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Psicologia em Revista

Print version ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.21 no.3 Belo Horizonte Sept. 2015

http://dx.doi.org/DOI-10.5752/P.1678-9523.2015v21n3p599 

 

ARTIGOS

DOI - 10.5752/P.1678-9523.2015v21n3p599

 

Considerações epistemológicas da perspectiva bioecológica do desenvolvimento humano sobre o envolvimento paterno

 

Epistemological considerations of bioecological perspective on human development about father involvement

 

Consideraciones epistemológicas de la perspectiva bioecológica del desarrollo humano acerca de la participación paterna

 

 

Rovana Kinas Bueno*; Mauro Luís Vieira**; Maria Aparecida Crepaldi***; Daniela Ribeiro Schneider****

 

 


Resumo

O envolvimento paterno pode ser descrito em termos de interação, disponibilidade e responsabilidade. Contudo, para estudar o envolvimento paterno, faz-se importante compreender o contexto em que o pai está inserido. Uma das teorias que auxilia nessa compreensão é a teoria bioecológica do desenvolvimento humano. Neste artigo, objetiva-se realizar algumas considerações teóricas e epistemológicas dessa perspectiva teórica considerando o envolvimento paterno como objeto de estudo. Essa teoria abarca tanto aspectos individuais do pai, a relação pai-filho, a influência do tempo no desenvolvimento de ambos quanto aspectos do contexto. Além disso, essa teoria compreende a realidade com base na dialogia entre objetivo e subjetivo, pensa o homem como ser inter-relacional, e concebe diferentes modos de produção do conhecimento sobre o envolvimento paterno com base nos pressupostos da complexidade, instabilidade e intersubjetividade. Verifica-se que os aspectos explorados contribuem para o aprofundamento da compreensão do envolvimento paterno.

Palavras-chave: Paternidade. Bioecologia. Epistemologia.


Abstract

Father involvement can be described in terms of interaction, availability and responsibly. However, to study father involvement, it is important to understand the context in which the father is inserted. One theory that aids in this understanding is the bioecological theory of human development. In this article, we aim to perform some theoretical and epistemological considerations of this theoretical perspective considering the fathers involvement as an object of study. This theory includes individual aspects of the father, the father-child relationship, the influence of time on the development of both, as well as aspects of the context. Moreover, this theory includes the reality from the dialogism between objective and subjective, considering man as a being interrelation, and conceives different modes of knowledge production about father involvement from the assumptions of complexity, instability and intersubjectivity. It appears that explored aspects contribute to deepening of understanding through the fathers involvement.

Keywords: Fatherhood. Bioecology. Epistemology.


Resumen

La participación paterna puede ser descrita en términos de interacción, disponibilidad y responsabilidad. Sin embargo, para estudiar la participación paterna, es importante comprender el contexto en que el padre se insiere. Una de las teorías que auxilia en esta comprensión es la teoría bioecológica del desarrollo humano. En este artículo, el objetivo es realizar algunas consideraciones teóricas y epistemológicas de esta perspectiva teórica, considerando la participación paterna como objeto de estudio. Esta teoría abarca tanto aspectos individuales del padre, la relación padre-hijo, la influencia del tiempo en el desarrollo de ambos, cuánto aspectos del contexto. Además, esta teoría comprende la realidad a partir de la dialogía entre objetivo y subjetivo, piensa el hombre como ser interrelacional, y concibe diferentes modos de producción del conocimiento sobre la participación a partir de los presupuestos de complejidad, inestabilidad e intersubjetividad. Se verifica que los aspectos explorados contribuyen para profundizar la comprensión de la participación paterna.

Palabras clave: Paternidad. Bioecología. Epistemología.


 

 

Introdução

O contexto familiar tem sido enfatizado como um dos mais significativos para o desenvolvimento da criança e, nessa perspectiva, evidências sobre o incremento no envolvimento paterno nesse contexto é um atual e relevante escopo de estudos. Mudanças nos arranjos familiares e nas expectativas de desempenho dos papéis parentais têm ocorrido no bojo das transformações econômicas, demográficas e culturais ocorridas nas últimas décadas (Bossardi & Vieira, 2010; Staudt & Wagner, 2008). A intensificação da participação feminina no mercado de trabalho e o aumento no número de divórcios exigiram uma nova definição dos papéis parentais e da constituição familiar, o que possivelmente contribuiu para o maior envolvimento paterno (Bossardi, 2011; Staudt & Wagner, 2008).

Para entender esse envolvimento, faz-se importante compreender o contexto em que o pai está inserido. Ressalta-se que esse pai pode ser tanto pai biológico, não biológico quanto outra pessoa que exerça essa função na vida da criança. Uma das teorias que auxilia nessa compreensão do contexto é a teoria bioecológica do desenvolvimento humano (Schultz, Duque, Silva, Souza, Assini & Carneiro, 2012). Ela explora os aspectos ambientais, pessoais, bem como a relação da pessoa com o ambiente. Embora o enfoque da teoria seja a pessoa em desenvolvimento em inter-relação com o contexto, outros fenômenos que não estão diretamente relacionados ao desenvolvimento, mas que estão a ele associados podem ser pensados sob essa perspectiva teórica, como é o caso do envolvimento paterno, que se refere ao relacionamento do pai com seu filho, que será mais bem definido em seguida, inseridos em um contexto.

