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Avaliação Psicológica

Print version ISSN 1677-0471On-line version ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.21 no.3 Campinas July/Sept. 2022

http://dx.doi.org/10.15689/ap.2022.2103.20973.06 

ARTIGOS

 

Estudo-piloto de validação do instrumento Cartoon Test no contexto brasileiro

 

Pilot study for the validation of the Cartoon Test for the Brazilian context

 

Estudio piloto de validación del instrumento Cartoon Test en el contexto brasileño

 

 

Grazielli FernandesI; Carlo SchmidtII; Cleonice Alves BosaIII; Kátia Carvalho Amaral FaroIV; Débora Dalbosco Dell'AglioV

IUniversidade La Salle, Canoas-RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-3545-403X
IIUniversidade Federal de Santa Maria, Santa Maria-RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-1352-9141
IIIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-0385-4672
IVUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-7297-892X
VUniversidade La Salle, Canoas-RS, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-0149-6450

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O Cartoon Test é um instrumento que analisa a percepção de crianças e adolescentes acerca do significado de bullying por meio de cenas de interação entre pares no ambiente escolar. Este estudo qualitativo exploratório constitui a segunda etapa de validação do instrumento no Brasil, com os objetivos de verificar se os participantes compreendem as imagens e legendas dos cartoons e que palavras são utilizadas para descrever os comportamentos inadequados. Foram realizados oito grupos focais, com 52 alunos, com idades de oito e 14 anos, de duas cidades do Rio Grande do Sul. Os instrumentos utilizados foram: Questionário sociodemográfico, Folha de registro do pesquisador e Cartoon Test. Realizou-se análise de conteúdo para tratamento dos dados. Os resultados indicaram que o instrumento foi compreendido pelos participantes e o termo bullying foi o mais utilizado para descrever situações agressivas. Para as crianças, sugere-se a redução no número de cartoons, visando evitar a exaustão.

Palavras-chave: violência escolar; comportamento agressivo; comportamento social; padronização do teste; discriminação racial.


ABSTRACT

The Cartoon Test is an instrument that analyzes the perception of children and adolescents about the meaning of bullying through scenes of interaction between peers in the school environment. This qualitative exploratory study is the second phase of validation of the instrument in Brazil. The aim is to verify whether the participants understand both the images and captions of the cartoons and to record the words used to describe the inappropriate behaviors. Eight focus groups were carried out, with 52 students, aged between eight and 14 years, from two cities in Rio Grande do Sul. The instruments used were: sociodemographic questionnaire, record sheet and Cartoon Test. Content analysis was performed. The results showed that the instrument was understood by all the participants and bullying was the word most used to describe the aggressive situations. A reduction in the number of cartoons administered to children is suggested, in order to avoid exhaustion.

Keywords: school violence; aggressive behavior; social behavior; test standardizing; racial discrimination.


RESUMEN

El Cartoon Test es un instrumento que analiza la percepción de niños y adolescentes a respeto del significado de bullying por medio de una escena de interacción entre pares en el ambiente escolar. Este estudio cualitativo exploratorio constituye la segunda etapa de validación del instrumento en Brasil, con el objetivo de verificar que los participantes comprenden las imágenes y leyendas de los cartoons y qué palabras son utilizadas para describir comportamientos inapropiados. Fueron realizados ocho grupos focales, con 52 alumnos, con edades entre ocho y 14 años, de dos ciudades de Rio Grande do Sul. Los instrumentos utilizados fueron: Cuestionario Sociodemográfico, Ficha de Registro del Investigador y Cartoon Test. Se llevo a cabo un análisis de contenido para procesar los datos. Los resultados indicaron que el instrumento fue comprendido por los participantes y el termo bullying fue lo más empleado para describir situaciones agresivas. Para los niños, se sugiere la reducción en el número de cartoons, para evitar el agotamiento.

Palabras clave: violencia escolar; comportamiento agresivo; comportamiento social; estandarización del test; discriminación racial.


