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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.14 no.3 Itatiba dez. 2015

 

 

Produção científica em avaliação psicológica no contexto educacional: enfoque nas variáveis socioemocionais

 

Scientific production on psychological evaluation in educational settings: Focus on socio-emotional variables

 

Producción científica en la evaluación psicológica en el contexto educativo: foco en variables socioemocionales

 

 

Rodolfo A. M. Ambiel1; Carla Priscila da Silva Pereira; Thaline da Cunha Moreira

Universidade São Francisco

 

 


RESUMO

O presente estudo teve por objetivo mapear a produção científica sobre avaliação psicológica no contexto educacional com ênfase em variáveis socioemocionais, no período de 2005 a 2013. Foram analisados 178 artigos. Nos resultados, observaram-se picos de publicação nos anos de 2006 e 2009, sendo que a grande maioria dos artigos analisados foi publicada em língua portuguesa e, principalmente, por dois ou três autores. Além disso, os resultados também permitiram observar que a amostra predominante nos estudos era de estudantes do ensino fundamental e com variação de 101 a 200 participantes. Em relação às palavras-chave, “habilidades sociais” foi o principal termo utilizado, ainda que os instrumentos mais frequentes sejam de avaliação de desempenho cognitivo. Tais achados indicam a necessidade de investimentos em pesquisas de avaliação de variáveis socioemocionais no contexto educacional, estabelecendo a relação destas com desempenho e sucesso acadêmico. As limitações e direções futuras são comentadas.

Palavras-chave: avaliação psicológica; rendimento escolar; psicologia escolar; habilidades sociais.


ABSTRACT

This study aimed to map the scientific literature on psychological evaluation in the educational context with an emphasis on socioemotional variables, from 2005 to 2013. There were 178 articles analyzed. In the results, there were publishing peaks in 2006 and 2009, and the vast majority of analyzed articles were published in Portuguese and written by two or three authors. In addition, the results also allowed the observation that the predominant sample population in these studies was primary school students, with 101-200 participants. In relation to keywords, Social Skills was the most common term, though the most common evaluation instruments assessed cognitive performance. These findings indicate the need for investment in evaluation research of socioemotional variables in the educational context, establishing their relation to performance and academic success. The limitations and future directions are discussed.

Keywords: psychological assessment; academic performance; school psychology; social skills.


RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo trazar la literatura científica sobre la evaluación psicológica en el contexto educativo, con énfasis en las variables socio-emocionales, de 2005 a 2013. Se analizaron 178 artículos. En los resultados, se produjo la picos de publicación en 2006 y 2009, y la gran mayoría de los artículos analizados fueron publicados en portugués y sobretodo por dos o tres autores. Además, los resultados también permiten la observación de que la muestra predominante en los estudios fue de los estudiantes de primaria y variación 101-200 participantes. En relación a las palabras-clave, las habilidades sociales era el término más utilizado, aun que los instrumentos más comunes son la evaluación del rendimiento cognitivo. Estos hallazgos indican la necesidad de invertir en investigación de evaluación de las variables socio-emocionales en el contexto educativo, estableciendo su relación con el rendimiento y el éxito académico. Se discuten las limitaciones y las direcciones futuras.

Palabras-clave: evaluación psicológica; rendimento académico; psicología escolar; habilidades sociales.


 

 

A avaliação psicológica é um procedimento técnico- científico exclusivo do psicólogo, que requer o uso de um conjunto de metodologias específicas, como anamnese, entrevistas, dinâmicas de grupo e testagem psicológica, para explicar os fenômenos psicológicos das pessoas em diversos contextos. É um processo complexo que envolve a integração de informações obtidas a partir de várias fontes de informações, tais como entrevistas, observações e testes psicológicos (CFP, 2013; Del Prette & Del Prette, 2006; Urbina, 2007).

