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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.22 no.1 Campinas jan./mar. 2023  Epub 03-Maio-2024

http://dx.doi.org/10.15689/ap.2023.2201.22943.09 

Artigo

Construção e Testagem das Propriedades Psicométricas da Escala Multidimensional de Empatia para Adultos

Construction of the Multidimensional Empathy Scale for Adults and evaluation of its psychometric properties

Construcción y prueba de las propiedades psicométricas de la Escala Multidimensional de Empatía en Adultos

0000-0003-2383-4094Leonardo Rodrigues Sampaio1  1  , elaboração do manuscrito

é Doutor em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), professor Associado na Unidade Acadêmica de Educação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e coordenador do Laboratório de Desenvolvimento-Aprendizagem e Processos Psicossociais (LDAPP).

; 0000-0002-5756-7214Cleonice Pereira dos Santos Camino1  , elaboração do manuscrito

é Doutora em Psicologia pela Universidade de Louvain, Bélgica, professora no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Coordenadora do Núcleo de Pesquisas Sobre Desenvolvimento Socio-Moral (NPDSM).

1Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, Campina Grande-PB, Brasil

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi construir a Escala Multidimensional de Empatia para Adultos (EMEA) e avaliar indicadores de validade e confiabilidade desse instrumento. Baseando-se na teoria de Martin Hoffman e em estudos empíricos anteriores, foram elaborados 67 itens para avaliar cinco dimensões da empatia. Após testagem da validade semântica e de conteúdo, uma versão com 31 itens foi administrada a 541 adultos, juntamente com o Interpersonal Reactivity Index, de Davis (1983). Uma análise fatorial exploratória indicou uma solução com três fatores, que agruparam 30 itens da EMEA e que juntos explicavam cerca de 52% da variância. Foram identificados indicadores de confiabilidade e de validade da EMEA, além de diferenças relacionadas ao sexo nos escores de empatia. Os resultados indicam que a EMEA é adequada para mensurar a empatia em adultos, avançando em relação a outros instrumentos disponíveis no Brasil, por abarcar diferentes tipos de sentimentos, além daqueles tradicionalmente avaliados nas pesquisas.

Palavras-Chave: empatia; escala; adultos; multidimensionalidade; indicadores de validade

ABSTRACT

The aim of this work was to construct the Multidimensional Empathy Scale for Adults (MESA) and to evaluate indicators of validity and reliability for this instrument. Based on Martin Hoffman’s theory and previous research, 67 items were elaborated to evaluate five dimensions of empathy. After testing the semantic and content validity, a version of the MESA with 31 items and the Interpersonal Reactivity Index by Davis (1983) were administered to 541 adults. Exploratory Factor Analysis indicated a solution of three factors, which grouped 30 items of the MESA, and explained around 52% of the total observed variance. Indicators of reliability and of convergent validity for the MESA were found. Gender differences in empathy scores were identified. Results indicate that the MESA is appropriate for measuring empathy in adults, advancing in relation to other instruments available in Brazil as this scale encompasses different types of empathic feelings, in addition to those traditionally evaluated in the field.

Key words: empathy; scale; adults; multidimensionality; validity indicators

RESUMEN

El objetivo de este trabajo fue construir la Escala Multidimensional de Empatía en Adultos (EMEA) y evaluar los indicadores de validez y confiabilidad de este instrumento. A partir de la teoría de Martin Hoffman y los resultados de estudios empíricos previos, se elaboraron 67 ítems para evaluar cinco dimensiones de la empatía. Después de probar la validez semántica y de contenido, una versión de EMEA con 31 ítems y el Interpersonal Reactivity Index de Davis (1983) fueron administrados a 541 adultos. Un análisis factorial exploratorio sugirió una solución con tres factores, agrupando 30 ítems, los cuales juntos explican aproximadamente 52% de la varianza. Se identificaron indicadores de confiabilidad y validez convergente de EMEA, así como diferencias de género en la empatía. Los resultados reflejan que la EMEA es adecuada para medir la empatía en adultos, lo que se encuentra en concordancia con otros instrumentos disponibles en Brasil para medir diferentes tipos de sentimientos de empatía, además de los tradicionalmente abordados en la investigación.

Palabras-clave: empatía; escala; adultos; multidimensionalidad; indicadores de validez

O termo “empatia” tem sido utilizado para descrever uma série de fenômenos distintos, tais como o contágio emocional, a imitação, o conhecimento sobre os estados internos de outras pessoas e a compaixão pelo sofrimento alheio, sendo que os diversos modelos teóricos que tentam conceitualizar e explicar esse construto abrangem desde perspectivas evolucionistas (Preston & de Waal, 2002) até o contexto clínico (Neumann et al., 2009) (para uma revisão ampla sobre a diversidade teórico conceitual no campo da empatia, recomenda-se a leitura dos trabalhos de Batson, 2009 e de Cuff et al., 2016). Dentre os diversos modelos explicativos presentes na literatura, destacam-se aqueles que focam suas discussões e investigações na chamada empatia situacional (ou estado), que corresponderia a um tipo de resposta afetiva produzida no momento presente, diretamente relacionada ao contexto e aos estímulos eliciadores da empatia com os quais um observador neutro está em contato. Em contrapartida, outros teóricos buscam conceituar e discutir o desenvolvimento e elementos constituintes da chamada empatia traço (ou disposicional), referente a um traço de personalidade ou habilidade geral mais duradoura e estável ao longo do tempo (Duan & Hill, 1996; Eisenberg & Miller, 1987).