 

 

Apesar de algumas discussões no meio científico (Smith, Görzig, & Robinson, 2018), atualmente, o termo bullying tem sido descrito como comportamentos agressivos que envolvem três critérios fundamentais: repetição (agressões sistemáticas), intencionalidade e desequilíbrio/desigualdade de poder entre agressor e vítima, a qual não consegue se defender (Olweus, 1993; Smith, 2014). O bullying pode ser praticado de forma direta ou indireta. No primeiro caso, incluem-se agressões físicas (chutar, empurrar, bater, dar pontapés, roubar, danificar pertences) e verbais (xingar, ameaçar, insultar, humilhar, intimidar, discriminar); no segundo caso, estão a exclusão social, o comportamento de espalhar rumores e fofocas e o cyberbullying (Olweus, 1993; Smith, 2014).

Historicamente, pesquisadores que investigam o construto enfrentam uma série de desafios relativos à forma de mensurar adequadamente o bullying, considerando toda sua complexidade (Volk et al. 2017). Dentre os principais obstáculos, observam-se problemas na conceituação (Finkelhor et al., 2012; Vaillancourt et al., 2008), operacionalização (Nansel & Overpeck, 2003) e questões na própria tradução e utilização do termo. Tais aspectos estão presentes na construção e adaptação de instrumentos (Alckmin-Carvalho et al., 2014; Silva et al., 2011; Smith et al., 2018; Volk et al., 2017), na comparação de dados de diferentes países e culturas (Rigby & Smith, 2011) ou na condução de estudos transculturais (Smith et al., 2002).

Estudo conduzido por Smith et al. (2002) demonstrou que a percepção de bullying varia conforme a idade, o gênero ou o contexto cultural. Craig et al. (2009), ao compararem a prevalência de bullying e vitimização em 40 países utilizando pesquisa de autorrelato, concluíram que entre 6% e 45,2% dos meninos e entre 4,8% e 35,8% das meninas estiveram expostos a situações de bullying. Mas os pesquisadores enfatizaram que os dados devem ser interpretados com cautela, pois diferenças na prevalência de bullying podem ocorrer devido a aspectos metodológicos ou à percepção do que é o construto.

No Brasil, estudo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE, 2015) analisou a prevalência de bullying e fatores associados, com 102.301 estudantes de todas as regiões do país, e observou que 7,2% dos estudantes foram vítimas e 20,8%, autores de bullying. Apesar da importância do estudo para o desenvolvimento de políticas e programas antibullying, os pesquisadores ressaltam que pode haver diferenças na interpretação do que é bullying, o que reflete diretamente nos resultados (Malta et al., 2019).

Diante desses desafios, no contexto brasileiro, alguns pesquisadores têm conduzido estudos para entender o conceito de bullying a partir da percepção dos participantes, utilizando metodologias qualitativas, como questionários e/ou entrevistas semiestruturadas (Oliveira et al., 2018; Santos & Kienen, 2014). Resultados desses estudos demonstram que os participantes possuem uma visão restrita sobre o conceito de bullying (Santos & Kienen, 2014) ou o explicam sob uma perspectiva individual, de acordo com suas próprias vivências (Oliveira et al., 2018).

Cartoon Test

O Cartoon Test é um instrumento utilizado para analisar a percepção de crianças e adolescentes acerca do significado de bullying, em suas variadas formas de apresentação (tipo de agressão, desequilíbrio de poder, intenção do autor e aspectos relacionados à vítima). Além disso, o instrumento possibilita examinar o significado de palavras similares que podem ser usadas na tradução do termo bullying em diferentes línguas (Smith, 2014; Smith et al., 2018). Embora existam estudos com outras faixas etárias e públicos diferenciados, o Cartoon Test foi elaborado para crianças e adolescentes em fase escolar com idades entre oito e 14 anos, faixa etária compatível com os maiores índices de experiência em situações de bullying.

O Cartoon Test é constituído por um conjunto de imagens e legendas cujos personagens encontram-se em situações de interação entre pares que podem ou não ser identificadas como bullying. Os personagens presentes no cenário são elaborados de forma simples, em formato de figuras palitos, com o intuito de evitar vieses culturais, como vestimenta, aparência física, entre outros. Além disso, nas legendas, não é mencionado o termo bullying (Smith et al., 2002; Smith et al., 2018). O instrumento tem a flexibilidade de ser apresentado aos participantes de forma coletiva (projeção dos cartoons em data-show) ou de forma individual (apresentação do instrumento em folhas impressas). Destaca-se ainda seu formato pictórico, que pode contribuir para minimizar diferenças nas capacidades verbais das crianças (Pinto et al., 2015).

