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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) v.14 n.1 Belo Horizonte jun. 2008

 

ARTIGOS

 

Corporeidade: uma revisão crítica da literatura científica

 

Embodiment: a critical review of the scientific literature

 

Corporeidad: una revisión crítica de la literatura científica

 

 

Fabio Scorsolini-Comin*; Katia de Souza AmorimI,**

IUniversidade de São Paulo

 

 


RESUMO

Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica que aborda a noção de corporeidade, sendo preservada nesta a perspectiva de corpo como parte intrínseca da relação pessoa-contexto. O objetivo da revisão foi apreender sentidos e abordagens na literatura científica acerca do tema, visando contribuir com investigações da Psicologia do Desenvolvimento. Foram consultadas bases de dados PsycInfo, Medline, Scielo e Lilacs (1970 a 2005), sendo recuperados 11 artigos indexados. Identificou-se que os trabalhos relacionam-se a diferentes áreas do conhecimento e a diversas linhas e abordagens da Psicologia. Há certo consenso quanto à necessidade de rompimento com posturas que dicotomizam as relações corpomente e pessoa-ambiente, buscando visão mais integradora desses elementos; há, ainda, freqüente referência à fenomenologia merleau-pontyana. Como os trabalhos não definem com clareza aquela noção, não partem de pesquisas empíricas e nem se dirigem a elas, conclui-se que o tema merece maior exploração nessa direção.

Palavras-chave: Revisão bibliográfica, Corporeidade, Intercorporeidade, Dialogismo.


ABSTRACT

This paper presents a review of the scientific literature on the notion of embodiment, which considers the human body an intrinsic part of the person-context relationship. Its main purpose was to apprehend meanings and approaches regarding the theme, aiming to contribute to developmental psychology research. PsycInfo, Medline, Scielo and Lilacs (1970 to 2005) databases were investigated, and eleven indexed articles were obtained. Papers are related to different knowledge areas, and to diverse theoretical fields and approaches within psychology. Yet, there is a certain consensus on the need to break up with models that dichotomize body-mind and person-environment relationships, and to look for more integrative views. A frequent reference to Merleau-Ponty’s phenomenology appears in the reviewed papers. As the notion of embodiment is not clearly defined, and the papers do not stem from, nor are objectively directed towards, empirical research, the need for in-depth investigations in this direction is emphasized.

Keywords: Bibliographic review, Embodiment, Intercorporeality, Dialogism.


RESUMEN

Este artículo presenta una revisión bibliográfica que aborda la noción de corporeidad, preservándose la perspectiva de cuerpo como parte intrínseca de la relación persona-contexto. El objetivo de la revisión fue aprehender sentidos y abordajes en la literatura científica acerca del tema, con el objetivo de contribuir con investigaciones de la Psicología del Desarrollo. Se consultaron las bases de datos de PsycInfo, Medline, Cielo y Lilacs (1970 a 2005), recuperándose 11 artículos indexados. Se identificó que los trabajos se relacionan a diferentes áreas del conocimiento y a diversas líneas y abordajes de la Psicología. Hay cierto consenso en cuanto a la necesidad de romper posturas que dividen las relaciones cuerpo-mente y personaambiente, tratando de buscar una visión más integradora de esos elementos; hay, además, una frecuente referencia a la fenomenología merleau-pontyana. Como los trabajos no definen con claridad aquella noción, no parten de pesquisas empíricas ni se dirigen a ellas, se concluye que el tema merece una mayor investigación en esa dirección.

Palabras-clave: Revisión bibliográfica, Corporeidad, Intercorporeidad, Dialogismo.


 

 

Ponto de partida: o estudo sobre desenvolvimento de crianças com deficiência

Trabalhando-se no campo da Psicologia do Desenvolvimento e a partir de uma abordagem histórico-cultural, um conjunto de projetos de pesquisa vem sendo desenvolvido com o intuito de compreender como se dá o processo de desenvolvimento de crianças com deficiência e que estão passando pelo processo de inclusão escolar.

Tendo como base a perspectiva da Rede de significações (Rossetti-Ferreira et al., 2004), considera-se que, para compreender o desenvolvimento humano, os vários aspectos envolvidos na situação – pessoais, relacionais e contextuais, atravessados por elementos da matriz sócio-histórica – devem ser investigados. Assim, para apreender os processos desenvolvimentais de crianças com deficiências em inclusão, tem-se estudado a formação do educador, os processos interativos de crianças com e sem necessidades especiais, interações com adultos (familiares e professores), legislações sobre inclusão, papel dos profissionais de saúde nesse processo e etc. Analisam-se, ainda, diferentes contextos (escola, área da saúde, ambiente familiar), interlocutores (crianças com e sem necessidades especiais, pedagogos, profissionais de saúde, familiares) e quadros clínicos (crianças com Síndrome de Down, surdas, com epilepsia e com paralisia cerebral).

No trabalho que originou este artigo (Scorsolini-Comin, 2006), a meta foi traçada de modo a, por meio de estudos de caso de crianças com necessidades educacionais especiais na pré-escola regular, entender como se dão os processos de desenvolvimento na inclusão, verificando como se dá a construção e as transformações das relações dentro daquele ambiente. Particularmente, foram investigadas crianças com paralisia cerebral.

Utilizou-se o banco de dados da dissertação Pré-escolas convivendo com a paralisia cerebral: uma análise do processo de inclusão/exclusão (Yazlle, 2001), que acompanhou, durante o ano de 1999, a inclusão de quatro crianças (de quatro anos de idade, com diagnóstico de paralisia cerebral), em pré-escolas regulares da região de Ribeirão Preto. O banco de dados é constituído por entrevistas (pais, professores, diretores de escola e profissionais de saúde), além de notas de campo e gravações em VHS de duas dessas crianças em ambiente pré-escolar (em situações de sala de aulas, refeições, recreações e brincadeiras).

Como referido, o referencial teórico adotado para a coleta e análise de dados foi a perspectiva Rede de significações (RedSig). Essa perspectiva entende o desenvolvimento como se dando ao longo de todo o ciclo vital, nas e através das diversas interações estabelecidas pelas pessoas em seus contextos, marcados por aspectos socioeconômicos, políticos e culturais. Destaca-se, portanto, a relação pessoa-ambiente como aspectos indissociáveis e mutuamente constitutivos, evidenciando-se o lugar fundante da alteridade no desenvolvimento, colocando-se em relevo a noção de dialogismo.

Na RedSig, a noção de dialogismo tem sido fundamentada em Bakhtin (1997, 1999), que contempla a idéia da relatividade da autoria individual, com o destaque para o caráter coletivo e social da produção de discursos. De acordo com suas proposições, a alteridade marcaria o ser humano, sendo este considerado um intertexto, não existindo isoladamente, já que a sua vida se tece, intercruza-se e se interpenetra com a experiência do outro.

