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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.16 no.1 Itatiba jan./mar. 2017

 

ARTIGO

DOI: 10.15689/ap.2017.1601.05

 

Diferenças por sexo, adaptação e validação da Escala de Estresse Parental

 

Differences by gender, adaptation and validation of the Parental Stress Scale

 

Diferencias por género, adaptación y validación de la Escala de Estrés Parental

 

 

Ariane de Brito1; André Faro2

Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão -SE, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Esta pesquisa objetivou adaptar e investigar evidências de validade da Escala de Estresse Parental (EEPa) (Parental Stress Scale – PSS) para o português brasileiro. Participaram 304 pais, distribuídos na mesma proporção por sexo (pais/mães). Inicialmente, foram realizadas as etapas de tradução e investigação de validade de conteúdo da escala; em seguida, foi conduzida a análise empírica com a EEPa traduzida. O resultado da análise fatorial exploratória indicou uma estrutura final para a EEPa, composta por 16 itens distribuídos em 2 subescalas, modelo unifatorial com consistência interna adequada. Atestaram-se ainda evidências de validade concorrente da EEPa com a PSS-14 e o IPP. De maneira geral, neste primeiro estudo psicométrico no Brasil, a EEPa apresentou características psicométricas promissoras, podendo ser um instrumento válido e confiável para medir o estresse parental de pais/mães de crianças em geral.

Palavras-chave: estresse; parentalidade; validade do teste; estresse parental.


ABSTRACT

This study aimed to cross-culturally adapt and investigate the psychometric properties of the Parental Stress Scale (PSS) for BrazilianPortuguese. There were 304 participating parents, distributed in the same proportion by gender (mothers and fathers). Initially, we carried out stages of translation and investigation of the scale's content validity; then we conducted an empirical analysis with the translated PSS. The results of the exploratory factor analysis indicated a final structure for the PSS composed of 16 items divided into two subscales, a unifactorial model with internal consistency adequate for the total score. There was also evidence of concurrent validity of the PSS with the PSS-14 and the IPP. Finally, in this first psychometric study in Brazil, the PSS presented satisfactory psychometric properties, proving to be a valid and reliable instrument to measure parental stress in parents in general.

Keywords: stress; parenting; test validity; parental stress.


RESUMEN

Este estudio objetivó adaptar e investigar evidencias de validez de la Escala de Estrés Parental (PSS) para el portugués brasileño. Participaron 304 padres, distribuidos en la misma proporción por género (madres y padres). Inicialmente, se llevó a cabo las etapas de traducción e investigación de la validez del contenido de la escala; después se realizó un análisis empírico con el PSS traducido. Los resultados del análisis factorial exploratorio indicaron una estructura final compuesta por 16 ítems divididos en dos subescalas, unifactorial y exhibiendo consistencia interna adecuada.. Hubo evidencia de validez concurrente de la PSS con el PSS-14, como también entre la PSS y el IPP. Por último, en este primer estudio psicométrico acerca de la PSS en Brasil, fueron obtenidas propiedades psicométricas satisfactorias, siendo un instrumento válido y fiable para medir el estrés parental de padres/madres de niños en general.

Palabras clave: estrés; parentalidad; validez de la prueba; estrés parental.


 

 

O estudo da parentalidade e de suas vicissitudes tem ajudado na compreensão sobre como as relações entre pais e filhos se estabelecem e sobre a importância do papel parental no processo de desenvolvimento e socialização da criança. Nesse cenário, o comportamento e a percepção que pais/mães possuem da experiência parental têm sido alvos crescentes de pesquisas e intervenções (Delvecchio et al., 2014; Marsiglia, Williams, Ayers, & Booth, 2014; Roberts, Coakley, Washington, & Kelley, 2014), em especial quando o interesse é pela parentalidade ativa, já que se trata de um fenômeno que, por si só, demanda esforços adaptativos.

A parentalidade refere-se à dimensão e à construção da relação desenvolvida entre pais e filhos (Zornig, 2010), que congrega aspectos tanto positivos (satisfação parental) quanto negativos (sofrimento parental), gerando em pais e mães sentimentos diversos (Berry & Jones, 1995). Ademais, o modo como pais e mães percebem as demandas exigidas na parentalidade e a falta de recursos que possuem para lidar com elas podem levar ao estresse parental (Theule, Wiener, Tannock, & Jenkins, 2013). Entende-se estresse parental como um conflito ou desequilíbrio que ocorre quando o pai ou a mãe avalia que os recursos que possui são insuficientes para lidar com as exigências e demandas de seu papel parental, prejudicando seu compromisso com essa relação (Park & WaltonMoss, 2012).

Quando em níveis que ultrapassam a capacidade de pais e mães lidarem com a situação, o estresse derivado da parentalidade pode comprometer a relação pais-filho e as práticas parentais envolvidas nessa relação, além de prejudicar a qualidade de vida parental e o desenvolvimento dos filhos (Hayes & Watson, 2013; Theule et al., 2013). Assim, conhecer o estresse de pais e mães pode servir como parâmetro de avaliação das relações familiares.