A teoria bioecológica do desenvolvimento humano foi reformulada e reestruturada diversas vezes por seu precursor, Urie Bronfenbrenner (Prati, Couto, Moura, Poletto & Koller, 2005). O seu primeiro modelo teórico, publicado em 1979, chamado de ecologia do desenvolvimento humano, enfocava principalmente o ambiente. Em 1992, Bronfenbrenner chamou suas propostas de teoria dos sistemas ecológicos (Prati et al., 2005). Bronfenbrenner utilizava os termos "ecologia" e "ecológico" para enfatizar a interdependência entre a pessoa e o contexto (Tudge, 2008). Com a evolução e ampliação da teoria, Bronfenbrenner considerou quatro aspectos inter-relacionados, o que ficou conhecido como modelo processo-pessoa-contexto-tempo (PPCT). As modificações desse modelo levaram ao modelo bioecológico de desenvolvimento humano e, atualmente, à teoria bioecológica do desenvolvimento humano (Prati et al., 2005).

Autores como Tudge (2008) consideram Bronfenbrenner um contextualista, por afirmar que o desenvolvimento resulta da inter-relação entre a pessoa e o contexto em que está inserida. Verifica-se que a teoria bioecológica é denominada contextualista principalmente quando a ênfase está no contexto, o que remete ao início da teoria quando seu foco era o contexto.

Contudo, autores como Böing, Crepaldi e Moré (2008), Bueno (2014) e Schultz et al. (2012) consideram a teoria bioecológica como sendo sistêmica, pois ambas são ancoradas nos mesmos pressupostos epistemológicos. Com isso, atualmente, a teoria bioecológica do desenvolvimento humano é a principal teoria usada para a compreensão do desenvolvimento na abordagem sistêmica (Schultz et al., 2012), por sua grande contribuição no que se refere à influência dos contextos e relações no desenvolvimento do ser humano.

Desse modo, considerando a teoria bioecológica do desenvolvimento humano como uma teoria sistêmica, avalia-se a importância de evidenciar, para a discussão e compreensão do fenômeno em estudo, os pressupostos epistemológicos do pensamento sistêmico, que são complexidade, instabilidade e intersubjetividade (Vasconcellos, 2010). Ressalta-se que cada teoria, explicitamente ou não, está vinculada a uma episteme, que é como se fosse seu "pano de fundo". Ter conhecimento desses aspectos é importante porque são eles que nortearão a compreensão do fenômeno e a forma de estudá-lo.

O pressuposto da complexidade sustenta-se em vários traços:

a) a necessidade de associar o objeto ao seu ambiente, marcado pela influência mútua entre indivíduo e ambiente, assemelhando-se ao conceito de circularidade da teoria sistêmica;
b) a abordagem do objeto como um sistema, que implica a concepção de que o todo é muito mais do que a soma das partes, ao superar o reducionismo elementarista e a simplificação das causalidades e explicações;
c) a compreensão de que ordem-desordem não são aspectos contraditórios, mas complementares e constitutivos da organização;
d) o enfrentamento das contradições como elementos constitutivos da realidade;
e) a necessidade de ligar o objeto ao seu observador (Morin, 1982).

Esse pressuposto é identificado na teoria bioecológica conforme sua abordagem contextualiza o processo de desenvolvimento do ser humano e menciona a interrelação entre pessoa e ambiente. Assim, nesse pressuposto, amplia-se o foco de observação, buscando-se contextualizar o fenômeno.

O pressuposto da instabilidade se refere à noção de imprevisibilidade e incontrolabilidade do desenvolvimento ou dos processos proximais (interações face a face). Com base nos pressupostos mencionados, verifica-se que não é possível fazer uma relação simples entre causa e efeito, pois são muitos os sistemas em interação e em constante mudança e transformação.

O terceiro pressuposto é o da intersubjetividade, que está relacionado à presença do pesquisador no contexto a ser pesquisado. Com base nesse pressuposto, constata-se que não há apenas uma realidade a ser conhecida, e sim várias versões da realidade, as quais são coconstruídas entre o participante e o pesquisador.

Ressalta-se que esses pressupostos nem sempre são evidenciados nas publicações. Além disso, verificam-se produções sobre a teoria bioecológica do desenvolvimento humano (Christensen, 2010; Prati et al., 2005) ou que a utilizem como referencial teórico (Bolze, 2011; Bueno, 2014; Carvalho- Barreto, Bucher-Maluschke, Almeida & DeSouza, 2009; Gomes, 2011; Schultz et al., 2012). Porém se constatam poucos estudos, como o de Tudge (2008), que consideram e discutem os aspectos epistemológicos da Bioecologia, bem como poucas obras (Bolze, 2011; Bueno, 2014; Gomes, 2011) referentes ao envolvimento paterno que utilizem a Bioecologia como perspectiva teórica. Assim, neste artigo, objetiva-se realizar algumas considerações teóricas e epistemológicas da perspectiva bioecológica do desenvolvimento humano, considerando o envolvimento paterno como objeto de estudo.