Assim, a partir do questionamento (desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral em inclusão) e tendo a RedSig como base, fez-se transcrição microgenética das cenas de vídeo do banco de dados. A transcrição detalhou todos os episódios de que a criança participa, indicando o local onde se desenvolveu, as atividades realizadas, as pessoas presentes e as interações estabelecidas. Descreveu-se, ainda, a concomitância de diferentes eventos, a seqüência com que cada um ocorre e afeta o outro. Dada às características dos sujeitos investigados (crianças com paralisia cerebral, em que a fala se encontrava mais ou menos comprometida), discriminou-se a comunicação e as ações nãoverbais e verbais dos vários participantes, captando-se o choro, sorrisos, expressão emocional, vocalizações pouco articuladas, olhares, posturas, movimentos corporais, em associação à situação como um todo.

Considerando que o foco é apreender processos de transformação e desenvolvimento, optou-se pela análise microgenética (Valsiner, 1987; Góes, 2000). Essa abordagem exige trabalho longo de ir e vir no corpus, em um diálogo contínuo entre dados empíricos e teoria, de forma a apreender os processos de mudança, através do tempo e situações. Apreende-se “velhos” e “novos” comportamentos, emoções e concepções; a co-construção e as mútuas transformações pelas quais passam as pessoas, os relacionamentos e o próprio contexto. Apreende-se a emergência de novas habilidades, novos significados e papéis/contrapapéis reciprocamente atribuídos às e assumidos pelas pessoas, no aqui-e-agora da situação.

À análise, verificou-se que, devido às limitações do quadro motor das crianças, decorrente da paralisia cerebral, “a parte é tomada pelo todo”. Dessa forma, nos casos analisados, apesar de limitações serem localizadas e específicas, as crianças são posicionadas como globalmente incapacitadas, generalizandose a deficiência. O desenvolvimento se dá de forma marcante por meio das experiências do corpo, corpo este que é visto pelos outros de forma impregnada de sentidos de incapacidade. Estes geram práticas específicas que resultam, por exemplo, em não se dar “voz” às crianças, apesar destas falarem, mesmo que com dificuldades, e de terem um cognitivo preservado. Diminuem-nas no conjunto de suas potencialidades, tomando-as pela incompetência; ou supervalorizando-as enquanto pessoas “especiais” e limitadas, possibilitando organizações e práticas que limitam mais ainda a criação de novas competências. Dialeticamente, é nas suas relações e experiências através de e por causa de seus corpos que essas crianças vivenciam o estar no mundo, as relações estabelecidas (ou não) e o sentido atribuído aos outros e a si mesmas (Scorsolini-Comin, 2006).

Assim, ao se analisar o desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral em inclusão, o desenvolvimento se dando intrinsecamente na relação com o outro, marcado pelos significados sociais atribuídos às e em função das especificidades de seu corpo, gerou a necessidade de destacar o papel do corpo nesse processo. Tendo isso em perspectiva, fez-se um resgate do lugar do corpo nos estudos de processos desenvolvimentais humanos.

 

Um resgate do corpo e da relação corpo-mente-cultura em desenvolvimento

A questão do corpo tem sido, de forma dominante, alijada de estudos da Psicologia. Mais ainda, o problema das relações entre corpo, mente ou psique e ambiente representa tema controverso na história da humanidade, com diversos enfoques conforme o período histórico, além dos aspectos discursivoculturais de um mesmo período histórico e/ou grupo social.

Bunge (1980), ao discutir a questão da relação mente-corpo, revela que, dominantemente, tal relação foi e tem sido concebida de forma dicotômica. Particularmente, trata da dicotomia considerando a perspectiva cartesiana, a qual teria marcado profundamente o pensamento ocidental, contribuindo para embasar várias concepções e saberes científicos contemporâneos. De acordo com o autor, Descartes (1649, citado por Bunge, 1980) expõe uma visão original do dualismo interacionista: ao mesmo tempo em que sustenta o dualismo mente-corpo, nega que a alma racional dê vida ao corpo, afirmando que este seria uma máquina. Corpo e alma seriam substâncias diferentes, uma extensa, outra pensante.

A Psicologia surge e se constrói fortemente marcada por essas concepções cartesianas (Costall, 1995; Kempen, 1996; Shotter, 2003; Sinha & De López, 2000). Segmentos da Psicologia mais marcados por correntes filosóficas proximamente vinculadas às noções de corpo como instrumento da alma (Orlandi, 2004) constituem-se como essencialmente idealistas/mentalistas/cognitivistas. Com isso, na linha que desconsidera no homem tudo o que extrapola a materialidade e a objetividade das funções orgânicas, aqueles segmentos fazem da psychè a sede das faculdades ou funções nobres (racionalidade, vontade, consciência), em oposição ao soma (corpo, organismo etc.), sede das funções orgânicas consideradas menos nobres pela sua condição animal (Pino, 2003).

Tal dicotomia mente-corpo pode ser vista, ainda, por uma perspectiva oposta à anterior. Na polissemia e nas complexas articulações da construção dos campos de saber, áreas como a Psicologia do Desenvolvimento se constituíram influenciadas em especial pelas áreas biológicas, com reflexos importantes nas suas formas de conceber e investigar processos desenvolvimentais humanos. Baltes et al. (1999) demarcam que a emergência e constituição das idéias centrais da Psicologia do Desenvolvimento se fizeram no final do século XIX, apropriandose de idéias da Genética, Biologia Evolucionária e Embriologia. São, predominantemente, os conceitos do embriologista Karl Ernst von Baer que marcarão a sua construção (Cairns et al., 1996). Aquele embriologista propôs a perspectiva epigenética, fornecendo evidências de que a constituição dos seres se iniciaria a partir da célula e, mediante sucessiva formação das camadas e adição de novas partes que, previamente, não existiriam no ovo fecundado, fariam com que os órgãos se desenvolvessem. No caso dos seres humanos, os seres seguiriam os mesmos estágios até que, aproximadamente nove meses depois, nasceria um bebê altamente complexo, multicelular, com muitas partes diferenciadas e coordenadas.

A influência da Embriologia se faz presente, ao longo das décadas, nas formulações da Psicologia do Desenvolvimento. A aplicação da noção de epigênese e de desenvolvimento através de estágios ou períodos é central à área, apontando para a emergência de seqüenciais novas estruturas e funções durante o desenvolvimento psicológico individual, incorporando um conjunto de características organizadoras que governam o comportamento. Apesar de haver variações ambientais, há a indicação da regularidade, inevitabilidade e universalidade do desenvolvimento, estabelecido pela natureza biológica do organismo.

