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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) v.14 n.2 Belo Horizonte dez. 2008

 

ARTIGOS

 

Bahia, um Brasil evocado em exotismo: alegria, negritude, sabor e movimento nas representações sociais de universitários

 

Bahia, a Brazil evoked in exoticism: joy, negritude, flavor and movement in the social representations of university students

 

Bahía, un Brasil evocado en exotismo: alegría, negritud, sabor y movimiento en las representaciones sociales de estudiantes universitarios

 

 

Cristal O. Moniz de Aragão*; Angela ArrudaI**

IUniversidade Federal do Rio de Janeiro

 

 


RESUMO

Este trabalho discutirá a representação social da Bahia para um grupo de 1 029 estudantes universitários residentes em sete Estados das cinco regiões do País. Interessadas na construção social de realidades, utilizamos a teoria das representações sociais de Moscovici e Jodelet como ferramenta para compreender os mecanismos psicossociais envolvidos neste processo. A partir do questionário aplicado, contendo desenhos, respostas abertas e fechadas, estas passaram por uma análise de conteúdo categorial temática nos moldes propostos por Bardin. Elas permitem observar um destaque da Bahia perante outros Estados, tanto em relação ao conhecimento e informação quanto a questões mais específicas, como as manifestações culturais e os eventos históricos que a caracterizam. O conjunto de resultados traz uma representação social positiva do Estado, composta por elementos que marcam a identidade social e se misturam a um olhar exótico, aqui apreendido como uma estratégia antropofágica de visibilidade.

Palavras-chave: Representações sociais, Bahia, Identidade social, Exotismo, Antropofagia.


ABSTRACT

This paper discusses the social representation of Bahia for a group of 1.029 university students from seven states of the five regions of the country. Interested in the social construction of realities, we used Moscovici’s and Jodelet’s theory of social representations as a tool to understand the psycho-social mechanisms involved in this process. A questionnaire also composed of sketch drawings went through a category and thematic content analysis according to Bardin’s perspective. Results showed a prominence of Bahia over other states, in matters related to knowledge and information as well as in more specific ones, such as cultural manifestations and historical events that characterize that state. The set of results presents a positive social representation of the place, composed of elements that mark a social identity highlighted by an exotic approach, apprehended as an anthropophagic visibility strategy.

Keywords: Social representations, Bahia, Social identity, Exoticism, Anthropophagy.


RESUMEN

Este trabajo discute la representación social de Bahía para 1.029 estudiantes universitarios de siete estados de las cinco regiones de Brasil. Interesadas en la construcción social de realidades, utilizamos la teoría de las representaciones sociales de Moscovici y de Jodelet como herramienta para entender los mecanismos psicosociales involucrados en este proceso. Se aplicó un cuestionario, con dibujos y respuestas abiertas y cerradas, que pasó por un análisis de contenido categorial y temático desde la perspectiva de Bardin. Los resultados permiten observar una prominencia de Bahía sobre otros estados en cuestiones sobre conocimiento e información y asimismo en preguntas sobre las manifestaciones culturales y los acontecimientos históricos que caracterizan ese estado. El conjunto de resultados ofrece una representación social positiva del lugar, compuesta por elementos que marcan la identidad social y se mezclan con un mirar exótico, aprehendido como estrategia antropofágica de visibilidad.

Palabras clave: Representaciones sociales, Bahia, Identidad social, Exotismo, Antropofagia.


 

 

Este trabalho se inseriu no projeto “Imaginário e representação social do Brasil”, cujo objetivo foi debruçar-se sobre o imaginário e as representações sociais de jovens brasileiros a respeito do País na atualidade. A teoria psicossociológica das representações sociais, em sua abordagem processual, pensada por Serge Moscovici e Denise Jodelet, aplica-se à edificação coletiva de mundos por pessoas em seu universo cotidiano, concentrada numa perspectiva que se volta mais ao processo, à gênese das representações do que à sua estrutura. No recorte aqui realizado, trabalharemos com os dados referentes ao Estado da Bahia, com o objetivo de compreender como este se configura para uma população de 1.029 estudantes universitários.

