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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.15 no.3 Belo Horizonte dez. 2009

 

RESUMO DE DISSERTAÇÃO

 

 

Fabio Scorsolini-Comin*

Universidade de São Paulo

 

 

Casar, verbo (in)transitivo: bem-estar subjetivo, conjugalidade e satisfação conjugal na perspectiva da Psicologia Positiva

To marry, (in)transitive verb: subjective well-being, conjugality and marital satisfaction in the perspective of Positive Psychology

Casar, verbo (in)transitivo: bienestar subjetivo, conyugalidad y satisfacción conyugal en la perspectiva de la Psicología Positiva

 

 

Este estudo exploratório, descritivo, transversal e correlacional teve por objetivo investigar as relações existentes entre os domínios dos construtos bem-estar subjetivo (BES), conjugalidade e satisfação conjugal em pessoas casadas, uma vez que a literatura aponta que pessoas casadas tendem a ser mais felizes que pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas. Assumindo como referencial teórico a Psicologia positiva, notadamente desenvolvida a partir dos trabalhos de Martin Seligman na década de 1990, foram analisados os possíveis paralelos existentes entre o modo como a pessoa percebe a vida em termos individuais e o modo como apreende o próprio relacionamento afetivo, tendo como premissa que a afetividade é parte constituinte da vida do indivíduo.

A amostra foi composta por 106 participantes (53 casais heterossexuais), com idade média de 42±11 anos e casados há 16,11±11,35 anos. Neste trabalho, não foram estudados os casais (díades), uma vez que o objetivo foi investigar as correlações em pessoas casadas. Em relação ao número de filhos dos casais participantes, a média é de 1,49±1,22 filho para cada participante. A renda per capita dos participantes foi de 5,03±3,63 salários, com concentração na classe B. Em relação ao grau de instrução dos participantes, a maioria (66,98%) tem nível superior. Tais participantes foram encontrados pela técnica da "bola de neve", em que novos participantes foram indicados pelos próprios respondentes, a partir dos contatos do pesquisador. Todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, em conformidade com as disposições éticas. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (Parecer 349/2007 - 2007.1.2016.59.0).

Os instrumentos utilizados foram: questionário sociodemográfico; escala Abipeme para classificação socioeconômica; escala de bem-estar subjetivo - EBES (composta pelas dimensões afetos positivos, afetos negativos e satisfação com a vida); dyadic adjustment scale - DAS, versão traduzida (composta pelas dimensões coesão diádica, consenso, expressão do afeto e satisfação); e escala de satisfação conjugal (composta pelas dimensões aspectos emocionais do cônjuge, aspectos estruturais do cônjuge e interação conjugal).

Na análise dos dados, foram usados os testes não paramétricos para amostras independentes de Kruskal-Wallis e Wilcoxon, o coeficiente de Spearman e a análise de regressão múltipla tipo stepwise, avaliando a direção das correlações entre os domínios elencados.

Em termos dos domínios correlacionados nesse estudo, destaca-se que os afetos positivos (dimensão do BES) mantêm uma relação de dependência com a coesão e o consenso diádicos, com a expressão do afeto e com a interação conjugal (domínios de conjugalidade e de satisfação conjugal). Os afetos negativos ampliam essas relações, abarcando também os aspectos emocionais do cônjuge e os estruturais do casamento.

Pensando tanto na conjugalidade como na satisfação conjugal, os afetos positivos são o domínio que mais se correlacionam com esses construtos. Assim, quanto maior o nível (ou frequência) de afetos positivos de uma pessoa (contentamento, bem-estar, otimismo, esperança, resiliência, gozo, prazer, entre outros), mais ela tende a estar feliz no relacionamento conjugal, desenvolvendo coesão com o parceiro, expressando sua afetividade e podendo fazer uma avaliação mais positiva acerca do cônjuge e do próprio casamento.

Todos os domínios da satisfação conjugal (aspectos emocionais do cônjuge, aspectos estruturais do casamento e interação conjugal) estão correlacionados aos domínios da conjugalidade (consenso diádico, expressão do afeto, coesão diádica e satisfação diádica). No entanto, quando analisamos as correlações a partir dos fatores gerais de cada construto, observamos que o bem-estar subjetivo (fator geral) não está correlacionado à conjugalidade (r = 0,02) nem à satisfação conjugal (r = 0,08). Em contrapartida, a conjugalidade (fator geral) está fortemente correlacionada à satisfação conjugal (fator geral) (r = -0,60), o que sugere a possibilidade de criação de um único instrumento de avaliação da conjugalidade que abarcasse domínios expressos nos construtos ajustamento diádico e satisfação conjugal.

O domínio satisfação com a vida, pelos dados do estudo, está positivamente correlacionado com a satisfação diádica, ou seja, a satisfação entre os cônjuges, o que nos permite sugerir que uma vida a dois carregada de experiências e elementos positivos poderia estar diretamente ligada à percepção de satisfação com a vida expressa pelos membros. De modo similar, uma percepção positiva acerca da vida (uma predominância dos afetos positivos sobre os afetos negativos) pode estar vinculada a altos escores de coesão diádica e de expressão do afeto entre os parceiros. Ou seja, pessoas com altos níveis de afetos positivos tendem a estabelecer relacionamentos nos quais elas podem expressar seus afetos de modo adequado ou nos quais possam interagir a partir da conjugação de aspectos positivos e negativos da própria relação.

Com base nesses resultados, pode-se concluir que tais domínios adaptativos e favoráveis ao estabelecimento de vínculos e à manutenção dos relacionamentos estão correlacionados ao que é percebido pelos cônjuges como satisfação. O modo como cada cônjuge participa do estar junto em uma relação, compartilhando sentimentos, desapontamentos, diferenças e proximidades pode ser um fator de satisfação não apenas com o domínio conjugal, como também com a própria vida. Pela correlação encontrada entre os domínios de coesão, consenso, satisfação diádica, expressão do afeto e interação conjugal e os aspectos estruturais do casamento, pode-se sugerir que tais sentimentos e percepções estariam no cerne da estrutura do relacionamento conjugal, uma vez que cada um desses domínios responde pelo que é estar junto, vinculando e experimentando sentimentos de prazer ou desprazer. Por fim, aponta-se a necessidade de pesquisas futuras que investiguem as díades, a fim de encontrar a direção das correlações dos diferentes domínios elencados dentro de cada casal e também com o auxílio de outras escalas.

 

 

* Mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo, orientador: Prof. Dr. Manoel Antônio dos Santos. E-mail: scorsolini_usp@yahoo.com.br.

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