Isso significa que é o aspecto orgânico-maturacional que, fundamentalmente, vai dirigir os processos desenvolvimentais, desempenhando importante papel na explicação do desenvolvimento do self, da identidade, personalidade e inteligência (como criticamente discutido por Horowitz, 1989). Tais formulações indicam e agrupam as pessoas que seguem um percurso esperado e, simultaneamente, diferencia aquelas que se afastam de tal percurso; criam ainda diferenças, desigualdades e exclusão, com a simultânea construção de noções que apontam para o desvio, a psicopatologia, os distúrbios, as falhas (Amorim, 2006).

Há, no entanto, na ciência e filosofia, uma histórica reação a essas proposições dicotômicas. Na concepção merleau-pontyana (Merleau-Ponty, 1994), o corpo é visto como ativo, deixando de ser encarado como receptáculo passivo das forças externas e de determinações do meio, exercendo apelo sensível, comunicando-se com o mundo e fazendo com que ele se torne presente como o local familiar da vida do homem. Merleau-Ponty vai à raiz da subjetividade com sua concepção do corpo-sujeito, corpo este que estabelece com o mundo uma reação pré-objetiva, pré-consciente, de caráter dialético. Para o autor, o sujeito é seu corpo, seu mundo e sua situação. O corpo é a expressão e realização da existência. Porém, segundo ele, não se deve reduzir um ao outro, já que um pressupõe o outro. O corpo é um conjunto de significações vividas e a produção de novas significações se dá no corpo enquanto situado em um mundo.

Ainda no campo histórico-filosófico, a obra de Foucault (citado por Silveira, 2005) destaca a relevância do corpo e da alma como sustentáculos das forças de poder e de saber, que se articulam estrategicamente na história da sociedade ocidental. Na genealogia foucaultiana, em vez da preocupação com as forças próprias do corpo, há a indagação acerca das práticas discursivas e não-discursivas que se investem sobre os corpos, em um interesse pelas condições concretas que os constituem. Foucault destaca a importância do corpo como realidade biopolítico- histórica, sendo a sensorialidade corpórea constantemente construída e reconstruída a partir das alterações políticas de cada momento, fazendo deste corpo um palco no qual os saberes e poderes se articulam, produzindo a individualidade. A sensorialidade corpórea não está imersa apenas em fatores biológicos; está interpenetrada de história.

Especificamente, no campo da Psicologia, também se verifica reação às dicotomias, dentro destas últimas à dicotomia da relação pessoa–meio. Nesse sentido, Valsiner (1987) afirma que a Psicologia tem separado seus objetos de estudo (pessoas) dos ambientes que os rodeiam, muitas vezes estudando o fenômeno separado do contexto, como se fossem independentes. Além de o autor referir que os processos psicológicos são pouco pesquisados considerandose o contexto e a cultura, menciona que a amplitude com que o meio social tem sido considerado e investigado se revela diversa nos vários trabalhos. Segundo ele, apesar de compor um conjunto minoritário de pesquisas, verificase um número crescente de trabalhos na área abordando a relação pessoaambiente. O autor afirma ainda que, na década de 1990, as ciências sociais têm se voltado cada vez mais em direção à consideração da cultura em suas diferentes formas, como um aspecto relevante da Psicologia. Na Psicologia do Desenvolvimento, autores como Vygotsky (1991), Bronfenbrenner (1996) e Wallon (1986, citado por Werebe & Nadel-Brulfert, 1986) têm representado alicerces na abordagem da articulação pessoa-meio.

Wallon, particularmente, afirma que a constituição biológica da criança ao nascer não representa o determinante de seu desenvolvimento, seus efeitos podendo ser transformados pelas circunstâncias sociais de sua existência. Propõe, assim, que o ser humano é indissociavelmente biológico e social, com a necessidade de que não se desconsidere qualquer das dimensões e nem as trate como independentes: o homem deve ser compreendido na dialética desses termos, já que o desenvolvimento é “geneticamente social”.

Nas últimas décadas, na interface entre Psicologia e Cultura, tem vindo à tona o conceito de processos dialógicos. Esses processos, segundo Hermans e Kempen (1995), não podem se restringir à dimensão do verbal, mas devem ser elucidados pela exploração do corpo na relação com a ação dialógica. De acordo com Hermans, Wertsch, em seus estudos sobre relacionamentos entre psicologia e cultura, trata da intrínseca relação entre as ações dos indivíduos e as ferramentas culturais. E, dentro do conceito de ação dialógica, Wertsch dá grande ênfase ao papel do corpo na ação humana. Com isso, os dialógicos processos desenvolvimentais passam necessariamente a considerar uma noção de pessoa corporificada.

Particularmente, na Psicologia do Desenvolvimento, Fogel (1993) é um pesquisador a fazer a integração corpo-mente-cultura, referindo que a cultura emerge na experiência do corpo, através das sensações e dos movimentos. Ele parte da análise dos tipos de informações perceptuais que estão no discurso social, como os posturais e tônicos, as modalidades sensoriais presentes, a emoção e a intensidade da fala. A informação seria percebida através de diferentes sistemas sensoriais e traduzida em diferentes formas de ação de alguma parte do corpo. A informação é significada com respeito à experiência de seu corpo. Fogel concebe assim que a visão individualista tradicional simplesmente localiza um self no corpo, sugerindo que, na perspectiva dialógica, o self seria distribuído entre o corpo e o ambiente, com a importância atribuída ao contexto e à cultura no que se refere à pessoa corporificada. As pessoas só poderiam ser compreendidas no contexto de sua comunidade, no tempo histórico no qual elas vivem e em relação com as formas de comunicação por meio das quais elas próprias se expressam.

Derivado dessas e outras questões, além da necessidade de se pensar, articuladamente, os aspectos mente-corpo-ambiente, uma noção vem sendo pontuada na literatura – a noção de corporeidade (ou embodiment). Por ser pouco utilizada e explorada no campo da Psicologia do Desenvolvimento, houve a necessidade de se realizar revisão bibliográfica para apreender sentidos e formas com que vem sendo abordada. É a revisão que será a seguir apresentada.

 

Objetivo

Traçar o perfil das publicações sobre “corporeidade”, na literatura científica nacional e internacional, verificando como esse termo é empregado, como ele tem sido usado em estudos empíricos, quais os sentidos que lhe são atribuídos, seus pressupostos, dentre outros. O intuito da revisão foi compreender se e como a noção de corporeidade pode vir a contribuir para, no estudo de processos de desenvolvimento, considerar-se de forma integrada os vários intrinsecamente interligados aspectos da pessoa em sua relação com o meio.

