporte. Sugere-se a faixa etária de 11 a 60 anos para a aplicação.

Os índices de precisão do IPSF, analisados pelos alfas de Cronbach, foram de 0,91, 0,90 e 0,78, respectivamente para o primeiro, segundo e terceiro fator e 0,93 para o Inventário total. Esses dados comprovaram resultados favoráveis de precisão do IPSF. Para este estudo, o resultado identificou um alfa de 0,67 para o inventário total.

Por sua vez, as Escalas de Responsividade e Exigência de Teixeira, Bardagi, e Gomes (2004) avaliaram a percepção do adolescente com relação às práticas educativas de seus pais, considerando as dimensões de responsividade e exigência. Trata-se de escalas de autorrelato refinadas pelo instrumento de Costa, Teixeira, e Gomes (2000). As escalas são compostas por 24 itens aos quais os sujeitos devem responder com escala tipo Likert de 5 pontos (1, 2, 3, 4 e 5), em que os itens de 1 a 12 mencionam exigência e os itens de 13 a 24, responsividade. As frases compostas em cada item são pontuadas para a mãe e para o pai separadamente. Com a mediana da amostra, podem-se classificar os estilos parentais em autoritativo (alta responsividade e alta exigência); autoritário (baixa responsividade e alta exigência), indulgente (alta responsividade e baixa exigência) e negligente (baixa responsividade e baixa exigência).

Quanto à análise da consistência interna do instrumento revisado, os índices de alfa de Cronbach verificados na versão final do instrumento, que totalizam 24 itens, foram entre 0,78 e 0,93, com apenas um item inferior a 0,80. Os autores interpretaram os resultados como favoráveis para a precisão. Para esta amostra, a consistência interna foi de 0,70.

Procedimentos

Após a autorização das escolas, o projeto passou pelo Comitê de Ética em Pesquisa de universidade privada, a fim de ser aprovado para o estudo. Mediante aprovação, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi devidamente assinado pelos responsáveis dos adolescentes ou pelos próprios participantes maiores de 18 anos. A aplicação foi coletiva nas próprias escolas, com duração média de 40 minutos. A ordem dos instrumentos foi: a EAE-EP, IPSF e as Escalas de Responsividade e Exigência, com rodízio dos dois últimos instrumentos.

Análise de Dados

Foi realizada a análise descritiva dos três instrumentos psicológicos usados, bem como a análise de regressão linear tendo as crenças de autoeficácia como variável dependente, e suporte familiar e estilos parentes como independente. As pontuações dos sujeitos foram digitadas em planilha eletrônica e analisadas com auxílio do Statistical Package for Socail Sciences (SPSS).

 

Resultados

Serão apresentadas as estatísticas descritivas dos instrumentos utilizados nesta pesquisa. A Tabela 1 fornece os valores mínimos, máximos, médias e desvios padrões das dimensões da EAE-EP, fatores do IPSF e as Escalas de Responsividade e Exigência Materna e Paterna, separadamente para pais e mães. Posteriormente, os resultados das análises de regressão serão explorados.

A Tabela 1 revela, sobre a EAE-EP, que o fator Autoeficácia para Autoavaliação obteve a maior média (M=58,82; DP=6,745) em relação aos demais fatores, assim como a dimensão Afetivo-Consistente (M=27,21; DP=8,056) do IPSF e a escala de responsividade materna (M=48,14; DP=10,239) das Escalas de Responsividade e Exigência Parental. Na Tabela 2, está o resultado da análise de regressão linear conforme as crenças de autoeficácia para escolha profissional (variável dependente) e suporte familiar (variável independente). Os construtos descritos fazem parte dos instrumentos EAE-EP e IPSF, respectivamente.

 

 

 

Nesta primeira análise, a variável dependente foi a Autoeficácia para escolha profissional. Como independentes, ficaram as dimensões do IPSF, a saber, Afetivo- Consistente, Adaptação Familiar e Autonomia Familiar. Os resultados da Tabela 2, em relação ao primeiro fator da EAE-EP, Autoavaliação, revelam um coeficiente de determinação ( ajustado) de 0,04, explicando 4% da variabilidade F(2,141)=1,566; p=0,20, sendo significativo (β=0,281; p=0,03) para a dimensão Afetivo-Consistente. No fator 2, Coleta de Informações Ocupacionais, o R² ajustado foi de 0,05, significando que prediz 5% da variância F(2,141)=2,098; p=0,10, com valor marginalmente significativo para a dimensão Afetivo- Consistente (β=0,240; p=0,06).