Autores que partem especificamente de uma perspectiva desenvolvimentista e multidimensional concordam que a empatia está associada a uma capacidade disposicional de tomada de perspectiva e de responsividade afetiva, que permite a um observador neutro ter conhecimento sobre os estados internos e sentir afetos congruentes aos de um outro indivíduo, mesmo que ela não esteja diretamente envolvida na situação vivida por aquela pessoa (Eisenberg et al., 2006; Hoffman, 2000). Dentre estes, o modelo teórico de Hoffman (1991; 2000) identifica que a empatia foi uma capacidade extremamente importante para sobrevivência da espécie humana, por fortalecer os laços sociais e estimular a cooperação entre indivíduos. Esse autor propõe a existência de dois tipos de sentimentos básicos que poderiam ser despertados quando uma pessoa observa outrem em sofrimento, perigo, angústia ou injustiça: a angústia empática (empathic distress) e a angústia simpática (simpathetic distress). O primeiro corresponde ao sofrimento/incômodo produzido no self quando se observa o outro em condições adversas, sendo voltado para si mesmo e presente desde os primeiros anos de vida. A angústia simpática faria com que crianças pequenas experienciassem o sofrimento de outras pessoas como se fosse o seu próprio, por meio de uma espécie de contágio emocional. A partir de um processo de diferenciação do self, parte desse sentimento seria transferido para as imagens mentais de outras pessoas e se constituiria em uma nova modalidade, marcada por uma clara motivação para ajudar os outros (angústia simpática).

À medida em que a capacidade de tomada de perspectiva evolui, outros sentimentos empáticos poderiam ser constituídos, a depender das pistas situacionais disponíveis quando a empatia é despertada e do nível de desenvolvimento cognitivo do observador, possibilitando a um observador neutro sentir, por exemplo, tristeza, raiva, alegria, injustiça e culpa por outras pessoas com as quais ela empatiza. Assim, no modelo teórico de Hoffman (2000), a empatia assume um papel fundamental no desenvolvimento sociomoral e nos comportamentos associados às virtudes da justiça e do cuidado.

A literatura confirma as associações entre moralidade e empatia, demonstrando que pessoas mais empáticas tendem a se engajar mais com comportamentos pró-sociais e altruístas (Farrelly & Bennett, 2018), a ter uma melhor capacidade de resolução de conflitos (Klimecki, 2019) e a ter menos propensão a condutas antissociais (Jolliffe & Farrington, 2004; Mayer et al., 2018). Por essa razão, ao longo dos anos, a empatia passou a ter relevância na pesquisa e na intervenção em outras áreas de conhecimento para além da Psicologia, como Saúde, Educação e Direito, tendo em vista sua importância na explicação dos relacionamentos interpessoais (Han & Pappas, 2017; Warren, 2018; Westaby & Jone, 2018), o que reforçou a necessidade de desenvolver modelos teóricos e medidas de avaliação da empatia que conseguissem abarcar as diversas manifestações e implicações desse fenômeno para a vida em sociedade (De Corte et al., 2007).

As evidências produzidas na literatura apontam para um consenso cada vez maior entre os pesquisadores pela adoção de uma abordagem multidimensional, na qual a empatia é explicada a partir de seus componentes cognitivos e afetivos, que possibilitariam a tomada de perspectiva e a reverberação afetiva no self (Lima & Osório, 2021). Em contrapartida, não há concordância entre os autores sobre a existência de respostas comportamentais intrínsecas às experiências empáticas (Batson, 2009; Cuff et al., 2016).

Dentre os diversos instrumentos de mensuração da empatia, as escalas psicométricas ganham destaque, dentre outras razões, pela facilidade na sua administração, confiabilidade nas avaliações produzidas e adequação dos instrumentos às experiências subjetivas dos participantes (Ilgunaite et al., 2017). No Brasil, foram desenvolvidas diversas escalas para mensuração da empatia em adultos, tais como: o Inventário de Empatia - IE (Falcone et. al., 2008), a Escala de Empatia Focada em Grupos (Galvão et al., 2010), o Questionário de Empatia no Contexto Esportivo (Viana-Meireles et al., 2018) e a Escala de Empatia Frente a Pessoas com Loucura (Santos et al., 2019). Além destas, estão também disponíveis as versões adaptadas ao contexto brasileiro do Interpersonal Reactivity Index (Davis, 1983), a versão curta da Escala de Medição do Quociente de Empatia – EMQE (Wakabayashi et al., 2006), a Escala Jefferson de Empatia Médica (Hojat et al., 2001) e a Escala Consultation and Relational Empathy Measure (CARE) (Mercer et al., 2004).