Para mensurar o estresse parental, há medidas padronizadas encontradas na literatura internacional, sendo algumas mais generalistas, como o Parenting Stress Index – PSI (Abidin, 1995) – e a Parental Stress Scale – PSS (Berry & Jones, 1995), e outras voltadas para contextos específicos: a Parental Stress Scale: Neonatal Intensive Care Unit – PSS: NICU (Miles et al., 1993), para pais de recém-nascidos internados em unidades de terapia intensiva neonatal (UTINs); o Autism Parenting Stress Index – APSI (Silva & Schalock, 2012), para pais de crianças com autismo; o Pediatric Parenting Stress Inventory – PPSI (Devine et al., 2014) – e o Pediatric Inventory for Parents – PIP (Rincón, Remor, & Arranz, 2007), ambos para pais de crianças com alguma doença grave (câncer, por exemplo); e o Questionnaire on Recourses and Stress-Short Form – QRS-F (Friedrich, Greenberg, & Crnic, 1983), para pais de crianças com transtornos do desenvolvimento.

Os instrumentos mais comumente utilizados para mensurar o fenômeno são a PSS e o PSI, já que as outras medidas são direcionadas para pais em contextos peculiares, como, por exemplo, pais de crianças com alguma condição clínica. No Brasil, tal aspecto é ainda mais delicado, visto que não foram encontrados estudos de evidências de validade e adaptação cultural dessas duas escalas, apenas a PSS: NICU (Souza, Dupas, & Balieiro, 2012) e o QRS-F (Freitas et al., 2005) foram adaptados culturalmente e possuem evidências de validade para o contexto brasileiro.

O PSI é direcionado para pais de crianças clínicas e/ ou não clínicas, mas vem sendo mais utilizado em populações clínicas, especificamente em pais de crianças com deficiência ou doença crônica (Hayes & Watson, 2013). Ele se encontra disponível em 25 idiomas diferentes, entre versões completas e reduzidas, tendo sido validado para populações dos EUA, da Itália, da China, do Canadá (parte de expressão francesa), da América Hispânica, da Espanha e de Portugal.

Berry e Jones (1995) consideravam o PSI a única medida, até então, de relevância direta para o estresse parental. No entanto, eles apontaram algumas críticas em relação a esse instrumento, a saber: o fato de ser considerado altamente invasivo e, por esse motivo, pouco adequado para pais de crianças sem problemas clínicos e, por vezes, para populações clínicas também. A diferença entre os sexos também tem recebido críticas, pois, nesse instrumento, os pais (homens) ganham escores de estresse mais baixos do que as mães. Foi em decorrência disso que Berry e Jones propuseram a PSS, uma escala de fácil administração, curta e de acesso gratuito, que avalia o estresse associado com o papel parental, voltada para pais e mães de crianças com ou sem problemas clínicos.

 

Parental Stress Scale

A versão original da Escala de Estresse Parental (EEPa), isto é, a PSS, foi desenvolvida com o objetivo de medir o nível de estresse vivenciado por pais e mães de filhos (menores de 18 anos), especificamente o produzido pelo papel parental. A escolha de seus itens foi baseada no pressuposto das duas facetas da parentalidade como fonte de prazer e tensão. Os itens relacionados ao prazer referem-se aos benefícios emocionais, tais como amor, alegria, diversão, e ao senso de autoenriquecimento e desenvolvimento emocional. Os itens sobre as demandas negativas (tensão) abordam temas como tempo, energia e dinheiro gastos, custos de oportunidades e restrições (Berry & Jones, 1995).

A EEPa é um instrumento de autorrelato de fácil administração e acesso gratuito, constituída de 18 itens, distribuídos em 4 fatores respondidos a partir de uma escala Likert de concordância de 5 pontos, sendo que quanto mais alto o escore, maior o estresse parental. Os quatro fatores avaliam:

  1. recompensas dos pais;
  2. estressores dos pais;
  3. falta de controle; e
  4. satisfação parental.

A escala apresentou, no seu estudo de construção e validação, boa consistência interna [alfa de Cronbach (α)=0,83]. A validade convergente da PSS foi avaliada comparando seu escore total com o escore total da PSS e com o escore total do PSI, exibindo significância estatística e confirmando a compatibilidade com ambas (Berry & Jones, 1995).

Encontraram-se estudos psicométricos com evidências de validade da PSS em Portugal (Algarvio, Leal, & Maroco, 2012; Rocha, 2012; Mixão, Leal, & Maroco, 2010), na Espanha (Oronoz, Alonso-Arbiol, & Balluerka, 2007) e na China (Cheung, 2000; Leung & Tsang, 2010). Alguns desses exibiram correlações positivas da PSS com o PSI (Berry & Jones, 1995; Leung & Tsang, 2010), problemas de comportamento infantil (Leung & Tsang, 2010; Algarvio et al., 2012), ansiedade e depressão nos pais (Oronoz et al., 2007).