 

Método

A revisão foi realizada em quatro bases de dados: Medline, PsycInfo, Lilacs e Scielo. As duas últimas abarcam publicações latino-americanas e, mais particularmente, brasileiras. A escolha dessas quatro bases teve como objetivo propiciar a análise com grande alcance de produções científicas neste tema. As palavras-chave utilizadas foram várias, como pode ser visto na Tabela 1.

 

 

A escolha dos termos “corporeidade”, corporeality, corporality e embodiment, em vez de “corpo/body”, deu-se já que estes últimos poderiam resgatar trabalhos que tratassem do corpo físico, orgânico, biológico, e não resgatassem o corpo na relação pessoa-contexto. Nessa mesma linha é que se optou por incluir o termo dialogism (dialogismo).

O levantamento compreendeu o período de 1970 a 2005. Tal abrangência objetivou traçar um perfil das publicações, ao longo dos últimos trinta anos, buscando resgatar grande volume de trabalhos produzidos a respeito do tema ou utilizando-se dessa noção.

Como critérios de inclusão, destacamos artigos publicados apenas em periódicos indexados; trabalhos nos idiomas inglês, espanhol e português; e, ainda, trabalhos empíricos, teóricos e de revisão acerca do tema.

Como critérios de exclusão, eliminaram-se livros, capítulos de livro, teses e dissertações, pois estes foram obtidos a partir de uma única base de dados (Lilacs), não havendo correspondentes desses materiais nas outras bases investigadas, criando uma discrepância no tipo de material a ser analisado. Além disso, definiu-se pela sua exclusão, já que a maior parte desse material não está sujeita a avaliação por pares da área.

Ainda, foram excluídos trabalhos distantes do tema (ligados a patologias específicas, epidemias, adolescência, sexualidade, microbiologia, promoção de saúde, ortodontia, ortopedia, práticas religiosas, imagem corporal, vitimização, homeopatia etc.); também artigos que abordassem a corporeidade em uma perspectiva essencialmente biológica, destacando a dimensão física do corpo; finalmente, trabalhos em idiomas que não inglês, espanhol e português.

Os resumos condizentes com os critérios adotados foram selecionados, partindo-se daí para a busca dos trabalhos completos. Alguns artigos selecionados para leitura não foram encontrados em texto integral. Entrou-se, então, em contato com os autores, que gentilmente enviaram os artigos, por correio convencional ou eletrônico (três trabalhos nesta situação).

 

Resultados
Volume de publicações e trabalhos recuperados

No total, nas bases de dados, a partir das palavras-chave, foram encontrados 1.104 resumos. Apesar desse grande volume, a partir dos critérios de inclusão/exclusão, o número de artigos recuperados reduziu-se a 11, como mostra a Tabela 2, a seguir:

 

 

A redução drástica do número de artigos encontrados em relação aos recuperados deveu-se aos critérios de inclusão/exclusão utilizados na revisão e especificados anteriormente. Entre os excluídos, encontraram-se vários livros a respeito do tema, mas que não traziam um enfoque relacional, pensando em questões como o contexto de desenvolvimento. Nesse sentido, vale frisar que se encontrou uma enorme quantidade de estudos fundamentados na herança do modelo médico, que abordam a corporeidade de um modo biologizante, em termos de capacidades, incapacidades e doenças físicas. Na Psicologia, encontraram-se muitos trabalhos voltados à prática clínica, à psicoterapia. Muitos desses foram excluídos por tratarem da corporeidade sem estarem ligados aos aspectos da relação com o “outro” ou o contexto, trabalhando em uma perspectiva mais somática e/ou psicossomática.

Assim, a partir da leitura dos resumos, definiu-se pelo aprofundamento na análise de 13 trabalhos (artigos indexados). Dos 13 artigos selecionados, 11 foram recuperados, analisados detalhadamente e foram contemplados na presente discussão; dois não foram encontrados em meio digital, bibliotecas e nem por contato com os respectivos autores.1

 

Período das publicações

A partir da primeira leitura de todos os resumos encontrados (não somente daqueles resgatados), pôde-se verificar a atualidade da discussão sobre corporeidade, já que há escassos trabalhos publicados nas décadas de 1970 e 1980, havendo maior número de publicações a partir da década de 1990, tendência esta que se segue nos primeiros anos da presente década.

Quanto aos trabalhos recuperados, resgatou-se um trabalho da década de 1980, cinco da década de 1990 e cinco após o ano 2000. Esses dados reforçam o que foi dito anteriormente, em relação à atualidade na utilização dessa noção, principalmente se considerarmos que a produção encontrada na metade desta nova década já é igual à encontrada em toda a década anterior.

Apesar de se notar uma produção crescente a respeito da corporeidade ou que se utiliza da noção de corporeidade, o número total de artigos resgatados nos parece escasso em seu conjunto, ainda mais considerando que não houve uma delimitação ao campo da Psicologia. Nesse sentido, uma série de questões tem se colocado para nós, como a interrogar se esse baixo número de produções encontradas se deve ao fato de o tema ainda ser pouco explorado, ou aos critérios de inclusão/exclusão adotados. Em função desses aspectos, ainda a serem mais bem explorados em investigações futuras, entendemos que é preciso que se relativize o levantamento e as noções que serão abordadas nesse artigo.

 

Os artigos recuperados – Evidenciando-se a multiplicidade

Em relação aos campos do conhecimento, verificou-se que essa noção vem sendo utilizada em diferentes áreas. Quando considerado o conjunto dos resumos levantados, verificou-se que uma multiplicidade de campos do conhecimento contribui para a discussão da corporeidade, havendo produções nos campos da Psicologia, Filosofia, Antropologia, Sociologia, Medicina, Artes, entre outros. Dos artigos recuperados, várias também foram as áreas, a saber: Psicologia (8 artigos), Medicina (1 artigo), Enfermagem (1 artigo) e Ciências Sociais (1 artigo).

Na Psicologia, pode-se subdividir os trabalhos de acordo com o campo e/ou a abordagem teórica utilizada, sendo que dois trabalhos se situam na Psicologia do Desenvolvimento, dois na Psicologia Social (Construcionismo Social) e quatro são de orientação psicanalítica (referente a autores como Freud, Winnicott e Reich), como explicitado na Tabela 3.

 

 

Apesar de não se encontrar trabalhos da Filosofia entre os selecionados, destaca-se a presença de reflexões advindas dessa disciplina em quase 50% dos mesmos (cinco artigos). As reflexões baseiam-se, fundamentalmente, na Fenomenologia, e particularmente na produção do filósofo francês Merleau- Ponty, como será discutido mais adiante.

