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Psicologia em Revista

Print version ISSN 1677-1168

Psicol. rev. (Belo Horizonte) vol.22 no.2 Belo Horizonte May/Aug. 2016

 

RESUMOS DE TESES E DISSERTAÇÕES

 

DISCURSOS ÉTNICO-RACIAIS DE PESQUISADORES (AS) NEGROS (AS) NA PÓS-GRADUAÇÃO: ACESSO, PERMANÊNCIA, APOIOS E BARREIRAS

 

ETHNIC AND RACIAL DISCOURSES OF RESEARCHERS / THE BLACK / THE GRADUATE SCHOOL: ACCESS, RETENTION, SUPPORTS AND BARRIERS

 

DISCURSOS ÉTNICOS Y RACIALES DE LOS INVESTIGADORES NEGROS EN LA ESCUELA DE POSGRADO: EL ACCESO, LA RETENCIÓN, EL APOYO Y LAS BARRERAS

 

 

Marcos Antonio Batista da Silva*

 

 

Este estudo se integra à linha de pesquisa "Aportes da Psicologia social à compreensão de problemas sociais", do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) junto ao Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Idade (NEGRI), tendo por objetivo geral analisar discursos étnico-raciais proferidos por quatro mestres - duas mulheres e dois homens (pretos e, ou, pardos)- residentes na cidade de São Paulo e Região Metropolitana, filiados à Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN).

Como objetivo específico, pretende-se captar, descrever e interpretar discursos referentes ao acesso, permanência, apoios e barreiras enfrentadas por esses mestres para terminar o mestrado.

Esta tese fundamenta-se primeiramente na perspectiva teórica de (Guimarães, 2002, Rosemberg, BazilliII & Silva, 2003) entendendo raça como uma construção social e um conceito analítico fundamental para a compreensão de desigualdades socioestruturais e simbólicas instituídas e observadas na sociedade brasileira.

Segundo, adotamos uma concepção de racismo que integra as dimensões estrutural e simbólica na compreensão da produção e reprodução das desigualdades sociais (Essed, 1991; Guimarães, 2005; Rosemberg et al., 2003).

No campo metodológico, utilizamos a hermenêutica de profundidade (HP), proposta por Thompson (2011). Essa metodologia é estruturada em três partes: a primeira etapa da HP utilizada foi a "análise sócio-histórica", a qual reconstrói as condições sociais e históricas de produção, circulação e recepção das formas simbólicas; a segunda fase, "análise formal" ou discursiva, investiga a organização interna das formas simbólicas; a terceira, a "interpretação/reinterpretação", realiza uma síntese dos resultados das etapas anteriores.

Nessa tese, adotamos também a análise de conteúdo, que visa a oferecer uma descrição sistemática e objetiva da organização interna das formas simbólicas, bem como a obediência aos princípios éticos na pesquisa (Bardin, 2011; Rosemberg, 1981). Assim, trabalhamos com dois enfoques que correspondem a duas unidades de análise: informações do currículo cadastrado na Plataforma Lattes dos entrevistados e falas transcritas em forma de texto dos discursos captados nas entrevistas.

No primeiro enfoque, no que se refere à análise do Currículo Lattes dos entrevistados, mostramos que eles têm indicadores de produção, formação complementar, domínio de línguas estrangeiras e participação nacional e internacional em diretórios de grupos de pesquisas e rede de colaboradores.

Dois entrevistados são do sexo masculino e dois do sexo feminino. Eles obtiveram os títulos de mestres na área das Ciências Humanas (Ciências Sociais e História). O entrevistado do campo de Ciências Sociais obteve o título de mestre em universidade particular do Estado de São Paulo, com bolsa de estudos da Fundação Ford (ações afirmativas). O mestre em História obteve o título em universidade pública no Estado de Santa Catarina, com bolsa de estudos de agência de fomento.

O segundo enfoque assinalado refere-se às entrevistas realizadas. As análises indicam que os entrevistados enfrentaram barreiras, preconceitos, discriminação estereótipos, no âmbito escolar e fora dele, além de terem que conciliar trabalho e estudos, enfrentando barreiras geográficas. Fica evidenciado que os entrevistados vêm de um sistema educacional em que as disciplinas de base que abordam a temática das relações raciais, por eles pretendida, praticamente inexistem nas ementas do ensino superior/pós-graduação. Soma-se a isso o desconhecimento de orientadores sobre o tema das relações raciais. Isso implica dificuldades para o desenvolvimento de pesquisas.