Quanto à estrutura fatorial da escala, as análises de alguns desses estudos foram realizadas por meio da Análise Fatorial Exploratória (AFE) e apenas um estudo conduziu à Análise de Rasch (Leung & Tsang, 2010). Além disso, foram encontradas mais de três estruturas possíveis para a escala, praticamente uma por país (Espanha, EUA, China e Portugal), sendo suas diferenças relacionadas não apenas à quantidade dos fatores, mas também ao número e à distribuição dos itens. Assim, tendo em vista a heterogeneidade dos resultados obtidos nos estudos de adaptação e validação da escala em outros países, julgouse pertinente a avaliação exploratória da estrutura da PSS em uma amostra brasileira, com o objetivo de conhecer a composição de fatores mais apropriada para esse contexto e, uma vez encontrada a solução, identificar com qual estrutura ela mais se aproxima, considerando-se o que já foi obtido em diferentes países. Vale mencionar que, até o presente momento, não foi possível encontrar na literatura nenhuma publicação que tenha feito Análise Fatorial Confirmatória (AFC) da PSS utilizando os modelos de outros países como soluções alternativas.

No Brasil, estudos que fazem uso da EEPa ainda são escassos; acredita-se que um dos motivos seja devido ao fato de essa escala ainda não estar adaptada e validada para o contexto brasileiro. Portanto, a proposta de realizar a adaptação da EEPa permite avaliar as propriedades psicométricas de uma medida generalista para o estresse parental, algo inexistente no Brasil, apresentando um instrumento que, além da utilização em pesquisas, pode favorecer a criação de estratégias de intervenção no campo da parentalidade.

Diante disso, este estudo objetivou:

  1. adaptar e investigar evidências de validade da EEPa (PSS) para o português brasileiro;
  2. avaliar a validade concorrente da EEPa com a Escala de Estresse Percebido (PSS-14) e o Inventário de Práticas Parentais (IPP); e
  3. comparar os índices de estresse parental por sexo (pais e mães).

 

Método

O estudo foi realizado em duas etapas distintas: a primeira refere-se aos procedimentos de tradução e validação do conteúdo da escala; a segunda, à análise empírica da EEPa, visando a verificar suas propriedades psicométricas.

Procedimentos de tradução

A tradução da PSS do inglês para o português (brasileiro) foi baseada na seguinte sequência de protocolos metodológicos:

  1. tradução inicial, realizada individual e separadamente por três tradutores bilíngues da área da Psicologia;
  2. tradução reversa, que consistiu na retradução da versão traduzida para o idioma original da escala, feita por outros três tradutores independentes que não conheciam o instrumento; e
  3. análise do comitê, em que foram avaliadas as retraduções, item por item, verificando qual delas mais se aproximou da versão original (Cassepp-Borges et al., 2010).

A versão preliminar da escala traduzida foi denominada "Escala de Estresse Parental (EEPa)".

Procedimentos de validação do conteúdo

A validação do conteúdo verificou, por meio da avaliação pessoal e opinativa de outros três juízes-avaliadores da área da Psicologia, se os itens da EEPa possuíam os critérios de clareza de linguagem, pertinência prática e relevância teórica. A avaliação dos três critérios ocorreu mediante uma escala tipo Likert de cinco pontos (1=pouquíssima a 5=muitíssima). A partir dessas avaliações, calculou-se o coeficiente de validade de conteúdo (CVC) por dimensão, tendo sido encontrados coeficientes considerados altamente satisfatórios (clareza de linguagem=0,90; pertinência prática=0,97; relevância teórica=0,97).

Algumas mudanças foram sugeridas pelos juízes-avaliadores e feitas durante esse processo, por exemplo, optou-se pelas palavras "peso" e "vergonhoso" no lugar das palavras "fardo" (burden) e "embaraçoso" (embarrassing), utilizadas, respectivamente, nos itens 11 e 13 da versão original. Os itens, após formulações são apresentados na Tabela 1.

Participantes

A amostra foi do tipo não probabilística, por conveniência, contando com 304 indivíduos (152 pais e 152 mães), seguindo o critério de inclusão de ser pai ou mãe (apenas um por casal) de, pelo menos, um filho(a) entre 3 e 13 anos. A média de idade foi de 35,3 anos (DP=6,59), variando de 18 a 51 anos, tendo, em média, 2 filhos (DP=1,11). A maioria dos participantes: tinha ensino superior (43,4%; n=132); mantinha relacionamento conjugal estável (85,2%; n=259), sendo o casamento o mais frequente (42,1%; n=128); trabalhava (75,3%; n=229), com renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos (43,8%; n=133); não tinha doença crônica (90,5%; n=275); não usava remédio controlado (91,8%; n=279)

O perfil do filho(a) se caracterizou da seguinte forma: 53,0% (n=161) do sexo masculino; a média de idade foi de 8 anos (DP=2,85; intervalo=3–13); 95,4% (n=290) frequentavam escola, a maioria deles no 3º ano do ensino fundamental (11,1%; n=34); 94,7% (n=288) não possuíam limitação e/ou problemas de saúde; 93,8% (n=285) não tinham restrição alimentar; 92,8% (n=282) não tomavam remédio controlado; 96,1% (n=292) dos pais consideravam seu filho saudável.