Com relação ao fator 3 da EAE-EP, Busca de Informações Profissionais Práticas, o coeficiente de determinação (R²) explicou 4% da variância F(2,141)= 1,929; p=0,13, sem significância estatística para o valor de Beta em nenhuma das dimensões do IPSF avaliadas. Já no fator 4, Planejamento de Futuro, o () ajustado foi de 0,05, explicando 5% da variância F(2,141)=2,223; p=0,09. Os valores encontrados para os fatores do IPSF Afetivo-Consistente (β=0,280; p=0,03) e Adaptação (β=-0,233; p=0,05) foram significativos. A Tabela 3 apresenta os dados da análise de regressão com base nas escalas de responsividade e exigência materna.

Na Tabela 3, está a análise de regressão linear, desta vez com a responsividade e exigência materna como variáveis independentes, mantendo-se a mesma variável dependente. Os dados mostram que, quanto ao fator 1, Autoavaliação, o coeficiente de determinação () explicou 4% da variância F(2, 141)= 2,567; p=0,08), não significativo para as variáveis responsividade e exigência materna. Para o fator 2, Coleta de Informações Ocupacionais, o ajustado explicou uma variância de 6%, F(2,141)=3,973; p=0,02. O valor de beta para a responsividade materna foi significativo (β=0,194; p=0,05). O fator 3, Busca de Informações Profissionais Práticas, obteve um () ajustado de 0,04, sugerindo 4% de variância F(2;141)=2,451; p=0,09, com valor marginalmente significativo para responsividade materna (β=0,189; p=0,06). No que diz respeito ao fator 4, Planejamento de Futuro, o coeficiente de determinação () apresentou um valor baixo, explicando apenas 0,8% de variância e não significativo F(2;141)=0,491; p=0,61, com valores de beta também sem significância estatística. Na Tabela 4, estão as análises referentes à responsividade e exigência paterna.

 

 

 

Os resultados revelaram que, quanto à responsividade e exigência paterna, no fator 1, Autoavaliação, o coeficiente de determinação () foi de 0,009, o que equivale dizer que prediz apenas 0,9% da variância F(2;141)=0,524; p=0,59. No fator 2, Coleta de Informações Ocupacionais, o () ajustado foi de 0,016, predizendo 1,6% da variância F(2;141)=1,005; p=0,37, não significativo. O fator 3, Busca de Informações Profissionais Práticas, identificou um () ajustado de 0,016, o que significa predição de 1,6% da variância F(2;141)=1,001; p=0,37, portanto não significativo. Por fim, no fator 4 da EAE-EP, Planejamento de Futuro, o () ajustado foi de 0,002, o que equivale afirmar que prediz somente 0,2% da variância F(2;141)=0,132; p=0,88). Nenhum dos valores de beta para responsividade e exigência paterna foi significativo em relação aos fatores da EAE-EP.

 

Discussão

O presente estudo investigou a autoeficácia para escolha profissional, suporte familiar e estilos parentais em adolescentes do ensino médio em termos de predição de crenças. A análise dos instrumentos separadamente verificou, para a EAE-EP, maior valor para o fator Autoeficácia para Autoavaliação, sugerindo que os adolescentes desta amostra acreditam que conseguem, pelas próprias capacidades, escolher uma profissão (Ambiel & Noronha, 2012a). No que se refere ao IPSF, houve destaque para o Afetivo- Consistente, significando que há uma percepção de afetividade e proximidade de seus familiares (Baptista, 2009). Já nas escalas, foi visto que a responsividade materna obteve maior média, indicando que os adolescentes perceberam as mães como promotoras de atitudes de apoio afetivo e incentivo à autonomia dos filhos (Maccoby & Martin, 1983).