No Brasil, a avaliação psicológica constitui uma das áreas mais tradicionais da psicologia (CFP, 2013). Especificamente no contexto educacional, existem registros de sua utilização desde o início do século XX, sendo que os testes psicológicos, ao longo do desenvolvimento da área, tiveram o papel de auxiliar na realização do diagnóstico de deficiência mental e dificuldades de aprendizagem. Assim, constata-se que a prática do psicólogo na escola, desde a inserção da Psicologia no contexto escolar, esteve vinculada aos processos de avaliação (Facci, Eidt, & Tuleski, 2006).

No entanto, a temática da avaliação no campo da Psicologia educacional também trouxe questionamentos quanto à utilização dos instrumentos. Havia uma grande desconfiança em relação ao uso dos testes nas avaliações realizadas no ambiente escolar, uma vez que eram considerados apenas como um recurso classificatório apesar da fragilidade psicométrica das evidências de funcionamento dos instrumentos (Oliveira et al., 2007). Com o passar do tempo, o aumento das pesquisas na área educacional e a revisão crítica do impacto da utilização de instrumentos para a sociedade modificou o foco da Psicologia escolar para ações de caráter preventivo, com a finalidade de promover o desenvolvimento e a aprendizagem de todos os envolvidos no cotidiano escolar, retirando a ênfase do indivíduo e relacionando todas as variáveis do processo de ensino e aprendizagem (Oliveira & Marinho-Araújo, 2009).

Desde a década de 1990 e, especialmente, a partir dos anos 2000, as possibilidades de atuação da avaliação psicológica no contexto educacional incluem vários assuntos, tais como a capacidade de leitura e escrita, funções executivas, hábitos de estudo, habilidades socioemocionais, motivação, criatividade, aspectos afetivos e psicopatológicos, como a depressão, a ansiedade, o estresse e outras situações que possam ocorrer no âmbito escolar (Gonzatti, Courel, Susin, & Oliveira, 2011). Grande parte das pesquisas realizadas utilizam a avaliação psicológica e os diversos instrumentos existentes para explorar esses fatores (Oliveira et al., 2007).

No sentido de mapear a área, o estudo de Oliveira et al. (2007) buscou investigar a produção cientifica em avaliação psicológica no contexto escolar e educacional. Para a análise dessas produções, alguns critérios foram estabelecidos, tais como a avaliação “A nacional” do periódico, segundo a avaliação da CAPES naquela época, além de ter a sua coleção disponível para consulta on-line. Assim, os periódicos selecionados foram: Estudos de Psicologia da PUC-Campinas; Estudos de Psicologia de Natal; Psicologia: Ciência e Profissão; Psico-USF; Psicologia em Estudo; Psicologia: Reflexão e Crítica; Psicologia Escolar e Educacional. Outro critério instituído foi em relação ao período de publicação, sendo adotado um total de 10 anos, compreendendo os artigos publicados entre os anos de 1995 e 2004. Nos periódicos, apenas os resumos dos artigos foram analisados para verificar os que haviam abordado a avaliação psicológica no contexto escolar/educacional.

O total de artigos levantados foi de 1603, no entanto, apenas 234 se referiram à avaliação psicológica. Na análise dos periódicos, as variáveis investigadas foram: Autoria, considerando a quantidade e o sexo dos autores; Temática, analisando a quantidade e distribuição por temas; Discurso, identificando o número de palavras contidas no título e a escolaridade dos participantes; e Análise das avaliações, na qual se buscou identificar os instrumentos que foram utilizados, bem como o tipo do instrumento. Os dados foram organizados em tabelas e posteriormente tratados pela estatística descritiva.

Os resultados permitiram verificar que houve um aumento nas publicações a partir de 1999, sendo que as revistas que apresentaram a maior quantidade de artigos foram Psicologia: Reflexão e Crítica e Psicologia: Teoria e Pesquisa. Em relação à variável autoria, observou-se que 75,2% dos artigos contiveram autoria múltipla e que a maioria deles foi escritos por mulheres. No que se refere à Temática, verificou-se que leitura e escrita foram as mais pesquisadas. Na variável Discurso, foi observado que grande parte dos artigos (n=150) apresentou mais de 12 palavras no título, e quanto à Escolaridade, as amostras mais utilizadas pelos estudos foram de estudantes do ensino superior, seguido do ensino fundamental. Já, na análise das avaliações, foi verificado que houve uma predominância da utilização de instrumentos psicométricos.