Entre 1997 e 2002, o primeiro estudo com o Cartoon Test, composto por 25 cartoons, foi conduzido em 14 países (11 europeus e três orientais). Participaram do estudo 1.245 estudantes, sendo 604 crianças de oito anos e 641 adolescentes de 14 anos, e foram identificados cinco agrupamentos/categorias de cartoons: não agressivos (4), agressão física (2), bullying físico (5), bullying verbal (9) e exclusão social (5) (Smith et al., 2002).

Na segunda versão do Cartoon Test (2004-2005), foram adicionados 15 novos cartoons, dos quais sete eram sobre exclusão social, quatro sobre abuso de posição de idade/série, dois sobre novos tipos de bullying, como cyberbullying, um ambíguo e um neutro. Esse conjunto de 40 cartoons foi aplicado a 1.850 crianças de oito e 14 anos em nove países: Inglaterra (n=82), Canadá (n = 86), Japão (n = 135), Coréia do Sul (n =1.100), Islândia (n=90), China Continental (n=91), Hong Kong (n=142), Paquistão (n=120) e Turquia (n=124) (Smith et al., 2016).

Já em 2015, em uma cooperação acadêmica entre Europa e Índia, uma nova revisão dos cartoons foi realizada visando contemplar algumas situações da adequação cultural, relacionadas à natureza da merenda escolar e ao valor agregado aos livros e à obtenção de boas notas, próprios da cultura indiana. Além disso, foram atualizados os cenários de cyberbullying com exemplos de redes sociais. Esse estudo contou com uma amostra de 1.664 crianças (com idade média de 14 anos) de oito países: Austrália (n=50), Brasil (n=95), Inglaterra (n=77), Índia - Punjab (n=125), Índia - Tamil Nadu (n=150), Lituânia (n=160), Rússia (n=187) e Tailândia (n = 880). Foram encontrados oito agrupamentos: luta física (1), bullying físico (2, 3, 4, 5, 6), dano a pertences (8, 9, 10, 13, 14), agressões verbais (16, 17, 18, 19, 20, 22, 23), rumores (25, 26), cyberbullying (11, 24, 27, 40), exclusão (29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39) e não agressivo (7, 12, 15, 21, 28) (Smith et al., 2018).

Para realizar adaptação transcultural do Cartoon Test, quatro etapas fazem parte do protocolo de adaptação do instrumento: tradução das legendas dos cartoons, condução de grupos focais, seleção de cinco a 10 termos para bullying e cognatos e condução do cartoon utilizando tais termos (Smith et al., 2002). Num primeiro momento, pesquisadores realizam a tradução e retrotradução das legendas com revisão realizada por pesquisadores bilíngues e nativos da língua inglesa, tendo o cuidado de adaptar os nomes dos personagens dos cartoons, adequando-os ao seu contexto cultural (e. g. substituindo Peter por Pedro), além de evitar a repetição de nomes.

Em seguida, grupos focais são conduzidos com crianças de oito anos e adolescentes de 14 anos, a fim de analisar se os participantes entendem as imagens e legendas dos cartoons, avaliar a adequação do conteúdo para a faixa etária (em especial os de oito anos) e explorar quais os termos utilizados para descrever os comportamentos agressivos apresentados nos cartoons. Na terceira etapa, de cinco a 10 termos relacionados a bullying e seus cognatos são selecionados a partir de dicionários, de pesquisas na área e dos grupos focais (Smith et al., 2002).

Tendo o instrumento já adaptado em termos de linguagem e adequação do conteúdo para os estudantes de determinada cultura, a administração em larga escala (no mínimo 20 estudantes por gênero, em cada região) pode ser realizada. Nesta etapa final, os participantes são questionados se cada termo pré-definido nas etapas anteriores representam cada um dos 40 cartoons (imagem e legenda), assinalando com um X para Sim ou Não, em uma folha individual de resposta (Smith et al., 2002; Smith et al., 2018).

Este estudo descreve o processo da segunda etapa da adaptação do Cartoon Test no contexto brasileiro, constituído pelos grupos focais, conforme os procedimentos indicados por Smith et al. (2002). Os objetivos foram: verificar se os participantes compreendem as imagens e legendas dos cartoons e identificar que palavras os participantes utilizam para descrever os comportamentos apresentados no instrumento. A hipótese do estudo é de que crianças e adolescentes brasileiros reconhecem o termo bullying para definir comportamentos agressivos no ambiente escolar.