Não se busca esgotar as discussões sobre a epistemologia da teoria bioecológica do desenvolvimento humano ou o envolvimento paterno, pelo contrário, a ideia é desenvolver um ponto de partida. Assim, pressupõem-se que, quando se pretende investigar um fenômeno, é importante conhecê-lo, conceituá-lo, para então verificar os aspectos epistemológicos nos quais a teoria que embasa o estudo está fundamentada. Essa compreensão é importante porque é com base nela que se pode ter uma sustentação teórica aprofundada no que se refere ao fenômeno a ser estudado. Desse modo, é fundamental ter o conhecimento de como a teoria com a qual se trabalha compreende e interpreta o mundo, como ela pensa o homem, produz conhecimento e como o faz para tal finalidade. Paralelo a essa reflexão e análise, é essencial associar e compreender o fenômeno a ser investigado dentro dessa perspectiva teórica. Esse exercício será feito neste artigo, tendo como perspectiva teórica a bioecologia e, como fenômeno a ser estudado o envolvimento paterno.

 

Envolvimento paterno

Diferentes conceitos do envolvimento paterno remetem a diferentes formas de compreender a relação pai-criança. Há estudos que mencionam investimento parental e outros, engajamento parental. O investimento parental se refere ao cuidado psicológico e, ou, biológico com o objetivo de aumentar as chances de sobrevivência da prole, para que esta possa posteriormente atingir o estágio de reprodução (Lordelo, França, Lopes, Dacal, Carvalho, Guirra & Chalub, 2006). Esse conceito tem uma perspectiva evolucionista e afirma que os cuidados do pai podem ser diretos (por exemplo, cuidados básicos) ou indiretos (como sustentando financeiramente a família) (Lamb, 1997; Lordelo et al., 2006). O engajamento parental se refere à participação e à preocupação contínua do pai biológico ou substituto acerca do desenvolvimento e bem-estar físico e psicológico de seu filho (Dubeau et al. como citado em Bossardi, 2011). Esse conceito é muitas vezes utilizado como sinônimo de envolvimento paterno.

Neste artigo, será considerado o conceito de envolvimento paterno proposto por Lamb, Pleck, Charnov e Levine (1985), os quais definem envolvimento paterno por meio de três dimensões: interação, que é o contato direto do pai com o filho por meio de cuidados, compartilhamento de atividades e brincadeiras; disponibilidade, a qual diz respeito ao potencial de acessibilidade física e psicológica do pai para interação; e responsabilidade, que se refere ao papel que o pai assume em garantir cuidados à criança e providenciando para que recursos estejam disponíveis para a mesma (Lamb et al., 1985; Lamb, 1997).

Muitos fatores podem interferir no envolvimento paterno, entre eles a motivação em se envolver, suas habilidades, o suporte e incentivo que as pessoas lhe dão, a influência do trabalho (Lamb et al., 1985; Lamb, 1997; Pleck, 1997), as características sociodemográficas (Cabrera, Tamis-LeMonda, Lamb & Boller, 1999; Souza & Benetti, 2008) e o relacionamento conjugal (Bossardi, 2011; Cabrera & Bradley, 2012; Gabriel, 2012; Hohmann-Marriott, 2011; Pleck, 1997; Schober, 2012; Simões, Isabel & Maroco, 2010; Wagner, Predebon, Mosmann & Verza, 2005). Assim, verifica-se que tanto os aspectos pessoais (como motivação, habilidades e características sociodemográficas) quanto contextuais (como suporte, trabalho e relacionamentos) exercem grande influência sobre o envolvimento do pai com o filho.

Em seguida, será discutida a perspectiva bioecológica, associando-se os aspectos teóricos com o envolvimento paterno. Quando possível, serão mencionados alguns estudos relacionados ao conteúdo abordado, uma vez que teoria e prática não devem ser dissociadas. Ressalta-se que a maioria dos estudos mencionados sobre o pai, neste artigo, não empregaram a bioecologia como seu referencial teórico, uma vez que, como mencionado anteriormente, são poucas as obras que utilizam essa perspectiva teórica em estudos sobre o pai. Contudo serão usados esses estudos de diversas perspectivas teóricas para exemplificar concepções teóricas da bioecologia e analisar como esta contribuiria para o entendimento do fenômeno de envolvimento paterno.

 

Compreensão bioecológica sobre o envolvimento paterno

A teoria bioecológica do desenvolvimento humano é explicada pelo modelo PPCT. Desse modo, o envolvimento paterno será aqui discutido e relacionado aos elementos da teoria bioecológica: processo, pessoa, contexto e tempo.

 

Processo: a relação pai-filho

Na teoria bioecológica, o desenvolvimento ocorre ao longo do tempo, por meio de processos de interação recíproca, progressivamente mais complexos entre a pessoa em desenvolvimento e o contexto (Bronfenbrenner & Ceci, 1994; Bronfenbrenner & Evans, 2000; Bronfenbrenner, 1994, 1999). Essa interação se refere aos "processos proximais", os quais envolvem transferência de energia entre o ser humano em desenvolvimento e as pessoas, objetos e símbolos do ambiente (Bronfenbrenner & Evans, 2000; Bronfenbrenner, 1994). Como exemplo, tem-se o relacionamento entre pai e filho, que ocorre ao longo do tempo e cuja interação se torna progressivamente mais complexa. São os processos proximais, ou seja, essa relação com o outro e com o ambiente, que promove o desenvolvimento, no caso, tanto do pai quanto do filho.