Outra observação diz respeito à média de idade dos entrevistados, que é de 32 anos. Considerando que a faixa etária dos estudantes de pós-graduação/mestrado e doutorado no Brasil aponta que 59% de negros e não negros têm idade igual ou superior a 30 anos (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, [2010]; Artes, 2015), vale ressaltar que alguns editais públicos que cumprem o papel de instrumentos de divulgação e valorização da política de desenvolvimento científico e tecnológico limitam a idade de seus participantes.

Os entrevistados dão ênfase ao racismo estrutural mais do que ao racismo simbólico, mas sublinham que ambos continuam integrando as dimensões estrutural e simbólica na compreensão da produção e reprodução das desigualdades raciais na sociedade brasileira.

No que diz respeito às desigualdades sociais, que se referem à população negra, os entrevistados apontam as mudanças que propõem melhorias nas condições de vida da população negra no Brasil, muitas delas resultantes de resistência e enfrentamento dos sujeitos e de suas famílias, bem como de políticas governamentais voltadas à promoção da igualdade racial, impulsionadas pelo movimento negro (Estatuto da Igualdade Racial, políticas de ações afirmativas). Por outro lado, implica evocar o caráter ilusório das políticas governamentais na promoção da inclusão e igualdade racial, haja vista que, em suas trajetórias, os entrevistados precisaram superar barreiras, criar oportunidades para combater os estereótipos, o racismo e as desigualdades sociais.

Conclui-se que a presença negra na universidade, além de reduzida, é desigual e restrita a algumas áreas. Estima-se que, para cada 100 brancos no mestrado, há 34 negros; e, para cada 100 brancos no doutorado, há 29 negros. A grande maioria dos negros se insere preferencialmente em carreiras de menor "status e prestígio social", prestígio pode ser associado à relação candidato-vaga no vestibular, ao potencial de ganho na carreira; às carreiras imperiais; ou à hierarquia social das profissões (Artes, 2015). Essa pesquisa se associa ao coro que questiona as desigualdades sociais e colabora com essa luta, mostrando o embate entre as formas "sutis" de manutenção de estrutura excludentes em políticas públicas de inclusão e a potência de resistência dos sujeitos, indicando que, ao mesmo tempo, em que tais políticas são fundamentais para a superação de desigualdades, elas somente se efetivam pela ação e força dos sujeitos e dos movimentos sociais.

 

REFERÊNCIA

Artes, A. (2015). Desigualdade de cor/raça e sexo entre estudantes e titulados na pósgraduação brasileira 2000 e 2010. (Relatório de Pesquisa). Projeto Equidade na Pós-Graduação, Fundação Carlos Chagas, São Paulo.         [ Links ]

Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. R. Luís Antero & P. Augusto (Trads.). Lisboa: Edições 70.         [ Links ]

Essed, P. (1991). Understanding everyday racism: interdisciplinary theory. Londres: Sage.         [ Links ]

Guimarães, A. S. A. (2002). Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34.         [ Links ]

Guimarães, A. S. A. (2005). Racismo e antirracismo no Brasil. São Paulo: Editora 34.         [ Links ]

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Síntese de Indicadores Sociais 2010: uma análise das condições de vida da população brasileira 2010. Rio de Janeiro: IBGE. Recuperado a partir de https://www.todospelaeducacao. org.br/arquivos/biblioteca/sis_2010.pdf.         [ Links ]

Rosemberg, F. (1981). Da intimidade aos quiprocós: uma discussão em torno da análise de conteúdo. Cadernos CERU, (16), 69-80.         [ Links ]

Rosemberg, F. (2001). Avaliação de programas, indicadores e projetos em educação infantil. Revista Brasileira de Educação, (16), 19-26.         [ Links ]

Rosemberg, F., BazilliII, C. & Silva, P. V. B. (2003). Racismo em livros didáticos brasileiros e seu combate: uma revisão da literatura. Educação e Pesquisa, 29 (1), 125-146.         [ Links ]

Silva, M. A. B. (2015). Discursos étnico-raciais de pesquisadores/as negros/as na pós-graduação: acesso, permanência, apoios e barreiras. (Tese de Doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa em Psicologia Social, São Paulo.         [ Links ]

Thompson, J. B. (2011). Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

 

 

Texto submetido em 18 de janeiro de 2016 e aceito em 28 de julho de 2016.

 

 

* Orientadoras: prof.ª dr.ª Fúlvia Rosemberg e prof.ª dr.ª Bader Sawaia, Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Com bolsa da CAPES. Endereço: Avenida Miriam, 153, Carapicuíba-SP, Brasil. CEP: 06320-060. E-mail: marcos.psico@yahoo.com.br.

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