 

Método

Delineamento

Trata-se de um estudo qualitativo exploratório, constituído por grupos focais, com amostra selecionada por conveniência. A técnica de grupo focal atende invariavelmente ao objetivo de apreender percepções, opiniões e sentimentos frente a um tema determinado num ambiente de interação (Bomfim, 2009). Tendo em vista que a maioria dos pesquisadores recomenda a homogeneidade nos grupos focais a fim de potencializar as reflexões acerca de experiências comuns, foi proposta a organização de grupos de acordo com sexo e idade.

Participantes

Participaram deste estudo 52 estudantes (N=52), provenientes de três escolas públicas, de duas cidades do Sul do Brasil (região metropolitana de Porto Alegre e Santa Maria, no RS), selecionados por conveniência. Foram organizados quatro grupos em cada cidade, de acordo com a idade (8 e 14 anos) e sexo, conforme os procedimentos indicados por Smith et al. (2002). O grupo de oito anos foi composto por 28 crianças (15 meninas e 13 meninos) e o grupo de 14 anos contou com a participação de 24 adolescentes (12 meninas e 12 meninos).

Instrumentos

Questionário sociodemográfico. Para coletar dados tais como sexo, etnia, idade e escolaridade.

Folha de registro do pesquisador. Para anotações qualitativas realizadas ao longo da administração do instrumento, referentes a palavras, expressões e frases mencionadas pelos participantes relativas aos comportamentos apresentados nos cartoons ou outras observações importantes sobre os grupos.

Cartoon Test (versão projetada). Elaborados em 40 slides, os cartoons são apresentados um por vez, até que os participantes possam visualizar e responder às perguntas (versão 2018, traduzida para o português; Smith et al., 2018).

Procedimentos e considerações éticas

Este estudo integra o programa de Parcerias Universitárias (Programa Geral de Cooperação Internacional/CAPES) por meio do projeto Pesquisa, intervenção e ensino sobre bullying relacionado a populações vulneráveis, realizado em parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Goldsmiths College (University of London/UK) e outras universidades brasileiras. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS (Processo 94802318.4.0000.5334).

Para esta etapa, pesquisadores contataram secretarias de educação e diretores de escolas localizadas em duas cidades do Sul do Brasil. Diretores das escolas indicaram professores tutores para selecionarem as crianças com oito anos de idade e orientadores escolares para a seleção dos adolescentes com 14 anos de idade. Os critérios de seleção foram: idade específica (8 ou 14 completos), ser alfabetizado, não ter dificuldade de aprendizagem, não apresentar deficiência intelectual e sensorial e ter facilidade de comunicação em grupo. Os pesquisadores convidaram os estudantes pré-selecionados pelos professores e orientadores para participarem do estudo (apresentaram os objetivos e as questões éticas). Entregaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), para ser assinado pelos pais ou responsáveis, e o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE), assinado pelos próprios participantes.

Em cada grupo focal, estiveram presentes três pesquisadores. Inicialmente, um dos pesquisadores apresentou os objetivos da pesquisa e as questões éticas. Após, foi entregue o Questionário sociodemográfico, e os participantes foram auxiliados em caso de dúvidas. Na etapa seguinte, um dos pesquisadores apresentou cada um dos 40 cartoons, projetados em tela, lendo as legendas e perguntando: Vocês entenderam a imagem? E a legenda?. Em caso de alguma dúvida, a legenda era lida novamente.

Ao final, o pesquisador disse: "Vocês devem ter observado que muitas figuras/desenhos mostram coisas desagradáveis acontecendo. Que palavras vocês usariam para descrever esses tipos de comportamentos?" Assim, os participantes foram estimulados a debater e/ou comentar sobre as situações entre pares apresentadas nos cartoons e dizer palavras ou termos que poderiam descrever os comportamentos e situações agressivas ou antissociais (Smith et al., 2002).

Durante a condução dos grupos, os outros dois pesquisadores anotavam informações importantes na Folha de registro e interagiam com os participantes. Os grupos focais, com duração média de 30 minutos, foram gravados em áudio e vídeo para posterior análise.

