SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.13 issue3AAOS/IWH guide: Suggestions for cross-cultural scale adaptation author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.13 no.3 Itatiba Dec. 2014

 

 

Educar crianças, grandes desafios: como enfrentar?1

 

 

Adriana Satico Ferraz2

Universidade São Francisco

 

 

Com a proposta de auxiliar pais e professores na grande tarefa de educar crianças e adolescentes, o livro "Educar crianças, grandes desafios: como enfrentar?" apresenta estratégias para promover a aprendizagem em diferentes situações. Com linguagem acessível, o livro é dividido em duas partes contendo breves capítulos, com temas que norteiam o cotidiano dos alunos. A primeira parte aborda a afetividade das crianças, abarcando temas como a autoestima, o estresse e a perda de um ente querido. Os capítulos da segunda parte discorrem sobre a relação da criança com a escola, debatendo as dificuldades comumente enfrentadas por alunos, pais e professores no contexto da aprendizagem.

No primeiro capítulo, "Formação da autoestima na criança: responsabilidade dos pais e professores", a autora, Gislene de Campos Oliveira, ressalta a importância da autoestima para a superação das dificuldades encontradas no dia a dia da criança. A formação da autoestima está ligada à maneira com que a família e os professores lidam com as dificuldades da criança e ao modo como ela se vê diante do olhar do meio externo. Os genitores exercem grande influência na constituição da autoestima da criança. A autora classifica quatro tipos de pais: os perfeccionistas, que cobram exageradamente; os superprotetores, que evitam a frustração dos filhos; os autoritários, que criticam excessivamente; os compreensivos, que realçam os pontos positivos da criança e os incentivam a superar suas adversidades.

No segundo capítulo, Lucila Diehl Tolaine Fini discorre sobre a incidência crescente de estresse em crianças, devido a eventos geradores de grande ansiedade. Os efeitos do estresse comprometem o desenvolvimento físico e psicológico da criança. Na maioria das vezes, o estresse é observado por meio da mudança repentina de comportamento. Dentro do âmbito familiar, são apontados como fatores estressantes o excesso de atividades extracurriculares e a exposição da criança a ambientes conturbados. Desse modo, o ideal seria manter uma boa estrutura no ambiente familiar, com espaço para que a criança se expresse e para que seus anseios sejam compreendidos. A escola, por sua vez, pode ser ambiente estressor pela forma com que acolhe a criança, impondo- lhe cobrança, rotina e dificuldades de aprendizagem típicos do contexto escolar.

No capítulo seguinte, Gislene de Campos Oliveira aborda o comportamento de birra das crianças. A birra é expressa com o intuito de obter algo em troca. Esse comportamento costuma ser reforçado quando ocorre em público, pois os pais acabam cedendo às chantagens emocionais da criança. Na escola, a birra também é observada por meio do comportamento inadequado e do baixo rendimento escolar. Cabe aos pais e à escola estabelecer dialogar com a criança, estabelecendo limites e regras.

No quarto capítulo, Ana Paula Clemente Sena trata de reações causadas pelo luto, como o choque diante da perda, os estados transitórios e a aceitação da morte. A autora ressalta a importância de explicar as reais causas da ausência do ente querido para que a criança não se sinta abandonada. Conversar com a criança sobre a morte e permitir a sua presença em rituais fúnebres podem ajudar a superar essa fase. Ao final do capítulo, são apresentadas publicações infantis que abordam a temática da morte de maneira sutil, com linguagem acessível às crianças.

No capítulo "Com todo prazer! As atividades expressivas na educação das crianças", Luzia Mara Lima- Rodrigues propõe a aplicação de atividades expressivas às crianças. As atividades expressivas tanto estimulam como desenvolvem a psicomotricidade, os aspectos afetivos e emocionais, a comunicação, as relações interpessoais e a habilidade cognitiva referente a atenção, percepção, memória, imaginação, criatividade e pensamento. Pais e professores devem atuar como intermediadores das atividades expressivas, que englobam as expressões artísticas (dança, desenho, pintura, música, dramatização), brincadeiras e jogos.

O sexto capítulo, de Paulo Eduardo Luiz de Mattos, descreve os sintomas, as peculiaridades e o diagnóstico do TDAH. O TDAH se caracteriza pela desatenção, agitação e impulsividade. Trata-se de um transtorno neurobiológico, associado a fatores genéticos e comorbidades. Esse transtorno se reflete no desempenho escolar e nas relações interpessoais. O seu tratamento engloba a psicoterapia, atividades pedagógicas e a prescrição de medicamentos.