A realização do estudo de Oliveira et al. (2007) permitiu verificar a produção científica da área escolar/ educacional com foco amplo nos processos de avaliação psicológica no contexto educacional, contribuindo de forma significativa com a área no sentido de mapear a situação e apontar a qualidade e o conteúdo do que tem sido investigado nesse campo. Pode-se notar, na pesquisa citada anteriormente, que, nesse contexto, os temas mais pesquisados foram leitura e escrita, apontando a ênfase existente na avaliação dos aspectos cognitivos no ambiente escolar. Segundo Valentini e Laros (2014), além dessas variáveis há outras que também são verificadas nesse meio, como, por exemplo, a inteligência. Esse construto tem sido bastante investigado, principalmente em relação ao desempenho acadêmico, apresentando relações fortes e moderadas.

No entanto, os autores Valentini e Laros (2014) apontam que outros fatores podem estar envolvidos na relação entre inteligência e desempenho acadêmico, assim, eles realizaram uma revisão da literatura, buscando apresentar os aspectos envolvidos nessa relação. Uma das categorias que mais apresentou artigos com variáveis associadas foi Personalidade, indicando que há estudos apontando o poder preditivo desse construto em relação ao desempenho.

Na mesma direção, Santos e Primi (2014) referem que, apesar de fundamentais, as competências ligadas aos aspectos cognitivos e a aquisição dos conteúdos curriculares tradicionais não são suficientes para garantir o sucesso acadêmico e profissional atualmente. Os autores apontam as competências socioemocionais como elementos-chave para promover aprendizado e o desenvolvimento pessoal com projeções para uma vida adulta saudável.

As competências socioemocionais têm sido alvo de estudos da Psicologia, Educação e Economia. Entende-se por competência a capacidade de mobilizar, articular e colocar em prática conhecimentos, habilidades e atitudes socioemocionais e cognitivas e, ainda, a interrelação desses aspectos (CASEL, 2003). Lee (2013, citado por Santos & Primi, 2014) refere que o termo “competências socioemocionais” deriva da expressão em inglês “softskills”, que diz respeito às características mais flexíveis dos indivíduos, tais como a motivação e os aspectos da personalidade, ao contrário das habilidades cognitivas que estariam relacionadas às características mais “duras”, ou seja, menos flexíveis, tais como a inteligência. Assim, o aspecto socioemocional diz respeito à capacidade de o indivíduo relacionar-se consigo mesmo e com os outros, adotando comportamentos responsáveis, estabelecendo metas, autocontrole emocional e resiliência. Já os aspectos cognitivos incluem a capacidade de reflexão, raciocínio, elaboração do pensamento complexo, resolução de problemas e execução de generalizações (Vale, 2009).

As evidências científicas demonstram que o modelo dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade (Big Five) tem sido utilizado como um framework integrativo para compreender as habilidades socioemocionais. As cinco dimensões do Big Five são Abertura a novas experiências (tendência em estar aberto a novas experiências, sejam elas estéticas, culturais e intelectuais), Conscienciosidade (disposição do indivíduo em ser organizado e responsável), Extroversão (atributo dos interesses do sujeito pelo mundo externo, pessoas ou experiências), Amabilidade (características altruístas e cooperativas), Neuroticismo ou Instabilidade emocional (inconstância das reações emocionais). Somado a esses fatores relacionam-se os construtos de motivação e crenças, que dizem respeito ao esforço consciente para realizar ações e comportamentos, sendo exemplos o Autoconceito, a Autoeficácia, a Autoestima e o Lócus de controle. Todos esses elementos são apontados como base para a compreensão das competências socioemocionais e aparecem associados ao sucesso escolar e bem-estar individual (Santos & Primi, 2014).

