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Psicologia em Revista

versão impressa ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.20 no.1 Belo Horizonte  2014

 


RESUMO DE TESES E DISSERTAÇÕES

 

Resumo de dissertação

 

Relacionamento conjugal e temperamento de crianças com idade entre 4 e 6 anos

 

Marital relationship and temperament of children aged between 4 and 6 years

 

Relación conyugal y temperamento de niños con edad entre 4 y 6 años

 

 

Schmidt, B. (2012). Relacionamento conjugal e temperamento de crianças com idade entre quatro e seis anos. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

 

 

Beatriz Schmidt*; Mauro Luis Vieira**; Maria Aparecida Crepaldi ***

 

 

A dissertação tem como objetivo verificar a relação entre relacionamento conjugal de pais e temperamento de crianças com idade entre 4 e 6 anos. Cabe aduzir que o estudo se insere no âmbito de um projeto mais abrangente, intitulado A transmissão intergeracional da violência: a relação do conflito conjugal e parental com a agressividade entre pares de crianças de quatro a seis anos, o qual vem sendo desenvolvido, desde 2009, por pesquisadores brasileiros ligados à Universidade Federal de Santa Catarina, bem como pesquisadores canadenses vinculados à Universidade do Québec, em Montreal, e à Universidade de Montreal. Assim, a dissertação está pautada em critérios e em instrumentos pertinentes ao projeto maior do qual faz parte, adotando como perspectiva teórica o modelo bioecológico do desenvolvimento humano. A pesquisa se caracteriza como transversal, descritiva e correlacional, seguindo o delineamento quantitativo de dados. Ademais, compreendeu uma amostra não clínica composta por 104 famílias biparentais residentes em quatro municípios do Estado de Santa Catarina, perfazendo o total de 208 entrevistados. As famílias foram recrutadas por meio de contatos com as instituições de educação infantil frequentadas pelas crianças focais.

Pai e mãe participantes responderam aos seguintes instrumentos:

questionário sociodemográfico:

composto por questões concernentes à composição familiar, número de pessoas que moram na residência, características da habitação, idade, escolaridade, profissão e renda dos membros da família;

questionário sobre relacionamento conjugal (QRC):

trata-se de uma escala Likert que avalia aspectos atinentes à qualidade do relacionamento conjugal, satisfação conjugal e conflito conjugal;

floreal:

refere-se a um questionário que aborda harmonia conjugal, reciprocidade negativa, evitação, reciprocidade, ciúmes, fontes de conflito entre o casal e conflitos na presença da criança;

children’s behavior questionnaire (CBQ):

escala que permite a mensuração do temperamento de crianças, composta pelos fatores extroversão, controle com esforço e afeto negativo.

A coleta de dados ocorreu preferencialmente nas residências das famílias, em dia e horário previamente combinados via contato telefônico. Quando a família julgava haver algum impeditivo à realização da visita domiciliar, ela indicava outro local. Os dados obtidos foram compilados e tabulados em uma planilha do programa informático Statistical Package for Social Sciences (SPSS). Realizou-se análise quantitativa com base na estatística descritiva e inferencial, considerando tratamento estatístico não paramétrico, posto que nem todas as variáveis obedeceram à distribuição normal.

Por meio da análise dos dados, constatou-se que a relação de casal dos participantes se caracterizou, em média, pela harmonia conjugal, sendo que os membros da díade avaliaram o seu relacionamento marital como satisfatório e pouco conflituoso. Tais características são consideradas importantes recursos dos participantes, haja vista as associações descritas na literatura entre variáveis concernentes à conjugalidade (tal qual aharmonia e a satisfação conjugal) e níveis de saúde dos membros da família.

Quanto ao temperamento infantil, o fator controle com esforço, composto pelas dimensões focalização da atenção, controle inibitório, prazer de baixa intensidade e sensibilidade perceptual, foi o que recebeu os maiores escores médios, de acordo com as respostas de pai e de mãe. Identificou-se, ainda, a existência de relações entre os fatores do temperamento da criança, notadamente o afeto negativo, e o relacionamento conjugal dos pais, especialmente nas variáveis ligadas à qualidade do relacionamento conjugal, ao conflito conjugal, à reciprocidade negativa e à evitação. De tal forma, há indicativos de que, quanto maiores as reações de raiva, desconforto, tristeza, medo e baixa capacidade de se acalmar dos filhos (ou seja, afeto negativo), também mais caracterizado por interações conflitivas, evitação e reciprocidade negativa demonstra ser o relacionamento de casal.

Ademais, foram identificadas também relações entre variáveis sociodemográficas das famílias, relacionamento conjugal e temperamento infantil, tal como descrito nos estudos revisados. Desse modo, concluiu-se que a escolaridade e os rendimentos dos cônjuges, bem como o número de pessoas que residem no domicílio familiar estão relacionados às reações de afeto negativo nas crianças. Além disso, as variáveis sociodemográficas se correlacionaram a aspectos da conjugalidade dos pais, sugerindo que um maior número de moradores da residência familiar e uma menor escolaridade e renda dos cônjuges se associam à maior prevalência de interações conflitivas entre o casal, reciprocidade negativa e evitação, bem como à menor qualidade conjugal.

Em síntese, ponderando que os resultados apontam para o fato de que as relações conjugais e o temperamento das crianças afetam-se recursivamente, destaca-se a importância de considerar a bidirecionalidade das interações parental-filiais em intervenções profissionais e em programas de promoção de desenvolvimento saudável. Ainda, salienta-se a relevância da abordagem do relacionamento conjugal, em função de seus impactos sobre trajetórias desenvolvimentais individuais e familiares. No mesmo sentido, ressalta-se que a identificação precoce das disposições temperamentais infantis, bem como a oferta de orientações de cuidados parentais, considerando o manejo das diferenças individuais, constitui-se como intervenção preventiva e promotora de saúde mental, haja vista correlações positivas entre determinadas características do temperamento e psicopatologia.

Palavras-chave: Relações Conjugais; Temperamento; Relações Familiares; Desenvolvimento Infantil; Relações Pais-Criança.

 

Abstract

This dissertation aims at determining the relationship between temperament of children aged between 4 and 6 years and the marital relationship of their parents. The survey covered a non-clinical sample composed of 104 twoparent families living in four municipalities in the state of Santa Catarina - Brazil (a total of 208 respondents). The following instruments were applied to the father and mother of the focal children: socio-demographic questionnaire, questionnaire on marriage (QRC), floreal and children `s behavior questionnaire (CBQ). The data were compiled and tabulated in the software Statistical Package for Social Sciences (SPSS). A quantitative analysis based on descriptive and inferential statistics has been carried out. A nonparametric analysis has been chosen since not all variables obey the normal distribution. With the data analysis it was found that: a) the relationship of the couples were characterized, on average, by marital harmony, with the members considering their marital relationship satisfactory and little conflicted; b) in respect to the child temperament, the effortful control was the factor that received the highest mean scores according to the answers of both father and mother; c) relationships were identified between factors of the child’s temperament (especially negative affect) and marital relationship (especially in variables related to the quality of the marital relationship, marital conflict, the negative reciprocity and avoidance). There is evidence that the greater the reactions of anger, discomfort, sadness, fear and low soothability the children, the more frequent the couple relationship is characterized by conflicting interactions, avoidance and negative reciprocity. The results point to the fact that the children temperament and marital relationships affect each other. It is noteworthy, therefore, the importance of considering the bidirectionality of the relationship between parents and children in professional interventions and programs to promote healthy development of children and families.

Keywords: Marital Relations; Temperament; Family Relations; Childhood Development; Parent Child Relations.

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