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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) v.11 n.17 Belo Horizonte jun. 2005

 

SEÇÃO ABERTA

 

RESENHA

 

 

Rita de Cássia Vieira*

Universidade Federal de Minas Gerais

 

 

Meira, M. E. M.; Antunes, M. A. M. (2003). Psicologia escolar: práticas críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo. 128p.
(Scholar psychology: critical practices)

Organizada pelas professoras e pesquisadoras Marisa Eugênia Melillo Meira, da Universidade Estadual Paulista, e Mitsuko Aparecida Makino Antunes, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, esta obra, lançada juntamente com Psicologia escolar: teorias críticas, das mesmas autoras, compõe-se de quatro textos que visam refletir sobre a atuação do psicólogo escolar. Todos têm como fio condutor o pensamento crítico que já foi desenvolvido até o momento na área e se propõem a indicar caminhos nos quais os psicólogos possam contribuir efetivamente para que a escola cumpra a sua função social.

O primeiro texto, escrito por Elenita de Rício Tanamachi e Marisa Eugênia Melillo Meira, da Universidade Estadual Paulista de Bauru, objetiva resgatar o pensamento crítico já consolidado em Psicologia Escolar e, com base nele, apontar algumas possibilidades de intervenção. Para isso, inicialmente as autoras apresentam e analisam as explicativas tradicionais do fracasso escolar. Em seguida, enfocando as possibilidades teórico-críticas de intervenção, relacionadas à queixa escolar, discutem a atuação do psicólogo escolar, buscando também delimitar os elementos de intervenção, as estratégias mais utilizadas e os possíveis resultados. Finalizando, o texto aponta a necessidade de contextualização do trabalho do psicólogo, que deve levar em conta a multiplicidade e a diversidade de fatores vinculados aos contextos educacionais nos quais o psicólogo atua.

Já o texto seguinte, intitulado “Os psicólogos trabalhando com a escola: intervenção a serviço do quê?”, escrito por Adriana Marcondes Machado, membro da equipe técnica do Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da USP, propõese a apresentar um dos trabalhos realizados nesse Serviço. Essa apresentação, segundo a autora, possibilitou-lhe uma reflexão e uma conseqüente problematização mais aprofundada acerca da relação psicólogo-escola. Nesse percurso, o artigo tenta responder à pergunta formulada no título, para, no final, chegar à conclusão de que a função do psicólogo nesse contexto está diretamente ligada ao funcionamento institucional. Assim, as concepções, as práticas e as políticas presentes na singularidade de cada caso, de cada discurso que chega como demanda ao psicólogo, devem ser problematizadas com os profissionais da escola, uma vez que é essa problematização que pode ser geradora de inquietações, de ações que visem romper com processos já cristalizados e que dificultam à escola exercer a sua função social.

O terceiro trabalho, de Wanda Maria Junqueira Aguiar e Veruska Galdini, ambas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, busca refletir sobre o tema da formação de professores, partindo da apresentação e da análise de um processo de intervenção realizado com professores da rede pública de ensino no Estado de São Paulo. São destacados os pressupostos teórico-metodológicos do trabalho, na tentativa de confirmar a Psicologia sócio-histórica como capaz de produzir novos sentidos para o trabalho dos docentes. As autoras afirmam que o papel do psicólogo, ao trabalhar na intervenção com professores, é justamente o de conseguir com que esses sujeitos se apropriem e articulem as dimensões histórica, social, institucional e subjetiva de sua existência.

Em “A Psicologia escolar na implementação do projeto político-pedagógico da rede municipal de ensino de Guarulhos: construindo um trabalho coletivo”, Mitsuko Aparecida Makino Antunes, da PUC-SP, juntamente com seus colaboradores, apresentam possibilidades de atuação da psicologia escolar na educação pública. Enfatizando a noção de ação coletiva para um trabalho que transforme a escola, elas apresentam ações implementadas no âmbito da educação infantil fundamental, de jovens e de adultos, evidenciando a participação do psicólogo na construção de projetos político- pedagógicos voltados para uma visão crítica e transformadora da realidade escolar e social.

No seu conjunto, os textos reafirmam alguns elementos isolados que poderão constituir-se em pressupostos fundamentais no debate acerca da atuação do psicólogo escolar. Um deles diz respeito ao entendimento do que realmente seja o campo dessa disciplina, aqui entendida como

[...] área de estudo da Psicologia e de atuação/formação profissional do psicólogo, que tem no contexto educacional – escolar ou extra-escolar, mas a ele relacionado –, o foco de sua atenção, e na revisão crítica dos conhecimentos acumulados pela Psicologia como ciência, pela Pedagogia e Filosofia da Educação, a possibilidade de contribuir para a superação das indefinições teórico-práticas que ainda se colocam nas relações entre Psicologia e Educação (p. 11).

Outro elemento importante colocado pelo texto diz respeito ao local de trabalho do psicólogo. Afirmando que o que importa é o compromisso teórico e prático desse profissional com as questões da escola, as autoras reafirmam que

o melhor lugar para o psicólogo escolar é o lugar possível, seja dentro ou fora de uma instituição, desde que ele se coloque dentro da educação e assuma um compromisso teórico e prático com as questões da escola, já que independente do espaço profissional que possa estar ocupando, ela deve se constituir no foco principal de sua reflexão, ou seja, é do trabalho que se desenvolve em seu interior que emergem as grandes questões para as quais deve buscar tanto os recursos explicativos, quanto os recursos metodológicos que possam orientar sua ação (p. 12).

À primeira vista, essas contribuições podem até parecer mínimas, mas, como a área vive um momento no qual seus quadros conceituais ainda são insuficientes e indefinidos, isso talvez não seja pouco. Assim, é de se esperar que as práticas também ainda sejam indefinidas, já que é impossível desvincular-se teoria de prática e, dessa forma, o livro pode ser visto como mais uma relevante tentativa de reflexão crítica na área da Psicologia Escolar, tentativa essa que, apesar de não trazer novos e diferenciados conhecimentos, no entanto trabalha para a necessária consolidação de alguns, como se pode ver nos exemplos apresentados acima.

 

 

* Psicóloga, mestre em Psicologia Social (UFMG), doutoranda em Educação (UFMG); e-mail: rita@-coltec.ufmg.br.

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