A necessidade de trabalhar os aspectos socioemocionais na escola é algo que tem emergido significativamente com o tempo. Um exemplo disso é o relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (Delors et al., 1999). O que pode ser observado é que é preciso uma nova atuação nesse ambiente, com o olhar voltado para trabalhar a motivação dos alunos para aprender e estudar. Além da motivação, aspectos, como desenvolver o senso de autoeficácia nas crianças que apresentarem queixas escolares, também se configura como uma estratégia para atuar no desenvolvimento das competências socioemocionais (Rodrigues & Oliveira, 2009).

Portanto, este estudo tem o objetivo de realizar o mapeamento da produção científica sobre a avaliação psicológica no contexto educacional no período de 2005 a 2013, numa intenção clara de dar continuidade ao estudo realizado por Oliveira et al. (2007). O exame da literatura atual sobre o assunto conduziu os pesquisadores a fazer um recorte para a presente análise, privilegiando os estudos que abordassem competências socioemocionais no contexto educacional, considerando que essa temática tem sido alvo de iniciativas globais por parte de importantes organizações, tais como OCDE, UNESCO e Instituto Ayrton Senna, com base em robustas evidências da capacidade preditiva dessas características em relação ao desempenho e sucesso acadêmico e, posteriormente, laboral (Heckman & Kautz, 2012; Kyllonen, Lipnevich, Burrus, & Roberts, 2008; Kyllonen, Walters, & Kaufman, 2011; Poropat, 2009).

 

Método

Critério de seleção dos manuscritos

Os artigos selecionados para a presente análise foram publicados no período de 2005 a 2013, em periódicos da área da Psicologia, indexados no Scielo, classificados no Qualis CAPES como A1 ou A2 em outubro de 2014. Além disso, foram incluídos apenas os periódicos com escopo generalista ou específicos da área educacional, sendo que aqueles com foco em outras áreas não foram incluídos. Dessa forma, nove periódicos foram analisados, quais sejam, Paidéia (A1), Psicologia: Reflexão e Crítica (A1), Psicologia: Teoria e Pesquisa (A1), Estudos de Psicologia (Natal-A2), Estudos de Psicologia (PUCCAMP – A2), Psicologia: Ciência e Profissão (A2), Psicologia em Estudo (A2), Psicologia Escolar e Educacional (A2), Psico-USF (A2).

Após a delimitação dos periódicos, a seleção dos artigos a serem analisados seguiu alguns critérios. O primeiro foi que o artigo, necessariamente, teria que ser uma pesquisa empírica, cujos participantes (ou parte deles) fossem estudantes brasileiros, de qualquer nível de ensino. Além disso, a pesquisa deveria contemplar ao menos um instrumento padronizado de avaliação psicológica, relacionado a uma variável socioemocional, ainda que houvesse outros instrumentos de avaliação de desempenho, acadêmico ou cognitivo.

Assim, todos os artigos publicados nos periódicos selecionados entre 2005 e 2013 tiveram seus títulos lidos visando uma pré-seleção. No total, foram 4249 artigos, distribuídos em 308 números dos nove periódicos. Quando houvesse dúvidas sobre a pertinência do título ao escopo do presente artigo, o resumo era lido e, se ainda assim, a dúvida permanecesse, o método do artigo era explorado.

Esse processo foi feito de forma independente pelos três autores, após ampla discussão acerca das variáveis a serem selecionadas, bem como a melhor forma de tabulá-las. Dois pesquisadores coletaram os dados de três periódicos, e uma, de quatro, sendo que cada um ficou com um periódico A1. Para afinar a planilha e a tabulação, inicialmente cada pesquisador tabulou os três números de 2005 dos periódicos A1 e, posteriormente, discutiram as experiências, o que acarretou alterações na planilha, especialmente em relação à inclusão de variáveis e padronização no formato de tabulação de algumas informações. Após esse processo, a planilha foi finalizada e iniciou-se a tabulação.

Materiais

Após o processo de seleção, a amostra deste estudo foi formada por 178 artigos, sendo que os periódicos que mais contribuíram foram Psicologia: Reflexão e Crítica (n=29), Estudos de Psicologia (PUCCAMP) (n=26), Psico-USF (n=26) e Psicologia Escolar e Educacional (n=25). Em termos da classificação do periódico no Qualis CAPES, 61 (34,3%) artigos foram publicados em periódicos A1, enquanto 117 (65,7%) foram publicados em A2.