Os processos proximais podem ser diferenciados em dois principais tipos de resultados: competência (aquisição e desenvolvimento de conhecimento, habilidade ou capacidade de governar o próprio comportamento) e disfunção (dificuldades em controlar o comportamento em diferentes situações e domínios do desenvolvimento). A exposição é um dos fatores indiretos que interfere no resultado, e ela pode ser avaliada pela duração, da frequência, se é previsível ou se ocorre interrupção, o momento em que ocorre, e pela intensidade da exposição (Bronfenbrenner & Evans, 2000). Desse modo, a interação pai-filho não necessariamente produzirá resultados positivos, uma vez que não é uma relação de causa (interação pai-filho) e efeito (positivo no desenvolvimento). Inúmeros fatores devem ser considerados e analisados, os quais interferem no resultado (desenvolvimento).

Variam sistematicamente a forma (como o pai interage), o poder (o quanto ele interage), o conteúdo (o que o pai faz com a criança) e a direção dos processos proximais (se a interação é recíproca ou se é apenas o pai buscando se relacionar com o filho sem este corresponder). Essa variação está relacionada a um conjunto de características da pessoa em desenvolvimento, do contexto ambiental, das continuidades e mudanças que ocorrem ao longo do tempo, do período histórico e da natureza dos resultados desenvolvimentais (Bronfenbrenner & Evans, 2000; Bronfenbrenner, 1994, 1999). Desse modo, pode-se pensar que o envolvimento paterno receberá influências de um conjunto de variáveis como as características do próprio filho, do contexto em que estarão inseridos e do período histórico, as quais direcionarão a forma como este se envolverá, o conteúdo e até mesmo a intensidade desse envolvimento, ou o tempo que esse pai interagirá com o filho.

Os processos proximais são fundamentais para o desenvolvimento das capacidades biológicas e do potencial genético de cada pessoa, pois possibilita que os recursos pessoais sejam estimulados e desenvolvidos (Bronfenbrenner & Ceci, 1994). Assim, é na interação com o outro que cada pessoa vivencia experiências, pode ampliar suas habilidades, enfim, desenvolver-se.

Para que esses processos proximais ocorram, faz-se necessária a presença dos seguintes aspectos:

a) a pessoa precisa se engajar em uma atividade;
b) essa atividade precisa ocorrer regularmente ao longo do tempo;
c) a atividade deve ser cada vez mais complexa;
d) as relações interpessoais devem ser recíprocas;
e) os processos proximais vão além das interações interpessoais, pois podem envolver a interação com objetos e símbolos (Bronfenbrenner, 1999).

Dessa forma, para que o envolvimento paterno ocorra, o pai precisa, por exemplo, interagir com a criança. Essa interação necessita ocorrer com certa regularidade, deve ser cada vez mais complexa e recíproca.

Considerando as três dimensões do envolvimento paterno, esse elemento está mais diretamente relacionado à interação, embora também remeta à disponibilidade e à responsabilidade. Os processos proximais se referem ao que o pai faz com o filho, e isso diz respeito à dimensão da interação.

Entre as temáticas exploradas em estudos que podem ser aqui citados como remetendo ao elemento "processo", há os que exploram o comportamento do pai com relação ao filho (Crepaldi, Andreani, Hammes, Ristof & Abreu, 2006; Moré & Sperancetta, 2010; Prado, Piovanotti & Vieira, 2007) e outros que associam esse comportamento às repercussões no desenvolvimento do filho (Cia, Pamplin & Williams, 2008; Cia, Williams & Aiello, 2005; Gomes, 2011; Macarini, Martins, Minetto & Vieira, 2010; Manfroi, Macarini & Vieira, 2011; Pillegi & Munhoz, 2010; Silva, Nunes, Betti & Rios, 2008). Ressalta-se que esses estudos não usaram a teoria bioecológica para compreensão dos seus achados.

 

Pessoa: o pai e o filho

O ser humano é um ser biológico e psicológico, que interage constantemente com seu contexto e é produto dessa interação (Bronfenbrenner, 2005). Essa interação é dinâmica e se altera ao longo do tempo. Bronfenbrenner também ressalta o ser humano como ativo em seu desenvolvimento, pois não apenas recebe influências do ambiente, mas o influencia (Sifuentes, Dessen & Oliveira, 2007). Essa influência também pode ser passiva, já que a pessoa altera o ambiente apenas por estar inserida nele (Tudge, 2008). Se um membro de uma díade sofre uma mudança no desenvolvimento, é possível que o outro também mude (Bronfenbrenner, 1996); assim, pai e filho influenciam-se mutuamente.

Bronfenbrenner também reconheceu a relevância dos aspectos genéticos da pessoa e ressaltou que as características das pessoas influenciam os processos proximais e atuam no desenvolvimento (Tudge, Mokrova, Hatfield & Karnik, 2009). Para o autor, esses aspectos genéticos podem influenciar nas características pessoais, as quais são divididas em três tipos: demanda, recurso e disposição (Tudge et al., 2009).