 

Trabalhos teóricos e empíricos

Ao se analisar o tipo do artigo, verificou-se que dez são teóricos e um traz um estudo clínico. Nenhum deles se utiliza da noção corporeidade em estudos empíricos. Como Fogel (2000) pontua em seu texto, as produções sobre a corporeidade ainda se mostram essencialmente teóricas, ressaltando a importância dos trabalhos empíricos.

A seguir, com base nos artigos selecionados e recuperados, explicitar-se-ão as noções apresentadas de corporeidade, discutindo-as em seus pontos de encontro e de desencontro.

 

Apresentação e análise crítica dos trabalhos

Rouco (2001), em seu artigo, traz como tema a personalização e o corpomente na prática clínica de orientação winnicottiana. Para essa autora, a Psicanálise seria uma teoria de integração corpo-mente, sendo a concepção psicossomática de Winnicott uma possibilidade de “superar o conflito teórico e a cisão patológica” (p. 175). De acordo com a autora, Winnicott concebe um modelo complexo, dialético, paradoxal, em que a psique e a mente dependem do funcionamento cerebral e da qualidade do ambiente. Rouco afirma que a visão winnicottiana busca uma articulação entre corpo e mente, abordando a dicotomia clássica como uma dissociação psicopatológica (presente em quadros como a hipocondria e as somatizações).

Csabai & Erõs (1999) enfatizam que o corpo não é uma estrutura neutra, mas recebe influências da política e do poder. Ou seja, os autores trabalham com a idéia de corpo enquanto um fenômeno histórico, retomando algumas teorias produzidas durante o século XX, como o pós-estruturalismo, que vê o corpo como produto do conhecimento. Criticando o dualismo cartesiano, os autores afirmam que o corpo não reflete apenas a diversidade e a indeterminação de seus componentes, mas envolve também a noção de totalidade. Tal trabalho foca conceitos como ego ideal, self, histeria, narcisismo e algumas questões da pós-modernidade. Em sua reflexão, citam autores como Reich, Lacan e Barthes.

Próximo a essa linha, Amaral (1991), trabalhando com a integração social de pessoas com deficiência, resgata a questão dos discursos produzidos no meio social a respeito dos deficientes. Tais discursos seriam responsáveis pelas imagens veiculadas pelos meios de comunicação e pela tradição oral, identificando os deficientes com sentimentos de ambigüidade, culpabilização, santificação, compensação desmesurada, isolamento, entre outros. A respeito do corpo, Amaral retoma o mito de Hefestos (deus que possuía deficiência física), afirmando que as representações culturais sobre o corpo deficiente/mutilado estão fortemente marcadas no meio social, quer seja por meio dos discursos ou das práticas evocadas na discussão da integração social.

Esses trabalhos apresentados tratam da questão da corporeidade. Porém, a noção de corporeidade não é mais explicitamente desenvolvida nesses artigos. Outros artigos tratam da questão de forma mais clara e densa e serão abordados com mais detalhes a seguir. Para essa apresentação, a discussão dos trabalhos foi feita elegendo-se alguns blocos temáticos. De início, partiremos de um ponto comum entre a maioria dos diversos artigos: a busca dos autores por romper com as dicotomias clássicas na ciência.

 

Rompendo com as dicotomias

A maioria dos trabalhos (Leder, 1984; Polak, 1997; Overton, 1997; Csabai & Erõs, 1999; Paterson & Hughes, 1999; Barnard, 2000; Fogel, 2000; Hoogland, 2002; Rouco, 2001; Soffer, 2001) aponta à necessidade de se romper com as dicotomias existentes na ciência (mente-corpo, eu-outro, eu-mundo). Um desses trabalhos (Leder, 1984) refere a contribuição de Descartes, no século XVII, como o marco histórico do dualismo, tendo introduzido um novo paradigma na ciência, que cria a dualidade mente-corpo.

Leder enfatiza que o modelo mecanicista falhou ao conceber o corpo enquanto uma máquina suscetível à análise matemática como qualquer outro componente da res extensa cartesiana. Neste modelo, o corpo podia ser entendido e experimentado com base em estudos de anatomia. Segundo o autor, o paradigma trazido por Descartes está presente na ciência e na cultura popular nos últimos trezentos anos, dificultando uma visão dos atos corporais para além dos aspectos físicos, situados dentro de um contexto. Rompendo com o dualismo cartesiano, Leder se utiliza do conceito de “corpo vivido” de Merleau-Ponty. Trabalha, assim, com um novo paradigma, afirmando que o corpo não é meramente um mecanismo causal, mas uma entidade intencional que sempre se dirige rumo ao mundo.

Fogel (2000) destaca a importância de estudos que avancem na direção de uma emergente visão de mundo orientada para o estudo das relações pessoaambiente e se distanciem da abordagem tradicional que avalia indivíduo e ambiente como se fossem separados, como variáveis independentes. O autor destaca que o estudo das “relações das crianças com seus corpos e com os corpos dos outros” pode fornecer uma forma empírica que supere a dualidade do mente-corpo e do foco na cognição pura desprovida de corpo, esta última uma visão típica de perspectivas das ciências cognitivas.

Nesse mesmo sentido, Overton (1997) destaca a busca por se romper com os dualismos clássicos (sujeito-objeto, self-cultura, indivíduo-grupo). Para o autor, cada vez mais autores da psicologia cultural vêm trabalhando para se romper com a tradição dualística. Particularmente, fundamentando-se na Teoria da Ação Cultural, de Boesch, aquele autor considera que o indivíduo nunca é um mero reflexo das influências sociais, mas sim um agente ativo. Segundo essa teoria, de caráter fenomenológico-construtivista, resumidamente, o mundo é construído a partir do conhecimento, e este se dá por meio da ação das pessoas em sociedade, com base em suas diferentes manifestações, como seus sistemas, símbolos, linguagens e instituições.

Overton (1997) traz, ainda, a idéia de que pessoa e ambiente não podem ser compreendidos separadamente. Em outras palavras, os aspectos biológicos devem ser pensados intimamente ligados aos culturais, tal relação biológicocultural devendo ser vista de modo situado, a partir do componente tempo, que atravessaria todo o desenvolvimento.