Instrumentos

A EEPa é constituída por 18 itens, respondidos a partir de uma escala tipo Likert de concordância de 5 pontos (0=discordo totalmente a 4=concordo totalmente), com escore final produzido pela soma dos itens, variando, neste estudo, entre 0 e 72 pontos. Quanto mais alto o escore, maior o estresse parental.

A PSS-14 (Luft, Sanches, Mazo, & Andrade, 2007) é formada por 14 itens que avaliam o estresse percebido. Trata-se de uma escala unifatorial, formada por itens negativos (1, 2, 3, 8, 11, 12, 14) e positivos (4, 5, 6, 7, 9, 10, 13), respondida seguindo o modelo Likert de 5 pontos, variando entre 0=nunca e 4=sempre. A pontuação do escore final pode variar entre 0 e 56 pontos, em que quanto mais elevado o escore, maior o estresse percebido pelo indivíduo nos últimos 30 dias. No primeiro estudo brasileiro de validação da PSS-14 (Luft et al., 2007), a consistência interna da escala foi de α=0,82 com idosos; já em seu estudo de normatização com amostra populacional (Faro, 2015) obteve-se uma consistência interna de α=0,71. Na amostra pesquisada no presente estudo, verificouse também uma boa confiabilidade interna da escala ( α=0,84). Por ser considerada padrão-ouro na área de estresse e por mensurar o fenômeno em um contexto geral e inespecífico de estressores (Faro & Pereira, 2013), a PSS-14 foi aplicada neste estudo como parâmetro de comparação para a análise da validade concorrente da EEPa em relação ao construto estresse. A hipótese é de que tais instrumentos se correlacionem positivamente.

 


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O IPP (Benetti & Balbinotti, 2003), composto por 16 itens (versão reduzida), tem por objetivo identificar as práticas parentais de socialização utilizadas por pais e mães de crianças em idade escolar, preferencialmente entre 6 e 12 anos de idade. O conteúdo dos seus itens engloba quatro dimensões do envolvimento dos pais com a criança:

  1. Afeto,
  2. Disciplina,
  3. Educação e
  4. Social, formados com 4 itens cada.

Os itens são constituídos por frases afirmativas que devem ser respondidas em uma escala Likert de frequência de cinco pontos (Benetti & Balbinotti, 2003). No presente estudo, o escore total foi interpretado da seguinte forma: quanto mais alto, maior a utilização de práticas parentais, e a confiabilidade interna total da escala se mostrou aceitável ( α=0,75). O IPP também foi utilizado como critério de validade concorrente com a EEPa, visto que avalia comportamentos e práticas relacionados à parentalidade e à relação pais-filho. Espera-se obter uma correlação negativa entre esses instrumentos, ou seja, quanto maior for a utilização de práticas parentais, menor será o estresse parental vivenciado pelo pai e mãe.

Procedimentos

A coleta de dados foi realizada nas dependências da Cidade Universitária Professor José Aloísio de Campos (Campus São Cristóvão) e do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Foram abordados indivíduos adultos, entre os meses de novembro de 2014 e março de 2015. A pergunta para seleção inicial foi se o indivíduo convidado era pai ou mãe de filhos entre 3 e 12 anos de idade. Vale mencionar que, inicialmente, o intervalo de idade dos filhos foi estabelecido em três anos, para evitar a composição por pais de crianças muito pequenas. Quanto ao limite dos 12 anos, expandiu-se a amostra, durante a própria coleta, para pais ou mães de filhos com 13 anos, devido à presença de pais de crianças com essa idade nos mesmos ambientes de coleta, os quais também se disponibilizaram a participar da pesquisa (4,3%; n=13). Nos casos afirmativos, eles foram informados sobre o objetivo da pesquisa e convidados a participarem voluntariamente, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFS (CAAE: 36920914.9.0000.5546).

Análise dos dados

As análises foram realizadas utilizando o pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20. Inicialmente, foram feitos procedimentos de ajustes no banco de dados para verificação das distribuições das variáveis, de acordo com as recomendações de Tabachnick e Fidell (2007). Após o cálculo de todas as variáveis e dos escores finais das escalas, obtiveram-se frequências percentuais e absolutas, médias, medianas e desvios-padrão.