A demanda se refere aos "estímulos pessoais" que influenciarão as interações, como a aparência física (atratividade, semelhança física), e é ela que favorece ou desencoraja as reações do ambiente (o pai pode se interessar mais em interagir com a criança se ela for atrativa ou parecida com ele), proporcionando ou não os processos proximais. Os recursos são as experiências, habilidades e inteligência da pessoa, bem como os recursos materiais que esta possui. Os recursos são necessários para o funcionamento eficaz dos processos proximais no desenvolvimento da pessoa. Já a disposição, a qual movimenta e sustenta os processos proximais, diz respeito às diferenças de temperamento, motivação, persistência e gostos (Tudge et al., 2009; Yunes & Juliano, 2010). Verifica-se que se o pai, por exemplo, gosta de crianças, já teve a experiência de cuidar de uma, e se a criança facilita essa aproximação correspondendo às investidas do pai, é possível que o envolvimento paterno seja maior.

Assim, essas características pessoais poderão fazer com que o pai se envolva mais ou menos com o seu filho. Por essa razão, esse elemento do modelo PPCT não está ligado a nenhuma dimensão do envolvimento paterno de modo específico, mas interfere diretamente em cada uma das dimensões e, por isso, sua importância.

Há estudos que enfatizam aspectos pessoais do pai, e outros sobre o filho. Um exemplo de temática explorada em estudos enfocando o pai são os estudos que exploram seus sentimentos e significados com relação à paternidade (Costa & Rossetti-Ferreira, 2007; Gabriel & Dias, 2011; Meincke & Carraro, 2009; Oliveira & Silva, 2011; Pimentel, 2009; Silva & Piccinini, 2007). Também se verificam, por exemplo, artigos que se referem à interação pai-filho quando o filho tem alguma doença ou necessidade especial (Nunes, Silva & Aiello, 2008; Silva & Aiello, 2009). Constata-se que essas obras focalizam a pessoa do pai ou do filho, mas não ignoram os aspectos relacionais (ou seja, a relação pai-filho).

 

Contexto: da família à sociedade

O ser humano é um ser de relações e está inserido em diversos contextos. Ele, por exemplo, faz parte de uma família, tem amigos com os quais se relaciona, tem funções em seu trabalho ou estudo. Em cada um dos contextos, a pessoa tem um papel e uma função, as quais determinarão a forma como ela se relaciona com as pessoas, objetos e símbolos que fazem parte daquele contexto.

O contexto influencia o desenvolvimento em termos de extensão e suas consequências. A relação da pessoa com o ambiente é multidirecional, ou seja, influenciam-se mutuamente (Prati et al., 2005). O ambiente se refere ao contexto social maior e não apenas o ambiente no qual a pessoa está inserida (Cerqueira- Silva, Dessen & Costa Júnior, 2011). Ele é fundamental no desenvolvimento, e é compreendido em termos físicos, sociais e culturais (Prati et al., 2005).

O contexto, na teoria bioecológica, foi subdividido em quatro níveis de interação: microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema. Como a pessoa está inserida em mais de um microssistema, Bronfenbrenner descreveu a relação entre estes (Tudge et al., 2009), e, além de os contextos estarem relacionados, as propriedades das pessoas e dos ambientes e os processos que neles ocorrem estão interconectados (Bronfenbrenner, 1996).

O microssistema se refere ao ambiente imediato em que a pessoa se encontra e no qual ocorrem as interações face a face. Está também relacionado às atividades, papéis sociais e relacionamentos interpessoais vivenciados pela pessoa em desenvolvimento num dado ambiente com características físicas e materiais específicas (Bronfenbrenner, 1994, 1996, 1999). Os papéis sociais são definidos como uma série de atividades e relações que se espera de uma pessoa em uma determinada situação, em relação à outra pessoa (Bronfenbrenner, 1996). Um exemplo de microssistema é a família, na qual o pai, ao interagir com o filho, desempenha um papel de cuidador e, ao interagir com a esposa, desempenha papel de marido. Porém, se sua mãe vier visitá-los, ele desempenhará também um papel de filho. Assim, diferentes configurações de ambiente e de pessoas nele presentes ativarão papéis que a pessoa desempenhará. O pai pode ser, por exemplo, funcionário de uma empresa, filho, neto, pai, irmão, afilhado e tio. Contudo, nem todos esses papéis são desempenhados pelo pai todo o tempo. No microssistema trabalho, por exemplo, o pai não deixa de ser pai ou marido, mas esses papéis não são desempenhados no trabalho. E sim, nesse microssistema, outros papéis são ativados, como o de funcionário e colega de trabalho.

Portanto, como o ser humano não faz parte apenas de um contexto e como os contextos estão interconectados, fala-se em mesossistema, que diz respeito à relação entre dois ou mais ambientes onde a pessoa em desenvolvimento participa ativamente (Bronfenbrenner, 1996). É um sistema de microssistemas (Bronfenbrenner, 1994). Como exemplo têm-se as relações que o pai estabelece com sua família, trabalho e amigos, convidando seus colegas de trabalho e amigos para irem à sua casa, confraternizar com sua família.