Apesar de se reconhecer a importância de trabalhos anteriores na produção de indicadores de validade daqueles instrumentos (Galvão et al., 2010; Mercer et al., 2004; Viana-Meireles et al., 2018), é preciso ressaltar algumas implicações teórico-metodológicas para investigação da empatia no contexto brasileiro decorrentes do seu uso. Em primeiro lugar, uma parte desses instrumentos mensura a empatia apenas relacionada a eventos, contextos ou pessoas específicas (ex.: relação médico-paciente, contexto esportivo, empatia por pessoas de determinados grupos sociais etc.), sendo estas, portanto, medidas da empatia situacional que não abordam componentes constitucionais mais estáveis desse construto, ou seja, não avaliam a chamada empatia traço ou disposicional (Cuff et al., 2016).

Dentre as escalas que objetivam mensurar a empatia disposicional, estão o Inventário de Empatia - IE (Falcone et. al., 2008), a Escala de Medição do Quociente de Empatia – EMQE (Wakabayashi et al., 2006) e o IRI (Davis, 1983), que também possuem algumas limitações, tais como: abordar componentes atitudinais e comportamentais da empatia atrelados a habilidades sociais específicas (IE), reduzir a empatia à capacidade de tomada de perspectiva (EMQE) e mensurar apenas dois tipos de sentimentos (angústia pessoal e consideração empática, no caso do IRI). Adicione-se a isso a crítica de que uma das dimensões do IRI (angústia pessoal) supostamente avaliaria uma resposta afetiva associada ao traço de personalidade do Neuroticismo e a sentimentos negativos, mais do que a respostas empáticas propriamente ditas (De Corte et al., 2007).

Dessa forma, ainda há carência de instrumentos que possibilitem avançar em relação às limitações supramencionadas e que permitam avaliar diferentes modalidades de respostas afetivas da empatia, tal como foi teorizado por Hoffman (1991; 2000). Face ao exposto, o objetivo principal deste trabalho foi construir a Escala Multidimensional de Empatia para Adultos (EMEA) e testar indicadores de validade e confiabilidade desse instrumento. Além disso, buscou-se verificar possíveis efeitos do sexo nos indicadores de empatia, conforme avaliado por esse instrumento.

Método

A construção e testagem das propriedades psicométricas da EMEA foi realizada ao longo de quatro etapas. Todos os procedimentos envolvidos nesta pesquisa foram previamente analisados e aprovados por um comitê de ética, antes de sua realização (CAAE: 80402617.2.0000.5196).

Etapa 1: Construção dos Itens

Para formulação dos itens que iriam compor a EMEA um professor e quatro estudantes de graduação em Psicologia, todos com conhecimento sobre avaliação psicológica e experiência de pelo menos dois anos em pesquisa psicológica, embasaram-se na teoria de Martin L. Hoffman (1991; 2000), tendo em vista sua perspectiva desenvolvimentista e multidimensional, na qual a empatia é constituída tanto por componentes afetivos quanto cognitivos. Inicialmente, foram revisados trabalhos de Hoffman, nos quais esse autor propõe a existência de diferentes sentimentos empáticos, sua natureza e exemplos de situações sociais nas quais eles se manifestariam para escolha daqueles que serviriam como base para elaboração dos itens da EMEA.

Na sequência, foi feito um levantamento sobre escalas psicológicas para avaliação da empatia, optando por focar na análise da estrutura dimensional do Interpersonal Reactivity Index (IRI) de Davis (1983), um dos instrumentos mais utilizados para avaliar a empatia na atualidade (Ilgunaite et al., 2017) e que se coaduna com a proposta teórica de Hoffman. Por fim, foram levados em consideração os dados empíricos produzidos no estudo de Sampaio et al. (2013). Mais especificamente, foram avaliadas as respostas dadas por adolescentes e adultos a respeito do que eles sentiam quando assistiam reportagens sobre situações vividas por pessoas reais e que haviam sido apresentadas em telejornais da imprensa brasileira, as quais teriam a capacidade de eliciar respostas empáticas nos telespectadores.

A partir do que foi produzido na análise dessas diferentes fontes teóricas e empíricas (Pasquali, 1998), a equipe desenvolveu uma lista com 67 itens, os quais objetivavam avaliar cinco dimensões da empatia: quatro já contempladas no IRI (Angústia Pessoal, Consideração Empática, Fantasia e Tomada de Perspectiva) e uma quinta que buscava avaliar os diferentes tipos de sentimentos empáticos teorizados nos trabalhos de Hoffman (raiva, injustiça, tristeza, culpa, alegria e compaixão).

Etapa 2: Testagem da Validade de Conteúdo

Os 67 itens elaborados na etapa anterior foram encaminhados para três juízes independentes (um professor da área de Psicometria e dois estudantes de graduação), que foram solicitados a indicar aqueles que seriam adequados para mensurar as dimensões da empatia, considerando as mesmas fontes teóricas e empíricas usadas como base para construção da lista inicial, além de sugerir aperfeiçoamentos na escrita dos itens considerados válidos. Nessa primeira etapa, foram excluídos 14 itens indicados pelos três juízes como sendo inadequados e ajustada a redação dos restantes, conforme sugestões enviadas.