A escolha teórica é balizada pelo desejo de pensar a construção de realidades proposta por essa teoria, de maneira que o objetivo da discussão travada é pensar o Brasil, e mais especificamente a Bahia, como um tema presente nas palavras desses brasileiros que ganha corpo e forma em construções coletivas. Em busca de uma imagem e uma explicação psicossociológica da Bahia, este trabalho discute os resultados empíricos da pesquisa que ajudam a compreender as condições de produção dessas ideias, assim como o sentido que elas ganham.1

 

Referencial teórico

Apesar da aparente simplicidade da proposição, pensar a construção social da realidade proposta na teoria das representações sociais esconde um arsenal teórico vasto, e o esforço de justificar e melhor delimitar a escolha se torna importante. Este trabalho postula que a teoria das representações sociais busca compreender como os objetos sociais relevantes para um grupo são por ele compreendidos. Pensa em uma construção, pois está baseada em um paradigma que considera a realidade erguida no bojo das relações sociais. Pensa-a imbricada no social, pois é composta por um mosaico de ideias individuais/coletivas que se conjugam em teorias “leigas” estruturadas; essa articulação se autonomiza de certa forma, caindo no domínio do naturalizado e corriqueiro. Aplicado aos conhecimentos do homem comum, ao discurso do dia-a-dia, este é um breve resumo da abordagem das representações sociais, a maneira como a teoria se debruça sobre seus objetos de estudo e como compreende a construção social.

O sujeito decorrente desse enquadramento é um pensador que conversa. Pensa, pois dá sentido ao mundo nas rodas de bate-papo tão comuns às cidades brasileiras. Pedreiro de realidades, a escolha dos tijolos e sua disposição expressam a atividade no ato de conhecimento e edificação de objetos sociais, enquanto a mão é também parte disso; mais do que isso, esse sujeito é criativo na ação de conferir sentido ao mundo. Expostos o objeto sobre o qual se estuda, a forma como se o compreende e quem o faz, a representação social pode ser definida como “uma forma de conhecimento socialmente elaborado e partilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (Jodelet, 2001, p. 22).

A atenção inaugurada por Moscovici quanto ao conhecimento do senso comum como alvo de estudos sistemáticos pela psicologia social é ponto importante a ser discutido. O chamado universo consensual, antes relegado à posição de fonte de ilusões e de enganos, é alçado à categoria de objeto de estudo, considerado hierarquicamente igual a outra formas de conhecimento (Moscovici, 1978). Para ele, trata-se da “formação de um outro tipo de conhecimento adaptado a outras necessidades, obedecendo a outros critérios, num contexto social preciso” (1978, p. 24).

Este breve quadro teórico pintado carece de algumas pinceladas sobre o objeto de estudo a ser abordado neste trabalho. A Bahia está presente no cotidiano de diversos grupos de ponta a ponta do Brasil, seja por meio de uma difusão de imagens em telenovelas,2 em desfiles de escola de samba,3 propaganda turística (Secretaria da Cultura e Turismo, 2005), do sucesso da música e do carnaval da Bahia, além de fazer parte do aprendizado escolar (Ensino médio, 2005). Essas fontes de informações ajudam a compreender a construção desse objeto, mas de forma alguma o esgotam: na teoria das representações sociais, o conhecimento não se dá como uma simples imagem, uma cópia da realidade que se imprime sobre o sujeito, mas antes existe como uma produção de conhecimentos e de práticas. O contemporâneo assume formas caleidoscópicas e fluidas, tornando a sua captura fugidia e cada vez mais plasmada segundo grupos específicos. Assim, erigir a informação em conhecimento exige a criatividade do sujeito, ressaltada na operação da representação desse lugar para o grupo de 1.029 estudantes universitários que estudaremos nas páginas seguintes. Dessa forma, não é de admirar-se que os resultados desta pesquisa revelam a exclusão de aspectos que caracterizam esse Estado; o eclipse de informações é sinal que reforça o sentido de construção social da realidade na qual a teoria está fincada, numa espécie de “arquitetura social”.

No operacionalizar da teoria, Moscovici (1978) propõe pensar dimensões a serem buscadas no erguer de uma representação, neste caso, de uma certa Bahia. Elas são, além da informação sobre o objeto, o campo da representação, que remete à ideia de imagens e modelo social, um conteúdo sistematizado de proposições relativas ao objeto, e a atitude, que perpassa as duas dimensões anteriores, sinalizando a orientação geral com relação ao objeto (Moscovici, 1978), e que, para ultrapassar esta organização, passamos a chamar de dimensão afetiva (Arruda, 2007).