Retomando Boesch, Overton trata da relação “eu-mundo”. Segundo o mesmo, aquela é uma relação dupla, podendo ser vista do ponto de vista fenomenológico/interno ou do ponto de vista externo. A partir do primeiro, o “eu” e o “mundo” constituem a diferenciação da consciência dentro de um mundo objetivo e subjetivo; ou seja, o centro da investigação recai sobre o relacionamento entre pessoa e cultura como mutuamente constitutivos e indivisíveis. Para Boesch (1992), a noção de cultura estaria atrelada ao conceito de ambiente, contemplando também os aspectos do mundo físico que contribuem para a constituição da pessoa no mundo. Da perspectiva externa ou interpessoal, no entanto, “eu” e “mundo” constituem duas entidades diferentes, ou seja, pessoa e cultura seriam divisíveis. Esta segunda perspectiva evidencia o caráter dicotômico pessoa-cultura.

Barnard (2000), pela visão construcionista, trata da ruptura com as dicotomias considerando que o advento do pós-estruturalismo trouxe a emergência de se pensar o corpo na sua relação com a cultura, com as estruturas e com as práticas sociopolíticas e econômicas. Para a autora, no pensamento dicotômico, os discursos da biologia, fisiologia, neurologia e genética, que separam mente e corpo, “naturalizariam” o fenômeno psicológico e falhariam ao articular as dimensões sociais e políticas das práticas contemporâneas. Tal falha coloca como necessário que se desenvolva um novo paradigma na ciência, que contemple outras dimensões da vida humana, sem naturalizá-las.

Também a partir do construcionismo social, Soffer (2001) discute a importância de se pensar o ambiente no desenvolvimento humano, enfatizando a noção de percepção trazida por Merleau-Ponty, que precederia o aspecto biológico e sensorial. Com base nessa posição, a ruptura com o paradigma cartesiano estaria colocada na prática, já que o corpo existiria, primordialmente, na relação eu-outro (o que destacaria tanto as dimensões individuais quanto as ambientais/culturais). Este último trabalho, como já citado anteriormente, revela outro aspecto marcante dos artigos recuperados: o destaque às concepções da fenomenologia, merleau-pontyanas.

 

Diálogos com a fenomenologia merleau-pontyana

As noções advindas da fenomenologia, particularmente de Merleau-Ponty (1994), apareceram em cinco dos artigos recuperados. Esse autor, tratando a consciência através da percepção, confere uma nova compreensão da relação homem-mundo e homem-outro. Entendendo o homem como um ser-nomundo, Merleau-Ponty afirma que o conhecimento de uma realidade vivida é anterior a qualquer conhecimento. Assim, para ele, o homem estaria inserido no mundo a partir da noção de “corpo vivente”, que traria o corpo como expressão e realização da existência, um conjunto de significações vividas, sendo que a “secreção” de novas significações se daria no corpo enquanto situado num mundo. A percepção assumiria um papel de destaque nesta noção, já que a pessoa estaria no mundo através de seu corpo, sendo a própria pessoa este corpo. Como o autor afirma:

[...] não tenho um corpo, mas sim, eu sou corpo; corpo que percebe e é simultaneamente percebido [...] é a partir do corpo próprio, do corpo vivido, que posso estar no mundo em relação com os outros e com as coisas. O corpo é a nossa ancoragem no mundo [...] é nosso meio geral de ter o mundo. (Merleau-Ponty, 1994, citado por Polak, 1997, p. 35)

Tal relação intrínseca entre corpo e mundo teria como base uma ambigüidade perceptiva constituinte, anterior mesmo a qualquer das dicotomias (mente-corpo, eu-outro). Segundo Coelho Jr. (2003), a percepção de outra pessoa, em Merleau-Ponty, não se daria da mesma maneira que a de objetos físicos, mas justamente envolveria a co-existência e apreensão da certa intenção da outra pessoa. Tal percepção seria o contato direto com o outro.

Nessa linha, Polak (1997), considerando o homem como um ser em constante desenvolvimento, vê o corpo como um sistema biológico também afetado pela religião, pelos mitos, pelo grupo familiar e por outros intervenientes sociais e culturais. Tal autora afirma, a partir de sua experiência com profissionais de enfermagem, que em nível corpóreo, a ação das forças individuais e das forças coletivas se expressa de forma sincrônica, o que coloca a necessidade de se ver o corpo em sua totalidade.

Tal postura, ainda, coloca o corpo como sendo ativo, e não apenas como um receptáculo passivo das forças coletivas ou mesmo individuais – o corpo enquanto cenário de suas próprias experiências. Nesse ponto, Polak (1997) traz a visão de “corpo vivente” merleau-pontyana, em que o corpo exerce apelo sensível, uma “comunicação vital com o mundo, fazendo com que ele se torne presente como o local familiar de nossa vida” (p. 35).

O corpo é o lugar de fusão de fenômenos singulares que colocam em relação aderente o processo de reversibilidade, a natureza orgânica e social do homem, cenário no qual a cultura e a natureza dialogam, onde o coletivo e o individual se interpenetram. [...] O homem se faz presente no mundo pelo seu corpo, não como entidade físico-biológica, mas o corpo enquanto dimensão construtiva e expressiva do ser do homem, sendo denominado de corpo próprio, corpo vivente [...]. (Polak, 1997, p. 35)

Desse modo, Polak, corroborando com as idéias de Merleau-Ponty, concebe o corpo como algo que percebe e é simultaneamente percebido, devendo ser compreendido não apenas como objeto. Esse conceito de “corpo vivente” ou “corpo vivido” seria uma forma de se estar no mundo em relação com os outros e com as coisas.

Nesse mesmo sentido, agora na prática médica, Leder (1984) trabalha com o conceito merleau-pontyano de “corpo vivido” discutindo a existência do corpo em sua relação com o mundo, destacando a intencionalidade dirigida a este último, a partir da experiência. Este autor também desenvolve os conceitos de sensação e de percepção de Merleau-Ponty, que, segundo ele, contribuiriam para romper com o dualismo cartesiano. O “corpo vivido”, para Leder, constituiria nosso “estarno- mundo”, sendo através de nossa capacidade de sentir e de nos mover que teríamos um primeiro contato com o mundo. Tal conceito teria sido esquecido pela Medicina, dificultando ver a dor, por exemplo, como experiência da unicidade do mente-corpo. Através dessas noções, o autor busca romper com o dualismo na práxis médica.

O rompimento com os dualismos a partir do “corpo vivido” se daria na medida em que se efetuaria a “reunificação das partes”, não isolando “corpo”, self e “contexto vivido” e não dividindo o corpo em partes e funções isoladas. Essa divisão seria responsável por uma “redução do corpo”, ocultando a sua relação com o mundo experienciado. O paradigma do corpo vivido ajudaria a reorientar os cuidados em saúde, porque o corpo não mais seria visto como um depositário passivo, um objeto impessoal a ser negligenciado ou dado, mas sim como um grande centro das experiências próprias, gestos e expressões.