Esse novo conjunto de 53 itens foi encaminhado para outros três juízes independentes (professores e pesquisadores com experiência na área de empatia), os quais usaram escalas com cinco graus para avaliar sua clareza e pertinência, além de indicar a que dimensão cada um se referia. Tomando como base as respostas desses juízes, foram calculados os Coeficientes de Validade de Conteúdo – CVC (Hernández-Nieto, 2002), para clareza (CVCc) e pertinência (CVCp), para toda escala (CVCt) e para cada item separadamente, obtendo-se os seguintes valores: CVCt=0,81, CVCp=0,85 e CVCc=0,83.

Na sequência, foram mantidos apenas os itens com CVC superior a 0,7 nos dois critérios (Cassepp-Borges et al., 2010). Além disso, foram excluídos quatro itens que, segundo avaliação dos juízes, estariam avaliando comportamentos de ajuda e não necessariamente aspectos cognitivos ou afetivos da empatia (“Defendo pessoas que sofrem algum tipo de discriminação”, “Consolo e apoio as pessoas quando elas estão tristes”, “Ofereço ajuda financeira quando sei que meus amigos não estão conseguindo pagar suas próprias contas” e “Gosto de participar de ações que promovem o bem-estar dos outros - coleta e distribuição de alimentos, ajuda humanitária, campanhas de cidadania etc.”). Também foram realizadas modificações na escrita dos itens restantes, a partir das sugestões e dos comentários enviados pelos três juízes.

Etapa 3: Estudo-Piloto

Um estudo piloto foi realizado com 31 participantes (20 mulheres; idades entre 18 e 25 anos) de uma universidade pública de Petrolina-PE, que foram convocados a responder coletivamente o instrumento e a reportarem quaisquer dúvidas referentes à clareza e ao significado dos itens, bem como no uso da escala com cinco graus (1=Não sou desse jeito; 5=Sou sempre desse jeito). Ao término da aplicação, foi feita uma discussão coletiva sobre a compreensão geral das palavras e expressões contidas na escala, durante a qual não foram relatadas ambiguidades, dificuldades de compreensão ou falta de clareza em algum aspecto, o que indicou que o instrumento estaria adequado para a aplicação na amostra-alvo.

Etapa 4: Avaliação da Estrutura Interna e das Propriedades Psicométricas da EMEA

Participantes

Para realização dessa etapa do estudo, foi constituída uma amostra com 541 participantes (78,5% de mulheres), com idades variando entre 17 e 59 anos (M=25,05; DP=7,06), recrutados em universidades públicas (23,8%) e particulares das cidades de Petrolina - PE (64,4%) e Juazeiro - BA. Todos os participantes se dispuseram a participar voluntariamente do estudo e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Instrumentos

A versão da EMEA com 31 itens distribuídos entre as cinco dimensões originalmente propostas (Angústia pessoal = 4 itens, Tomada de Perspectiva, Fantasia e Consideração Empática = 5 itens cada, e Sentimentos Empáticos = 12 itens) foi usada para realização da análise fatorial exploratória e testagem das propriedades psicométricas da escala.

Além da EMEA, o Interpersonal Reactivity Index (IRI) de Davis (1983), em sua versão traduzida e adaptada para o contexto brasileiro por Sampaio et al. (2011), foi utilizado para testagem da validade concorrente da EMEA. O IRI é composto por 26 itens que avaliam dois domínios cognitivos (Tomada de perspectiva e Fantasia), dois afetivos (Consideração empática e Angústia pessoal) e um geral da empatia, por meio de escalas do tipo Likert com cinco pontos.

Procedimentos de Coleta de Dados

A aplicação dos instrumentos ocorreu de forma coletiva, em salas de aulas nas próprias universidades dos participantes, após autorização dos responsáveis institucionais e dos professores, em local e horários previamente acordados. Após esclarecimentos sobre o estudo, os pesquisadores entregavam a EMEA e o IRI grampeados (em ordem alternada) para que os participantes respondessem individualmente, e ficavam à disposição para o esclarecimento de dúvidas. O tempo médio para realização de todos os procedimentos da coleta de dados foi de 20 minutos.

Procedimentos de Análise dos Dados

O programa Free Office PlanMaker 2018 foi utilizado para cálculo do CVC dos itens da EMEA. Para realização da análise fatorial exploratória (AFE), empregou-se o software Factor, versão 10.10.03 (Ferrando & Lorenzo-Seva, 2017), utilizando-se uma matriz policórica de correlações, extração do tipo Robust Diagonally Weighted Least Squares (RDWLS) (Muthén et al., 1997) e rotação do tipo Robust Promim (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2019). Essas técnicas são adequadas para análise de dados ordinais distribuídos de forma assimétrica ou com excesso de curto-se (Holgado-Tello et al., 2010). Para auxiliar na decisão sobre o número de fatores a serem retidos, empregou-se uma análise paralela, com permutação aleatória dos dados observados (Timmerman & Lorenzo-Seva, 2011). A adequação do modelo foi avaliada por meio dos índices de ajuste Root Mean Square Error of Aproximation (RMSEA), Comparative Fit Index (CFI) e Goodness of Fit Index (GFI). Valores de RMSEA inferior a 0,08 e de CFI acima de 0,95 são indicadores de um modelo bem ajustado (Hair et al., 2009).