Análise dos dados

Os dados coletados durante os grupos focais foram analisados qualitativa e quantitativamente, a partir da identificação das palavras utilizadas pelos participantes, nos grupos divididos por sexo e idade, para descreverem os cartoons. Palavras ou expressões com mesmo significado ou léxico foram agrupadas (por exemplo, maldade e maus-tratos), de acordo com a análise de conteúdo (Bardin, 2009), e foi observada a frequência em cada grupo. Também foram verificadas as dificuldades encontradas pelos participantes na compreensão geral dos cartoons e se as frases, traduzidas do inglês para o português, estavam adequadas aos desenhos.

 

Resultados

Inicialmente foi realizado o levantamento de todas as palavras, expressões e frases utilizadas pelos participantes (total=92), incluindo as repetidas. Os termos utilizados são apresentados na Tabela 1, por idade e sexo. Os resultados serão apresentados a partir das percepções das crianças e dos adolescentes, bem como aspectos relacionados à compreensão dos cartoons.

Percepções das crianças

Neste eixo, analisando-se de forma geral, foram mencionadas 48 palavras/expressões/frases, sendo 24 nos grupos das meninas e 24 nos grupos dos meninos. Quanto à frequência, a palavra maldade e termos sinônimos (n=7) foram os mais citados, seguido da palavra bullying (n=5). Nos demais casos, todas as palavras e expressões foram mencionadas uma única vez. Muitas vezes, as crianças utilizaram frases para descrever os comportamentos ou apenas repetiam o que estava escrito nas legendas dos cartoons.

Além de palavras, expressões e frases que descrevem os comportamentos agressivos, como bullying ou agressão física e verbal, as crianças citaram outras palavras que remetiam a sentimentos e emoções de vítimas e agressores. No caso das vítimas, citaram termos, como chateado, triste, mágoa, solitário, sem amigos; no caso dos agressores, os termos usados foram: não são bonzinhos, irritado, zangado ou com má educação.

Percepções dos adolescentes

Neste eixo, foram citadas 44 palavras e expressões, sendo 22 no grupo das meninas e 22 no grupo dos meninos. Em comum, nove palavras/expressões iguais ou de mesmo sentido foram citadas por ambos os sexos. Quanto à frequência, a palavra bullying foi mencionada em todos os grupos (n=7), com mais frequência entre as meninas, seguida das palavras/expressões preconceito (n=4), agressão física e verbal (n=2), cyberbullying (n=2), desigualdade/desigualdade de poder (n=2), injustiça (n=2), ofensa (n=2), racismo (n=2).

Nesses grupos focais, houve mais facilidade em descrever comportamentos agressivos utilizando apenas uma palavra ou expressão do que nos grupos das crianças. Apenas em uma situação um participante mencionou uma palavra (gordofobia) que não remete a nenhum dos cartoons.

Compreensão dos cartoons

De forma geral, quando perguntados se haviam entendido a frase e o desenho, os participantes responderam positivamente a todos os cartoons apresentados. Nas legendas, nenhuma mudança ou adequação aos desenhos foi sugerida pelos grupos. Contudo, na etapa final de nomeação dos cartoons, os participantes retomaram espontaneamente o relato de estranhamento e questionamento em relação ao desenho do cartoon 18 (Júlia diz coisas desagradáveis para Laura sobre a cor da sua pele), que apresenta uma das personagens com a face preta (Figura 1). No grupo das meninas, uma participante mencionou: "Por isso que o outro bonequinho ali é escuro", quando apresentado o cartoon. No grupo dos meninos, dois participantes demonstraram dúvidas quanto à imagem:

"Eu não entendi" (Participante 1).

"Eu não entendi" (Participante 2).

[Pesquisadora repete a frase e pergunta: O que você acha que está estranho?]

"É a cabeça dali oh" [apontando para o personagem de pele preta] (Participante 2).

Entre os adolescentes, uma participante questionou porque havia essa diferenciação de cor no mesmo cartoon 18, comparando-o com os demais:

"Aí nessa imagem aí diz sobre a cor da pele, e daí na próxima diz sobre ser pobre e gay também. E na de ser pobre e gay eles estão, eles estão tipo normal, e não dá pra ver no boneco que ele é gay ou é pobre, mas no da cor dá. Eu só tava me questionando... Porque indiferente de ele ser pobre, gay ou da mesma cor, eles são iguais. Eu não sei se seria melhor tirar a cor preta. Porque tem pobre e não tem nenhuma referência, e a do negro tem referência".