 

Resultados

Os dados desta pesquisa foram analisados por meio da estatística descritiva, no pacote estatístico SPSS. A Tabela 1 destaca a frequência de publicação em cada periódico, por ano.

 

 

Não foi possível identificar tendências gerais quanto ao aumento do número de artigos publicados com a temática estudada ao longo dos 10 anos, contudo dentre os artigos selecionados foi possível notar que, nos anos de 2006, 2009 e 2011, houve maior número de artigos publicados (n=25, n=25 e n=23, respectivamente) sobre a temática socioemocional. Algo que se observou foi uma redução importante de publicações sobre o tema nas revistas Psicologia Teoria e Pesquisa; Psicologia Ciência, e Profissão e Psicologia em Estudo, principalmente nos três últimos anos analisados. As revistas Psicologia: Ciência e Profissão não publicou nenhum artigo sobre avaliação de variáveis socioemocionais no contexto educacional nos anos de 2012 e 2013, e a revista Psicologia em Estudo não publicou nenhum artigo com a temática nos três últimos anos pesquisados. Na Psicologia Teoria e Pesquisa, nenhum artigo foi publicado em 2010, sendo que, entre 2011 e 2013, foi encontrado um artigo por ano.

Na amostra selecionada, verificou-se a língua de publicação, autoria e quantidade de palavras no título. Quanto à língua de publicação, foram encontrados artigos em três idiomas, sendo que 93,8% (n=167) estavam em português; 4,5% (n=8), em inglês; um único artigo foi publicado nos dois idiomas e apenas 1,1% (n=2), em espanhol. Quanto à autoria das publicações, o número variou de 1 a 6 autores por artigos, sendo que a maior frequência foi de dois autores (39,9%, n=71), seguida de três autores (34,3%, n=61). Quanto ao sexo dos autores, 63,42% (n=163) eram do sexo feminino e 36,57% (n=94) masculino. A respeito da quantidade de palavras no título, ela variou de 5 a 19 com maiores frequências de 10 (n=31) e nove (n=28) palavras.

Outras variáveis analisadas foram a faixa etária, escolaridade e quantidade de participantes dos estudos, além das palavras-chave e instrumentos utilizados. Quanto à idade dos sujeitos dos estudos, foram coletadas apenas as médias de idade. É importante destacar que, dos 178 artigos analisados, 60 não apresentaram essa informação. Dos 11 artigos que davam essa informação, a média de idade mínima observada foi de 4,37 e a máxima de 35 anos, sendo que 16,4 anos foi a idade em torno da qual se concentraram as distribuições (DP=6,39). Outro dado observado foi em relação ao nível de escolaridade dos participantes (Tabela 2).

 

 

Os dados apontam para um maior número de amostras abordadas nos estudos provenientes do ensino fundamental (n=84) e do ensino superior (n=60). É importante ressaltar que a frequência total encontrada foi maior que o número de artigos analisados, porque alguns estudos pesquisaram mais que uma amostra, em diferentes níveis de ensino. Buscando compreender melhor as amostras abordadas, também foram observadas as quantidades de participantes por estudo. Essa variável foi agrupada conforme o critério adotado por Oliveira et. al. (2007) e os dados estão apresentados na Tabela 3.

 

 

Os resultados denotam que mais de 50% dos artigos abordaram amostras entre 51 e 300 participantes, sendo que as maiores frequências ocorreram nos estratos de 101 a 200 sujeitos (21,9%), seguido de 201 a 300 sujeitos (15,7%) e de 51 a 100 sujeitos (13,5%). Os dados de frequência de palavras-chave utilizadas nos artigos estão apresentados na Tabela 4.