Como citado, em virtude de não existir, até o presente momento, uma estrutura dominante da escala na literatura e haver mais de três estruturas possíveis, fato que levaria a ter mais de dois modelos alternativos para comparação em AFC, optou-se, primeiramente, pela realização de uma AFE em uma amostra brasileira. No presente estudo, a AFE foi conduzida segundo a técnica de extração de fatores Máxima Verossimilhança (Maximum Likelihood – ML) (Costello & Osborne, 2005) – e o método de rotação oblíqua, a qual permite que os fatores se correlacionem entre si (Damásio, 2012). O valor mínimo de saturação do item considerado aceitável foi de 0,30. A avaliação da confiabilidade das escalas e dos fatores foi verificada pela consistência interna, por meio do coeficiente alfa de Cronbach, considerando como aceitável os valores acima de 0,60. A validade concorrente da EEPa com a PSS-14 e o IPP foi analisada a partir do teste de correlação de Pearson. O nível de significância adotado em todas as análises foi de p<0,05.

 

Resultados

Análise Fatorial Exploratória

Inicialmente, constatou-se que o teste de KaiserMeyer-Olkin (KMO) mostrou-se aceitável (0,81) e o teste de esfericidade de Bartlett foi estatisticamente significativo ( χ2(153)=1368,682; p<0,001), confirmando a fatorabilidade da escala. Seguindo o critério de retenção de KaiserGuttman, no qual somente os fatores com eigenvalue>1 são retidos, foram obtidos cinco fatores. Entretanto, esse critério não é plenamente confiável (Damásio, 2012); além disso, pelo Scree Plot, foi possível notar a existência de dois fatores, confirmados pela diferença da amplitude dos eigenvalues, tendo essa se mostrado como a melhor solução estrutural da EEPa. Juntos, os 2 fatores corresponderam a 37,0% da variância total. O Fator 1 foi responsável por 25,7% da variação total (eigenvalue=4,62), enquanto o Fator 2 foi responsável por 11,3% (eigenvalue=2,04). No Fator 1 saturaram positivamente 7 itens de conotação positiva (1, 5, 6, 7, 8, 17 e 18) e 1 item (13) com saturação negativa, ou seja, 1 item para recodificação. O Fator 2 agrupou 8 itens de conotação negativa e com saturação positiva (3, 9, 10, 11, 12, 14, 15 e 16).

A análise de conteúdo dos itens indicou que o Fator 1, denominado "Satisfação parental", envolve sete afirmações de conotação positiva e uma afirmação de conotação negativa relacionadas à satisfação com a experiência da parentalidade. Para obtenção do escore total da EEPa, os 7 itens de conotação positiva do Fator 1 (1, 5, 6, 7, 8, 17, 18) devem ter sua pontuação invertida. O Fator 2 foi denominado "Estressores parentais", pois se refere às questões de conotação negativa direcionadas aos estressores vivenciados por pais/mães na parentalidade. A correlação entre os fatores (r=-0,431; p<0,001) foi negativa e significativa, sendo esta uma correlação de força moderada (Tabachnick & Fidell, 2007).

Os itens 2 e 4 não carregaram em nenhum dos dois fatores e foram excluídos pois tiveram cargas de saturação inadequadas (<0,30). Esses itens não foram considerados nas análises subsequentes com a EEPa, que ficou constituída por 16 itens e cargas fatoriais entre 0,316 no item 5 e 0,718 no item 18. A análise de consistência interna mostrou que a escala composta por 16 itens obteve um coeficiente alfa ( α) de 0,81, com o Fator "Satisfação parental" com 0,69 e o Fator "Estressores parentais" com 0,79, todos considerados adequados.

Tendo em vista os resultados encontrados no presente estudo e as variadas composições estruturais da escala obtidas em diferentes trabalhos de evidências de validade da EEPa, procurou-se comparar as cargas fatoriais dos itens e a estrutura da escala desses estudos por países (Brasil, EUA – original, Portugal e Espanha). Vale salientar que foram comparados apenas trabalhos que relataram as cargas fatoriais e a distribuição da composição dos itens nos fatores. Na Tabela 1 é possível verificar diferenças principalmente em relação à estrutura da escala e à quantidade de itens. Nos estudos citados, a escala teve composições diferenciadas em relação à quantidade de fatores encontrados no estudo original (Berry & Jones, 1995) e no estudo português (Mixão et al., 2010), dos quais foram extraídos quatro fatores, enquanto no presente estudo e no espanhol (Oronoz et al., 2007) a escala ficou composta por dois fatores: um relacionado aos aspectos positivos (Satisfação e Recompensas parentais) e o outro aos negativos (Estressores) da parentalidade.