A mudança também é contemplada pelo criador da teoria num movimento envolvido na geração e transformação desse tipo de conhecimento, dividido em dois processos que se entremeiam na edificação dos conhecimentos. Eles são responsáveis por converter um elemento estranho a um grupo social em algo familiar, próximo. A objetivação pode ser entendida como uma aproximação da ideia pela via material; ao transformar um elemento pertencente a um universo intelectual de forma exclusiva em algo quase tangível (Moscovici, 1978), este pensamento torna-se mais acessível, pronto a tomar novas feições (Moscovici, 2003). É o processo pelo qual “um conceito ou fenômeno adquire materialidade e se torna expressão de uma realidade vista como natural” (Ordaz & Vala, 1998, p. 88). Ao mesmo tempo, a ancoragem atua relacionando o novo elemento a categorias já existentes; é a forma como as representações sociais ganham sentido e funcionalidade (Moscovici, 1978). Assim, esse movimento único formado por dois processos imbricados entre si é responsável pela forma e pelo conteúdo dos novos conceitos, que se refletem e materializam diretamente na prática do grupo social.

 

Metodologia

A fim de explorar como se materializa a ideia de Bahia para os 1.029 estudantes participantes da pesquisa, foi utilizado um recorte do questionário constituído de três partes que foi aplicado a universitários de instituições públicas e privadas de Estados das cinco regiões do País (Pará, Pernambuco, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul) dos cursos de Medicina, Enfermagem, Engenharia, Pedagogia e Serviço Social.4

Na primeira parte do instrumento, os participantes foram solicitados a desenharem o contorno do mapa do Brasil e o que acreditavam existir nele. Em seguida, descreveram o que desenharam e por que o fizeram, além de responderem a duas perguntas abertas. Na segunda parte, os estudantes preencheram diversos mapas e responderam a questões abertas e fechadas sobre temas como a história, a cultura, etnia, distribuição da riqueza e outros. Uma terceira parte continha perguntas tocantes a dados socioeconômicos dos participantes.

Os resultados da pesquisa a serem aqui apresentados se ocuparam apenas de algumas questões da segunda e terceira partes do instrumento de pesquisa do conjunto dos participantes e se restringiram às respostas verbais. Elas foram submetidas a uma análise de conteúdo, conforme o modelo proposto por Bardin (2003), em sua modalidade categorial e temática. A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que tem como objetivo reorganizar o material a ser analisado. Trata-se de uma metodologia na qual as categorias não existem a priori a serem identificadas no material coletado, mas, antes, surgem a partir do agrupamento dos temas percebidos; essas categorias são reformuladas ao longo do processo de acordo com o surgimento de novos temas e o melhor direcionamento para os objetivos perseguidos, ditado pelo conhecimento dos contextos que informam as respostas e das contribuições de outras áreas do conhecimento

Para cada pergunta aberta foi criada uma matriz de análise, construída a partir dos temas presentes nas respostas dos participantes, de acordo com as grandes dimensões que configuram. O tema serviu como unidade de análise, considerando que, em cada resposta, pode ser identificado mais de um. Assim, a partir de um critério de semelhança testado por um sistema de juízes, os temas foram organizados em categorias de modo a obter um panorama das repostas dos sujeitos, contabilizadas segundo o critério de presença/ausência, conforme descrito a seguir.

 

Resultados e discussão

Os resultados mostram a Bahia como o Estado sobre o qual mais participantes afirmam ter informação (45,38%)5 e o mais corretamente localizado (59,09%) no mapa do Brasil entre os 1.029 estudantes. Esse destaque é ainda maior quando realizada comparação com os outros estados da região Nordeste: a Bahia tem mais do dobro das respostas do segundo Estado da região nesses quesitos (Pernambuco, com 17,78%, e Bahia, 29,15%). A comparação com os escores de conhecimento e localização de Pernambuco aponta que os altos índices atribuídos a ela não são produto de um viés da amostra, que conta com estudantes tanto da Bahia como de Pernambuco em número semelhante.

O destaque verificado nas questões de localização e informação ganha corpo e sentido mais preciso quando visitamos as questões que tocam as manifestações culturais, fatos históricos, atividades econômicas, somadas a outras respostas, como se apresentará a seguir.