 

 

A palavra-chave utilizada nos artigos é outro dado relevante, pois se relacionam aos assuntos estudados e direcionam as buscas em bases de dados bibliográficas. As palavras-chave foram analisadas quanto à frequência em que foram utilizadas. Dentre os artigos pesquisados, foram encontradas 536 palavras-chave. Como seria inviável apresentar a lista completa, adotou-se como critério a apresentação daquelas que tiveram mais que cinco ocorrências. Além disso, termos em diferentes línguas foram agrupados e apresentados como uma só palavra-chave, o que ocorreu com social skills, auto concepto, adolescents, adolescence e inteligence. Assim, notou-se que as palavras-chave com maior frequência foram habilidades sociais, avaliação psicológica, autoconceito e adolescentes.

Por fim, quantos aos instrumentos utilizados nas pesquisas, no total foram mencionados 389. Da mesma forma que na tabela anterior, diante da impossibilidade de se apresentar a totalidade das informações, selecionou- se apenas aqueles com frequência igual ou superior a três para compor a Tabela 5.

 

 

Os dados revelam que os testes utilizados com maior frequência foram de avaliação cognitiva, a saber, Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (diversas formas), com 13 citações, e o Teste de Desempenho Escolar (TDE), com 10 frequências. O Inventário de Habilidades Sociais (IHS) e a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) também figuram entre os instrumentos com maior recorrência nas pesquisas realizadas com uma frequência de oito citações cada, nos artigos pesquisados.

 

Discussão

O presente artigo teve como objetivo mapear a produção científica sobre avaliação psicológica no contexto educacional no período de 2005 a 2013, buscando dar continuidade ao trabalho anteriormente publicado de Oliveira et al. (2007). A diferença foi que, neste trabalho, foi realizado um recorte para dar um enfoque nos estudos que tenham considerado variáveis ou competências socioemocionais.

Dessa forma, comparando os achados deste trabalho com a pesquisa realizada por Oliveira et al. (2007), que utilizou critérios semelhantes em sua busca, apesar de um escopo mais amplo, pode-se verificar que, com a atual classificação dos periódicos pela CAPES, houve uma ampliação de seis para nove revistas analisadas. Existiu também um aumento significativo no número de publicações nos últimos anos, mesmo sendo realizado um recorte em relação à temática, encontrou-se um universo de 4249 artigos, ou seja, uma quantidade três vezes maior que a encontrada por Oliveira et al. (2007) em sua pesquisa sobre avaliação psicológica dentro de um contexto geral. Tais achados vão ao encontro dos dados da literatura, de que é crescente o número de pesquisas realizadas na área da avaliação psicológica em contextos educacionais (Oliveira & Marinho-Araújo, 2009).

Em contrapartida, no refinamento da pesquisa, ocorreu uma diminuição do número de artigos selecionados de 234 para 178, o que se deve ao contexto avaliado por este trabalho que ainda apresenta uma quantidade reduzida de estudos em comparação com as publicações sobre habilidades e desempenho cognitivos, conforme apontado por Santos e Primi (2014). Outro ponto a ser destacado trata-se da revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, que apresentou um maior número de publicações no levantamento realizado por Oliveira et al. (2007). Na presente pesquisa pode ser observada uma importante redução de artigos nesse periódico, sendo que, nos últimos dois anos, apenas um estudo foi exposto com o tema das habilidades socioemocionais. Isso pode estar associado ao fato de essa revista ser mais abrangente, abordando temáticas diversas, o que justifica os artigos publicados não enfatizarem a temática priorizada neste estudo.

As pesquisas realizadas nos últimos 10 anos mantiveram os índices em relação ao número e gênero de autores, com maioria de autoria múltipla e do sexo feminino, o que mantém a explicação dada por Oliveira et al. (2007) de que há uma quantidade expressiva de mulheres na profissão, da mesma maneira, a associação entre os gêneros também esteve presente nos trabalhos com mais de um autor. Já em relação ao número de palavras no título, as maiores frequências foram com 10 ou nove palavras, diferente da pesquisa de 2007, em que a maioria dos estudos possuía títulos com mais de 12 palavras. Esse fato denota uma maior preocupação com o fator apontado por Oliveira et al. (2007) de apresentar um título objetivo e conciso que reflita a natureza da pesquisa sem ser prolixo.