 

Discussão

Este estudo, referente à segunda etapa da adaptação do Cartoon Test no contexto brasileiro, constituído pelos grupos focais, teve como objetivos verificar se os participantes compreendem as imagens e legendas dos cartoons e identificar que palavras os participantes utilizam para descrever os comportamentos apresentados no instrumento. Os resultados foram analisados a partir de três eixos: Percepção das crianças, Percepção dos adolescentes e Compreensão dos cartoons.

Em relação ao primeiro eixo, foi observado que crianças de oito anos nomearam os comportamentos agressivos utilizando palavras e expressões, como bullying, briga, agressão física e verbal, ofensa, mas também frases completas que transmitiam suas opiniões em relação às situações (Não pode concordar com coisas ruins; Não deixar as pessoas por fora). As crianças citaram mais palavras, expressões e frases do que os adolescentes, mas, entre os grupos de meninos e meninas, apenas quatro termos foram mencionados por ambos os sexos: bullying, maldade (e cognatas), tristeza/triste e agressão física. É importante que os pesquisadores considerem o entendimento das crianças quanto à atividade proposta, tendo em vista as características dessa faixa etária. Shiakou (2019) destaca que os critérios principais considerados fundamentais para a construção e a definição operacional de bullying utilizada no meio científico (intencionalidade, repetição e desigualdade de poder) raramente são incluídos no entendimento das crianças sobre o constructo. No caso deste estudo, ainda que as crianças não tenham citado tais critérios ou que tenham, em muitas situações, utilizado frases completas, pode-se observar que conseguiram nomear as situações entre pares apresentadas de acordo com suas próprias percepções e experiências pessoais. Ressalta-se que o objetivo do Cartoon Test é conhecer as diferentes percepções do fenômeno bullying em diferentes países, considerando o contexto cultural e as vivências dos participantes.

As crianças também mencionaram palavras, expressões ou frases que remetiam a sentimentos e emoções de vítimas e agressores. A capacidade de nomear emoções básicas (e. g. triste, zangado) está bem consolidada no final dos anos pré-escolares. Nos anos seguintes, amplia-se a habilidade de nomear emoções secundárias ou sociais (e. g. humilhado), devido à consciência das regras sociais a serem seguidas e à capacidade de avaliação da criança a respeito do próprio comportamento e o dos outros em relação a padrões culturais estabelecidos (Widen & Russel, 2008). Nesse sentido, os participantes demonstraram compreender as atitudes dos autores de bullying como algo negativo e perceberam os sentimentos envolvidos nessa dinâmica, tanto em relação às vítimas quanto aos agressores.

Portanto, demonstraram sentir empatia, que é a capacidade de discernir ou experimentar indiretamente o estado emocional de outro ser humano, sendo uma resposta afetiva que decorre da percepção ou compreensão do estado ou condição emocional do outro. Em situações de empatia, estão presentes emoções, como simpatia e compaixão, envolvendo uma resposta emocional orientada para o outro (Stocks & Lishner, 2009). O estudo de Liao et al. (2014) demonstrou que a capacidade das crianças de identificar sentimentos negativos em histórias contendo agressividade explícita contribuiu para melhor capacidade de empatia em reconhecer as emoções dos outros.

Entre os adolescentes de 14 anos, houve facilidade em responder de forma clara e objetiva à instrução do instrumento, quando perguntados: Que palavras vocês usariam para descrever esses tipos de comportamentos?. Foram utilizadas palavras que demonstraram a capacidade para compreender e distinguir os comportamentos apresentados nos cartoons, como já constatado em estudo anterior com Cartoon Test (Smith et al., 2002). Os adolescentes falaram sobre as formas de agressão, das quais a mais citada foi bullying. A percepção em relação a comportamentos agressivos entre pares pode variar dependendo do contexto cultural (Menesini & Salmivalli, 2017). Em pesquisa anteriormente conduzida no Brasil, utilizando o mesmo método deste estudo, as palavras mais citadas por adolescentes foram bullying, assédio e provocação (Smith et al., 2018). Com exceção de bullying, as demais palavras não foram mencionadas pelos participantes deste estudo. Ressalta-se que se tratam de cidades e escolas diferentes, com suas especificidades em relação aos aspectos culturais, o que pode interferir na forma de percepção e na linguagem utilizada.