A estabilidade dos fatores foi avaliada por meio do índice H, que indica quão bem um conjunto de itens representa um fator comum (Ferrando & Lorenzo-Seva, 2018) e tende a ser mais apropriado que o alfa de Cronbach (Valentini & Damásio, 2016), medida tradicionalmente usada em estudos psicométricos. Os valores de H variam de 0 a 1, com valores maiores do que 0,80 sugerindo que a variável latente analisada é bem definida, sendo altamente provável que ela seja novamente observada em outros estudos. Em contrapartida, valores baixos de H sugerem uma variável latente mal definida e, provavelmente, instável entre diferentes estudos. A fidedignidade composta foi calculada por meio da Composite Realiability Calculator, disponível em http://www.thestatisticalmind.com/calculators/comprel/composite_reliability.htm.

O software IBM SPSS, versão 22, foi utilizado para realização das demais análises inferenciais, com os tamanhos de efeitos sendo calculados a partir da ferramenta Computation of Effect Sizes (https://www.psychometrica.de/effect_size.html#transform).

Resultados

O teste de esfericidade de Barlett (χ²=6088,40; p<0,001) e do KMO (0,89) indicou a fatorabilidade da matriz de correlações da EMEA. Não foram identificados problemas em relação à comunalidade dos itens da escala. A análise paralela indicou a retenção de três fatores que, conjuntamente, explicavam cerca de 52% da variância, como sendo uma solução fatorial mais ajustada, comparando-se os valores próprios gerados a partir de 500 simulações aleatórias e aqueles obtidos a partir dos dados reais (Simulações: Fator I=6,61, Fator II=6,17 e Fator III=5,86; Dados reais: Fator I=37,47, Fator II=8,88 e Fator III=6,44).

O primeiro fator agregou cinco itens, todos originalmente elaborados para avaliar a dimensão Fantasia. O segundo fator incluiu dois itens elaborados para avaliar culpa empática e outros três referentes à Tomada de perspectiva. Por fim, o terceiro fator incluiu o maior número de itens (20), englobando todos aqueles que foram originalmente elaborados para avaliar as dimensões da Angústia Pessoal (4 itens) e da Consideração Empática (5 itens). Além disso, carregaram nesse fator itens relacionados a outros tipos de sentimentos empáticos, como raiva (1 item), tristeza (2 itens), alegria (2 itens), injustiça (3 itens), culpa (1 item) e compaixão (2 itens).

Todos os itens, excetuando-se o 2 (“Consigo compreender porque as outras pessoas sofrem”), apresentaram carga fatorial maior do que 0,30 em algum dos três fatores, o que motivou sua exclusão da versão definitiva da escala. O item 5 (“Acho injusto uma pessoa ser punida por um erro que não cometeu”) apresentou carga cruzada em dois fatores, porém op-tou-se por mantê-lo no Fator III, tendo em vista sua maior carga fatorial e coesão teórica com os demais que compõem aquele fator. A Tabela 1 apresenta a distribuição e cargas fatoriais dos itens nos fatores, os indicadores psicométricos e outras estatísticas descritivas referentes a cada fator.

Tabela 1 Estrutura Fatorial da Escala Multidimensional de Empatia para Adultos (EMEA) 