Em outra questão, foi pedido aos participantes que localizassem em um mapa do Brasil, que contava apenas com o contorno, onde estavam as manifestações culturais mais importantes, acompanhado da descrição destas. A Bahia é o Estado que recebe a maior frequência nesse aspecto (16,72%); a região Nordeste é a mais citada como lugar onde essas manifestações são mais frequentes. A análise das descrições que caracterizam as expressões culturais da Bahia foi composta por categorias que ressaltam a culinária (52,12%)6, que inclui acarajé, vatapá e outras iguarias, a música, a dança, as festas (44,24%), o carnaval (30,91%). As festas, músicas e danças que fazem referência à cultura negra (28,48%), assim como manifestações religiosas (23,03%) a ela também relacionadas aparecem em seguida, relação não verificada com o mesmo peso quando os jovens se remetem ao Nordeste.

É importante frisar que as manifestações culturais das quais tratamos aqui não se confundem com a ideia de produção ligada à indústria cultural (realização de filmes, livros, programas de tevê e shows explorada numa questão sobre a distribuição das atividades econômicas pelo Brasil). As regiões mais destacadas pelos participantes neste caso são Sudeste e Sul (66,67% e 20,21%), às quais se segue o Nordeste (16,81%), indicando que esta região não está particularmente ligada a tal tipo de atividade econômica. Assim, apontar o Nordeste e a Bahia como polos de manifestações culturais parece remeter a aspectos regionais, identificando e delimitando uma certa representação de cultura.

Em outra questão, que trata dos eventos históricos considerados mais importantes, seguindo a mesma lógica da questão anterior (marcar no mapa e descrever a importância) esse Estado também se destaca. As descrições dos participantes contêm informações referentes à história oficial e relacionadas à descoberta do Brasil: três quartos das menções ao Estado se referem a esse período. Nas palavras dos jovens, a Bahia encarna o início de tudo (22,79%)7, o local onde os portugueses chegaram (39,03%) e figura como o Estado que detém a primeira capital (13,11%). Aqui surgem, mais uma vez, respostas relativas ao negro, juntamente com o tema da escravidão (12,25%). Quanto ao número de menções a fatos históricos importantes, é o Estado no qual elas são mais numerosas.

Do ponto de vista histórico, a Bahia aparece então como berço da nacionalidade, o lugar onde o Brasil nasceu: o “início de tudo”. A cara da Bahia, para esses participantes, parece posicionar-se como um espaço privilegiado de resgate da origem. Em continuidade à questão apresentada anteriormente, é lá também o berço da cultura brasileira mais “própria” do País, que inclui fatos históricos importantes para a formação do Brasil, como o descobrimento, a primeira capital, mas também relacionados à cultura e aos negros. Isso parece sugerir que o nascimento da nação aqui não se divorcia da “terceira raça” (Freyre, 2005) que a constituiu, cujo legado é reconhecido e associado à cultura.

Em outra questão, os participantes caracterizaram cada uma das naturalidades brasileiras, completando frases como “baiano é...”, “acreano é...”. As respostas foram divididas em grandes eixos, segundo uma matriz de categorização, dos quais se tratarão aqui apenas os mais significativos, relativos a aspectos psicossociais, etnia/cor da pele e características culturais.8 Os resultados mostram que os baianos, comparados a todas as outras naturalidades brasileiras, são os que recebem a maior frequência de características relacionadas a aspectos psicossociais, o modo de ser e de viver, para o conjunto dos participantes. Os qualificativos se reúnem principalmente nas categorias positivas de alegria (19,70%) e hospitalidade (9,90%); essas, é importante frisar, são características atribuídas a todos os brasileiros, mas é na Bahia que o peso do consenso é maior. Além dessas, ao observarmos a caracterização étnica atribuída às naturalidades, os baianos são adjetivados como negros (cerca de 1% da população de 1 029). O escore seguinte é relacionado aos paraibanos (0,02%). Mais uma vez a presença negra é relacionada ao Estado, ainda que discretamente.

Também foram analisadas as respostas relativas às naturalidades segundo a origem do sujeito, a fim de observar a caracterização dos residentes no Estado. Assim, separamos as respostas em dois grupos: um primeiro, com as características que os participantes da Bahia atribuíram a si mesmos, e outro, com o que o restante da população da pesquisa dizia sobre a figura do baiano. Nesses resultados, as frequências mencionadas anteriormente quanto à alegria e hospitalidade se acentuam ainda mais no grupo autocaracterizado, compondo pistas que sugerem uma elevada autoestima entre os naturais do Estado. Tal separação não só confirmou e ressaltou algo observado anteriormente como também trouxe à tona outra diferença entre os grupos. A análise qualitativa das respostas mostrou que os não-moradores da Bahia atribuem aos baianos a qualificação de lerdo, enquanto para os estudantes baianos, essa característica ganha a conotação de tranquilo, sem estresse.

