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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.19 no.1 Belo Horizonte abr. 2013

 

SEÇÃO ABERTA

 

Reflexões sobre a formação do psicólogo no Brasil: a importância dos estágios curriculares

 

Reflections on the formation of the psychologist in Brazil: the importance of curricular internships

 

Reflexiones sobre la formación del psicólogo en Brasil: la importancia de las pasantías

 

 

Bruno de Morais Cury*

 

 

O objetivo deste trabalho é entender a importância dos estágios curriculares na graduação em Psicologia e analisar suas funções específicas. A carência bibliográfica sobre os estágios curriculares, principalmente associados ao curso de Psicologia, deixa uma lacuna de conhecimento, justificando a realização desta pesquisa. Foram achados apenas alguns artigos, e nenhum livro trata exclusivamente a respeito do tema. E, mesmo os autores que tratam da formação do psicólogo, no geral, apenas mencionam os estágios, mas estes (com exceção de um) não são foco dos estudos publicados. Procurei entender a parte que cabe aos estágios curriculares na formação do psicólogo, analisando as suas funções, e a articulação entre a parte e o conjunto da formação.

A primeira etapa da produção de dados consistiu numa análise documental e na revisão de literatura sobre o tema; a segunda etapa, numa pesquisa de campo realizada por meio de entrevistas individuais a duas supervisoras e à coordenadora de estágio, além de grupos focais com estudantes do curso de Psicologia. A coleta desses dados foi feita na Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC Minas - Unidade Coração Eucarístico), localizada na cidade de Belo Horizonte - MG.

As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação estabelecidas pelo MEC sugerem mudanças radicais e bastante positivas. Ao proporem múltiplas habilidades e competências profissionais, indicam valiosos caminhos para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem e o perfil do egresso em cursos de Psicologia. O estágio, como importante produto da formação, deve preparar o aluno aspirante a psicólogo, nesse contexto específico, para desenvolver as competências e habilidades necessárias ao exercício da profissão. Competências descrevem capacidades humanas para realizar algo. As competências são construídas por meio de processos de aprendizagem influenciados por três conjuntos de capacidades humanas: conhecimentos (informação, saber o que e saber o porquê), habilidades (técnica, capacidade e saber como) e atitudes que envolvem o querer fazer, a identidade e a determinação.

O enriquecimento da formação profissional de psicólogos envolve, também, entre outras providências, a capacitação de coordenadores de graduação em elaboração de estruturas curriculares baseadas em competências. O desenvolvimento das competências exigidas do profissional de Psicologia requer uma formação baseada na diversificação de métodos e de estratégias na criação de situações de aprendizagem que levem o aluno a demonstrar as competências norteadoras do currículo como solução de problemas e geração de conhecimentos.

A pesquisa apontou que a dificuldade da interlocução entre teoria e prática se manifesta no depoimento dos alunos, e estes consideram restritas suas oportunidades de atuação no campo.

No estudo de caso em questão, feito na PUC Minas, percebemos que a instituição pode estar pulverizando, fragmentando a formação, no sentido de que os estágios oferecidos são curtos. Fazem-se, assim, muitas atividades pequenas, o que nos parece empobrecer a formação.

O estágio não parece formar profissionais próximos da realidade da população brasileira e nem preparados para ingressar no mercado de trabalho. A inserção do aluno na prática, no momento do estágio curricular, deveria voltar-se para a preparação de um profissional que fosse capaz de pensar cenários, de analisar demandas e, ainda, de elaborar, executar, avaliar e aprimorar projetos; um treinamento que atenderia à demanda externa, favorecendo ao aluno a capacidade de análise da realidade brasileira, que envolveria postura crítica e ética. O ideal seria que se desse aos alunos a oportunidade de exercerem as habilidades e conhecimentos que teriam adquirido durante o curso, de forma que essa qualificação não ficasse restrita às pós-graduações.

Uma atenção especial deve ser dada a um projeto de atividade de estágio supervisionado no que diz respeito à sua duração. Atualmente, as horas de estágio encontram-se distribuídas entre várias áreas e subáreas de atuação da Psicologia, entre temas e assuntos variados, em uma verdadeira miniaturização que representa a especialização no seu pior sentido, o de redução de capacitação. Sob a égide de "estágio" se misturam, às vezes, até atividades de pesquisa, que não estão voltadas (pelos seus objetivos) para a atuação profissional, e sim para a construção de conhecimento.

Sobre a necessidade de capacitação dos psicólogos, a pesquisa mostrou que grande parte dos psicólogos pesquisados não está buscando a aprendizagem contínua. As habilidades e competências que os capacitariam a estudar e compreender os avanços da produção científica de conhecimentos e as suas conexões com a prática profissional são exatamente aquelas em que se registraram as menores médias de domínio e os maiores índices de necessidades de capacitação.

 

 

* Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas); professor e supervisor de estágio do curso de Psicologia da Facisa (Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde) na União de Ensino Superior de Viçosa Ltda. (Univiçosa); coordenador da Clínica-Escola de Psicologia dessa mesma instituição. Orientador: Prof. Dr. João Leite Ferreira Neto. E-mail:brunomcury@yahoo.com.br.