O número de itens foi ainda mais variado: 18 na escala original (Berry & Jones, 1995) e na versão portuguesa (Mixão et al., 2010), 12 na versão espanhola (Oronoz et al., 2007) e 16 na versão do presente estudo. No entanto, observou-se um padrão entre eles, por exemplo, os itens 2 e 4 se mostraram fracos em quase todas as versões analisadas da escala, porém foram excluídos apenas nas versões brasileira e espanhola. A exceção, nesse caso, foi a versão portuguesa, em que esses itens tiveram cargas de 0,600 e 0,780, respectivamente. Os itens 7, 8, 14 e 16 foram os que apresentaram maior variação quanto a sua posição na estrutura final da escala. Desses, o item 7, por exemplo, apesar de ter carga fatorial de 0,700 na versão brasileira, 0,600 na versão original e 0,620 na versão portuguesa, não saturou na versão espanhola. O mesmo foi observado nos itens 8, 14 e 16.

Os demais itens (1, 3, 5, 6, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 17 e 18), por sua vez, foram os que se mantiveram na estrutura da escala das 4 versões analisadas, o que parece indicar ser o conjunto de itens mais regular. Porém alguns desses itens apresentaram oscilação quanto à carga de saturação obtida, como, por exemplo, o item 17, que obteve carga fatorial de 0,562, 0,470, 0,670 e 0,770 nas versões brasileira, original, portuguesa e espanhola, respectivamente; e o item 13, que saturou negativamente nas versões brasileira (-0,323) e original (-0,470), e positivamente nas versões portuguesa (0,500) e espanhola (0,542). De modo contrário, tem-se o item 12, que se mostrou mais estável, uma vez que saturou quase com o mesmo valor em 3 versões analisadas (Brasil: 0,606; EUA – original: 0,600; Espanha: 0,660) e com valor um pouco mais elevado na versão portuguesa (0,740). Esse e demais itens em condições semelhantes (6, 10 e 18) demonstraram maior estabilidade na comparação entre pelo menos duas das versões investigadas.

Validade Concorrente

Como hipóteses, esperava-se que na validade concorrente o estresse parental (EEPa) se correlacionasse positivamente com o estresse percebido (PSS-14) e negativamente com as práticas parentais (IPP), e que tais correlações fossem mais fortes do que as detectadas entre o estresse percebido e as práticas parentais.

A média do escore total da EEPa foi de 15,1 (DP=7,96; Mín=1 e Máx=50). A média do escore total da PPS-14 foi de 22,9 (DP=8,10) e do IPP foi de 43,4 (DP=8,10). O resultado da matriz de correlação entre o escore total da EEPa (16 itens) e a PSS-14 indicou uma associação positiva e estatisticamente significativa (r=0,454; p<0,001). O coeficiente entre o IPP e o escore total da EEPa (r=-0,403; p<0,001) foi negativo e significante estatisticamente. O mesmo aconteceu entre a PSS-14 e o IPP: a correlação foi negativa e estatisticamente significativa (r=-0,281; p<0,001). Tais resultados apontam que houve mais forte associação entre a EEPa e a PSS-14 (r=0,454) e a EEPa e o IPP (r=-0,403), isso em comparação com a PSS-14 e o IPP (r=-0,281), confirmando as hipóteses previamente delineadas. Assim, viuse que a EEPa se aproxima mais da PSS-14 e do IPP do que essas duas escalas entre si, revelando interações mais específicas entre tais construtos e a EPPa.

Diferenças por sexo no estresse parental

Examinou-se ainda a diferença entre as médias obtidas no escore total da EEPa (16 itens) e nos escores fatoriais em relação ao sexo. Observou-se que a média do escore total da EEPa, na amostra geral e por sexo, foi abaixo do corte de 50,0% da escala (32 em 64 pontos), isto é, os participantes deste estudo parecem lidar de forma adaptativa com a parentalidade.

Mesmo não sendo uma amostra de pais e mães estressados quanto às questões relativas à parentalidade, o resultado do teste t de Student revelou que houve diferença estatisticamente significativa entre homens/ pais (M=13,6; DP=6,83) e mulheres/mães (M=16,6; DP=8,70) no que refere ao escore total do estresse parental [t(302)=-3,368; p=0,001], com tamanho do efeito considerado médio (d=0,40).

 

Discussão

O presente estudo objetivou adaptar e investigar evidências de validade para o português (brasileiro) da PSS, que mensura o nível de estresse decorrente da parentalidade de pais e mães. Além disso, buscou-se avaliar a validade concorrente da EEPa com a PSS-14 e o IPP, e comparar os índices de estresse parental de acordo com o sexo de pais e mães. Procurou-se, por meio deste estudo, oferecer uma medida do estresse parental, com evidências de validade para o contexto brasileiro e viabilidade para pesquisas e intervenções junto a pais e mães de crianças em geral.

O resultado da análise fatorial indicou como melhor solução o modelo composto por dois fatores, então denominados como "Satisfação parental" (8 itens) e "Estressores parentais" (8 itens). A moderada correlação entre eles (r>0,400) também sugere a viabilidade de escore único da escala para avaliação do estresse parental. Diante disso, o modelo estrutural da EEPa é de dois fatores (subescalas) e escore único.