O exossistema compreende a relação entre dois ou mais ambientes, sendo que em um deles não há participação ativa da pessoa em desenvolvimento. Porém os eventos que acontecem nesse ambiente influenciam indiretamente os contextos imediatos nos quais se encontra a pessoa em desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1994, 1996). Um exemplo de exossistema, tendo como foco o pai, é a influência do trabalho da esposa, que influenciará o relacionamento do casal e, consequentemente, o pai e seu envolvimento com seus filhos. Se o filho apresenta dificuldades de aprendizagem na escola, o pai pode ficar preocupado, e isso pode interferir em sua produtividade no trabalho, além disso o pai pode buscar passar mais tempo com o filho para ajudá-lo a superar suas dificuldades na escola. Nesses exemplos, verifica-se que o pai não faz parte do microssistema trabalho da esposa ou do microssistema escola do filho, mas são contextos que o influenciam indiretamente.

O macrossistema se refere aos demais sistemas interconectados (micro, meso e exossistema) que existem ou poderiam existir dentro de uma cultura ou subcultura (Bronfenbrenner, 1996). Também alude aos estilos de vida, costumes, sistemas de crenças, entre outros (Bronfenbrenner, 1994; Sifuentes et al., 2007). Como exemplo, um pai que mora no sul do Brasil possivelmente tem algumas crenças e valores no quesito educação dos filhos que será diferente de um pai do norte do País ou de um pai de outro lugar do mundo (Tudge, 2008).

Assim como no elemento anterior, o contexto no qual o pai está inserido não se refere a nenhuma dimensão específica do envolvimento paterno, mas interfere em cada uma das três. Desse modo, por exemplo, o pai pode interagir mais com o filho em sua casa do que na casa dos seus sogros. Se ele está no trabalho, ele pode não estar disponível para seu filho que está em casa (a não ser que este possa receber ligações a qualquer hora, por exemplo), e o pai pode se responsabilizar menos por seu filho se seu trabalho lhe exigir muita dedicação e uma grande jornada de trabalho.

Há estudos (Beltrame & Bottoli, 2010; Cia & Barham, 2006; Gomes, 2011; Silva & Piccinini, 2007) que ressaltam a influência do trabalho do pai sobre seu relacionamento com seu filho. Outros estudos (Bossardi, 2011; Falceto, Fernandes, Baratojo & Giugliani, 2008; Gabriel, 2012; Hohmann-Marriott, 2011; Schober, 2012; Wagner et al., 2005) mostram que o relacionamento conjugal interfere no envolvimento paterno. Essas influências podem ser positivas ou negativas. Por exemplo, se o trabalho do pai é flexível e o seu relacionamento conjugal é satisfatório, possivelmente o pai será mais envolvido com seu filho.

Há também estudos que enfatizam o macrossistema, como quando comparam o envolvimento de pais de diferentes culturas (Fouts, 2008; Hook & Wolfe, 2012) ou em um mesmo país (Maridaki-kassotaki, 2000; Simões et al., 2010). Assim, ressalta-se que o relacionamento pai-filho é transpassado por múltiplas influências, advindas de diferentes sistemas (desde o micro até o macrossistema).

 

Tempo: do agora ao período histórico

Deparando-se com a questão do tempo, Bronfenbrenner desenvolveu o conceito de cronossistema, inserindo uma terceira dimensão no ambiente. O cronossistema examina as influências do tempo no desenvolvimento da pessoa e as mudanças que ocorrem ao longo do tempo no ambiente (Bronfenbrenner, 1994; Prati et al., 2005).

O cronossistema é dividido em microtempo, mesotempo e macrotempo. O microtempo se caracteriza por ocorrer durante o curso de uma atividade específica ou interação. O mesotempo se refere às atividades e interações que ocorrem com alguma periodicidade no ambiente da pessoa em desenvolvimento. O macrotempo abrange as mudanças na sociedade através das gerações, assim como a forma que esses eventos afetam o desenvolvimento humano no ciclo de vida (Tudge, 2008; Tudge et al., 2009). Assim, por exemplo, o pai jogar futebol com o filho se refere ao microtempo, o pai levar todos os dias o filho para a escola alude ao mesotempo, e o macrotempo está relacionado à forma como o pai do pai lhe educou, que vai interferir, dentre outros aspectos, na forma do pai se relacionar com seu filho.

Há quatro aspectos a serem considerados no elemento tempo:

a) o desenvolvimento ocorre ao longo do tempo, dentro de um período histórico;
b) o desenvolvimento é o que culturalmente se espera em cada idade de cada papel e das oportunidades que surgem para cada pessoa ao longo da vida;
c) os membros da família são interdependentes e por isso se influenciam em seu desenvolvimento;
d) os seres humanos influenciam seu próprio desenvolvimento com suas escolhas e ações (Bronfenbrenner, 1999).

Assim, o núcleo tempo se refere às continuidades/descontinuidades e às mudanças que ocorrem ao longo do ciclo vital do indivíduo e sua família (Schultz et al., 2012).

Pode-se dizer que o elemento tempo interfere diretamente nas três dimensões do envolvimento paterno. Pode-se avaliar, por exemplo, o tempo que o pai passa com a criança e interage com ela, o tempo que o pai está disponível para ela, ou ainda, o tempo em que o pai leva a criança todos os dias para a escola ou é o responsável por dar banho nesta nos fins de semana.