Essa diferença pode ser mais bem compreendida ao debruçar-se sobre os estudos de Tajfel e Turner (Amâncio, 2000), quanto às teorias da identidade e da autocategorização. A teoria da identidade social (chamada dessa forma para simplificar as muitas microteorias formuladas por Tajfel) começou a ser usada para explicar a discriminação intergrupal no “paradigma do grupo minimal”. Baseado em estudos experimentais, esse paradigma defendia que a categorização social das pessoas em grupos diversos favorecia os membros do próprio grupo em detrimento dos pertencentes a outro grupo (Amâncio, 2000). A categorização social desses sujeitos seria a responsável pela identidade social e faria parte do autoconceito dos indivíduos. A relação entre a categorização social do grupo com o autoconceito (a identidade social do indivíduo) é, para Tajfel, a motivação necessária para a formação de uma identidade social positiva que se reflete num movimento de reforço da superioridade e distintividade do seu grupo com relação aos outros. Isto é,

A identidade social e a pertença ao grupo estão inextricavelmente ligadas no sentido de que a concepção de alguém ou a definição que possa ter de si mesmo [...] são grandemente compostas de descrições de si em termos de características definidoras do grupo social ao qual pertence. (Baugnet, 1998, p. 68)

A valorização do lugar de origem aqui faz parte da identidade social: ela caminha ao lado da valorização do grupo de origem como forma de construir uma identidade positiva para ele (Baugnet, 1998, Amâncio, 2000). Assim, por meio da identidade comum, forma-se uma identidade social no grupo, o que implica considerar o aspecto identitário presente na teoria das representações sociais, já afirmado por Jodelet (1984), que cumpre função de manter uma imagem positiva e garantir especificidade.

O peso da cultura na identificação da Bahia é reforçado nas referências ao povo, pois também está presente no eixo características culturais. Os baianos (7,60%) ficaram em terceiro lugar nesse aspecto, depois dos gaúchos (11,70%) e mineiros (8,60%), sendo associados principalmente às referências reunidas em festa, música, dança e esporte (4,90%), em sintonia com as expressões ligadas ao movimento, aos sentidos, ao corpo.

As respostas explicitadas até o momento sugerem, à luz da teoria das representações sociais, um processo de seleção e descontextualização (e, portanto, de objetivação) que produz uma representação social da Bahia, tanto por seus moradores como pelos outros estudantes pesquisados, bastante edulcorada. Problemas sociais que existem até os dias de hoje e são historicamente construídos, como a questão da escravidão e suas consequências, ou a desigualdade social, não são mencionados ou são minimizados frente a outras questões.

Assim, as implicações políticas da “visão do Paraíso” que essa Bahia parece representar precisam ser consideradas. A abordagem crítica do País foi verificada como característica do País construído pelos jovens em outro estudo também inserido no projeto do qual este trabalho faz parte (Arruda, Aragão & Santos, 2005). Neste, foi realizada uma comparação entre dois grupos, moradores do Rio de Janeiro, aos quais se fez a aplicação do mesmo instrumento: um deles foi composto por universitários de 17 a 24 anos, e o outro, por adultos com idades entre 50 e 60 anos. Os resultados demonstraram que as diferentes experiências históricas vividas por esses sujeitos (o período ditatorial, a redemocratização, pelos mais velhos, os anos 90 e o terceiro milênio por todos) refletiam sobre suas concepções de País. Os jovens compreendiam o Brasil a partir do contraste, oscilando entre a ênfase aos problemas sociais do País e aspectos de sua diversidade, riqueza e potencialidade, materializado pelo uso recorrente de conjunções concessivas, expressadas no uso recorrente do apesar de em suas frases;9 já o grupo mais velho se expressava sobre o Brasil em lentes mais otimistas, sem manifestar crítica. A característica crítica do grupo de jovens cariocas em sua compreensão de Brasil parece ficar mais atenuada quando focados na Bahia; aparentemente as máculas desse lugar específico parecem mais difíceis de vislumbrar no desenho que compõe o País.

 

O que que a Bahia tem?