Porém, tal constituição da escala não corresponde aos quatro fatores descritos por Berry e Jones (1995), em estudo de desenvolvimento e validação da PSS com uma amostra de pais norte-americanos de filhos com ou sem alguma condição clínica. Quatro fatores também foram encontrados por Mixão et al. (2010), Algarvio et al. (2012) e Rocha (2012) em seus estudos com pais e mães portugueses de crianças de 1 mês a 15 anos de idade, de 3 a 10 anos de idade e de 29 dias de vida até 18 anos, respectivamente. No entanto, Oronoz et al. (2007), em uma amostra espanhola de pais de bebês de 3 a 8 meses, encontraram uma estrutura composta por dois fatores (1 – recompensas do bebê – e 2 – estressores), o qual se assimila ao presente achado. Tais fatores equivalem, respectivamente, aos aspectos positivos e desgastantes da parentalidade, sendo semelhantes aos fatores propostos neste trabalho: "Satisfação parental" (Fator 1) e "Estressores parentais" (Fator 2).

Em relação à quantidade de itens, houve diferenças quando comparada a solução obtida nesta pesquisa com a relatada em estudos de validação da escala em outros países. Nesta amostra, a EEPa ficou constituída por 16 itens, tendo sido excluídos os itens 2 [Há pouco que eu não faria por meus(s) filho(s) se fosse necessário] e 4 [Às vezes eu me preocupo se estou fazendo o suficiente por meu(s) filho(s)] por terem tido cargas fatoriais menores que 0,30. No estudo original (Berry & Jones, 1995), esses dois itens (2 e 4) também não carregaram em nenhum dos quatro fatores extraídos naquela ocasião, mas permaneceram na estrutura final da escala. No estudo espanhol (Oronoz et al., 2007), o item 16 foi retirado pelos juízes-avaliadores, que o consideraram vago e ambíguo, tendo sido excluído na fase de tradução-retradução da escala. Além desses, Oronoz et al. posteriormente excluíram o item 7, que carregou isoladamente em um fator e mais 5 itens (2, 4, 8, 14 e 16) que tiveram cargas fatoriais abaixo de 0,30, ficando a escala final com 12 itens. Ademais, nos estudos realizados por Cheung (2000) e Leung e Tsang (2010), a escala ficou composta, respectivamente, por 17 e 16 itens. Com relação à composição, em ambas as pesquisas foi excluído o item 2, e no modelo utilizado por Leung & Tsang foi retirado o item 11. Por outro lado, em estudos portugueses (Algarvio et al., 2012; Rocha, 2012; Mixão et al., 2010), a escala ficou composta por 18 itens, mantendo a estrutura original.

A partir das discrepâncias e aproximações observadas na composição da escala, acredita-se que as diferenças na estrutura fatorial e na quantidade de itens entre os estudos que realizaram a validação da PSS possam ser explicadas pela especificidade de algumas variáveis nas amostras pesquisadas. Uma delas é a nacionalidade da amostra, visto que a parentalidade pode ser impactada por mudanças de atitudes e percepção por parte dos pais relativas ao estresse parental decorrentes de contextos socioculturais distintos (Marsiglia et al., 2014).

No entanto, vale destacar que a variabilidade da EEPa, seja em relação aos fatores, à quantidade de itens ou às cargas fatoriais, observada na comparação entre os diferentes estudos investigados merece ser melhor explorada. No caso da versão brasileira, os itens que apresentaram cargas fatoriais entre 0,30 e 0,40 (3, 5, 9, 13 e 14), por exemplo, são os que merecem maior atenção em próximos estudos, pois mostraram menor covariância na composição dos fatores, critério que pode ser utilizado ao se preferir por uma versão reduzida da EEPa. Por ter sido este o primeiro estudo que buscou adaptar e investigar evidências de validade da EEPa no Brasil e devido ao caráter generalista da amostra utilizada, isto é, sem a definição de um contexto estressor específico na parentalidade (por exemplo, pais de crianças com necessidades especiais), esses itens talvez tenham exibido tais cargas fatoriais em virtude da inespecificidade da amostra. Por isso, entende-se que merecem permanecer na estrutura da escala, pois é provável que em amostras em condições específicas (por exemplo, filhos diabéticos) eles agreguem maior contribuição na variância comum dos seus fatores correspondentes. O monitoramento desses itens em amostras extraídas de contextos parentais específicos pode ser interessante para uma melhor adequação da medida em análises transculturais.