Itens Fantasia Tom. Pers. Empática Sent. Empáticos
2. Consigo compreender por que as outras pessoas sofrem. ,06 ,26 ,11
4. Quando assisto a um filme, série ou novela, fico me imaginando no lugar dos personagens. ,88 -,01 -,09
13. Sinto vontade de chorar quando assisto ou leio histórias tristes em livros ou em novelas. ,56 -,01 ,01
19. Quando assisto a filmes/novelas ou leio livros, costumo lembrar fatos da minha vida. ,66 ,18 -,11
23. Tenho vontade de agredir os vilões dos filmes e/ou novelas. ,40 -,17 ,22
28. Costumo me imaginar no lugar de personagens de filmes e/ou novelas. ,95 ,06 -,10
10. Sinto-me angustiado (a) quando sei que meus atos fazem outras pessoas sofrerem. ,04 ,70 ,00
14. Tento me colocar no lugar de outras pessoas quando eu as trato mal. ,04 ,67 ,01
17. Sinto-me mal quando sei que as pessoas estão tristes por algo que eu fiz. ,14 ,76 -,02
20. Procuro entender o ponto de vista das outras pessoas, mesmo que estes sejam diferentes dos meus. -,08 ,59 ,01
29. Antes de decidir algo, busco avaliar os pontos de vista de todas as pessoas envolvidas na situação. -,10 ,54 -,02
1. Fico angustiado (a) quando sei que uma pessoa está desesperada procurando por um amigo/parente desaparecido. ,11 -,02 ,53
3. Fico angustiado (a) quando vejo pessoas hospitalizadas. ,17 -,15 ,60
5. Acho injusto uma pessoa ser punida por um erro que não cometeu. -,08 ,30 ,42
6. Fico triste quando assisto ou leio reportagens que mostram pessoas sofrendo em catástrofes (enchentes, terremotos, furacões etc.). ,12 -,02 ,70
7. Fico nervoso (a) ao ver outras pessoas em situações emocionalmente intensas. ,24 -,11 ,45
8. Fico triste quando vejo pessoas privadas dos seus direitos básicos (alimentação, transporte, moradia, saúde etc.). -,07 ,02 ,80
9. Sinto vontade de proteger pessoas que sofrem algum tipo de discriminação. ,01 ,03 ,73
11. Quando vejo que alguém está sendo agredido ou humilhado, tenho vontade de defendê-la. -,09 -,03 ,73
12. Fico triste ao saber que alguém está sofrendo pela morte de um parente. ,07 ,01 ,61
15. Eu me sinto mal quando vejo outra pessoa sofrendo. ,03 ,12 ,64
16. Acho injusto ver pessoas que não tem onde morar. -,01 -,00 ,77
18. Fico comovido (a) quando me deparo com os problemas de outras pessoas. ,17 -,00 ,64
21. Fico feliz quando vejo que uma pessoa conquistou algo que era importante para ela. -,20 ,16 ,59
22. Sinto compaixão por pessoas que não possuem uma boa condição de vida. -,08 ,02 ,77
24. Sinto-me aborrecido (a) quando alguém está falando mal de outra pessoa, sem que haja um motivo justo. -,00 ,17 ,45
25. Tenho vontade de consolar e apoiar as pessoas quando elas estão tristes. -,03 ,15 ,61
26. Sinto-me culpado (a) quando vejo uma pessoa sendo maltratada e não faço nada para ajudar. ,05 -,02 ,62
27. Sinto vontade de ajudar pessoas vítimas de catástrofes (enchentes, terremotos, furações, seca etc.). -,06 -,13 ,87
30. Sinto raiva quando vejo uma pessoa indefesa sendo maltratada. -,02 ,01 ,78
31. Fico feliz quando assisto a reportagens que contam histórias de pessoas que superaram sérias dificuldades. ,05 -,04 ,71
Fidedignidade composta ,83 ,78 ,93
H Latente ,92 ,84 ,95
H Observado ,89 ,76 ,87
Variância explicada (%) 8,88 6,44 37,34
Média 3,25 4,15 4,30
Desvio padrão ,99 ,63 ,54
Correlações*
Fator II ,25
Fator III ,41 ,59

Nota. * Todas as correlações p<,001

Os índices Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA), Comparative Fit Index (CFI) e Goodness of Fit Index (GFI) indicaram um bom ajuste da solução fatorial encontrada (RMSEA=,039 [IC 95%=0,01 – 0,05]; CFI=,98 e GFI=1,00) enquanto os valores do índice H sugerem que os três fatores podem se repetir em estudos futuros (Ferrando & Lorenzo-Seva, 2018). A fidedignidade composta para os três fatores apresentou valores acima de 0,7, o que aponta para uma boa consistência interna dessas dimensões.

A análise da Tabela 2 demonstra a existência de correlações positivas entre os escores da EMEA e aqueles obtidos a partir do IRI. A única exceção foi em relação ao Fator I da EMEA, que não se correlacionou significativamente com a subdimensão Tomada de Perspectiva do IRI.

Tabela 2 Correlações de Spearman entre os Escores da EMEA e do IRI 

EMEA Fantasia Tom. Pers. Empática Sent. Empáticos
IRI (Empatia global) ,71* ,59* ,38* ,62*
Fantasia ,63* ,75* ,14* ,32*
Tomada de perspectiva ,34* ,05 ,62* ,31*
Consideração empática ,58* ,35* ,36* ,72*
Angústia pessoal ,45* ,42* ,12* ,44*

Nota. *p<,001, bicaudal

O teste de Mann-Whitney evidenciou que as mulheres pontuaram mais alto que os homens nos escores globais de empatia e nos Fatores I e III da EMEA, bem como nas dimensões Consideração empática e Angústia pessoal do IRI (Tabela 3).

Tabela 3 Médias (Desvios Padrões) e demais Resultados do Teste de Mann-Whitney, em Função do Sexo dos Participantes 

Variáveis Homens Mulheres U p z d
EMEA Total 3,72 (0,55) 3,95 (0,54) 18412,00 <,001 -4,12 0,36
Fantasia (EMEA) 3,01 (0,96) 3,32 (0,99) 19998,00 ,002 -3,06 0,26
Sent. empáticos (EMEA) 4,06 (0,60) 4,36 (0,50) 16580,00 <,001 -5,35 0,47
IRI Total 3,62 (0,48) 3,91 (0,45) 13735,00 <,001 -5,36 0,65
Consideração empática 3,93 (0,71) 4,32 (0,56) 15807,00 <,001 -5,39 0,52
Angústia pessoal 3,14 (0,81) 3,66 (0,81) 14549,50 <,001 -5,74 0,60

Discussão

Os dados produzidos no presente estudo demonstram que os itens da Escala Multidimensional de Empatia (EMEA) se organizaram em uma estrutura de três fatores, na qual o primeiro compreende componentes da empatia que refletem uma capacidade de se colocar no lugar de personagens fictícios ou imaginários e de assumir seus pontos de vista. Por essa razão, optou-se por seguir a mesma nomenclatura adotada por Davis (1983), nomeando-se esse fator como Fantasia (Fator I).