Os estudos (Beltrame & Bottoli, 2010; Gomes, 2011) geralmente enfocam o mesotempo, ou seja, atividades e interações que acontecem com certa periodicidade ao longo do tempo. Mas há também aqueles que estudam o microtempo (Andrade, Costa & Rossetti-Ferreira, 2006; Silva & Piccinini, 2007) e o macrotempo (Cabrera & Bradley, 2012; Lamb, 1997). Os efeitos do tempo no desenvolvimento do pai ou da criança nem sempre são evidenciados, mas se constata que muitos estudos buscam demonstrar os efeitos positivos de um pai envolvido no desenvolvimento do filho ao longo do tempo (Dumont & Paquette, 2012; Magill-Evans, Harrison, Rempel & Slater, 2006; Paquette & Bigras, 2010).

Esses aspectos teóricos da perspectiva bioecológica ajudam a entender o envolvimento paterno como fenômeno de estudo. Contudo, como cada perspectiva teórica tem uma forma de ver a realidade, conceber o homem e produzir conhecimento. Faz-se necessário conhecer essas considerações epistemológicas e que implicações isso tem no estudo sobre o envolvimento paterno.

 

Considerações epistemológicas

Com base nos aspectos teóricos anteriormente mencionados, elucidam-se as considerações epistemológicas da perspectiva bioecológica, em hierarquia de correlações. Desse modo, menciona-se primeiramente a ontologia, em seguida a antropologia, a epistemologia e, então, a metodologia utilizada sob essa perspectiva teórica.

A ontologia (teoria geral sobre o ser da realidade) da teoria bioecológica do desenvolvimento humano, da forma como hoje a teoria está formulada, é sustentada em uma perspectiva dialógica (Vasconcellos, 2010), embora Tudge (2008) afirme que seja dialética. Isso significa que é a dialogia entre os opostos que importa, pois a lógica de compreensão sistêmica é uma lógica aditiva: a realidade é constituída por aspectos da ordem da materialidade e objetividade, e também por aspectos da subjetividade e do racionalismo. Ressalta-se que a teoria é considerada dialógica na forma como hoje está formulada, pois, em seu início, quando a ênfase dessa teoria estava nos aspectos ambientais, a ontologia poderia ser considerada materialista, uma vez que a realidade era compreendida com base na ordem da materialidade.

Verifica-se que a antropologia da teoria bioecológica, ou seja, a teoria geral acerca do ser do homem, refere-se a um homem inter-relacional, na integração das dimensões biológica, psicológica, social, sendo ativo em seu processo de desenvolvimento. Ou seja, para essa teoria, o homem é um ser de relações, em constante interação com outras pessoas, objetos e com símbolos do contexto. Assim, o desenvolvimento resulta da inter-relação do indivíduo e do contexto em suas várias ordens de sistemas, acima descritas (Tudge, 2008). A forma como a teoria bioecológica concebe o envolvimento paterno é, assim, de um interacionismo dialógico, ou seja, a interação pai-filho objetivamente é mediada pelos objetos e símbolos do contexto, mas também é subjetiva, dependendo da reciprocidade, que definirá o direcionamento dos processos proximais envolvendo esses dois sujeitos.

A epistemologia da teoria bioecológica, ou seja, a teoria sobre o modo de produção do conhecimento, é construtivista-interacionista, pois o "conhecimento é entendido como uma construção social e o que é visto como 'realidade' depende, em parte, da cultura, da história e do poder que está em jogo no momento. Não há, portanto, uma única realidade para ser conhecida, mas múltiplas realidades" (Tudge, 2008, p. 2). Para serem estudadas, as pessoas não podem ser separadas dos contextos em que estão inseridas, e o conhecimento é obtido por meio de um processo coconstrutivo, que envolve o pesquisador e o participante da pesquisa (Tudge, 2008). Assim, tem-se como pressupostos epistemológicos a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade (Vasconcellos, 2010).

Essa perspectiva epistemológica desdobra-se em um método de abordagem dos fenômenos estudados que implica variados procedimentos e instrumentos, com características de triangulação de métodos. Utiliza-se o termo "validade ecológica" por se considerar como a situação de pesquisa foi percebida e interpretada pelos participantes do estudo. Esse conceito está relacionado a se conseguirem diferentes estratégias para a obtenção e confirmação dos dados. Assim, para estudar o envolvimento paterno, podem-se aplicar diversos instrumentos, como entrevistas, questionários, inventários e escalas, realizar observações, entre outros, buscando compreender os resultados à luz do arcabouço teórico da bioecologia. É também usual o pesquisador efetuar anotações ("diários de campo") para relatar suas impressões e percepções.

Bronfenbrenner nunca propôs um método de pesquisa operacionalizado. Porém, para se realizar uma pesquisa baseada nessa teoria (e não apenas interpretar os achados fundamentando-se nesta), deve-se delinear a pesquisa com base nos quatro elementos do modelo PPCT (Prati et al., 2005). Como teoria e método se articulam, novas sistematizações vão sendo desenvolvidas, e uma dessas propostas metodológicas que emergiu no Brasil é a inserção ecológica, desenvolvida por Cecconello e Koller (2003).