As propriedades psicométricas da EEPa obtidas neste estudo podem ser consideradas satisfatórias. A escala apresentou uma boa consistência interna (0,81), superior à encontrada por Mixão et al. (2010) (0,76) e Algarvio et al. (2012) (0,78), e ligeiramente inferior àquela obtida pelo estudo original (Berry & Jones, 1995) (0,83). De acordo com Damásio (2012), o coeficiente alfa de Cronbach avalia o grau de correlação que os itens de uma matriz de dados possuem entre si, sendo influenciado tanto pelas correlações dos itens quanto pela quantidade de itens avaliados. Isso pode explicar as diferenças dos coeficientes obtidos nesses estudos, uma vez que a quantidade de itens analisados é distinta. Em todo caso, o resultado da consistência interna da EEPa foi satisfatório, indicando fidedignidade da escala na presente amostra e sugerindo estabilidade em futuras aplicações.

Os resultados da validade concorrente mostraram correlações estatisticamente significativas entre os escores totais da EEPa com a PSS-14 e o IPP. A correlação entre estresse parental e estresse percebido foi positiva (r=0,454), com resultado bem próximo do encontrado no estudo de Berry e Jones (1995) (r=0,50). Isso sugere que ambas as medidas medem construtos semelhantes — o estresse —, o que corrobora a hipótese inicial do estudo, de que o estresse parental (medido pela EEPa) seria uma delimitação de estressores (a parentalidade), embora também afira o estresse geral, que é mensurado pela PSS14. Vale destacar que a PSS-14 é baseada na perspectiva cognitivista do estresse (Faro & Pereira, 2013) e o pressuposto teórico da EEPa compartilha a mesma perspectiva (Berry & Jones, 1995), um aspecto que reforça a compatibilidade entre ambas.

Em relação ao estresse parental e às práticas parentais, pesquisas têm indicando que essas últimas podem atuar como variável moderadora do estresse parental, uma vez que elas modificam os padrões familiares de comportamento e interação, podendo elevar, atenuar ou manter os níveis de estresse de pais e mães (Guajardo, Snyder, & Petersen, 2009; Park & Walton-Moss, 2012). No presente estudo, a correlação entre estresse parental e práticas parentais foi negativa (r=-0,403), ou seja, quanto maior foi o nível de estresse parental, menor foi a utilização de práticas educativas parentais.

Vale a pena salientar que a correlação entre estresse percebido (PSS-14) e práticas parentais (IPP) foi de menor intensidade (r=-0,28), quando comparada com as correlações obtidas entre essas medidas e estresse parental (EEPa). Tal achado reforça indícios de que a EEPa discrimina de modo satisfatório tanto a faceta do estresse quanto a faceta parental da medida. Noutras palavras, a EEPa revelou-se uma forma de mensuração que indica a particularização do estresse derivado da parentalidade (estresse parental).

Quando às análises das pontuações médias do escore total da EEPa por sexo, verificou-se que pais e mães da amostra lidam de forma adaptativa com a parentalidade, uma vez que apresentaram níveis baixos de estresse parental. Além disso, foi constatada diferença entre o sexo (pais e mãe) no tocante ao estresse parental. As mulheres apresentaram maiores médias do que os homens e com tamanho de efeito mediano (0,40).

De modo geral, estudos sobre estresse parental tendem a relevar a experiência desse fenômeno mais nas mães (mulheres) do que nos pais (homens) (Theule et al., 2013), fato que, por si só, pode levar à interpretação de que as mães vivenciam maiores índices de estresse parental. Porém, crê-se que ainda faltam estudos que sirvam de parâmetros e explorem a vivência da parentalidade nos pais (homens), pois só assim será possível compreender as diferenças existentes no estresse parental entre esses papéis parentais.

Como limitação desta pesquisa, vale mencionar que apesar da busca por aproximar proporções entre pais e mães, a amostra utilizada foi não probabilística e por conveniência, sem representatividade populacional. Por isso, é preciso cautela quanto à generalização dos resultados encontrados neste primeiro estudo de validação da EEPa, ainda que sirvam como parâmetro de avaliação geral do estresse em amostras não ligadas a um estressor parental específico. Sugere-se ainda que futuros estudos procurem investigar as propriedades psicométricas da EEPa no Brasil com maiores e diferentes amostras.

Finalmente, neste primeiro estudo de evidências de validade no Brasil, a EEPa demonstrou ser um instrumento capaz de medir o estresse parental de pais e mães de crianças em geral, com características bastante interessantes, como a fácil aplicação e a gratuidade do acesso. Tais qualidades a tornam uma escala útil para os que têm interesse em estudar, intervir e avaliar a eficácia de suas práticas acerca das relações entre pais e filhos.

 

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Endereço para correspondência
Ariane de Brito
Rua Sandoval Manuel dos Santos, 16, Atalaia, 49037-831
Aracaju, SE, Brasil
E-mail: arianedebrito@yahoo.com.br

recebido em maio de 2016
reformulado em setembro de 2016
aprovado em novembro de 2016

 

 

1Ariane de Brito é Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão, Sergipe.
2André Faro é Professor Adjunto do Departamento de Psicologia (DPS) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão, Sergipe.

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