Em continuidade, os resultados apresentados acima serão pensados num contínuo que dá margem para que as relações entre as questões sejam vistas mais em interação. Compreendidas como parte de um processo de construção sobre o Brasil, focado em diversos aspectos, a imagem de um certo lugar de Brasil vai sendo edificada por esses participantes.

Esse olhar transversal sobre as respostas, embora não encontre um peso maior da questão negra, apresenta presença dela nas ideias que circulam sobre a Bahia como em nenhum outro Estado. Seja na cultura, na história ou nas características psicossociais do povo, a construção da representação social de Bahia parece conter resquícios de um tempo no qual a associação Bahia/negros era ressaltada pelos viajantes de séculos anteriores que por lá passavam, como demonstra a afirmação de Frézier: “Noventa e cinco por cento das pessoas que se veem na cidade baixa são negros ou negras” (citado por Verger, 1999), ou ainda Ave Lallemant, “[...] Poder-se-ia sem muita imaginação tomá-la como uma capital africana [...]” (citado por Verger, 1999). A essas frases podem ser acrescidas algumas dos participantes da pesquisa, que também a compreendem como um lugar de resgate e de resistência da cultura negra: “A cultura africana instalou-se na Bahia e é um dos lugares que mais a conservam” (estudante de Pedagogia, universidade pública, PE). Mais do que isso, afirma-se: “Acredito que Salvador é o Estado que mais representa a cultura Brasileira fora do país”10 (estudante de Pedagogia, universidade privada, BA).

Por sua vez, elementos contemporâneos importantes vinculados à ciência e à tecnologia, como a presença do polo petroquímico em Camaçari e a intensa pesquisa com células-tronco realizadas no Estado (Santos, Soares & Carvalho, 2004), não são lembrados pelos participantes dessa pesquisa, mesmo que eles, como universitários que são, façam parte daqueles que têm mais acesso à informação entre todos os brasileiros. Não marcar esses elementos ou esquecê-los pode também ser sinal de um distanciamento sentido pelos participantes da pesquisa. Num passo além, a ausência desses elementos pode significar uma posição de exterioridade aos acontecimentos da história para esses jovens: presos num tempo distante no passado, a História não os alcança, não fazem parte dela, não são atores? Estariam eles vivendo o fim da História? Não temos elementos que respondam a essas perguntas, mas despontam como ponto a ser considerado em outros estudos.

É importante ressaltar que tais observações, ao lembrar ausências e ressaltar presenças, não têm intenção de comparar essas construções com um suposto mundo real; a teoria das representações sociais se preocupa em compreender como os mundos são construídos pelos grupos sociais e como isso interfere na vida dessas pessoas, de modo que essas características são entendidas como aspectos da seleção e descontextualização de informações sobre esse lugar. Esse processo, parte da objetivação proposta por Moscovici (1978), é compreendido como uma operação nas ideias: de um conjunto sistematizado são retirados ou não considerados elementos em função de critérios culturais, afetos, valores e do contexto no qual estão inseridos. Seja como for, o peso da mídia é inegável sobre a representação da Bahia, divulgando informações e imagens que concorrem para uma mirada específica, influenciada pelas raízes negras, a festividade e um ritmo de vida próprio (lerdo ou apenas tranquilo). Ao mesmo tempo, essa divulgação é acolhida e modificada igualmente pelo público, que a remodela segundo as características de grupo, as circunstâncias, o estilo cognitivo (Moscovici, 1978).

De Rosa e Mormino (2002) ressaltam a importância da mídia como forma de criação da memória social e um instrumento na comunicação entre os membros do grupo. Segundo Jodelet (2001), é no processo de comunicação que as representações sociais são simultaneamente geradas e adquiridas. Isto é, nesse processo, os indivíduos de um grupo teorizam, criando uma rede de explicações sobre um assunto que lhes é relevante e, ao mesmo tempo em que o constroem, compartilham-no. Portanto, a mídia, e em parte os investimentos realizados pelo governo da Bahia a fim de reforçar a importância do turismo como atividade econômica, evidenciam sua influência, incidindo e reforçando a construção da representação positiva que os participantes da pesquisa têm do Estado.

Com efeito, a atividade turística representa uma das grandes fontes de arrecadação do Estado. Dados da Secretaria de Cultura e Turismo apontam que o impacto da renda gerada pela atividade turística representa metade do PIB baiano (50,04%).11 Acompanhando esse ritmo, o número de turistas no Estado aumentou consideravelmente nos últimos anos: com relação a 1991, o número de entradas na Bahia mais do que dobrou em 2004, alcançando 4,9 milhões de turistas. No tocante ao turismo interno, em 2005, a Bahia despontava como o quinto Estado brasileiro receptor de turistas, depois de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina, segundo pesquisa do Ministério do Turismo publicada na imprensa (PREÇO e insegurança limitam turismo interno, 2005).