Além disso, com relação à predição de crenças de autoeficácia e suporte familiar, a dimensão Afetivo– Consistente foi a melhor preditora de crenças de autoeficácia, apesar dos valores baixos. Para Baptista (2009), esta dimensão se relaciona com a expressão de afetividade, interesse, comunicação, proximidade, acolhimento e clareza nas regras dos membros da família. Esse dado sugere que o afeto entre os familiares pode favorecer as crenças de autoeficácia no processo de escolha profissional. Nesse mesmo sentido, Hargrove et al. (2005), em um estudo com adolescentes, mostraram que a qualidade do relacionamento familiar pode predizer ações de planejamento de carreira. Baptista et al. (2008) identificaram correlações positivas entre as dimensões do suporte familiar e autoeficácia geral, significando que, quanto maior a quantidade de carinho, interesse, acolhimento, tanto maior poderá ser a percepção da pessoa a respeito da sua capacidade de realizar uma tarefa.

Quanto às variáveis responsividade e exigência dos pais, observou-se que a responsividade materna obteve os maiores índices para predição em relação aos fatores da EAE-EP, embora com valores baixos. Os resultados indicaram que a postura compreensiva da mãe, no caso mais responsiva, pode predizer crenças de autoeficácia. Já em relação ao pai, as escalas de responsividade e exigência tiveram os menores valores da análise de regressão. Dessa forma, as atitudes dos pais vistas pelos seus filhos adolescentes da amostra, não parecem predizer crenças para a escolha profissional. A literatura sobre o assunto aponta a presença da mãe como mais marcante no ambiente familiar e com maior proximidade na educação dos filhos (Costa et al., 2000; Hutz & Bardagi, 2006;), o que corrobora os resultados desta pesquisa. Ademais, Magalhães et al. (2012) reforçam que os estilos parentais estão entre as variáveis familiares que influenciam o desenvolvimento psicossocial de adolescentes.

Concluindo, os resultados revelaram que suporte familiar e estilos parentais, mais especificamente, o aspecto afetividade dos membros da família (Baptista, 2009) e a responsividade materna (Teixeira et al., 2004), podem predizer crenças de autoeficácia para o momento de escolha profissional. Ainda que de magnitude baixa, os dados permitem que se indique, no campo da orientação profissional, a necessidade da participação dos pais, uma vez que o processo de escolha de uma profissão é baseado na realidade do adolescente, que vive em família e convive com seus pares, podendo ser influenciados por seus pais e por terceiros (Almeida & Pinho, 2008; Almeida & Melo-Silva, 2011; Santos, 2005).

Trabalhar com crenças de autoeficácia para escolha profissional pode ajudar no planejamento de ações (Nunes, 2008) e também nas práticas de intervenção no processo de orientação profissional (Ambiel & Noronha, 2012b). Em outra medida, orientações familiares podem auxiliar no reforço das crenças quanto à capacidade das pessoas para se envolver em atividades relacionadas à escolha profissional. A participação menos evidente do pai nesse processo nos leva a repensar a figura paterna no relacionamento com os filhos adolescentes, especialmente, no momento de escolha profissional.

Outros estudos devem ser realizados procurando enfatizar aspectos envolvidos na orientação profissional e no relacionamento familiar – aspectos como a composição familiar atual e o tipo específico de estilos parentais (autoritativo, autoritário, indulgente e negligente), no processo de escolha da profissão. Com relação às limitações da pesquisa, novos trabalhos devem ser realizados com populações de outros estados e com amostra maior de adolescentes. Assim, ressalta-se a necessidade de oferecer programas de intervenções que incluam a família e um olhar atento para as crenças de autoeficácia em adolescentes.

 

Referências

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Recebido em junho de 2013
Reformulado em novembro de 2013
2ª reformulação em janeiro de 2014
Aprovado em fevereiro de 2014

 

 

Sobre os autores

Cristiane Deantonio Ventura: é Psicóloga, mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
Ana Paula Porto Noronha: é Psicóloga, doutora em Psicologia Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia pela Universidade São Francisco. Bolsista Produtividade em Pesquisa pelo CNPq.


1Endereço para correspondência: R. Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Centro, 13.251-900, Itatiba-SP. E-mail: ana.noronha@usf.edu.br