Soffer (2001), com base no construcionismo social, traz a contribuição de Merleau-Ponty ao repensar a percepção e a corporeidade. Nesse trabalho, o autor coloca que a visão de corpo em Merleau-Ponty é diferente da que é trazida no construcionismo, mas que é importante como forma de se entender a importância do contexto nos estudos em desenvolvimento, justamente por abarcar a dimensão do social, do mundo. A leitura merleau-pontyana feita por Soffer traz que o corpo não existe primeiro (em seus aspectos físico-biológicos) e depois se relaciona com o mundo, mas sim que ele existe justamente dentro, na relação eu-outro, eu-mundo.

A importância de se pensar a percepção, para Soffer, está em que o processo não é exclusivamente biológico nem fisiológico, mas algo que precede tais aspectos. A percepção não seria os cinco sentidos e seus mecanismos, mas uma simultânea experiência ativa e passiva de tocar e ser tocado, de sentir e ser sentido, no encontro com o outro. O corpo se daria na experiência do social, na alteridade, nos gestos, nas vozes, no contato com as outras pessoas. O senso de identidade própria seria formado e reformado pelo movimento e entre uma miríade de modalidades de experiências, incluindo as intrapessoais e as interpessoais.

Paterson e Hughes (1999), trabalhando com a deficiência física, conferem grande peso à fenomenologia, trazendo também o conceito de “corpo vivido” como uma possibilidade de se superar os dualismos clássicos. Segundo sua leitura merleau-pontyana, o mundo seria percebido por meio do corpo e seria através do corpo que as pessoas teriam acesso ao mundo e o conheceriam, o descobririam. Assim, a nossa percepção da realidade cotidiana dependeria desse “corpo vivido”, que é um corpo que simultaneamente experiência e cria o mundo. Deste ponto de vista fenomenológico, o mundo se tornaria corporificado, pois ele seria nossa “projeção” que nos faria ser o que somos.

O corpo enquanto corporeidade indica que a forma como a pessoa sente seu corpo, de fato, como o experiência, é temporariamente/espacialmente específico, e raramente há uma constante na forma como a pessoa reflete sobre seu corpo e como, alternadamente, ele é concebido (Imrie, 1996, citado por Paterson & Hughes, 1999, p. 605, tradução nossa).

Trazendo uma noção de corpo a partir do pós-estruturalismo, Paterson & Hughes (1999) consideram o corpo enquanto um produtor de discursos, como algo ativo. Esta corporeidade também é vista além do biológico, sendo interpenetrada fortemente pela cultura, pelas políticas e pelas práticas sociais.

Hoogland (2002) explicita o atual interesse na questão do corpo/ corporeidade devido, entre outros, aos recentes avanços biomédicos e tecnológicos, que a colocaram no centro das discussões; ainda, como um conceito enigmático na era da pós-modernidade. Esse autor destaca a contribuição merleau-pontyana no sentido de romper com a visão mecanicista de corpo, que o vê em termos de suas partes e funções, não o vendo enquanto totalidade em constante interpenetração com o mundo (cultura, sociedade, alteridade). Coloca a necessidade de envolver simultaneamente os aspectos materiais e não materiais de nossa experiência, atentando para as teorias culturalistas, pelas quais se pode discutir pessoa e contexto.

Essas várias proposições nos indicam os diferentes pressupostos que guiam o olhar desses autores com relação à noção de corporeidade. Porém, pela perspectiva dessa revisão, fomos impelidos a buscar verificar como eles explicitam aquela noção.

 

Definição de corporeidade

Apenas um trabalho explicita, claramente, a noção de corporeidade (Polak, 1997). Essa definição é feita com base em conceitos trazidos da fenomenologia merleau-pontyana e, para esta autora, a corporeidade é entendida:

[...] como mais que a materialidade do corpo, que o somatório de suas partes; é o contido em todas as dimensões humanas; não é algo objetivo, pronto e acabado, mas processo contínuo de redefinições; é o resgate do corpo, é o deixar fluir, falar, viver, escutar, permitir ao corpo ser o ator principal, é vê-lo em sua dimensão realmente humana. Corporeidade é o existir, é a minha, a sua, é a nossa história. (Polak, 1997, p. 37)

Nas demais produções, os autores não trazem definição clara do que entendem por corporeidade, mas dialogam com o termo.

Hoogland (2002) destaca que o conceito de corpo ainda se mostra enigmático, na medida em que é concebido de modo diferente no senso comum e nas ciências da pós-modernidade – o corpo constituiria um “impasse no conhecimento”. Tal autor, apropriando-se das idéias psicanalíticas freudianas, afirma que a superfície corporal, a pele e os atos seriam os únicos receptores e transmissores das sensações de “dentro” para “fora”, ou seja, de contato com o mundo. Hoogland não desenvolve um conceito próprio de corporeidade, mas a relaciona aos conceitos psicanalíticos de separação mãe-filho, ego ideal, consciente, inconsciente, entre outros. Suas contribuições se assentam na multiplicidade de vozes acerca da corporeidade, considerando a importância da cultura ao se pensar o corpo.

Barnard (2000) retoma as contribuições de Foucault e destaca que, na visão contemporânea do corpo (no pós-estruturalismo), esse é visto na intersecção entre a biomedicina e as tecnociências, o que o colocaria como algo a ser materialmente construído e reconstruído, produzindo novas formas de subjetividade. Tal consideração, dentro da cultura ocidental consumista, faria com que se visse o corpo enquanto uma estrutura “superpoderosa”, dotada não apenas de diversas funções como também de atribuições construídas no meio cultural.

Situando a forma de conceber o corpo nas concepções do construcionismo social, Barnard aponta que tal perspectiva tende a enfatizar a dimensão discursiva sobre o corpo, o que levantaria a crítica de que os construcionistas privilegiariam em demasia o corpo como discursivamente produzido. Ainda, a autora coloca a necessidade de que não se reduza o corpo a uma construção, sendo preciso entender como o poder se materializa no corpo. Ao pensar a corporeidade, devese, portanto, atentar para a necessidade de se teorizar a relação entre discurso, subjetividade e corpo, a partir de um olhar da especificidade das práticas discursivas que se (re) materializam no corpo enquanto objeto.

Segundo Barnard, haveria duas formas de conceber o corpo dentro da visão construcionista: dentro do light e dark construcionismo. Na primeira, o corpo se mostraria através da performance lingüística na qual os seus significados são assumidos e codificados primariamente no nível da morfologia corporal, o que equivale a dizer que o corpo corresponde a um veículo de significação e expressão de crenças e valores. Na segunda visão, o corpo se manifestaria enquanto um texto em branco a ser escrito pela cultura, sendo o corpo produzido/construído por discursos de diferentes ordens. Resumidamente, tais modelos enfatizariam duas instâncias diferentes de análise do corpo: uma que o vê como veículo prenhe de significações e outra que o concebe como um objeto significado a partir da cultura.