Essa importante atividade turística, expressa pela “vocação natural da Bahia para o turismo”12 exige investimentos tanto em infraestrutura quanto em propaganda. Essa é uma pista não desprezível para entender a dimensão que a Bahia assume nas referências dos universitários participantes da pesquisa.

A visão de Bahia turística, partilhada não só pelos moradores, mas por toda a população da pesquisa, expõe uma face exotizada do Estado que, para esses jovens, funciona também como um lugar de resistência da cultura brasileira e negra no País associado à posição de portador e maior representante do nascimento do País para o mundo.

Segundo Souza (1994), a caracterização do exótico aparece como forma de dominar o estranho que se apresenta, admirando-o.13 O movimento de dominação inclui a anulação da posição do diferente, com um discurso produzido não por ele, mas pelo visitante: “Não se trata de escutar o outro, mas sim de vê-lo e de falar no seu lugar” (Souza, 1994, p. 143).

O trabalho de Souza sobre o olhar exótico atribuído àquelas que foram um dia as colônias latino-americanas traz interpretações acopladas a mecanismos que colocam o conceito em cheque. Ele pressupõe que esse povo das regiões quentes da Terra não elabora interpretações desse outro que o diz exótico, estrangeiro. A teoria das representações sociais considera que o conhecimento social é construído, de modo que não cabe pensar numa simples assimilação do pensamento do “descobridor”. Os sujeitos sociais operam no conceito: nos termos das representações sociais, o discurso sobre o que é o País, a Bahia, passa pelos processos de objetivação e ancoragem, é, enfim, apropriado, mas remodelado. Nesse sentido Said (1995) também aponta, em seu trabalho, a marca da atividade e interferência do colonizado, afirmando que as incursões europeias (materializadas em seu livro pelo imperialismo britânico) aos países da África e da Ásia não se resumiram à invasão e imposição da cultura ou modo de vida trazido pelos viajantes, mas entende esse encontro como um embate que marca consequências profundas em ambos.

No sentido desses impactos pensados por Said, a pergunta que se impõe é sobre o significado da apropriação e reafirmação constante, de moradores e não-moradores da Bahia, de uma face exótica, que se amalgama na identidade e no turismo aqui discutidos. O exotismo pode ser compreendido como estratégia antropofágica, que opera uma deglutição canibal do olhar estrangeiro que digere e se apropria de algumas de suas características, produzindo um sentido de cultura em sintonia com algo que é próprio (inspirado em Andrade, 1928). O exotismo carrega uma dupla faceta que, ao mesmo tempo, nos compraz exibir e partilhar, relacionada à beleza, ao corpo, aos sentidos, ao hedonismo, ao prazer de viver; mas também pode ser lido como apropriação do olhar, transformado numa plataforma para a visibilidade, para colocar em evidência as vozes caladas pela tentativa de falar em seu lugar. Opera-se uma perversão do olhar exótico, que caminha na linha de fronteira.

Num jogo que transita entre o pasteurizado e sua ultrapassagem, a Bahia exerce um fascínio (materializado na quantidade de menções dos participantes da pesquisa) no enigma que representa. Entendida como um lugar que encarna, ao mesmo tempo, a alteridade radical e aquilo que nos é mais próximo, a representação de Bahia pode ser tomada como uma objetivação do Brasil, ao fazê-la portadora prototípica de características marcantes do povo brasileiro e de sua importância na formação do País. Ordaz e Vala (1998), ao discutirem a noção de objetivação, entendem que essa operação pode dar-se pela via da metonímia: a Bahia parece representar a pars pro toto não só para os estrangeiros, mas também entre esses brasileiros pesquisados. Antropofágica e metonimicamente aproveitamo-nos do olhar estrangeiro com a declaração de Stephan Zweig (2001): “A Bahia, e só a Bahia, nos permite conhecer e compreender o Brasil”.