No que tange especificamente ao Fator II, alguns itens (10 e 17) originalmente elaborados para avaliar o sentimento de culpa empática foram agrupados com outros associados à capacidade de Tomada de Perspectiva, o que pode sugerir a presença de um tipo de preocupação de cunho moral que levaria o indivíduo a refletir a respeito das consequências de suas ações sobre o bem-estar de outrem e a se sentir mal quando estas trazem algum tipo de dano ou prejuízo a terceiros. Face ao exposto, op-tou-se por chamar este Fator de Tomada de Perspectiva Empática, porque seus itens parecem refletir não apenas uma habilidade cognitiva em si, mas sua associação com uma preocupação em não prejudicar o outro, manifesta na forma de um sentimento negativo voltado para si mesmo que pode mobilizar o indivíduo a evitar se engajar em ações que podem trazer algum tipo de mal a outras pessoas.

Quanto ao Fator III, observou-se um agrupamento de itens que foram originalmente elaborados para avaliar diferentes tipos de sentimentos empáticos, mas que, ao contrário do que era esperado, não constituíram dimensões independentes entre si. No modelo teórico de Hoffman (2000) a angústia empática é um sentimento mais primitivo ligado ao contágio emocional e à autopreservação, sendo experienciada na forma de incômodo ou desconforto autocentrado. Em contrapartida, a angústia simpática é mais dirigida aos outros, pois é experienciada no self na forma de uma clara motivação para agir em prol de terceiros, que faz com que o observador busque formas de aliviar o sofrimento de outras pessoas.

Seguindo uma perspectiva similar à de Hoffman (2000), Davis (1983) construiu e desenvolveu o IRI pressupondo a existência de dois tipos de respostas afetivas básicas da empatia, uma mais orientada para o self e outra mais orientada para os outros, com consequências motivacionais distintas (Angústia pessoal e Consideração Empática, respectivamente). Esse pressuposto foi confirmado em diversos estudos, os quais demonstraram, inclusive, que diferentes respostas empáticas podem ter consequências motivacionais bem distintas, orientadas para o outro ou para si (Batson et al., 1987; Stocks et al., 2017).

Para explicar o motivo pelo qual os itens elaborados para avaliar respostas afetivas tão distintas terem se agrupado em um único fator da EMEA, deve-se recorrer a uma análise acerca do conteúdo dos itens que compõem o Fator III da EMEA. Essa análise evidencia que, mesmo aqueles que teriam sido originalmente construídos para avaliar a Angústia Pessoal (itens 3, 6, 7 e 15 da Tabela 1) descrevem sensações de incômodo e angústia experienciados no self, mas em situações nas quais há um terceiro claramente implicado. Já no caso do IRI de Davis (1983), os itens que avaliam Angústia Pessoal descrevem experiências afetivas de conotação negativa no self, sem que se faça referência ao sofrimento de outra pessoa (Ex.: “Fico apreensivo em situações emergenciais”, “Sinto-me indefeso numa situação emotiva”, “Fico tenso em situações de fortes emoções”, “Sinto-me indefeso numa situação emotiva” e “Habitualmente fico nervoso quando vejo pessoas feridas”). Ou seja, enquanto no IRI o foco dos descritores recai sobre uma possível dificuldade do observador se regular emocionalmente diante de situações afetivamente intensas, na EMEA os itens se referem a sentimentos negativos que são, necessariamente, consequentes à tomada de consciência/percepção de algo ruim que acontece aos outros.

Os demais itens que compuseram o Fator III da EMEA e que descrevem sentimentos, como tristeza, angústia, alegria, culpa, compaixão e raiva também possuem essa característica, descrevendo experiências afetivas negativas do respondente, mas apenas quando ele se depara com injúrias e sofrimentos que atingem outrem. Dessa forma, sugere-se que o Fator III aglutinou todos os itens em uma única dimensão, pelo fato dos descritores se referirem a sentimentos de preocupação, consideração e compaixão em resposta ao sofrimento alheio, sendo, portanto, mais direcionados ao outro do que ao self, contrário ao que acontece em relação aos descritores que compõem a Angústia Pessoal no IRI. Por essa razão, optou-se por nomear o Fator III da EMEA como Simpatia, nos moldes do que é proposto por autores como Hoffman (2000) e Eisenberg et al. (2006). Reforça esse argumento o fato de que o Fator III da EMEA apresentou uma correlação forte com a dimensão Consideração Empática, mas apenas moderada com a de Angústia Pessoal do IRI.