Soffer (2001) afirma que a concepção de corpo em Merleau-Ponty é diferente daquela no construcionismo, justamente por essa primeira situar a noção de corpo ao nível da percepção. O construcionismo, por sua vez, centra mais nos contextos, o corpo se dando na experiência social, nos gestos, vozes, expressões, no contato com o outro. O senso de identidade, presente no corpo, se daria em um processo contínuo, formado e (re) formado no movimento do pensamento e numa miríade de modalidades de experiência, incluindo momentos de diálogo interno e a imersão da pessoa nos universos do toque, dos signos, dentro de processos de mudanças interpessoais (em que o “eu” assume a posição do “outro”).

Overton (1997), retomando as idéias de Boesch, afirma que o corpo é mais do que um objeto com propriedades anatômicas e psicológicas, sendo um mediador de todas as ações. O conceito de embodiment (corporeidade) teria surgido pelos trabalhos da fenomenologia moderna, relacionado à percepção, pensamentos, significações, intenções e desejos. Ou seja, a própria experiência de vida no mundo estaria essencialmente relacionada ao tipo de corpo que cada um possui (estrutura, forma, deficiências, limitações). A centralidade do conceito de embodiment não é uma reivindicação empírica sobre as causas, mas uma reivindicação relacional das grandes experiências através de um agente expressivo-constitutivo e instrumental-comunicativo. Em conclusão, Overton rejeita a tese de que o embodiment seja simplesmente a elaboração e concretização da emergência da pessoa no campo de visão biocultural. As pesquisas, segundo este autor, devem pensar a corporeidade para articular o relacionamento entre pessoa-ação-cultura.

 

Comentários finais

Com o levantamento, constata-se a complexidade que envolve a noção de corporeidade, salientando diversas vozes presentes no tema. Pontua-se que a existência desses diferentes enfoques e sentidos contribua para a diversidade e atualidade desta questão. As inúmeras noções apontadas se dispõem em construção, simultaneamente contribuindo para constituir todo um novo olhar para o corpo e para o desenvolvimento psicológico humano. Destaca-se, assim, que a multiplicidade encontrada deva ser vista como um mote para que mais conhecimento seja produzido, a fim de enriquecer as discussões já existentes e ampliar o diálogo entre as mesmas.

Um ponto de surpresa refere-se à ausência de uma clara definição de corporeidade. Os trabalhos recuperados trazem a concepção de modo diluído em seus pressupostos de base, deixando subentendida a noção adotada, ou seja, não enfocam na necessidade ou na busca de definição dessa noção, apenas utilizando-a com maior ou menor destaque.

Com relação aos dualismos, os trabalhos geralmente apontam à necessidade de rompimento deles, porém poucos fazem um exercício empírico de ruptura com propostas duais. Entende-se a dificuldade disso ser concretizado na prática, na medida em que nos situamos em uma cultura fortemente influenciada por esta tradição. Destaca-se, assim, a dificuldade de se pensar fora do paradigma moderno e, ainda, de se trabalhar empiricamente com o novo paradigma, haja vista que nenhum estudo trouxe abordagem empíricometodológica do problema. As produções trazem discussões de caráter mais epistemológico, mas mantém-se a necessidade de maior interlocução com o empírico.

A articulação entre teoria e prática deve, ainda, ser enfatizada em mais estudos. Estudos os quais não apenas conceituem adequadamente a noção de corporeidade, mas que relatem dados empíricos que possam contribuir para o delineamento de uma noção de corporeidade que possa ser refletida. Essa articulação, em última instância, é necessária para que se possa pensar acerca de intervenções práticas, como, por exemplo, na inclusão de crianças com deficiências, o conceito podendo (re) orientar o modo como se concebe tais crianças, como se concebe ter um corpo “deficiente” e o que é “inclusão”. Por vezes, este caminho se mostra árduo e complexo, no qual a abertura para o novo tem de se operar concomitantemente com a ruptura com o antigo, de modo que a mudança não apague o que foi construído, mas que imprima um novo caráter às clássicas formas de se ver e de se conceber o ser humano.

Mesmo com a atualidade da questão, acredita-se que os estudos existentes ainda são escassos, notadamente na área da Psicologia e, mais particularmente, na Psicologia do Desenvolvimento. Pode-se pontuar, ainda, que a noção de corporeidade que vem sendo trabalhada contempla e simultaneamente extrapola o conceito de dialogismo, pois permite que se leve a noção vinda da Lingüística para o campo da Psicologia do Desenvolvimento. Assim, pode-se pensar no desenvolvimento em relação ao outro, resgatando como fundamental a experiência e a perspectiva da pessoa, em que se destaca o papel do corpo nessa vivência fortemente ligada ao outro/mundo.

Nesse sentido, autores como Coelho Jr. (2003), que salienta as contribuições da filosofia fenomenológica ao estudo psicológico da alteridade, defendem não apenas maior explicitação da noção de corporeidade como a introdução de novo conceito: de intercorporeidade. Tal conceito remete à valorização de plano existencial que não pode ser tematizado a partir da primazia das filosofias do sujeito e das representações, exigindo um “inevitável encontro com a radical alteridade do outro”. O eu e o outro são partes constituintes da mesma intercorporeidade.

 

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Texto recebido em agosto/2007.
Aprovado para publicação em abril/2008.

 

 

*Psicólogo e Mestrando em Psicologia e Educação pela FFCLRP – USP. E-mail: scorsolini_usp@yahoo.com.br
**Psiquiatra, Mestre em Psicologia, Doutora em Saúde Mental e Docente do Departamento de Psicologia e Educação da FFCLRP – USP. E-mail: katiamorim@ffclrp.usp.br
1Antes de adentrar-se na apresentação da revisão, vale destacar que, ao longo das leituras, verificou-se que para tratar do “meio” os autores se utilizaram de terminologias diferentes, usando termos como contexto, ambiente, cultura etc. Muitas vezes, contemplaram-se aspectos diversos desse “meio”, pelo fato do estudo partir de bases epistemológicas diferentes. Por reconhecer essas diferenças, preservaram-se os termos originalmente utilizados pelos autores em seu texto, de modo a não correr o risco de descaracterizar o que eles propunham em seus artigos. Apesar do reconhecimento das diferenças, não se tratará dos significados específicos desses termos em relação a cada um dos artigos, por entender-se que isso implicaria uma ampla discussão, com o desvio do foco atual de apresentação.

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