Os adolescentes mencionaram os dois critérios que diferenciam o bullying de outras formas de violência: desigualdade de poder / superioridade e "pegar no pé" (descrito na linguagem científica como repetição), representados em diferentes cartoons. Muitas vezes, participantes de pesquisas definem o que é bullying de acordo com suas próprias vivências sem, necessariamente, considerar critérios estabelecidos pela comunidade científica (Byrne et al., 2016; Vaillancourt et al., 2008). No Cartoon Test, são apresentadas situações entre pares com esses critérios justamente com o intuito de analisar e comparar as percepções em diferentes contextos culturais. Assim, no contexto em que foi realizada esta pesquisa, pode-se constatar que os adolescentes identificaram as características desigualdade de poder e repetição nas dinâmicas de bullying. No entanto, os adolescentes não utilizaram palavras para descrever emoções ou sentimentos dos personagens, como foi observado entre as crianças, limitando-se a descrever os comportamentos, conforme a instrução do instrumento. Essa questão poderia ser mais investigada em estudos futuros, para se observar como a empatia e a identificação dos sentimentos em situação de bullying se manifestam nessa faixa etária.

Quanto à frequência, a palavra bullying foi a mais citada no somatório de todos os grupos de crianças e adolescentes. A definição de bullying é complexa e são muitos os termos usados para descrever esse tipo específico de violência em cada idioma, pois englobam os critérios de intencionalidade, repetição e desequilíbrio de poder entre agressor e vítima, que a diferenciam de outras formas de violência (Smith et al., 1999; Smorti, Menesini, & Smith, 2003). No Brasil, o termo bullying vem sendo utilizado no meio científico, em pesquisas com crianças e adolescentes escolares (Malta et al., 2019) e no âmbito das legislações federais (e. g. as Lei 13.185/15 e Lei 13.663/18, que tratam de medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying). Neste estudo, ainda que muitas outras palavras, expressões ou frases tenham sido citadas, os participantes utilizaram o termo bullying com mais frequência para descrever comportamentos agressivos entre pares. Ressalta-se, entretanto, que, muitas vezes, a compreensão de crianças e adolescentes sobre o que é bullying pode não ser a mesma descrita na literatura. Pesquisadores reconhecem essas diferentes percepções e, por isso, em suas pesquisas com foco em bullying, mencionam ressalvas quanto aos resultados apresentados (Craig et al., 2009; Malta et al., 2019).

Outro objetivo dos grupos focais foi analisar o entendimento dos participantes em relação às imagens e legendas. De forma geral, crianças e adolescentes demonstraram facilidade de compreensão e não sugeriram alterações. Porém, em três grupos focais, houve reflexão acerca do cartoon 18 (Julia diz coisas desagradáveis para Laura sobre a cor da sua pele), que apresenta uma personagem negra. As crianças mencionaram que havia "algo estranho" com a cabeça da personagem (por ser um personagem negro). No grupo das crianças, a menção sobre a cor da pele dos bonecos surgiu por participantes autodeclarados negros (uma menina e um menino). Já a adolescente refletiu sobre porque nos demais cartoons (discriminação por orientação sexual e classe social, por exemplo) não há essa distinção.

O racismo é historicamente um problema social, e no cenário brasileiro é um tema que vem sendo discutido amplamente no contexto escolar (especialmente devido ao Estatuto de Igualdade Racial - Lei 12.288/10), acadêmico e no âmbito das políticas públicas. Além disso, há evidências de que crianças a partir dos oito anos já demonstram respostas antirracistas, pois estão mais atentas às normas sociais (França & Monteiro, 2004). Essas questões podem estar diretamente relacionadas às atitudes dos participantes em perceber e mencionar a diferença do boneco negro, já que, com exceção do tamanho e do sexo (menino e menina), não há outras características que diferenciam uns dos outros. Portanto, a partir destes resultados, percebe-se a importância da conscientização para a prevenção do racismo no ambiente escolar, espaço social imprescindível para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Uma adolescente também comparou a situação de discriminação desse cartoon com outros dois sobre classe social (cartoon 19) e orientação sexual (cartoon 20), apontando que nesses desenhos não havia características específicas. Mas é importante ressaltar que, nesses casos, os bonecos não foram apresentados com características diferentes, apenas a legenda indicava essa diferença, pois a ideia é de que os personagens utilizados no instrumento sejam neutros para evitar vieses culturais. Dessa forma, pode-se questionar se o cartoon 18, que tem por objetivo investigar situações que envolvem a questão racial no bullying, também poderia apresentar os bonecos neutros e indicar a diferença apenas na legenda, como nos demais.