Face ao exposto, recomenda-se que estudos futuros verifiquem se escores mais elevados nas dimensões Tomada de Perspectiva Empática e Simpatia da EMEA estão associados à comportamentos pró-sociais e altruístas e ao menor engajamento com comportamentos antissociais (Farrelly & Bennett, 2018; Mayer et al., 2018), conforme tem sido defendido por autores que investigam a chamada hipótese Empatia-Altruísmo (Batson, 2010). Outro aspecto que merece ser aprofundado posteriormente é a associação entre a percepção de injustiça ocorrida a outros (conforme avaliado nos itens 5, 16 e 24) e o fator Simpatia, tendo em vista o papel central que a justiça ocupa nas teorias da moralidade e as suas relações com a empatia (Hoffman, 2000; Decety & Cowell, 2015).

No que se refere às diferenças de gênero observadas, os resultados do presente estudo corroboram pesquisas anteriores no Brasil (Nunes et al., 2020) e em outros países (Gilet et al., 2013; Grevenstein, 2020; Yang & Kang, 2020), nas quais também se observou uma tendência das mulheres se avaliarem como sendo mais empáticas que os homens. Apesar de se discutir que essas diferenças estão associadas a fatores culturais nos quais o sexo feminino é visto como mais afetivamente expressivo e sensível que o masculino, não se pode descartar a existência de possíveis raízes evolutivas que contribuiriam para a forma como a empatia se manifesta em homens e mulheres. Por exemplo, uma pesquisa recente com mais de 46 mil participantes identificou a presença de marcadores genéticos que poderiam ser usados para explicar a associação entre a empatia, o sexo e transtornos do desenvolvimento como o autismo (Warrier et al., 2018). Assim, reforça-se a necessidade de realização de mais estudos que abordem o construto da empatia a partir de uma perspectiva interdisciplinar, na qual se discuta os diferentes determinantes (culturais, biológicos e sociais) desse fenômeno.

Como principais limitações do presente estudo, destacam-se o tamanho e a diversidade da amostra, tendo em vista que os dados foram coletados apenas entre estudantes universitários de duas cidades do interior do nordeste, inclusive com uma maior participação de mulheres. Nesse sentido, recomenda-se que novas pesquisas sejam realizadas em outras regiões do Brasil e que se busque incluir indivíduos que não fazem parte do meio acadêmico, para que se possa testar se a estrutura dimensional aqui observada se repete em outras populações. Além disso, sugere-se que, em outras investigações, essa estrutura tridimensional seja verificada por meio de uma análise fatorial confirmatória, aplicando-se o procedimento de Modelagem de Equações Estruturais (Hair et al., 2009), buscando-se ampliar os achados produzidos neste trabalho e as discussões teóricas aqui propostas. A esse respeito, a análise do índice H sugere que os fatores da EMEA são bastante estáveis e que há uma alta probabilidade de que eles venham a ser encontrados novamente em outras pesquisas, o que precisa ser avaliado em novos estudos.

Por fim, recomenda-se que trabalhos futuros objetivem testar indicadores de validade discriminante e de precisão do tipo teste-reteste (Pasquali, 1996), assim como avaliem possíveis associações entre os escores da EMEA, o comportamento pró-social e indicadores fisiológicos das respostas empáticas (Fabi et al., 2019; Sampaio et al., 2019), o que pode contribuir para produzir outras evidências de validade da escala.

Apesar dessa limitações, considera-se que o presente estudo representa um avanço ao produzir um instrumento para avaliação da empatia traço, com boas propriedades psicométricas e que aprofunda a investigação sobre respostas afetivas associadas a esse construto, não contempladas em outros instrumentos disponíveis para uso no Brasil. Conforme observado, os fatores da EMEA possuem boa consistência interna e se correlacionam positivamente com índices de empatia produzidos no IRI de Davis (1983), o que aponta para viabilidade de se utilizar a EMEA para mensurar a empatia em adultos brasileiros, tendo em vista os indicadores de confiabilidade e de validade aqui observados. Por fim, destacam-se as possíveis contribuições teóricas dos resultados aqui produzidos, ao permitir reflexões sobre a forma como diferentes sentimentos empáticos se manifestam em situações sociais e influenciam componentes da moralidade, abrindo novas frentes de investigação relacionadas aos aspectos estruturais e desenvolvimentais da empatia.

Disponibilização dos dados e materiais

Todos os dados e sintaxes gerados e analisados durante esta pesquisa serão tratados com total sigilo devido às exigências do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos. Porém, o conjunto de dados e sintaxes que apoiam as conclusões deste artigo estão disponíveis mediante razoável solicitação ao autor principal do estudo.

Agradecimentos

Agradecemos à Franciela Félix de Carvalho Monte, Ariadine Ione Ferreira de Moura, Haroldo Cézar de Farias Pereira e Elias Fernandes Mascarenhas Pereira pelo apoio na coleta de dados, e a Michelle França Dourado Neto Pires pelo apoio na coleta de dados e revisão da versão final.

Financiamento

A presente pesquisa não recebeu nenhuma fonte de financiamento, sendo custeada com recursos dos próprios autores.

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Recebido: 01 de Agosto de 2021; Aceito: 01 de Agosto de 2022

1Endereço para correspondência: Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Centro de Humanidades. Unidade Acadêmica de Educação. Rua Aprígio Veloso, 743, Bodocongó, 58429-900, Campina Grande, PB.

Conflitos de interesses

Os autores declaram que não há conflitos de interesses.

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