Ressaltando o recorte realizado no presente estudo, as palavras-chave encontradas com maior frequência nos artigos foram habilidades sociais, avaliação psicológica, autoconceito e adolescentes. No que toca aos dois construtos destacados, conforme pontuam Santos e Primi (2014), eles representam variáveis importantes no rol das competências socioemocionais, uma vez que se relacionam com a forma com que a pessoa gerencia e maneja seus comportamentos frente a diversas situações. Contudo, Personalidade aparece apenas com cinco ocorrências. Esse resultado é surpreendente uma vez que, no contexto internacional, as competências socioemocionais são relacionadas principalmente ao modelo Big Five da personalidade, com destaque para a Conscienciosidade e Extroversão como importantes preditores de desempenho acadêmico e profissional (Kyllonen et al., 2008; Kyllonen et al., 2011; Poropat, 2009).

Embora os aspectos cognitivos não tenham sido o foco desta pesquisa, nota-se ainda uma presença significativa desses fatores nas correlações com as competências socioemocionais, o que fica evidente por meio do levantamento dos instrumentos utilizados nos estudos analisados. Os dois instrumentos mais utilizados foram de avaliação cognitiva e desempenho acadêmicos, duas variáveis que historicamente têm sido associadas com o sucesso escolar. Por outro lado, também com frequências consideráveis, aparecem instrumentos de avaliação de habilidades sociais e personalidade, o que reforça a ideia de Santos e Primi (2014), de que as duas linhas de investigação (por exemplo, cognitiva e socioemocional) são complementares na compreensão do comportamento educacional de modo que juntas oferecem uma visão mais ampla das competências necessárias para aprender com qualidade. Assim, somam-se as competências que já possuem evidências científicas e que não podem deixar de serem estudadas e as habilidades que ainda não foram discutidas e que podem ser extremamente relevantes no contexto educacional.

Desta forma, entende-se que o este estudo forneceu resultados interessantes sobre a produção científica para o contexto da avaliação psicológica e mais especificamente no que se refere a avaliação das competências socioemocionais. Ainda que se tenha realizado um recorte específico neste estudo, pode ser observado uma ampliação dos resultados apresentados no estudo de Oliveira et al. (2007), contribuindo significativamente com informações sobre o que se tem publicado e pesquisado em avaliação psicológica na área escolar. Com a apresentação e discussão dos resultados desta pesquisa conclui-se que o seu objetivo foi alcançado. A realização do mapeamento da produção científica em avaliação psicológica no contexto educacional foi realizada obtendo-se um número expressivo de artigos selecionados, e que indicou o que já era esperado, que com o tempo novas pesquisas sejam realizadas e publicadas, atualizando e fornecendo novas informações para está área da psicologia que tem sofrido uma constante evolução.

Além disso, o recorte realizado com ênfase nas competências socioemocionais permitiu contribuir com dados interessantes sobre este contexto ainda novo, mas que já demonstrou um importante impacto no ambiente escolar. Desta forma, estes dados ressaltam que pesquisas já estão sendo realizadas para indicar a importância das competências socioemocionais no sucesso e bem-estar acadêmico.

Por outro lado, o recorte realizado também impossibilita uma conclusão sobre os avanços da avaliação psicológica no campo escolar e educacional, o que se coloca como uma limitação importante deste estudo. A sugestão para futuras pesquisas é que um novo levantamento seja realizado neste contexto da avaliação psicológica na área educacional e que integre tanto os aspectos cognitivos quanto os socioemocionais, oferecendo um panorama mais completo deste campo.

 

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recebido em dezembro de 2014
reformulado em julho de 2015
aprovado em julho de 2015

 

 

Sobre os autores

Rodolfo A. M. Ambiel: é doutor em Psicologia e docente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco, Itatiba.
Carla Priscila da Silva Pereira: é psicóloga e mestranda do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco, Itatiba.
Thaline da Cunha Moreira: é psicóloga e mestranda do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco, Itatiba.


1Endereço para correspondência: R. Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, Centro, 13.251-900, Itatiba-SP. Tel.: (11) 4534-8035. E-mail: rodolfo.ambiel@usf.edu.br


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