Susy Generoso Sacco e Evely Boruchovitch, no sétimo capítulo, apresentam a lição de casa como ferramenta que possibilita a extensão das atividades escolares ao cotidiano do aluno, aprofundando assuntos estudados em sala de aula, para desenvolver suas potencialidades. Cabe aos professores elaborarem atividades atrativas, transmitindo-as de forma clara para que não haja dúvidas no momento de resolvê-las. O papel da escola é informar os pais sobre a importância dessas atividades. Aos pais, compete o incentivo à criança para realizar as tarefas e o organizar a rotina de estudos. Ao final do capítulo, são apontados estudos que demonstram que, quanto maior a demanda de lição de casa ao aluno, melhor o seu rendimento e desempenho escolar.

No oitavo capítulo, as autoras Betânia Alves Veiga Dell´Agli e Rosely Palermo Brenelli ressaltam a importância dos jogos de regras como forma lúdica para desenvolver a criança nos aspectos psicomotor, cognitivo, social, afetivo e moral. É indispensável que o jogo seja compatível com a faixa etária da criança, a fim de promover o desenvolvimento de estratégias e planejamento propostos pelo jogo. Dentro do contexto escolar, os jogos de regras estimulam o raciocínio, a cooperação, a incorporação de regras e as estratégias para resolução de problemas.

A pedagoga Lucila Diehl Tolaine Fini expõe, no nono capítulo, as dificuldades dos alunos no entendimento da matemática. Muitas vezes, a dificuldade está relacionada à forma como a disciplina é ministrada pelo professor, bem como à postura com que os pais lidam com suas próprias dificuldades nessa disciplina. A criança com dificuldades em matemática começa a ser cobrada na escola e em casa, o que culmina em baixa autoestima e altos níveis de ansiedade. O ideal seria identificar as dificuldades no início da escolarização, para evitar problemas futuros. Uma maneira de transmitir os conceitos é utilizar formas concretas para as representações matemáticas, relacionando-as com as práticas do cotidiano.

No décimo capítulo, Maria Aparecida Mezzalira Gomes e Evely Boruchovitch descrevem a importância de pais, professores e educadores na promoção do hábito de leitura em crianças. A motivação pode ser tanto extrínseca (ler por obrigação) como intrínseca (ler por prazer), envolvendo estratégias de compreensão e o reconhecimento do valor da leitura. Compete à escola desenvolver atividades interdisciplinares com pesquisas, para que o aluno leia várias referências, motivando-se e habituando-se a ler.

No capítulo "A estratégia de pedir ajuda: sua importância para a aprendizagem", as autoras Tânia Maria Serafim e Evely Boruchovitch consideram a atitude de pedir ajuda e saber escolher com quem sanar uma dúvida (pais, professores, colegas) uma estratégia para enfrentar as dificuldades acadêmicas. Essa estratégia mobiliza fatores cognitivos, sociais e motivacionais. Os professores devem ser receptivos às dúvidas dos alunos, fomentar atividades em grupos, promovendo a interação social e o rendimento escolar.

Por fim, Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Thatiana Helena de Lima discorrem, no décimo segundo capítulo, sobre os diferentes estilos de estudo. Os estilos cognitivos se referem à aquisição e ao processamento da informação. Já os estilos de aprendizagem englobam a maneira como o indivíduo se envolve nas situações de ensino. A congruência entre o estilo empregado pelo professor para ensinar e o estilo adotado pelo aluno para aprender pode favorecer o desempenho escolar, embora seja importante o estímulo para que o aluno diversifique seus estilos de aprendizagem.

O livro, em suma, pretende apresentar aos pais, professores e educadores formas de lidar com a educação de crianças e adolescentes em contexto escolar. Os capítulos do livro buscam integrar o contexto familiar e escolar com o intuito de promover o desempenho dos alunos e amenizar o impacto sofrido em situações desconfortáveis, tanto para as crianças como para os adultos, que, muitas vezes, não sabem como proceder em importantes momentos da educação.

 

 

Recebido em abril de 2014
Aprovada em junho de 2014

 

 

Sobre a autora

Adriana Satico Ferraz: é Discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista CNPq de iniciação científica.


1Referência do livro: Oliveira, G. C., Fini, L. D. T., Boruchovith, E., & Brenelli, R. P. (2014). Educar crianças, grandes desafios: como enfrentar? Rio de Janeiro: Vozes.
2Endereço para correspondência: R. José Franco de Oliveira, 99, Bairro Arraial, 12.930-000, Tuiuti-SP. E-mail: adrianasatico@hotmail.com