Em relação à administração do Cartoon Test com as crianças, percebeu-se que o processo se tornou exaustivo, tendo em vista a quantidade de cartoons apresentados em sequência (40 slides). Assim, para estudos futuros no Brasil, sugere-se que cartoons com situações semelhantes sejam suprimidos, com a proposição de uma versão reduzida, ou que seja utilizada uma versão em estilo de desenho animado, o que poderia tornar o processo mais dinâmico e menos cansativo para participantes dessa faixa etária.

Os objetivos desta etapa da pesquisa com o Cartoon Test foram atingidos, e o instrumento mostrou-se de fácil compreensão por todos os participantes, tendo em vista seu caráter lúdico. Entretanto, podem-se destacar limitações, como a composição de uma amostra pequena proveniente de apenas uma região do Brasil e de escolas públicas. Para estudos futuros, tendo em vista a diversidade sociocultural do Brasil, sugere-se o uso de amostras de outras regiões do país e diferentes tipos de escolas públicas e privadas. Embora a amostra seja composta apenas de alunos de escolas públicas, pode-se inferir que, se esses participantes utilizam a palavra bullying em seu vocabulário, os estudantes de escolas privadas também teriam capacidade verbal para essa compreensão. Conclui-se que o Cartoon Test foi compreendido pelos participantes e que a hipótese inicial do estudo foi confirmada, pois o termo bullying foi o mais utilizado para descrever situações agressivas no ambiente escolar, demonstrando a compreensão e uso dessa palavra por crianças e adolescentes do Sul do Brasil. Dessa forma, a etapa seguinte da pesquisa, que consiste em administrar o Cartoon Test no Brasil, está sendo conduzida em diferentes regiões do país, mantendo o termo bullying.

 

Agradecimentos

Agradecemos às professoras Regiane Menezes e Renata Corcini por sua contribuição na coleta de dados.

Financiamento

Estudo financiado pelo Programa Geral de Cooperação Internacional (PGCI/CAPES), por meio do projeto de pesquisa intitulado "Pesquisa, intervenção e ensino sobre bullying relacionado às populações vulneráveis" (Processo 8888123125/2016-01).

Declaração de participação da elaboração do manuscrito

Declaramos que todos os autores participaram da elaboração do manuscrito. Especificamente, o(s) autor(es) Grazielli Fernandes, Carlo Schmidt, e Katia Carvalho Amaral Faro participaram da coleta de dados. Nas demais etapas, desde a redação inicial do estudo, análise dos dados e redação final do trabalho - revisão e edição, houve a participação de todos autores.

Disponibilidade dos dados e materiais

Todos os dados e sintaxes gerados e analisados durante esta pesquisa serão tratados com total sigilo devido às exigências do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos. Porém, o conjunto de dados e sintaxes que apoiam as conclusões deste artigo estão disponíveis mediante razoável solicitação ao autor principal do estudo.

Conflito de interesses

Os autores declaram que não há conflitos de interesses.

 

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Endereço para correspondência:
Cleonice Alves Bosa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rua Ramiro Barcelos, 2600, Santana
90035-003, Porto Alegre, RS
E-mail:graziellifernandes@gmail.com

Recebido em junho de 2020
Aprovado em maio de 2022

 

 

Sobre os autores
Grazielli Fernandes é professora e doutora em Educação pela Universidade La Salle (bolsa Capes/Prosuc).
Carlo Schmidt é professor associado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Cleonice Alves Bosa é psicóloga e professora titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Katia Carvalho Amaral Faro é psicóloga e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Débora Dalbosco Dell'Aglio é psicóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade La Salle (Unilasalle).

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