A inserção ecológica se ancora nos aspectos necessários para o estabelecimento dos processos proximais e exige que os pesquisadores considerem, ao longo do tempo, as alterações no desenvolvimento de todos os envolvidos. Ela difere da pesquisa participante, observação participante e da etnografia, por focar nos elementos PPCT. Na inserção ecológica, os membros da equipe de pesquisa devem se envolver com o contexto, e o nível de inserção deve estar ligado ao problema de pesquisa (Prati et al., 2005).

No caso de uma investigação sobre o envolvimento paterno utilizando a inserção ecológica, os pesquisadores iriam ao contexto familiar diversas vezes, para observar o pai e o filho, ter conversas informais com eles e realizar entrevistas. Dúvidas e contradições sobre o que fosse conversado seriam esclarecidas nas próximas conversas. Pesquisas que usam esse método, como a de Cecconello (2003), relatam que este se mostra útil em atingir seus objetivos.

 

Considerações finais

Partiu-se do pressuposto de que homem e contexto se influenciam mutuamente e, por isso, há a necessidade de ampliação do foco a ser estudado; por exemplo, não apenas olhar para o envolvimento paterno, mas verificar em que contexto ele ocorre. Além disso, também se partiu do pressuposto de que não é possível prever os fenômenos e nem os controlar, e essa compreensão pode contribuir para estudos e intervenções com pais e seus filhos. E também se partiu do pressuposto de se considerar a presença do pesquisador no contexto a ser pesquisado, o que implica a existência de múltiplas versões da realidade, construídas de modo conjunto entre participante da pesquisa e pesquisador. Assim, a realidade para um mesmo fenômeno, no caso o envolvimento paterno, pode ser múltipla, dependendo de quem olha, do foco e da forma como o fenômeno é estudado.

Os elementos do modelo PPCT podem ser facilmente identificados no estudo do envolvimento paterno: os processos proximais estariam mais relacionados à dimensão interação do envolvimento paterno. A pessoa seria o pai e suas características pessoais. O contexto estaria relacionado ao ambiente que esse pai faz ou não parte, mas recebe influência. O tempo pode ser desde o momento em que o pai se envolve com o filho até o período histórico do qual esse pai faz parte. Desse modo, os quatro elementos do modelo PPCT podem estar relacionados e interferir nas dimensões (interação, disponibilidade e responsabilidade) do envolvimento paterno. Isso porque são diversos os fatores que influenciam o envolvimento do pai com a criança e são por ele influenciados.

Além disso, a teoria bioecológica do desenvolvimento humano compreende a realidade em que pai e filho estão inseridos com base na dialogia entre objetivo e subjetivo, pensa no homem (pai, filho) como ser inter-relacional e concebe diferentes modos de produzir conhecimento sobre o envolvimento paterno com base no pressuposto da complexidade, instabilidade e intersubjetividade. Assim, verifica-se que os aspectos teóricos e epistemológicos da teoria bioecológica do desenvolvimento humano se revelam úteis no estudo e compreensão do envolvimento paterno.

Desse modo, mesmo que a proposta deste artigo tenha sido desenvolver um ponto de partida, tem-se como limitação o não aprofundamento em alguns aspectos e a não realização de uma revisão sistemática sobre o assunto. Sugere-se, para estudos futuros, que mais produções relacionadas ao envolvimento paterno sejam realizadas utilizando-se dessa perspectiva teórica.

 

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Texto submetido em 16 de maio de 2013 e aprovado para publicação em 8 de setembro de 2014.

 

 

*Doutoranda e mestra do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, especialista em Terapia Individual, Familiar e de Casal, psicóloga. Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil (Nepedi), Departamento de Psicologia - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima - Trindade, Florianópolis-SC, Brasil. CEP: 88040-900. Telefone e fax: (48) 3721-9984. E-mail: rovanak@gmail.com.
**Pós-doutor pela Dalhousie University (Canadá) e pós-doutorando pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutor e mestre em Psicologia Experimental, psicólogo. Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil (Nepedi), Departamento de Psicologia - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima - Trindade, Florianópolis-SC, Brasil. CEP: 88040-900. Telefone e fax: (48) 3721-9984. E-mail: maurolvieira@gmail.com.
***Pós-doutora pela Université du Québec à Montréal, pós-doutora pelo Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto (USP), doutora em Saúde Mental, mestra em Psicologia, especialista em Psicologia Clínica Infantil, especialista em Psicodrama Terapêutico, especialista em Terapia Familiar e de Casal, psicóloga. Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil (Nepedi), Departamento de Psicologia - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima - Trindade, Florianópolis-SC, Brasil. CEP: 88040-900. Telefone e fax: (48) 3721-9984. E-mail : maria.crepaldi@gmail.com.
****Pós-doutora pela Universidade de Valência, doutora em Psicologia Clínica, mestra em Educação, psicóloga. Endereço: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil (Nepedi), Departamento de Psicologia - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima - Trindade, Florianópolis-SC, Brasil. CEP: 88040-900. Telefone e fax: (48) 3721-9984. E-mail : daniela.schneider@ufsc.br.


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