Os delineamentos de um campo de representação organizado pelo destaque e a atribuição de tradições culturais, cujas manifestações são marcadas pelo lugar do corpo, resgates históricos de caráter fundacional, assim como a valorização do povo baiano como aquele que aparece como o mais alegre e acolhedor do Brasil, são alguns dos elementos que delineiam a atitude positiva com relação à Bahia. As dimensões que compõem essa representação são baseadas na informação que os participantes têm, mas também na maneira como, a partir dela, selecionam e redesenham um campo construído com a presença da negritude em subtexto e uma expressão de afetos positivos com relação ao seu conjunto, produzindo a figura de um povo feliz e descontraído. Aí comparecem o baiano tranquilo, a cultura, de raízes negras, a origem histórica. A Bahia é o início de tudo, e sua cultura, permeada pela herança africana, objetiva-se na festa, na culinária (prazeres do corpo) e na alegria do povo.

 

Referências

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*Texto recebido em agosto/2007.
Aprovado para publicação em março/2008.

 

 

*Mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRJ, e-mail: cristalaragao@yahoo.com.br
**Professora adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e-mail: arruda@centroin.com.br.
1Este trabalho não poderia realizar-se sem o auxílio dos membros da equipe de pesquisa: Ana Carolina Dias Cruz, Carolina Fernandes Pombo de Barros, Joana Coelho Barbosa, Juliana Maria Santos Rodrigues, Luana Pedrosa Vital Gonçalves, Marcia Inês da Silva Ribeiro, Patrícia Simon Lorenzutti, Paula Brito Cordeiro, Paulo Cardoso Ferreira Pontes, Renilma Coelho, Sara Costa Cabral Mululo, Tamara Galieta Nascimento, Thiago Francisco Abraira Crespi. Da também coordenadora do projeto, Lilian Ulup, e, em especial, de Verônica Braga dos Santos, parceira próxima na construção deste trabalho.
2São alguns exemplos as novelas Gabriela (1975), Tieta (1989-90) e Renascer (1993).
3Enredo da G.R.E.S. Salgueiro “Bahia de todos os deuses”, em 1969, retrabalhado pela G.R.E.S. Tradição em 2005; G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense, com o enredo “Bahia em festa”, em 1968; G.R.E.S Salgueiro, com o enredo “Uma romaria na Bahia”, de 1955; e Escola de Samba Rocinha, com o enredo de 1996, “Bahia com muito amor”, são alguns dos exemplos, além da referência implícita à Bahia em muitos outros sambas-enredos.
4A escolha das carreiras foi feita conforme análises que apontam alguns critérios, tais como família, escolaridade, etnia etc. como influentes no desempenho escolar do indivíduo e permitem traçar similitudes e contrastes entre os cursos quanto ao nível socioeconômico dos alunos. Os Estados foram escolhidos também de modo a garantir a aplicação em ao menos um Estado de cada região geográfica do País.
5As porcentagens em todo o trabalho, exceto nos momentos em que se indique o contrário, foram calculadas com base no número total de participantes da pesquisa, 1.029 sujeitos.
6 Aqui as porcentagens foram calculadas considerando o número total de menções ao Estado por todos os participantes nesta questão, 165 respostas.
7As porcentagens também sofreram ajustes nessa questão e foram calculadas semelhante à questão sobre cultura, em relação ao número de menções ao Estado nessa questão, 351 respostas.
8Para uma análise mais aprofundada dessa questão, consulte artigo de Arruda, Gonçalves e Mululo (2008).
9O uso de conjunções concessivas, que admitem uma contradição, é recorrente, como no exemplo: “Apesar de ter um grande território, ainda assim aceita pacificamente essa posição de colaborador das grandes potências mundiais”; “Muitos países não têm a alegria de viver, do seu povo, mesmo com tanta injustiça social e tanta pobreza”.
10Grifo das autoras. Interessante notar que Salvador, capital do Estado da Bahia, passou por Estado para esta participante, e que a “cultura Brasileira” ganha ares de importância com a letra maiúscula.
11Dados da Secretaria de Cultura e Turismo da Bahia, 2005.
12Discurso do governador em exercício do Estado da Bahia em 2005, Paulo Ganen Souto.
13Essa definição concorda com as raízes etimológicas da palavra, definida por Houaiss como “exótico pelo latim como exotìcus,a, um “estranho, estrangeiro, peregrino, que vem de fora”, provavelmente por influência do francês exotique (1552), “que pertence, que é relativo a um país estrangeiro” (1690), “que foi importado de país estrangeiro, em particular de regiões quentes da Terra” (Houaiss et al., 2001).

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